quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Mapa das Religiões aponta estagnação pentecostal e crescimento evangélico

Terça-feira, 30 de agosto de 2011 (ALC) - Depois de um breve período sem queda, estagnado na marca dos 73,79%, a população católica voltou a cair, a uma velocidade de 1 ponto percentual por ano, de 2003 a 2009, chegando ao índice mais baixo, de 68,43%, desde os primeiros registros censitários iniciados em 1872. Os católicos somam, hoje, 130 milhões de brasileiros e brasileiras.

A queda do catolicismo é maior entre os jovens, na faixa dos dez aos 19 anos de idade, passando de 74,13%, em 2003, para 67,48%, em 2009. A  grande novidade é o crescimento, de 5,39% para 7,47%, dos evangélicos de igrejas históricas e tradicionais, e a estabilização dos pentecostais, em 12% do total da população brasileira no período.

Os dados constam no Novo Mapa das Religiões, organizado pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) com base nos dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O mapa foi divulgado na semana passada.

O Brasil continua, porém, o maior país católico do mundo. Mas com uma marca própria. Das 25 denominações analisadas pelo Mapa, o catolicismo é a única em que o número de homens seguidores (75,3%) é maior do que o de mulheres (71,3%). Ou seja, as mulheres são mais religiosas do que os homens, mas os homens são mais católicos do que as mulheres.

Apenas 5% das mulheres brasileiras não têm religião, enquanto esse percentual sobe para 8,52% na coluna masculina.  "Enquanto os homens abandonaram as crenças, as mulheres trocaram de crença, preservando mais que eles a religiosidade", relata o estudo. A ética católica, prossegue a análise, "estaria sendo trocada por outras mais em linha com a emancipação feminina em curso" acompanhada por uma revolução dos costumes. As alterações no estilo de vida feminino nos últimos 30 anos não encontraram eco na doutrina católica, "menos afeita a mudanças".

Outra constatação interessante, o estudo aponta que a religiosidade é menor nas duas pontas extremas do espectro educacional. Dentre os sem instrução, com menos de três anos de escolaridade, 9,94% não têm religião. Na outra ponta, 17,04% dos mestres e doutores são sem religião.

Quando os olhares se voltam para o critério econômico, a classe E mostra-se como a menos religiosa de todas – 7,72%. O catolicismo é a religião mais presente nos dois extremos – 72,76% na classe E, e 69,07% nas classes AB. Os pentecostais têm maior abrangência nos níveis inferiores da distribuição de renda: 15,34% na classe D, 2,4 vezes maior do que nas classes AB – 6,29%. Os evangélicos tradicionais e históricos concentram-se mais nas classes AB (8,35%) e C (8,72%).

O Novo Mapa das Religiões levanta uma tese: enquanto o protestantismo tradicional liberou o cidadão comum da culpa da acumulação do capital privada, as religiões neopentecostais liberaram a acumulação privada de capital através da igreja. Elas estariam ocupando, no período de baixo crescimento econômico no país – anos 80 e 90 – o lugar do Estado na cobrança de impostos (dízimo e outras contribuições) e na oferta de serviços e redes de proteção social.

O Piauí é o Estado da Federação com o maior contingente de católicos (87,93%) e Roraima é o que tem o maior número dos que se dizem sem religião (19,39%). O Estado com a maior concentração de pentecostais é o Acre (24,18%), enquanto o Espírito Santo (15,09%) é o Estado que reúne maior número de evangélicos tradicionais e históricos.

Quatro capitais de Estados da região Norte despontam nas primeiras posições quanto ao número de pentecostais: Rio Branco, capital do Acre, com 28,43%; Belém, no Pará, com 22,99%; Boa Vista, Roraima, com 21,21%; e Porto Velho, Rondônia, com 19,02%. Os Estados mais católicos do país estão no Nordeste, com 74,9% de sua população.

Vitória, no Espírito Santo, com 18,13%, Rio Branco, Acre, com 14,63%, e Campo Grande, com 13,71%, são as três capitais que abrigam o maior número de evangélicos tradicionais e históricos.

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Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC)
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quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A história do blog que pode virar igreja

Suzel Tunes
terça-feira, 23 de agosto de 2011

Os brasileiros estão entre os povos que mais utilizam redes sociais como twitter e facebook. Mas um dia antes da realização do Eclesiocom, no dia 17 de agosto, os jornais publicaram a informação de que esse vigor todo está arrefecendo.

Ao lado dos russos, os brasileiros também estão entre os mais cansados das redes sociais. Um levantamento realizado pela consultoria Garner em 11 países aponta que no Brasil e na Rússia, 30% a 40% dos usuários usam menos esses sites agora do que quando se inscreveram.

A revista UMA, publicação feminina da Editora Escala, também destaca em sua edição de agosto o surgimento de um movimento contrário à onda virtual, com o surgimento de grupos de mulheres que buscam espaço em suas agendas para os contatos reais, organizando reuniões de bate-papo, meditação, estudo e até prática de tricô.

Na reportagem abaixo você vai conhecer a história de um blogueiro, pastor evangélico, que depois de arrebanhar um rebanho virtual está vendo o movimento se materializar.

