domingo, 16 de maio de 2010

Ação política de cristianizados ou cristãos políticos?

Eduardo Ribeiro Mundim

Qual era o propósito de Jesus para a Igreja, enquanto conjunto dos salvos, em meio a sociedade? Em nenhum momento Ele ordenou o desenvolvimento em separado; em nenhum momento interditou aos seus discípulos a participação na condução dos negócios "mundanos" - não há contradição entre o ser cristão e a atividade política legítima! Mas como deveria ser esta participação?

Na sua evolução histórica, a igreja se alia ao governo civil, e passa a obter dele vantagens: segurança institucional, segurança teológica através da violência estatal (legitimada pelos padrões da época), propriedades. Em troca, subserviência política e apoio irrestrito. Evoluiu ao ponto de se identificar com ele, através dos "estados pontifícios".

Ser cristão passa a ser identificado com o ser batizado na infância, e não uma escolha adulta, madura, fruto da convicção "do pecado, da justiça e do juízo" e do poder perdoador e santificador da morte e ressurreição do Senhor. Portanto, a sociedade se torna repleta de pseudocristãos, e a igreja conta com o Estado para impor seu padrão de conduta a todos, indistintamente. Isto é cristianização...

Entendo que o caminho adotado foi um equivoco, e grave. Equivoco estratégico, do ponto de vista missionário (porque pregar o Evangelho passa a ser também levar o poder público que o financia a reboque) e equivoco teológico, pois a mensagem das Escrituras é adaptada para não ameaçar o poder político dominante. O Diabo efetuou uma jogada de mestre, se é verdade que o imperador romano Constantino viu aquela cruz com a mensagem de vitória...

Entendo que o caminho apontado por Jesus e por seus apóstolos é o da Igreja como sociedade alternativa. Luz e sal para a grande sociedade. Mostra de um caminho melhor no relacionamento entre as pessoas, no trato da propriedade comum, no uso da decisão conciliar, do convencimento pela argumentação no lugar da imposição pela força.

Entendo que o cristão deveria servir aos seus concidadãos, e não buscar proveito pessoal, ou para seu partido político que não fosse legítimo e em igualdade de condições com aqueles que não exercem, no momento, o mandato popular para governar.

Entendo que o cristão deveria defender a moral cristã, dando mostras em si mesmo e através da comunidade dos remidos, de como os efeitos dela são superiores aos da moral secular vigente. Entendo que é um erro tático, do ponto de vista missiológico, e um erro teológico, a imposição dos nossos valores àqueles que não participam do corpo e do sangue de Nosso Senhor.

Entendo como diabólica a busca por privilégios denominacionais na esfera pública. Entendo como não condizente com o Evangelho o uso dos recursos estatais para dificultar ou suprimir outras manifestações religiosas contrárias ao Evangelho.

Entendo que as portas do inferno não prevalecerão sobre a Igreja enquanto Corpo de Cristo, mas que, muitas vezes, as instituições criadas pelos cristãos atuam segundo os preceitos do Diabo.

Que o Senhor nos renove, nos converta e nos ponha nos caminhos do Seu Reino. Amém.

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