segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Repúdio

42 homens encapuzados e fortemente armados invadiram no dia 18 de novembro a comunidade indígena Kaiowá Guarani do acampamento Tekoha Guaiviry, localizado no município de Amambaí (MS), fronteira com o Paraguai. O alvo principal foi o cacique Nísio Gomes, de 59 anos, executado com tiros de armas calibre 12, informou a FUNAI em nota enviada à Agência France Presse.
Segundo o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), "o que acontece no local é um conflito de terra. Essa região sofreu uma colonização entre os anos 60 e 70, com a expansão dos latifúndios agrícolas. Os indígenas tiveram que sair, mas agora estas terras estão em processo de demarcação para reconhecer a área indígena".
O CONPLEI (Conselho Nacional de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas) publicou uma carta de repúdio contra o ataque. No documento, o Conselho critica o "abandono e o descaso da administração governamental no que se refere ao projeto da colonização das fronteiras com o Paraguai". Para o CONPLEI, os órgãos governamentais praticam "genocídio omissivo" e "barbárie dos brancos".
Leia abaixo a carta na íntegra.
 
Brasil – Palco de Massacre Indígena

O CONPLEI (Conselho Nacional de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas) - instituição criada em prol do índio brasileiro, e dentre outros objetivos de sua constituição organizacional e diretiva, têm a incumbência de representar várias tribos indígenas de nossa nação, e neste sentido vem a público manifestar o seu repúdio ao massacre ocorrido na fronteira do Brasil com o Paraguai, no município de Amambai (MS), no dia 18 de novembro de 2011, em pleno terceiro milênio.
O massacre acima mencionado, não passou de um bárbaro e frio plano para executar tais indígenas, porém, o genocídio omissivo que vem sendo praticado pelos órgãos governamentais, conhecedores da causa que envolve terras em litígio, sem sombra de dúvida, se trata não de um massacre, mas sim de 'barbárie dos brancos', visto que a sua responsabilidade de defender os direitos do índio, não passam de um jogo de palavras descompromissadas, cuja administração governamental já não busca o efetivo cumprimento do dever de reintegrar à posse, nas áreas mencionadas, ao seu verdadeiro proprietário: indígenas Guarani e Kaiuwa.
A título de alerta, e com o fim de evitar novos massacres, lembramos que na região dos índios Guaranis e Kaiuwa se vislumbra o abandono e o descaso da administração governamental no que se refere ao projeto da Colonização das Fronteiras com o Paraguai, cuja argumentação, na época, incentivava a colonização da fronteira com o Paraguai. No entanto, o projeto deixou de ser prioridade, e outra leitura não se faz, senão a de que o governo pleiteava, apenas, a proteção das fronteiras com o índio brasileiro, e não o seu desenvolvimento como ser humano carente de direitos básicos.
Com o passar dos séculos, e diante dos inúmeros empecilhos para sobrevivência, a história mostra que mais esta estratégia governamental para extermínio deste povo falhou.
A tribo Guarani/Kaiuwa, mesmo vivendo abaixo da linha de miséria, sobrevive e agoniza, com uma única esperança: justiça.
A esperança é a mola propulsora de sobrevivência deste indígena, na espera de uma nova geração de governantes que expressem boa vontade, compromisso, responsabilidade e senso de dignidade humana. E, neste ínterim, os indígenas continuam sonhando e mantendo a expectativa de uma vida sem desnutrição e que muitas vezes é sufocada pelo suicídio como solução de seu desespero.
Como evitar o desespero da fome indígena?                                                          
Vejamos a matéria que trata de direitos humanos:
"Pela primeira vez na história do constitucionalismo pátrio, a matéria concernente aos Direitos Humanos foi tratada na Constituição promulgada em 1988, adquirindo o status jurídico, abrangendo os direitos e garantias fundamentais, e a instauração de um Estado Democrático de Direito, elencados no Título II na Constituição, e subdivididos em cinco capítulos:
  • direitos individuais e coletivos: correspondentes aos direitos diretamente ligados ao conceito de pessoa humana e de sua própria personalidade.
  • direitos sociais: caracterizados como liberdades positivas, tendo por finalidade a melhoria das condições de vida.
  • direitos de nacionalidade: capacita o indivíduo a exigir proteção, ao passo que o obriga ao cumprimento dos deveres impostos.
  • direitos políticos: regras que disciplinam a atuação da soberania popular.
  • direitos relacionados à existência, organização e participação em partidos políticos."   Estudo parcial de Direitos Humanos. Autores: Aércio Pereira de Lima Filho, Diego de Almeida Cabral, Flávio Henrique F. E. Gondim e Marcos Alexandre B. W. Queiroga.
Diante do exposto, é notório o descaso das autoridades governamentais no que se refere aos direitos individuais e coletivos: correspondentes aos direitos diretamente ligados ao conceito de pessoa humana e de sua própria personalidade, em afronta ao dispositivo da Carta Magna, sem adentrar às demais determinações legais, portanto, ao CONPLEI, compete solicitar de nossas autoridades governamentais, um posicionamento eficaz e urgente a favor da justiça ao povo indígena.
E neste sentido, buscamos evitar novos massacres e genocídios omissivos, aos índios que ainda sobrevivem neste território nacional - terra que nós indígenas amamos e, por isto, também temos vestido a farda do exército brasileiro, entendendo que a bandeira brasileira é o símbolo de nossa nação, unimos esforços para lutar pelo Brasil, seu território, e pelo povo que habita e detém esta terra antes mesmo de sua colonização.
Temos orgulho de sermos brasileiros, e temos também a esperança de sermos atendidos em nossos pedidos, visando lutar e trabalhar juntos para construir um Brasil cada dia melhor.
Brasília, 24 de novembro de 2011.