Em 2008, o então estudante de teologia Paulo Siqueira resolveu lançar dois blogs de uma só vez: um mais teológico, no qual pudesse publicar seus trabalhos acadêmicos (http://pedrasclamam.wordpress.com) e um outro de caráter mais “laico”. (http://estrangeira.wordpress.com).  Ambos abertos ao diálogo sobre a cena evangélica brasileira com o mesmo espírito crítico diante do pensamento e práticas influenciadas pela teologia da prosperidade.

Como diligente blogueiro, Paulo começou a interagir com os seus leitores, respondendo dúvidas e comentários. Ficou quase doido. O número de comentários começou a crescer tanto que nem mesmo de celular em punho, acessando o blog em todos os momentos livres, ele conseguia dar conta de acompanhar as mensagens que chegavam. Paulo Siqueira comprou, então, mais um computador para a casa, ganhou o apoio ativo da esposa Vera, que assumiu o “Estrangeira”, e viu nascer, quase perplexo, um novo movimento pela ética eclesial.

Os blogs do casal Paulo e Vera catalisaram especialmente o descontentamento de jovens evangélicos ansiosos pelo retorno ao “Cristianismo puro e simples” – título de um livro de C.S.Lewis com o qual explicam seu objetivo. (CLIQUE AQUI para fazer o download do livro). São pessoas decepcionadas com a mercantilização da fé, muitas delas feridas por doutrinas e práticas estapafúrdias, mas que mantiveram viva a sua fé.
A própria blogueira Vera é uma dessas sobreviventes. Vera havia pertencido a diferentes grupos religiosos, antes de se tornar evangélica, mas, por maior que fosse a sua fé, não conseguia se livrar de um mal que a afligia: sentia cheiros desagradáveis onde quer que fosse.

“Espíritos” foi a explicação que ela ouviu durante o tempo em que freqüentou  centros espíritas. “Demônios”, disseram-lhe pastores evangélicos. Foi na Unifesp (antiga Escola Paulista de Medicina) que Vera se descobriu portadora de uma rara síndrome. Agora, espera ajudar outros portadores desta síndrome, contando sua experiência em um livro que já tem até título escolhido: “Algo não cheira bem na Igreja”.

O virtual no caminho do real

Inspirados pelas reflexões compartilhadas pelos blogs e mobilizados por intermédio das redes sociais, os blogueiros e seus leitores participaram, em junho, da última Marcha para Jesus (evento capitaneado pela Igreja Renascer) ostentando faixas que pediam ética às igrejas evangélicas brasileiras. “O show tem que parar”, exortavam. Quase apanharam dos seguranças da Marcha. O vídeo da confusão, gravado por celulares, foi para o youtube. “Em seis minutos, comecei a receber e-mails e ligações do Brasil e do exterior”, diz Paulo.

Um desses contatos era de uma repórter do Christian Post, site evangélico de notícias com sede nos Estados Unidos, que o entrevistou. Paulo conta que recebeu convite para se tornar um colaborador do site.

Dois dias depois da Marcha para Jesus, os participantes do Movimento pela Ética Evangélica fizeram o que eles chamam de “antimarcha”: organizaram uma visita, em grupo, a centros de doação de sangue, para sinalizar a “responsabilidade social da Igreja”. “As pessoas querem fazer algo em prol do Reino, mas não são estimuladas pela instituição”, afirma Paulo.

O que eram apenas contatos on line já se tornaram reuniões de reflexão e estudo bíblico. Participam desses encontros, conta Paulo Siqueira, jovens oriundos de todas as tribos e tendências, incluindo um ex-neonazista convertido ao Evangelho. “O virtual está se materializando em nossa frente”, diz o teólogo que já recebeu pedidos para fundar uma Igreja.

A sociologia da religião ensina que os movimentos tendem a se institucionalizar. O que era profeta, contestando a ordem vigente, pode se transformar em sacerdote, legitimando uma nova ordem. Esse é o desafiador quadro que se apresenta ao blogueiro e pastor Paulo. Que Deus o ajude.

fonte:  http://www.alcnoticias.net/interior.php?lang=689&codigo=20235&format=columna

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Igreja Evangélica elogiou Adolf Eichmann

Hamburgo, terça-feira, 23 de agosto de 2011 (ALC) - A revista Der Spiegel divulgou carta em que a Igreja Evangélica da Alemanha (EKD) dos anos 60, dirigida ao Governo Federa, elogia Adolf Eichmann, organizador do Holocausto. Segundo a denúncia, "o assassino em massa foi descrito como um 'homem com um coração bondoso'".

A carta tem cerca de 50 anos, mas lança uma luz negativa sobre a Igreja Protestante, afirmou a revista. As informações prestadas pela Igreja em 1960 ao governo de Konrad Adenauer aparecem em documentos do Arquivo Político do Ministério das Relações Exteriores.


Uma carta de William Mensing-Brown, superintendente de Linz - cidade austríaca em que o assassino em massa havia crescido - foi enviada ao Ministério das Relações Exteriores referindo-se a Eichmann como "decente", um "bom coração" e "com grande disponibilidade para ajudar".


Mensing-Brown escreveu que não poderia "imaginar" que o ex-tenente-coronel SS Adolf Eichmann, estivesse "de acordo ou teria sido capaz de praticar crueldades ou atos criminosos." Ele foi sequestrado na Argentina e levado para Israel. Os irmãos dele  tentaram conseguir um tribunal internacional e não um israelense, e pediram ajuda à Igreja.

