segunda-feira, 30 de junho de 2014

Um Nobel da Paz que serviu a Deus

Albert Schweitzer foi um dos mais consumados polímatas de sua geração. Nascido em 1875, na Alsácia-Lorena, obteve doutorados em filosofia, teologia e música, escreveu uma importante biografia de Johann Sebastian Bach e um livro revolucionário sobre a vida de Jesus, e também conseguiu ser um dos mais exímios organistas da Europa.


Schweitzer realizou a maior parte dessas coisas na casa dos vinte anos. Aos trinta, porém, optou por uma grande mudança de rumo, abdicando da música e de uma brilhante carreira acadêmica para fazer um novo curso, dessa vez de medicina. Em 1913 ele partiu para a África Equatorial francesa, onde fundou um hospital para leprosos, e em 1952 recebeu o prêmio Nobel da Paz por décadas de trabalho médico pioneiro na selva africana. Schweitzer foi motivado pelo desejo de prestar serviço e contribuir para o que chamou de “a grande tarefa humanitária” de levar o conhecimento médico às colônias. Ele se sentia no dever, na obrigação, de trabalhar em benefício dos outros, “mesmo que seja uma coisa pequena”, disse, “faça algo por aqueles que precisam de ajuda humana, algo pelo que você não obtenha nenhuma paga a não ser o privilégio de fazê-lo.”1

O caminho clássico para uma carreira dedicada a um propósito é trabalhar por uma causa que encarne nossos valores, algo que transcenda nossos próprios desejos e faça uma diferença para outras pessoas ou o mundo à nossa volta. O serviço, um dos motivadores mais poderosos na história do Ocidente, está enraizado na ideia medieval cristã de servir a Deus mediante boas obras. Os primeiros hospitais da Europa, que começaram a aparecer em cidades como Paris, Florença e Londres, no século XII, eram fundações religiosas criadas para servir tanto aos indigentes e doentes quanto a Deus – atitude que se reflete no antigo termo francês para hospital, hôtel-Dieu, “albergue de Deus”. Por volta do mesmo período, ordens cristãs fundadas pelos cruzados, como os cavaleiros de São João de Jerusalém e os cavaleiros templários – mais conhecidas por sua matança de incréus -, também construíram hospitais por todos os países mediterrâneos e de língua alemã como forma de serviço sagrado.2

Albert Schweitzer foi impulsionado por essa ética cristã de serviço, tal como os fundadores da moderna profissão da enfermagem no século XIX, como Florence Nightingale e Clara Barton. No século XX, o ideal de prestar serviço espalhou-se além das fronteiras religiosas, de modo que aqueles que trabalham hoje no serviço público – seja como trabalhadores sociais na linha de frente, seja como estatísticos nas secretarias de educação – muitas vezes o fazem não apenas porque talvez lhes seja oferecida uma renda estável ou perspectivas de promoção, mas por sentirem que seu trabalho contribui para o bem público.

Roman Krznaric: Sobre a Arte de Viver – lições da história para uma vida melhor (Zahar)

Notas:
1. Schweitzer, 1949, p. 3.
2. Porter, 1997, p. 113.
Foto: Special Collections Research Center, Syracuse University Librar

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Carta de um homossexual ao seu pastor


Eduardo Ribeiro Mundim

(esta carta, como a anterior, é fictícia)

Amado Irmão Nicodemus.

Obrigado pela sua correspondência. Antes de tudo, ela é demonstração do seu interesse genuíno por mim. E como tenho sentido falta de amizades verdadeiras e puro amor cristão!

Lembro-me como se fosse hoje o dia da minha conversão. Colocar em palavras a multidão de sentimentos é impossível: ordená-los em ordem de importância seria colocar um como superior ao outro, e não foi assim a experiência. Afirmo, sem medo de errar, que minha vida transformou-se por completo. Nunca pensei que conseguiria ter bons pensamentos e desejar o bem para tantas pessoas que me prejudicaram no passado! Mas num piscar de olhos todo ressentimento, todo ódio, foi lavado como que por uma forte enxurrada. Nunca pensei que passaria a me preocupar com o bem-estar do meu próximo; que sua alegria seria a minha alegria! Nunca pensei que ser ético nas relações sociais e comerciais fosse tão espontâneo! Nem tenho que fazer força para fazer o certo e recusar o errado!