Pr. Henrique Terena (presidente) e Pr. Luiz Bitencourt (1º secretário)


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A religião e seus destinos

Karin Hellen Kepler Wondracek

A paráfrase com o título freudiano sobre os destinos das pulsões não é acidental - mas tem um percurso que passa em Zurique, pelo gabinete do pastor e psicanalista Pfister.
 
Em 1914, o pastor e psicanalista Pfister publica “O método psicanalítico”, prefaciado por Freud - e lá defende um conceito de pulsão que difere de Freud. Para Pfister, a pulsão não é, como para Freud, uma energia sexual na sua origem - é uma energia que se manifesta em várias formas - sexualidade é uma delas, mas espiritualidade também é uma forma de manifestação desta energia vital.
 
Para Pfister, pulsão é um coletivo - sob o qual se expressam desde a força da sexualidade, com a busca do prazer sensorial, a descarga motora, passando pela agressividade, com sua pulsão de morder, de triturar, - estas seriam a forma "toupeira" de expressão da pulsão.
 
Mas, na outra ponta, a pulsão tem a forma “águia”, não como sublimação da pulsão originária, mas como expressão direta deste feixe pulsional - que nas alturas congrega expressões da busca da liberdade, da estética, da cultura, e da religião.
 
A religião, para Pfister, é uma pulsão - e a partir desta ótica gostaria de tecer alguns pensamentos. Como pulsão, pode ter vários destinos:
 
- pode ser reprimida – simplesmente desalojada da superfície da consciência, e alojar-se em profundidades do inconsciente. Pode ficar ali, bem segura pelos núcleos já abrigados no inconsciente. Mas, também pode haver o retorno do reprimido. E, sabemos por Freud que este retorno pode assumir formas bizarras.

- retornar na forma histérica - como em alguns cultos que sobrevalorizam transes e êxtases, paralisias e sensações corporais.
 
- retornar na forma obsessiva- e temos comportamentos e pensamentos obsessivos transformados em rituais cúlticos - privados ou públicos.