Isso levou o bispo Hermann Kunst, representante da EKD no governo federal, a enviar a carta de Mensing-Braun para o Ministério das Relações Exteriores pedindo uma votação "pelo menos interessante." Mas a tentativa foi mal sucedida. Em Jerusalém, Eichmann foi condenado e executado em 1962.

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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O pecado da era pós-cristã

Num desses dias, alguém me perguntou como se deve proceder quando em pecado. Respondi o óbvio: arrepender-se. A pessoa contestou dizendo que o pecador também é vítima e precisa ser entendido como tal.

Essa me parece ser a discussão dos dias correntes: pecador ou vítima?

A Bíblia reconhece que qualquer pessoa pode ser vítima do pecado de alguém ou mesmo da conjuntura social, ou da estrutura politico-econômico-social, porém, não entende que isso possa justificar qualquer ato pecaminoso. Para a Bíblia todo ser humano é sujeito da e na história, principalmente, de sua história. Todos são pessoalmente responsáveis, ainda que possa haver atenuantes ou agravantes.

Para a Escritura Sagrada o que se pede do pecador é que se arrependa, isto é, que assuma o seu erro e a sua responsabilidade. Arrepender-se é aceitar a punição da lei. Um pecador arrependido é aquele que admite merecer a punição que a Lei de Deus prescreve para ele. Que, em última instância, é a morte: “A alma que pecar, morrerá” (Ez 18.4).

O Novo Testamento, entretanto, nos ensina que todo o pecador que se arrepender, isto é, todo o que admitir e confessar o seu pecado será por Deus perdoado, como ensina o apóstolo João (1 Jo 1.9). E, por ser perdoado por Deus, deve ser perdoado pelo ser humano a quem ofendeu. Entretanto, o pecador não tem como exigir o ser perdoado. O pecador pede perdão, mas, não o exige; pelo simples fato de que perdão não é um direito do pecador, é uma benesse do ofendido. Porque perdão é graça.

É verdade que o cristão não tem como não perdoar (Mt 6.12). Contudo, essa é uma questão entre a vítima e Deus. Além disso, o pecador não tem o direito de reclamar do sofrimento de que foi acometido como consequência de seus atos - no relacionamento ofensor e ofendido (isso não justifica o ofendido, caso sua reação seja pecaminosa). É a lei da semeadura: “Semeia-se vento, colhe-se tempestade” (Os 8.7). E é preciso que se diga que, por pior que seja o sofrimento que o pecado venha a provocar sobre o pecador, ainda é menor do que o Inferno ao qual ele fez jus.

Todo o que confessa o seu pecado será perdoado e restaurado por Deus (1 Jo 1.9). Porém, confessar é assumir a responsabilidade e admitir a justiça da punição pelo que fez. Ainda que a punição não virá pelo fato de já ter sido sofrida por Cristo.

Nesta época tal reflexão está se tornando impensável: porque vivemos numa era de vítimas. Hoje, não importa o erro que a pessoa cometa, ela é sempre vítima: seja da sociedade, seja da história, seja da economia, seja da política, seja das instituições, seja da família. Ninguém é culpado. Logo, como alguém disse: é uma época em que ninguém assume a responsabilidade, nem adia prazeres e nem se presta a sacrifícios.

Essa época é pós-cristã não porque não se fale mais de Deus (pelo contrário, provavelmente, poucas vezes na história se falou tanto de Deus), mas, porque não se fala e nem mais se admite a realidade do pecado. Esta é uma era onde não há mais pecadores, só há enfermos. É o auge do humanismo: o pressuposto de que o ser humano é intrinsecamente bom venceu; e, ora, gente intrinsecamente boa não peca, adoece. E doentes são vítimas.

O que ainda não se percebeu nesta presente época é que doentes não podem ser perdoados. Só pecadores podem ser perdoados. Logo, só pecadores podem ser restaurados; só pecadores podem ser tornados puros de toda a injustiça que cometeram. O que será dos que estão prontos para assumir que estão enfermos, mas, jamais que são pecadores? A probabilidade maior é a de continuar pecando cada vez mais e pior, contraindo, aí sim, uma doença para a qual não há cura: a voracidade de ser aceito de qualquer jeito, por julgar ter o direito de ser de jeito qualquer. Essa enfermidade coloca a pessoa a deriva dos mais grotescos apetites, tornando-a escrava dos instintos, que se tornarão cada vez mais irresistíveis. É a escravidão do pecado (Jo 8.34). E disso só se escapa quando, finalmente, a todos os pulmões o pecador confessa: “Minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa”.

Texto publicado originalmente no portal Irmãos.com


fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/o-pecado-da-era-pos-crista

domingo, 14 de agosto de 2011

Tributo a Deus

† Péricles Pereira Couto – 23/09/1946 – 07/08/2011

(Rm 14:8) Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos;
Se morremos, para o Senhor morremos.
Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor.

Por Estêvão Ferreira Couto

Em Belo Horizonte, em 9 de agosto de 2011.

Não consegui dormir muito na noite de 7 para 8 de agosto. Assim, exatamente às 03:17 horas da madrugada do dia 08, comecei a trabalhar com o que eu estava sentindo escrevendo, uma das milhares de coisas que aprendi com meu pai.