Mas mais importante foi a descoberta de que meus pecados estão perdoados; de que Cristo os cravou na cruz, tornando-me legalmente justo (ainda que permanentemente pecador). Sim, que coisa maravilhosa é a convicção de que nossos pecados estão perdoados. Que certeza gloriosa é o testemunho do Espírito com o meu de que sou Seu filho. Graças a Deus!

Houve algum erro quando minhas angústias atuais chegaram aos seus ouvidos. Não tenho desejo por outros homens! Esta fase da minha vida, de promiscuidade, saunas gays, programas, está, graças ao nosso Pai, enterrada. Dela fui liberto pelo Seu precioso sangue!

A terrível angústia que me assombra é a percepção de que, apesar de todo amor da minha esposa, e dos frutos de nossa união, o interesse sexual mingou. Não foi por uma briga, uma desavença. Gradativamente fui percebendo que (nossa, esta percepção está me matando) eu mentia para ela quando dizia que a desejava. E a maior prova disto é a disfunção erétil que se torna cada vez mais frequente. De comum acordo tenho usado a “pílula azul” (na minha idade!). E cada vez que conseguimos ter uma relação sinto que a traio, ou que voltei à época dos programas sexuais. Isto eu não tive coragem de compartilhar com ela – ela não merece!!! Mas o que lhe escrevo, contando com seu eterno segredo, é a pura verdade.

Revi minha história tentando encontrar respostas. Sabe por que mudamos de igreja? Porque naquela onde minha conversão foi publicamente manifestada o pastor me usou para alavancar seu ministério e ganhar alguns pontos na hierarquia da denominação. Quantas vezes ele me chamou para dar meu testemunho! Confesso, envergonhado, de ter pedido perdão a Jesus por tê-lo feito algumas vezes de modo mecânico.

Quando conheci minha esposa, e começamos a namorar, fui sutilmente (às vezes acho que nem foi tão sutil assim) pressionado a demonstrar minha completa mudança de vida deixando a homossexualidade de lado. Não bastava deixar a promiscuidade, a imoralidade, a prostituição – a homossexualidade tinha que acabar. Se assim não fosse, minha conversão não seria genuína!

Novo na fé, consegui escapar do falso pastor e da sua comunidade doente, mas a mensagem permaneceu como marca feita com ferro em brasa.

Quando chegamos na nossa igreja, fomos muito bem recebidos, graças a Deus. Pouquíssimas pessoas sabem do meu passado, e todas são discretíssimas. Meu pastor nunca me usou, nem chamou-me para dar testemunho. Discipulou-me em amor, tornando-me, ao final, como você sabe, professor da escola dominical. Casamos e tivemos filhos.

A companhia da minha esposa é especial, e adoro estar ao seu lado. Compartilhamos sonhos, nos apoiamos nas nossas desilusões, fortalecemos nossos filhos. Mas – e tenho tomado consciência disto de modo gradual e com grande dor – como amigos, não como marido e mulher.

Verdadeiramente sonho com um companheiro que tenha as características dela. Não o encontrei, nem o procurei. Mas é a mais pura verdade que este é o desejo do fundo do meu coração.

Sei que temos que cultivar os frutos do Espírito, e que não devemos satisfazer os desejos imundos da carne. Sei que é com esforço que vamos sendo santificados, onde a minha decisão de resistir à tentação (e foi boa sua explicação do tema, pois é da forma que ensinou a diferença entre tentação e pecado que tenho direcionado também minha vida espiritual) faz parte do processo de crescimento em graça. Sei que a eleição é irrevogável, e que a graça é irresistível – afinal, foi isto que experimentei em minha vida.

O ensino de Paulo aos romanos sobre Deus ter entregue aqueles que não O reconhecem como Deus e Senhor a paixões infames, cometendo “torpezas uns com os outros” me pesa no coração. É a única passagem das Escrituras que levanta alguma dúvida sobre a certeza que tem crescido dentro de mim: sou homossexual não por escolha, mas o sou. Talvez por contingências da vida (os cientistas não chegam a uma conclusão e as exposições e teorias deles são tão desprovidas de evidências decentes que dá dó).

Divaguei um tempo sobre os frutos do Espírito e da carne. Aí vi o presbítero X (vamos deixar os nomes de lado), com seus 120 kg distribuídos nos seus 160 cm de altura. Não é a glutonaria um pecado? Não é a obesidade resultante do comer em excesso, desnecessariamente? Não está o seu pecado, então, evidente aos olhos de todos?