- retornar na forma fóbica - certos objetos de culto, divindades ou inimigos da divindade são demonizados - despertam temor, pânico - lá estão projetados os impulsos inaceitáveis - quase sempre na forma de sexualidade ou agressividade.
 
E, se não houve repressão, a religiosidade pode assumir a forma perversa - como tristemente assistimos à prisão de líderes religiosos que castravam meninos para suas oferendas.
 
A religião também pode retornar associada com outras pulsões - como a agressiva - e então assistimos a caça aos hereges, agressividade legitimada e até recompensada por um ser divino.
 
Graças a Freud, podemos desmascarar o neurótico, o perverso e o psicótico presente na religiosidade. Mas, será que temos de, com nossas interpretações, promover a varredura da pulsão religiosa da cultura e do imaginário humano?
 
O pastor e psicanalista Pfister agradecia a Deus pela genialidade de Freud, que lhe possibilitava retirar os ídolos dos átrios dos templos. [2]
 
Qual então pode ser o futuro da religião?
 
Gostaria de fazer uma associação com outra expressão pulsional - a do amor. Ele também surge de formas tão neuróticas, perversas e doentes, mas nunca houve tentativa séria de erradicá-lo, só porque se mostra doente. Antes, a tentativa da humanidade tem sido no sentido de aprimorar nossa capacidade de amar.
 
Pfister labutava no mesmo sentido, para a religião - que a psicanálise fosse a "humilde lavadora dos pés da verdade" - limpando as sujeiras que a conflitiva humana aglutinou nas suas devoções. Por isso, a psicanálise tem de continuar varrendo ídolos, sendo iconoclasta, retirando amuletos e rezas fortes e fracas, pilotos automáticos da devoção. Mas, aí cessa seu papel. Pfister defendia junto a Freud, e neste artigo publicado na própria revista de Freud - que uma religiosidade purificada e purificadora poderia se ligar ao amor - debaixo do conceito cristão de graça. O imperativo do amor poderia substituir o imperativo do dever - gênese da obsessão, do recalcamento.
 
Não cessamos de amar depois que nos analisamos - antes amamos mais e melhor. Não precisamos parar de crer depois que descobrimos a neurose incrustada em nossas crenças. Podemos amar mais e melhor, aceitar mais nossa humanidade com suas ambivalências e falhas - a tolerância para conosco e para com os outros.
 
A religião mais perigosa, e que deve merecer o controle e a denúncia das autoridades - é aquela que mescla a pulsão agressiva à pulsão religiosa. Esta mescla pulsional gera morte - e não estamos mais nos tempos de Comte ou Darwin para acreditar que haja uma progressão da humanidade rumo à perfeição. O caos pulsional sempre está à espreita por baixo da casca da cultura, e pode se combinar em formas tão destrutivas como o fanatismo religioso.
 
É a combinação da pulsão religiosa com a amorosa que transforma até a pulsão agressiva. Desta forma podemos entender os depoimentos daqueles criminosos que se tornam doces ao se converterem a uma fé religiosa.
 
Pfister, ironicamente, está mais próximo do conceito judaico de pulsão - ao menos como colocado na voz do rabino Halévy na fábula sobre as religiões, escrita por Shafique Keshavjee:
 
“A pulsão sexual e a pulsão espiritual são as duas faces de uma mesma moeda. E essa moeda é aquela que o próprio Deus cunhou. Na carne do ser humano está inscrita uma pulsão biológica e afetiva que o faz sair de si mesmo para acolher um outro, uma outra. No espírito do ser humano está inscrita uma pulsão metafísica e espiritual que o faz sair de seu ego para descobrir o Outro por excelência, Deus. Da mesmo forma que uma mulher pode ficar obcecada pelo rosto de um homem e um homem pelo de uma mulher, Deus é o grande Sedutor que obceca a alma humana. Sem essas duas pulsões que se encontram interligadas, a vida seria aborrecida, centrada sobre si mesma.”
 