As minhas notas deram origem a parte do que falei na tarde do dia 8 de agosto, no culto em agradecimento a Deus pela vida de meu pai, e são a base do que escrevo agora. É um depoimento muito pessoal. Se você está buscando um “perfil” estruturado sobre quem foi Péricles Couto, pode parar de ler por aqui.
Agradeço mais uma vez, em meu nome e no nome de minha mãe e de minha irmã, todas as mensagens, telefonemas e demais comunicações de carinho e solidariedade que estamos recebendo da cidade, do Brasil e do mundo desde as 17:42 horas do dia 07/08.

Na certidão de óbito consta que meu pai faleceu às 17:40 horas do dia 07/08. Nesse momento, eu estava na porta do CTI e havia acabado de receber a notícia e conversar com o médico. Meu celular tocou às 17:42 horas com a seguinte mensagem de um casal de amigos que mora em Buenos Aires, Argentina:

Olá Estêvão. Marcela e eu estamos acompanhando vocês em oração. Eric.

Respondi com o post:

Meu pai acabou de entrar na presença do Pai. Louvado seja o nome do Senhor!

Eles me retornaram:

Deus esteja com você, Estêvão, sua irmã e sua mãe. Por meio do Péricles muita gente foi abençoada ao longo de toda a vida dele. Conte com Marcela e comigo. Um grande abraço, Eric.

Desculpo-me com os amigos e amigas que mandaram outras mensagens. Ainda não consegui responder.

Volto no tempo. No último dia 29 de junho, mais ou menos na mesma época em que meu pai recebeu a notícia de que precisaria passar por uma cirurgia, estive em um funeral de um bebê recém-nascido de um casal de amigos (Arthur e Quésia) que me impactou muito por causa do exemplo de fé em Deus, uma fé como a que Jó teve, que não dependia das circunstâncias. Na ocasião, pensei:

Quero ter uma fé como essa.

Persisto de forma negligente em muitos erros e pecados recorrentes. Preciso viver a minha vida aqui nesta terra de outra forma, cada dia mais condizente com a transformação que Deus já fez na minha vida.

Sabia que certamente guardaria na memória aquele momento por toda a minha vida, mas não podia imaginar que Deus já estava me preparando para estes dias...

(Tg 4:13-17) Atendei agora, vós que dizeis: Hoje, ou amanhã iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano, e negociaremos e teremos lucros.
Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois apenas como neblina que aparece por instante e logo se dissipa.
Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como faremos isto ou aquilo.
Agora, entretanto, vos jactais das vossas arrogantes pretensões. Toda jactância semelhante a essa é maligna.
Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, nisso está pecando.
 
A cirurgia do dia 04/08 durou quatro horas. Minha mãe, uma tia e uma prima conversaram com ele logo que saiu da sala de cirurgia. Estava ansioso, mas aparentemente bem. O médico avisou que ele precisaria ser entubado e sedado. Na noite daquele dia eu iria visitá-lo, mas não conseguiria mais conversar com ele...
 
No dia 05/08, o primeiro momento em que o estado dele piorou, oramos junto ao seu leito (eu e minha mãe) o Salmo 23. Comuniquei a Deus que desejava que ele permanecesse mais alguns anos entre nós, mas que se tivesse de ir, que o Senhor nos desse capacidade de discernir e ver a Sua Vontade Soberana.
 
Nesse mesmo dia, minha mãe orou pedindo que ele ficasse porque tinha ainda muitos planos e projetos para realizar na obra do Senhor.
 
No dia 06/08, quando havia uma perspectiva de melhora, orei a Deus junto ao leito de meu pai, pedindo que ele confirmasse aqueles sinais positivos, mas que fosse feita a vontade Dele. Minha mãe orou e leu em voz alta algumas devocionais que meu pai tinha registrado em diário, verbis:

Devocionais Agosto 2011

01.08.2011. Segunda, 10:00.

Bendirei o Senhor em todo o tempo, o seu louvor estará sempre nos meus lábios. Engrandecei o Senhor comigo e todos à uma lhe exaltemos o nome. Clamam os justos e o Senhor os escuta e os livra de todas as suas tribulações.
Salmo 34 (1,3 e 17).

Um novo mês que inicia e estamos em Belo Horizonte hospedados pelo Israel e Nilse. Tempo de espera. Hoje, uma semana depois da cirurgia. Graças te dou ó Deus por Tua presença e encorajamento.

03.08.2011, Quarta, 20:15.

Rendei graças ao Senhor, porque ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre. Salmo 136 (1).

Este foi o Salmo que meditei hoje pela manhã com Alva após ter feito o retorno com o médico cirurgião ontem ao final da tarde e definido a nova cirurgia para amanhã.
 
Interessante ver ao longo do salmo os diferentes motivos pelos quais dar graças ao Senhor. Vejo que o Salmista me inspira a também render graças ao Senhor pela recuperação da primeira etapa da cirurgia e agora, quando me preparo para amanhã muito cedo. A sua misericórdia dura para sempre é o refrão e isso tenho experimentado, louvado seja o Senhor!!!
 