A Sra. Y está em tratamento para cleptomania, sabia? Novamente, conto com seu silêncio pastoral, pois disto fiquei sabendo por acaso e não desejo causar-lhe mal algum. Mas cito este segredo porque roubo contumaz é pecado. E as Escrituras não dizem que glutonaria ou roubo ou imoralidade sexual ou o que for não são pecados se forem consideradas doenças!

Neste ponto, até que gostaria que a ciência considerasse a homossexualidade uma doença. Alguns conflitos meus seriam resolvidos.

Mas como é natural para o Sr. X comer, é natural para mim desejar um companheiro, para formarmos um casal monogâmico e fiel.

Neste momento, estou entre a cruz e a espada, entre a panela e o fogo. Não sou honesto perante meu Senhor e Salvador Jesus se lhe escondo tudo isto; estou sem coragem de terminar meu casamento – é a atitude correta, pois estou permanentemente cometendo o pecado da mentira com minha esposa.

Repito, para não deixar dúvida no seu espírito: não estou apaixonado por ninguém. Se estivesse, encontraria forças extras.

Hoje vejo que a atitude correta seria deixá-la discretamente, afastar-me da escola dominical e procurar uma comunidade de cristãos onde ser homossexual não fosse motivo de orgulho, como não é o ser heterossexual; onde o centro da pregação seja a cruz e a ressurreição, e não a situação sexual; onde todos possam dizer “Senhor Jesus me chego a ti. Tua ira santa mereci. Oh, dá-me alívio mesmo aqui. Aceita um pecador. Eu venho como estou” (nunca esqueci este hino, cantado no dia da minha conversão); onde possa ter uma união abençoada se o Pai o permitir, ou viver celibatariamente em paz, sem pressão.

Sinto que esta conversa, com qualquer outra pessoa, causaria repulsa e escândalo. Mas conto com sua amizade e vocação pastoral para não me deixar só, falando e meditando, e sofrendo, sozinho. Um ou outro irmão já o fizeram quando a conversa não era pessoal, mas um “caso hipotético”, uma discussão sobre o homossexual na igreja.

Em Cristo, grato pela sua amizade

Sandro

Carta a um ex-gay tentado a voltar atrás

(A carta é fictícia, bem como as personagens aqui mencionadas)

Meu caro Sandro,

Espero que esta o encontre bem, com muita saúde e alegria em todas as coisas.

Soube pelo seu pastor que você está pensando em desistir da fé e sair da igreja porque, passados já cinco anos que você recebeu Jesus como seu Senhor e Salvador, você continua a sentir desejos homossexuais e atração por homens. Ele me disse também que sua esposa, a Rita, tem sofrido muito com tudo isto, muito embora você tenha sido bastante honesto com ela e não tenha, em nenhum momento, sido infiel no casamento.

Seu pastor, que foi meu aluno no seminário teológico, me pediu para escrever para você, especialmente pelo fato de que fui eu quem lhe ajudou nos primeiros dias depois da sua experiência de conversão. Espero que esta carta seja usada por Deus para ajudar você neste momento difícil.

Sei que você ficou ainda mais confuso por causa do alarde da imprensa sobre um projeto que os ativistas gays apelidaram de “cura gay”. A verdade dos fatos é que esta designação irônica é a reação deles ao Projeto de Decreto Legislativo 234/11 do deputado João Campos, do PSDB, que suspende dois itens da resolução do Conselho Federal de Psicologia que proibiam psicólogos de atender pacientes que buscassem ajuda para se libertar dos impulsos e desejos homossexuais. O projeto 234 foi aprovado recentemente na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara de Deputados. Os ativistas gays apelidaram o projeto 234 de "cura gay", uma designação irônica e maliciosa, pois o projeto não é sobre isto. Ele apenas restabelece o direito dos pacientes de pedirem ajuda e dos psicólogos de ajudarem e não usa o termo "cura". Se você quiser mais detalhes sobre os fatos, recomendo o artigo de Reinaldo Azevedo sobre o assunto.