Enquanto os cristãos matavam os mouros em nome de Deus, viveu o cristão Francisco de Assis que, depois de tentar impedir a realização de mais uma mortífera cruzada, foi pessoalmente ao califa muçulmano. Chegando lá, foi agredido sem revidar, permaneceu preso até que sua conduta chamou tanta atenção que o califa o recebeu. Depois de muitos dias em conversas amistosas, acontece a despedida e a bênção que até hoje perdura entre muçulmanos e franciscanos. Francisco era admirado por Freud e Pfister.
 
Exceção entre todos? Quantos anônimos religiosos, de muitas confissões e credos, associaram sua pulsão religiosa com a amorosa, e geraram vida e não morte? Talvez, a única morte, neste nível, seja a do próprio Eu, e até do próprio corpo.
 
Esta religião tem futuro e gera futuro, porque gera vida. A religião que mais prefere morrer - desde a dimensão simbólica até, se for preciso, na dimensão concreta - esta gera vida. A parábola do grão de trigo - agregada à história da tensão do joio – ensina a aguentarmos o diferente, a tensão das interfaces.
 
Como expressão desta religiosidade, me comovo cada vez que relembro o exemplo do casal judeu messiânico que, em função da sua fé, abriu uma casa para cuidar de órfãos... palestinos. Fizeram-no em nome de Deus.
 
 
Artigo publicado originalmente no site do CPPC.
 
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Karin Hellen Kepler Wondracek é psicóloga e psicanalista, e mestra em teologia. É tradutora de Cartas entre Freud e Pfister, autora de Caminhos da Graça e uma das autoras de Uma Criança os Guiará.
 
 
Notas
[1] Mesa-redonda sobre O futuro da religião, no Santander Cultural, Feira do.
[2] Cf. carta introdutória ao texto-resposta A ilusão e o futuro.
 

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Homossexual na sua igreja


Eduardo Ribeiro Mundim

Imagine que sua igreja receba um visitante, que se sente à vontade no meio da comunidade, aceito como é: um pecador em busca da graça e de nova vida em Cristo Jesus. Confessa-O como seu Senhor e Salvador e solicita sua admissão como membro arrolado da sua comunidade, disposto a assumir os deveres e gozar os direitos desta posição.

Só que esta pessoa é homossexual, confessa depois.

Como sua igreja reagiria?

Baseado nos princípios do pecado universal da humanidade, da sua depravação total e da graça infinita de Deus Pai evidenciada na morte e ressurreição de Jesus vamos deixar de acolhê-lo e estender-lhe a destra de comunhão?

Lembrando o princípio estabelecido pelo apóstolo Paulo a respeito do comer carne sacrificada aos ídolos, sua comunidade esperaria deste irmão discrição e cuidado com aqueles (mais fracos na fé?) que se escandalizariam com sua orientação sexual, esperando que dela não fizesse propaganda ou apologia? Ainda que pudesse ser dito que esta expectativa seria um "acordo" onde a difícil questão da homossexualidade e a frágil suscetibilidade de outras fossem equilibradamente tratadas, até onde se estaria disposto a ir? Seria justo por parte da sua comunidade exigir, em troca da aceitação, que não houvesse união estável homoafetiva?

Provavelmente alguém se levantará no seu meio e lembrará que na igreja em Corinto havia ex-homossexuais, e que, portanto, a admissão como membro pleno da comunidade somente poderia ocorrer quando o Espírito Santo fizesse a obra na vida deste irmão, livrando-o ("curando-o"?) deste pecado? Não seria esta ideia o equivalente a "ensinar ao vigário o padre-nosso", ou seja, dizer ao Espírito onde ele deve trabalhar, e quando, e como?