Volto a pedir ao Senhor sua misericórdia e bondade para comigo no sentido de:
(1) me proteger durante todo o processo de cirurgia... os profissionais, os equipamentos, materiais, sala cirurgia, etc.
(2) antes, durante essa noite, tranqüilizar a minha mente, corpo, emoções e espírito, capacitando-me a descansar no Senhor.
(3) guardar a minha estrutura física para todo o processo cirúrgico e para os procedimentos de anestesia, transfusão de sangue, oxigênio e cuidados pós-cirúrgicos na UTI.
(4) guardar Alva e Nilse que estarão inicialmente me acompanhando e Alva durante a espera até que eu possa ir para o apartamento.
(5) assistência e fortalecimento para que eu suporte o tempo de hospitalização.
(6) orientar os procedimentos para minha alta e recuperação na casa do Estêvão. A maneira como conciliar a dinâmica da casa com minhas necessidades. Paciência e força para Alva aguardar este tempo.
(7) dirigir o acompanhamento médico e de enfermagem, alimentação, higiene durante o tempo no Hospital. Oro para que o Senhor me dê resistência mesmo quando estiver muito desconfortável – proteção nos procedimentos de enfermagem.
(8) agradecimento ao Israel, à Nilse por todo seu carinho e cuidado para comigo. Aos irmãos e amigos que tem acompanhado com suas orações.

Rendei graças ao Senhor porque Ele é bom!

03.08.2011. Quarta, 22:25.

Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda.
Salmo 139 (16)

Pai querido, eu te louvo e agradeço por Tua bondade e misericórdia. Por tudo que venho sendo agraciado nestas semanas. Pela Tua Palavra como o texto acima. O Senhor conhece todos os meus dias e assim vou dormir esperando e ansiando por teu descanso. Guarda-me nesta noite e no amanhecer de AMANHÃ.

No dia 07/08, pela manhã, ao visitá-lo, não queria orar. O estado de sua saúde tinha piorado muito. O médico disse que a luz no fim do túnel que tinha se acendido no dia anterior, naquele dia havia se apagado. Minha mãe insistiu para que eu orasse. Balbuciei algo como: “Senhor, não confiamos em homens. Confiamos apenas no Senhor. Os homens são meros instrumentos seus.”
 
Liguei em seguida para um grande amigo, médico, intensivista, que já vinha acompanhando o caso de longe (mora em Brasília), e disse: “Carlinhos, acho que meu pai está indo...”. Ele respondeu: “Estêvão, aguarde alguns minutos que já lhe dou um retorno”.
 
Logo depois, ele retornou: “Estêvão, vou pegar um avião. Chego em Belo Horizonte às 16:10 horas”. Busquei-o no aeroporto e deixei-o na porta do hospital às 16:59 horas. Aproximadamente vinte minutos depois ele me ligou: “Estêvão, venha com sua mãe rapidamente. Ele não vai resistir.” Chegamos rapidamente no hospital, mas ele já tinha chegado na Glória. Carlinhos me disse depois que o coração dele foi diminuindo o ritmo lentamente, até que parou...

***

Minha esperança em Jesus Cristo, o Filho do Deus Vivo, não está abalada. Eu somente queria ter um pouco mais de tempo para me despedir dele. Porém, Deus sabe de todas as coisas. Se o chamou agora, e de forma tão abrupta, é porque tem algum propósito. Quem sou eu para questionar o Deus Vivo?
 
Meu pai, como qualquer ser humano, não foi perfeito. Como filho que o amava, eu conhecia muitos de seus defeitos, e também suas qualidades. Por isso, este tributo somente pode ser AO DEUS QUE EU CONHEÇO, o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus dos Profetas, o Deus dos Apóstolos, o Deus que se encarnou em Jesus Cristo, o Alfa e o Ômega.
 
O culto celebrado ontem foi em memória de meu pai, mas em louvor a esse Deus. Não foi uma cerimônia para ficar somente exaltando suas qualidades (como se todos os seus defeitos tivessem se desvanecido diante da morte), mas para relembrar que as qualidades que ele tinha brilhavam pela graça e pela misericórdia do Senhor na vida dele, pela atuação de Deus nele, pela disposição que ele tinha de sempre alinhar a agenda da vida dele com a agenda do Nosso Deus.
 
Meu pai cumpriu a promessa que fez a Deus muitos anos atrás, de me inculcar a Palavra do Senhor (Dt 6:7). Meu pai foi meu primeiro professor de teologia (Sim! Leigos também “fazem” teologia, como os protestantes anunciaram lá no século XVI). Ele lançou os fundamentos. Quando os fundamentos estavam consolidados, ele fazia perguntas, e quando eu pedia a resposta, ele dizia: “Se vira”. Depois, se deliciava com o que eu tinha aprendido...

(Tg 1:27) A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.

(Salmo 1:1-2) Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite.

Esses são dois dos inúmeros versículos e textos bíblicos que meu pai impregnou no meu coração e na minha mente.
 
Me lembro agora mesmo das várias noites, eu e minha irmã Soninha, sentados na beirada da cama de meus pais, tentando recitar o Salmo 1 completo, de cor, lutando com aquelas palavras difíceis e, finalmente, completando a tarefa. O começo era desanimador, mas a conclusão era pura felicidade.
 
Fui um privilegiado por ter Péricles Couto como meu pai. Ele não é somente meu pai de sangue. É também meu pai na fé. Converti-me ao Senhor Jesus Cristo em um carro, no trânsito. Meu pai dirigia e eu conversava com ele. De repente, eu disse: “Pai, eu quero receber Jesus no meu coração. O que devo fazer?” Meu pai encostou o carro e ali fizemos uma oração. Eu era pequeno, mas esse momento está gravado na minha mente em flashes.
 
Muitos irmãos em Cristo já me disseram isso e eu mesmo já pude testemunhar em várias oportunidades: que o dom que Deus deu ao meu pai no Corpo de Cristo era a profecia. Dizer verdades em voz alta. Colocar o dedo nas feridas. Não se calar diante da opressão e do erro, muitas vezes comprometendo a sua própria posição. Ele era assim. Às vezes ríspido demais. Mas às vezes a rispidez era necessária.
 
Deus me ensinou muitas coisas através dele (não somente através do que falava, mas principalmente através do modo como vivia): perseverança; método; organização; prestar atenção aos detalhes sem perder a visão do todo; perceber a realidade ao meu redor (não somente aquilo que é afetado pelas contingências sociais e políticas, mas também aquilo que só pode ser discernido espiritualmente – anos depois eu vim a saber, por John Stott, que isso se chamava double listening); quando cometer um erro, assumir, não esconder, e tomar imediatamente providências para corrigi-lo, fazendo tudo ao alcance para isso; jogar bola (brincávamos em um grande gramado na frente de nossa antiga casa; ele me driblava e eu me irritava por não conseguir tirar a bola dele; acompanhei incontáveis partidas dele agarrado na cerca, do lado de fora; ele realmente jogava muito bem); cuidar da minha saúde; cuidar da natureza que Deus criou (um de seus hobbies, que nos últimos tempos não praticava mais, era a jardinagem).
 
A Igreja Presbiteriana foi onde meus avós, meus pais, eu e minha irmã fomos formados e experimentamos comunhão. Portanto, apesar de decepções com os vícios arraigados na estrutura institucional dessa igreja visível, esse ainda é um espaço inicial de referência para entender meu pai e minha família.
Deve ser mencionado aqui também o tempo que ele teve junto com minha mãe e minha irmã (eu já estava fora de Belo Horizonte) na Comunidade Evangélica do Castelo. Nas suas próprias palavras, “um tempo dado por Deus para transição e restauração”.
 
Mas meu pai me ensinou a ver além dos muros denominacionais. Desde pequeno, sempre conversávamos em família sobre os encontros e os desencontros do mundo evangélico e sobre aquilo que precisava ser essencial. Meu pai teve papel destacado nos primeiros debates sobre fé cristã e política (INESP, etc) e também em movimentos que buscavam unir as denominações evangélicas (AEVB, etc). Era um visionário. Às vezes, depois de uma grande articulação, queixava-se comigo que as pessoas não conseguiram perceber tudo aquilo que ele queria passar. Mas quem disse que isso o desanimava? Algum tempo depois, lá estava ele fazendo outra “articulação”.
 
Para ele, sua profissão tinha de ter um componente direto de transformação social. Era parte intrínseca de sua vocação cristã. Nesse sentido, economista por formação, com especialização em administração, abriu mão de uma carreira em grandes empresas (o que poderia trazer maior estabilidade pessoal) para mergulhar em projetos que procurassem trazer justiça social para o bairro, a cidade, a região, o Brasil, o mundo. Nesse ponto, teve em minha mãe Alva uma companheira maior ainda, pois ela, assistente social, debatia e partilhava os mesmos sonhos, em sua carreira de quase vinte anos na Visão Mundial e depois.
 
Esse “jeito de ser” dos meus pais me influenciou profundamente. Sempre me lembro da graça que eles acharam quando descobriram que eu estava brincando com um amiguinho de escola sobre uma imaginária “Associação Comunitária de Agentes Secretos – ACAS”. As conversas de meus pais transbordavam para as minhas brincadeiras.
 
Aqui preciso falar de uma experiência seminal em sua vida profissional (ele sempre voltava a ela; lembrava com carinho e nostalgia): a gerência de um projeto do Fundo Cristão para Crianças no Bairro Cabana de Belo Horizonte. Ali ele fez algo que influenciou toda a sua vida posterior; ali ele formou uma equipe (era exímio nesse trabalho) que até hoje o vê como uma referência de líder.
 
Em abril de 2005, meu pai saiu de Belo Horizonte para Curitiba para o que se tornou o último grande desafio de sua vida: implantar a Missão Aliança da Noruega no Brasil, uma organização diaconal evangélica que apóia igrejas locais que desenvolvam algum trabalho de transformação social na realidade em que estão inseridas.
 
Entrando nos sessenta anos, incansável, consolidou e iniciou vários projetos e, junto com a Fundação Kairós e outras organizações (bem ao estilo dele, articulando várias cabeças pensantes e conciliando idéias), procurou fazer com que as igrejas evangélicas voltassem a pensar e a praticar a missão integral, o que culminou com o livro “Igreja: agente de transformação”, organizado por ele em conjunto com René Padilla, lançado recentemente.
 
Não posso esquecer de mencionar sua vinculação histórica à Aliança Bíblica Universitária do Brasil – ABUB: participante do Congresso de 1976, articulador de grupos estudantis e profissionais, Diretor Financeiro, participou com maior ou menor intensidade sempre, com e sem cargos (todo legítimo ABUense sabe que não é necessário cargo para trabalhar no movimento, basta comparecer à reunião). Dizia-me que aprendeu a viver a fé no dia-a-dia na ABUB (e eu segui seus passos: aprendi também a viver a minha fé no dia-a-dia na ABUB). Orgulhava-se em dizer que eu freqüentava a ABU desde que aprendi a andar e que era apelidado de “rodinha” pelos grupos de estudantes e profissionais.
 