Também outro poderia se levantar e recordar que João, o batista, exigiu dos fariseus frutos dignos do arrependimento. Analogicamente, a transformação da homossexualidade em heterossexualidade seria uma decorrência normal da conversão; não ocorrendo, não teria existido verdadeira conversão... Será que as Escrituras ensinam esta doutrina? A Sua leitura correta, em oração?

É uma questão de tempo, mas a sua, a minha, a comunidade do outro, mais cedo ou mais tarde terá de lidar com esta possibilidade.

Estamos preparados?

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Dinamarquês mostra o "sangue no celular"

ALC


Sexta-feira, 11 de novembro de 2011 (ALC) - As matérias-primas que tornam esse início de século XXI tão bem informado e conectado vêm, muitas vezes, de áreas onde ainda impera o trabalho escravo. É o que mostra o filme "Blood in the mobile" (Sangue no celular), do cineasta dinamarquês Frank Poulsen. 

Ele filmou as condições de trabalho na mina de cassiterita de Bisie, na República Democrática do Congo. Milhares de pessoas, inclusive crianças, dedicam-se à exploração desse minério que é um dos componentes dos telefones celulares.

"A situação nas minas é análoga à escravidão. As pessoas ganham para trabalhar, mas estão aprisionadas, amarradas em dívidas com os grupos armados", relatou Poulsen ao repórter Camilo Rocha, de O Estado de S. Paulo.  O que ele lá presenciou está "muito além de tudo" que ele já tinha visto. 

O dinamarquês contraria aqueles que pensam que o que ocorre na África nada tem a ver com elas. "Estamos todos conectados. O nosso modo de vida depende do sofrimento de outras pessoas", denunciou. 

Para chegar na região das minas, Poulsen teve que empreender uma maratona. De Kinshasa, capital do Congo, foi de avião até a cidade de Goma, de onde tomou helicóptero até a vila de Walikale. Deslocou-se, então, 200 Km numa moto e finalmente outros dois dias de caminhada pelas montanhas para chegar ao destino.

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Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC)
Edição em português: Rua Ernesto Silva, 83/301, 93042-740 - São Leopoldo - RS - Brasil
Tel. (+55) 51 3592 0416

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Cristãos homossexuais

Eduardo Ribeiro Mundim

"Entendo que Cristo trabalha no corpo e se revela ao mundo por meia da igreja. Contudo, é difícil estar dentro desta igreja sendo homossexual e ouvir culto após culto sobre a família e sobre como nos gays somos uma ameaça a ela, uma aberração que precisa ser eliminada. As palavras de desamor ferem a alma já ferida e, se não fosse o entendimento bíblico de que Deus é amor, confesso que há muito teria me tornado inimigo da cruz. Ou então me iludiria e faria parta da chamada 'igreja gay', onde tudo é aparentemente mais seguro e confortável, e 'negar a si mesmo' e 'tomar a cruz de Cristo' são frases impronunciáveis. Em contrapartida, nela existe amor e acolhimento. Sinto falta disso. Sigo e amo a Jesus Cristo de todo o coração. Há anos fui iniciado na homossexualidade pelo meu pastor. Os bastidores das igrejas fazem corar de vergonha os anjos. Porém, continuo firme na graça, pis é por ela que sou salvo. E se algo precisa ser mudado em mim, faço esta oração: 'Estou agui, Senhor, muda-me'." Luciano, em carta publicada na revista Ultimato, nov/11.

Temos alguém que, como os samaritanos (At 8 e 15, principalmente verso 8), crê ter sido salvo pela graça, é chamado para uma nova vida, a ela se submete - e pelo caminho estreito, e não pelo largo e conveniente, porque ele é fundamentalmente honesto... Mesmo que as Escrituras digam "...nem fornicadores...nem efeminados...nem homossexuais...herdarão o Reino de Deus". E aí???

A carta do irmão Luciano dói.
Lembro-me de uma reportagem sobre um bispo, salvo engano, homossexual declarado, que entrou pela nave central secundado pelo companheiro. Nunca vi pastor desfilar pelo templo liturgicamente com a esposa à tiracolo. Quando o bispo fez, ele estava fazendo apologia da homossexualidade, liturgicamente.