Nos últimos anos, ficamos distantes fisicamente (fui morar fora de BH e, quando voltei, ele foi para Curitiba), mas ele ficava horas comigo no telefone contando o que tinha acontecido com ele, o que tinha feito, suas impressões, seus planos e seus sonhos, como se estivéssemos sentados à mesa da sala de jantar de nossa antiga casa em BH, após uma refeição.
 
Querido papai. Vamos sentir muitas saudades, principalmente porque a partida foi muito rápida e sem aviso. Mas não é um “adeus”. É um “até logo”. Nossa vida neste mundo é passageira. Somos peregrinos em terra estranha. Daqui a pouco nos encontramos na Glória com Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Lá não haverá mais choro. Lá seremos verdadeiramente felizes.

Que Deus tenha misericórdia de nós e nos capacite a viver de modo digno para com a vocação para a qual fomos chamados. Somente a Ele toda a Glória!


quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Evangélicos sem espetáculo

Pessoas religiosas e seculares fazem um grande trabalho humanitário, mas às vezes não trabalham juntas por suspeitas mútuas

08 de agosto de 2011 | 0h 00
Nicholas D. Kristof, The New York Times - O Estado de S.Paulo
 
Nesta época de polarizações, poucas palavras provocam tanta aversão nos ambientes liberais quanto "cristão evangélico".

Em parte, isto se explica porque, nos últimos 25 anos, os evangélicos foram associados a personagens rabugentos e fanfarrões. Quando os reverendos Jerry Falwell e Pat Robertson debateram na televisão se os ataques de 11 de Setembro foram uma punição de Deus contra as feministas, os gays e os secularistas, Deus deveria tê-los processado por difamação.

Anteriormente, Falwell defendera que a aids é "o julgamento de Deus sobre a promiscuidade". Esta presunção religiosa permitiu que o vírus da aids se espalhasse, constituindo uma imoralidade maior do que tudo o que poderia acontecer nas saunas gays.

Em parte, por causa desta postura bem-pensante, todo o movimento evangélico frequentemente foi condenado pelos progressistas como reacionário, míope, irracional e até mesmo imoral.

Entretanto, esse menosprezo casual é profundamente injusto, se considerarmos o movimento como um todo. Ele reflete um tipo de intolerância às avessas, às vezes um fanatismo às avessas, dirigido contra dezenas de milhões de pessoas que na realidade se envolveram cada vez mais na luta contra a pobreza e na defesa da justiça global.

Essa linha compassiva da corrente evangélica foi dotada de bases extremamente sólidas pelo reverendo John Stott, um moderado estudioso inglês que influiu de maneira muito mais importante no cristianismo do que astros da mídia como Robertson ou Falwell. Stott, que morreu há alguns dias aos 90 anos, foi incluído na lista das cem pessoas mais influentes do globo da revista Time. Em termos de estatura, às vezes foi considerado o equivalente do papa entre os evangélicos de todo o mundo.

Stott não pregou acenando com a ameaça das penas do inferno numa rede cristã de televisão. Ele foi um humilde estudioso cujos 50 livros aconselham os cristãos a emular a vida de Jesus - principalmente sua preocupação com os pobres e os oprimidos - e a se opor a mazelas sociais como a opressão racial e a poluição ambiental.

"Os bons samaritanos sempre serão necessários para socorrer os que foram assaltados e roubados; entretanto, seria melhor acabar com os bandoleiros na estrada de Jerusalém a Jericó", escreveu Stott em seu livro A Cruz de Cristo. "Por isso, a filantropia cristã em termos de alívio e ajuda é necessária, mas muito melhor seria um aprimoramento a longo prazo, e nós não podemos fugir da nossa responsabilidade política e da necessidade de participar da transformação das estruturas que inibem este aprimoramento. Os cristãos não podem olhar com tranquilidade as injustiças que arruínam o mundo de Deus e degradam suas criaturas".

Stott deu exemplos das injustiças contra as quais os cristãos precisam lutar: "os traumas da pobreza e do desemprego", "a opressão das mulheres", e na educação, "a negação de iguais oportunidades a todos".

Para muitos evangélicos que sempre se retraíam quando um "televangélico" ganhava as manchetes, Stott era um guru intelectual e uma inspiração. Richard Cizik, presidente da Nova Igreja Evangélica Parceria para o Bem Comum, que trabalhou heroicamente para combater desde o genocídio até a mudança climática, me disse: "Contra a charlatanice e a irracionalidade no nosso movimento, Stott permitiu afirmar que você é "evangélico" e não deve se arrepender".

O reverendo Jim Wallis, diretor de uma organização cristã chamada Sojourners (Os visitantes), que trabalha em prol da justiça social, acrescentou: "John Stott foi o primeiro líder evangélico importante que defendeu o nosso trabalho na Sojourners". Stott, que foi um aluno brilhante em Cambridge, também ressaltou que a fé e o intelecto não precisam ser conflitantes.

Há muitos séculos, o estudo profundo da religião era extraordinariamente exigente e rigoroso; por outro lado, qualquer um podia declarar-se cientista e passar a exercer a alquimia, por exemplo. Hoje, é o contrário. Um título de doutor em química exige uma formação rigorosa, enquanto um pregador pode explicar a Bíblia pela televisão sem dominar o hebraico ou o grego - ou mesmo sem mostrar interesse pelas nuances dos textos originais.