Um pastor, anteriormente metodista, homossexual (aqui), entendeu ser o melhor caminho abrir uma denominação gay. A conversa não deixa claro, mas é correto compreender que ele tem contatos sexuais ocasionais - imagino que, no contexto, caberia ao entrevistador, ou ao entrevistado, solucionar a dúvida.
Não parecem ser as atitudes que o irmão Luciano busca. Como afirmar que não nos encontraremos na Nova Jerusalém apenas porque ele é homossexual?? É isto que as Escrituras dizem?

Bom, parece-me que é isto que os evangélicos dizem que as Escrituras dizem... mesmo pessoas que não se assentam com os Malafais e Severos da vida...
Eu tenho cá minhas dúvidas.
Pessoas como o Luciano deveriam ser acolhidas e plenamente integradas à comunidade. Mas como, com todos os entraves que existem?

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Entre repetir e surpreender


Ricardo Agreste
 
pouco tempo, eu estava numa conferência fora do país quando um dos preletores fez uma afirmação que me despertou do sono. Ele disse: “Vivemos um momento histórico em que pastores e líderes, com o propósito de serem ouvidos, lidos e, principalmente, comentados, estão se tornando reféns da necessidade de surpreender, escrevendo e posicionando-se de maneira pouco convencional.”

Existe hoje no contexto norte-americano uma verdadeira disputa entre celebridades do meio evangélico por atenção e influência sobre as pessoas. Essa disputa se evidencia nas afirmações bombásticas que circulam em vídeos no youtube, nas ideias pouco convencionais veiculadas nos blogs da vida ou, ainda, pelas respostas agressivas e contundentes àqueles que são os agentes das duas primeiras ações.

Como se pode perceber, o fenômeno está diretamente ligado à grande revolução midiática ocorrida nos últimos anos em nossa sociedade. 30 ou 40 anos, para um pastor ou líder ser ouvido e comentado, era necessário investir pesado na produção e veiculação de programas de rádio ou TV. No entanto, a internet democratizou a possibilidade de ser ouvido, comentado e acompanhado até em cada passo ou palavra.

Assim, para muitos pastores e líderes da atualidade, a internet se tornou um espaço onde suas palavras ganham uma amplitude nunca antes sonhada. Ali, seus textos são lidos e replicados de forma ilimitada, e suas ideias, seguidas e comentadas quase que instantaneamente por pessoas em todas as partes do mundo. Assim, o horizonte de sua influência passou a transcender em muito o pequeno grupo que, assentado nos bancos da igreja, escuta atentamente seu sermão de domingo.

De certa forma, este cenário representa uma grande oportunidade para evangelização de inúmeras pessoas, para a edificação de discípulos de Jesus espalhados por todo o mundo e para o fortalecimento da igreja numa caminhada saudável e dinâmica. É um grande privilégio para os cristãos de nosso tempo ter à sua disposição um sem-número de sermões, estudos, artigos, discussões e opiniões sobre os mais variados temas, dos mais diferentes autores.

Por outro lado, o mesmo cenário gera uma cultura de ansiedade por ser lido, ouvido, comentado e seguido. Neste anseio, aqueles que fazem uso das novas mídias podem ser constantemente tentados a gerar fatos, escrever o surpreendente ou afirmar o não convencional. Assim, surgem afirmações de que o inferno não existe, de que Deus não é soberano ou que a volta de Jesus é não um evento histórico – e, para não perder a oportunidade de ser lido e comentado, rapidamente surgem as críticas àqueles que fazem tais afirmações, sem qualquer cuidado com o contexto ou o respeito devido a quem pensa de modo diferente.