Os que se denominam líderes evangélicos revelam-se hipócritas, transformando Jesus em lucro em lugar de emulá-lo. Alguns parecem inclusive homofóbicos, e muitos que se declaram "a favor da vida" parecem pouco preocupados com a vida humana depois que ela sai do útero. São os pregadores que aparecem nas manchetes e são menosprezados.

Escrevendo sobre a pobreza, as doenças e a opressão, encontrei outros ainda. Os evangélicos estão desproporcionalmente dispostos a doar o dízimo do que ganham a obras de caridade, em geral ligadas à igreja. O mais importante é que se procuramos nas linhas de frente, nos EUA ou no exterior, nas batalhas contra a fome, a malária, as violações nas prisões, a fístula obstétrica, o tráfico de pessoas ou o genocídio, alguns dos mais corajosos que encontramos são cristãos evangélicos (ou católicos conservadores, que a eles se assemelham de muitas maneiras) que vivem verdadeiramente a sua fé.

Não sou particularmente religioso, mas reverencio os que vi arriscando sua vida dessa maneira - e me enoja ver esta fé ridicularizada em coquetéis em Nova York.
Por que tudo isto é importante?

Porque tanto as pessoas religiosas quanto as seculares fazem um trabalho fantástico em questões humanitárias - mas elas frequentemente não trabalham juntas em razão das suspeitas mútuas. Se pudermos superar este "abismo divino", poderemos progredir muito mais no combate às mazelas do mundo.

E esta seria, realmente, uma dádiva divina. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA


fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,evangelicos-sem-espetaculo,755510,0.htm

domingo, 7 de agosto de 2011

In memorian Péricles Couto

Péricles Couto, um amigo que foi para o céu.

Na tarde deste domingo, dia 07 de agosto de 2011, após uma breve e intensa batalha contra um câncer descoberto a menos de quinze dias, tendo passado por duas cirurgias, Péricles  "Coutinho" veio a falecer em Belo Horizonte. Residia com a esposa Alva nos últimos anos em Curitiba de onde coordenavam a Missão Aliança, ong social cristã.

Morreu na cidade onde cresceu e trabalhou grande parte de sua vida e onde reside sua mãe nonagenária, D. Geraldina Couto. São seus irmãos o Lutero (Curitiba, PR) e o Ebenezer (Uberlândia,MG). Honrando seu legado temos seus filhos Estevão e Sonia.

Certamente o Péricles será lembrado pela sua paixão por Cristo de quem foi constante  servidor. E por seu largo coração que acolhia a todos com uma rara gentileza e honestidade. Bom de prosa e hospitaleiro, abria sua casa para grupos de estudantes estudarem a Bíblia ou para vizinhos discutirem ações de melhorias no bairro. Ou simplesmente juntava amigos para festejar a vida. Desenvolveu e manteve o precioso hábito de visitar antigos amigos. Em trabalhos de grupo, em
negociações ou debates raramente se exaltava ou era ríspido com alguém. Sua fala às vezes era entrecortada por explosões de riso, numa alegria pura. Juntamente com a esposa, suportou  situações difíceis e sofreu angústias em diversos momentos justamente por não compactuar com pecados institucionais e incorreção ética de igrejas e organizações.

Como cidadão brasileiro colocou-se vivencial e profissionalmente a serviço dos pobres e excluídos de nosso país. Centenas de pessoas se entristecerão por um tempo pela sua partida, guardando a lembrança de sua caridosa, amiga e terapêutica presença. Sempre era visto com a sua companheira de décadas, a Alva, com quem dividia as lutas e conquistas e a quem abraçamos neste momento.  Podemos falar dele como o tipo do qual o mundo, com suas mazelas e corrupção não era digno. O Eterno o chamou e os anjos cantam alegremente por mais um remido por Cristo entrar nos céus.

Margarete e Ageu Heringer Lisboa

veja também: http://crerpensar.blogspot.com/2011/08/tributo-deus.html

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Ateus espalham outdoors com mensagens polêmicas em Porto Alegre

(Estado de Minas) Com a intenção de combater o preconceito contra quem não acredita em nenhum deus, uma associação de Porto Alegre (RS), que reúne ateus, tomou uma atitude inusitada. Seus membros espalharam outdoors pelas ruas da cidade com as mensagens "Religião não define caráter." "Somos todos ateus com os deuses dos outros."


(Reprodução)

De acordo com a Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos, quatro outdoors já foram fixados nas ruas da capital gaúcha, que é a primeira do país a receber a iniciativa. A expectativa é de que o número de outdoors aumente, o que vai depender principalmente de doações. Ao todo, a entidade já gastou R$ 7.000, valor bancado por doares. A associação espera ainda expandir o projeto para outras cidades, mas isso vai depender também de doações.

Lá fora, a campanha não é novidade e há dois anos, as mensagens são divulgadas em ônibus. Na Inglaterra, em 2009, foram publicadas mensagens dizendo: "Deus provavelmente não existe". No Brasil, a associação informou que empresas de transporte de Porto Alegre, Salvador, Florianópolis e São Paulo rejeitaram a proposta de publicidade, feita no final do ano passado.

fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/ateus-espalham-outdoors-com-mensagens-polemicas-em-porto-alegre