Em meio a tudo isso, existe o perigo de que pastores e líderes, responsáveis por prover o conteúdo para o ensino e capacitação de discípulos de Cristo, se esqueçam que boa parte de sua tarefa como mestres consiste em repetir. Pastores e mestres do passado gastaram boa parte de suas vidas e ministérios simplesmente repetindo coisas, sem se sentir na responsabilidade de falar algo novo, surpreendente ou espetacular. Eles simplesmente repetiam o que já fora dito na lei e nos profetas, bem como procuravam manter vivos os fundamentos lançados pelos apóstolos.

Mas também existe o perigo de que cristãos usuários das novas mídias não percebam que a própria cultura que envolve tais ferramentas não incentiva a repetição, pois demanda o novo. Assim, os crentes podem se tornar dependentes dessa cultura, esquecendo-se de que parte de nossa consistência e saúde na caminhada cristã envolve a prática de acolher as verdades que já eram verdades para nossos avós e de ouvir novamente o que já foi dito, tantas outras vezes ao longo dos séculos, a outras gerações.

Como pastores e líderes, precisamos estar atentos e nos avaliar sempre acerca do uso que temos feito das novas mídias e da motivação que nos move. Precisamos reconhecer que a linha entre o desejo de simplesmente servir à Igreja de Jesus e a vontade de ser lido, ouvido e comentado é tênue no contexto atual. Todavia, como usuários das novas mídias, precisamos também nos perguntar se aqueles a quem ouvimos, lemos e seguimos estão se tornando reféns do novo ou do espetacular. Estão eles deixando de lado a missão de simplesmente repetir o que já foi dito na lei, nos profetas, pelos apóstolos e pais da igreja? E, se eles passarem a repetir, estaremos dispostos a ler blogs e seguir twitters que só repetem o que já foi dito, sem qualquer surpresa?

fonte: cristianismo hoje

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Declaração aos Líderes Políticos sobre nossa Esperança para a Criação


Esta declaração foi elaborada por um pequeno grupo de pessoas que atuam na
promoção e defesa de direitos que estão trabalhando na campanha Hope for
Creation - A Day of Prayer and Action on Climate Change (Esperança para a
Criação Um Dia de Oração e Ação sobre a Mudança Climática) e é dirigida aos que irão participar de negociações importantes e decisivas sobre a mudança climática, que acontecem em Durban, em novembro deste ano.

Esta declaração será entregue no início da Conferência das Nações Unidas sobre
Mudanças Climáticas (COP 17) para:
Christiana Figueres, Secretária Executiva da Convenção Quadro das Nações
Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) e
Maite Nkoana-Mashabane, Ministra das Relações Internacionais e Cooperação,
que é a presidente do COP 17.
Também serão enviadas cópias aos Chefes das Delegações presentes na COP 17
para todos os países que estão representados na carta.

Nós convidamos Líderes de Igrejas, Presidentes e Diretores de ONGs e grupos para-eclesiásticos para assinarem esta declaração em nome de suas organizações.

Favor considerar a possibilidade de assinar a carta, enviando seu nome, cargo, organização e país para info@hopeforcreation.org até 14 de novembro de 2011. Favor incentivar a outros para que também assinem a declaração.


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Declaração aos Líderes Políticos sobre nossa Esperança para a Criação
Nós pessoas de fé pertencentes a igrejas, comunidades e organizações dedicadas
a cuidar da Terra e das pessoas pobres apelamos aos líderes mundiais para que ajam de maneira urgente e ambiciosa no enfrentamento à mudança climática.

Vocês têm a oportunidade de forjar o caminho para um desenvolvimento sustentável
e justo para todos os povos do mundo. Se agirem com coragem e clareza moral, cremos que vocês serão aclamados como a geração de líderes que foram os
pioneiros na mudança transformacional que é necessária para a preservação de um clima seguro para todas as gerações que ainda virão.

Nós não subestimamos a dimensão do desafio que se apresenta perante vocês e perante nós todos, mas sabemos que a inação não é uma opção. Não podemos permitir respostas fracas ou que visem ao interesse pessoal para esta crise, levando, assim, o mundo a uma catástrofe.

As emissões humanas de gases de efeito estufa continuam aumentando. A perda de gelo oriunda do derretimento dos mantos de gelo da Groenlândia e da Antártica está acontecendo mais rapidamente do que o previsto.

O aumento do nível do mar ameaça os meios de sobrevivência e os lares de
dezenas de milhões de pessoas em regiões costeiras de baixa altitude e ameaça até mesmo a própria existência de pequenas ilhas-estado. A elevação das
temperaturas, as mudanças nos padrões de precipitação pluviométrica e os
desastres naturais relacionados ao clima têm aumentado a insegurança alimentar, e outros milhões de pessoas estão ameaçadas se tais tendências continuarem.

Seca e escassez de água estão se tornando uma realidade para milhões de pessoas, enquanto as Nações Unidas estimam que até 2050 o mundo terá de
abrigar pelo menos 150 milhões de refugiados do clima, aumentando a pressão sobre regiões vulneráveis, o que levará a tensões e conflitos.

Em resposta ao desafio climático, nós pedimos que vocês estabelam um acordo mundial para limitar o aumento da temperatura média global em até 1,5 grau a fim
de proteger as pessoas mais pobres e vulneráveis dos impactos mais devastadores da mudança climática.

Resta pouco tempo para agir. As emissões globais de gases de efeito estufa devem atingir o pico, no máximo, até o período compreendido entre 2015 e 2020, e serem reduzidas a quase zero até a metade do século, se quisermos evitar impactos de mudança climática que sejam potencialmente impossíveis de serem gerenciados.

Os países desenvolvidos carregam a maior responsabilidade pela liderança. Nós pedimos a vocês para que estabelam alvos e mecanismos para que se atinjam reduções nas emissões de, pelo menos, 80-95% abaixo dos níveis de 1990 até o ano 2050.

Pedimos que vocês definam medidas que garantam financiamentos de longo prazo para a adaptação em países pobres. Isto deve ser feito tanto através da provisão de recursos públicos adicionais, previsíveis, adequados e sustentáveis quanto através
de medidas inovadoras, tais como um imposto sobre transações financeiras internacionais e recolhimento de taxas nos transportes reos e marítimos
internacionais.

Aos líderes dos países desenvolvidos, nós lhes pedimos para que se comprometam em fazer e tornar público um plano concreto de ação para aumentar o financiamento para o clima até, pelo menos, o compromisso do Acordo de Copenhagen de prover US$ 100 bilhões anualmente até 2020 para apoiar as necessidades dos países em desenvolvimento. Tal financiamento deve ser dado em forma de subvenção e não
como empréstimo.

Sem um foco em ações que ajudem as comunidades a se adaptarem à mudança climática e se prepararem para desastres, a escassez de alimento e água irá se tornar cada vez mais comum e terrível.

Aos líderes dos países em desenvolvimento, nós lhes pedimos que garantam que os países pobres sejam apoiados na implementão de respostas de adaptação que beneficiem os grupos e comunidades mais vulneráveis.

Aos líderes dos países em desenvolvimento, nós lhes pedimos que garantam que os planos de adaptação nacionais e locais sejam participativos, sensíveis às questões
de gênero, transparentes e vinculados aos planos nacionais de desenvolvimento e redução da pobreza. Os grupos e comunidades mais pobres e mais vulneráveis
devem ser empoderados para o desenvolvimento sustentável e a resiliência.

Em resposta à generosidade e à graça de Deus, nós nos comprometemos em trabalhar com as pessoas e comunidades mais afetadas pela mudança climática.
Nós nos comprometemos em proteger e preservar as belezas da Criação. Nós nos comprometemos em orar e clamar por justiça para o mundo e seus povos, bem
como por vocês, nossos líderes.