Mas minha carta não é sobre os fatos acima mencionados, mas sobre a crise que você está passando com estes desejos homossexuais, mesmo sendo um crente em Jesus Cristo. Você se lembra que eu lhe alertei para o fato de que crer em Jesus como Senhor e Salvador não significaria a imediata libertação de todas as consequências espirituais, psicológicas e mentais dos anos em que você viveu como homossexual praticante. O pecado deixa profundas cicatrizes em nossas vidas, marca a ferro e fogo nossa consciência com imagens, impressões, experiências, gostos e desejos, que levam muitos anos para serem vencidos.

Seu pastor me falou que você vinha lendo material de determinados autores que afirmam que homossexuais, uma vez convertidos, se tornam completamente libertados não somente da prática de relações com pessoas do mesmo sexo como também da atração por pessoas do mesmo sexo. Sandro, não duvido que em alguns casos isto possa acontecer. Sei que há casos concretos de pessoas que viviam na homossexualidade e que, depois da conversão a Jesus Cristo, libertaram-se inclusive da atração por pessoas do mesmo sexo. Todavia, isto nem sempre é o que acontece, como, infelizmente, é o seu caso. Você precisa entender, contudo, que a continuidade de desejos homossexuais depois de uma legítima conversão não significa necessariamente uma derrota e nem que Deus falhou com você.

Acho que você está esquecendo um ponto básico da doutrina cristã, que é a diferença entre pecado e tentação. A atração por pessoas do mesmo sexo é diferente da prática de relações sexuais entre elas. A primeira é uma tentação, a segunda é pecado. Tentação e pecado são duas coisas diferentes. Sandro, eu tenho um coração corrompido pelo pecado, a minha natureza é pecaminosa a despeito da minha justificação pela fé em Cristo e da presença do Espírito de Deus em mim. Diariamente, do meu coração corrompido procedem desejos, intenções, reações e pensamentos carnais e pecaminosos. Associado a isto, há as tentações externas trazidas pelo mundo, pelas pessoas e por Satanás.

Diariamente homens cristãos casados se sentem tentados a olhar uma segunda vez para mulheres que não são sua esposa e se sentem tentados a imaginar e desejar ter relações com elas. Todavia, ser tentado a fazer isto não é a mesma coisa que fantasiar estas relações ou tê-las na prática. Diariamente cristãos verdadeiros reprimem estes desejos, dizem não a estes pensamentos e evitam a segunda olhada. Pensam na esposa, nos filhos e particularmente em Deus, que odeia e abomina o adultério, e no Senhor Jesus que morreu exatamente por causa destes pecados. Cada dia em que resistem a estes impulsos e vontades é um dia de vitória e de libertação.

Caro Sandro, creio que o mesmo pode se aplicar a outras vontades pecaminosas, como desejos homossexuais, desejos de machucar outras pessoas, a cobiça por coisas... a lista é grande. A conversão a Cristo não significa a expulsão do pecado aqui e agora do nosso coração. É isto que você precisa entender.

Mas agora me deixe voltar a um daqueles estudos bíblicos que lhe passei no início do discipulado e que, pelo jeito, você esqueceu. Lembre que o processo estabelecido por Deus para libertar pessoas do pecado é realizado por ele em três etapas que acontecem em sequência e nesta ordem. Na primeira, Deus nos liberta da culpa do pecado - justificação. Na segunda, do poder do pecado - santificação; e na terceira, da presença do pecado em nós - glorificação. Lembra do quadro que desenhei para você naquele domingo?

Libertação da:Designação Quando: Como:
Culpa do pecadoJustificaçãoPassadoAto único realizado uma única vez
Poder do pecadoSantificaçãoPresente Processo incompleto e imperfeito
Presença do pecadoGlorificaçãoFuturoAto único realizado de uma vez para sempre

Só recordando: a primeira etapa, a libertação da culpa do pecado, é a justificação, que é um ato de Deus, único e pontual, no qual ele nos considera justos diante dele mesmo, com base nos méritos de Cristo. Corresponde, na nossa experiência, à conversão, arrependimento e fé. É um ato legal de Deus feito de uma vez para sempre e é a base das etapas seguintes. Foi o que aconteceu com você naquele dia que você, arrependido e quebrantado por seus pecados, voltou-se para Cristo em fé suplicando o seu perdão.

A etapa seguinte é libertação do poder do pecado. Trata-se da santificação, que é um processo que se inicia imediatamente depois da justificação e que dura nossa vida toda. Ele consiste, não na erradicação do pecado e de nossa natureza decaída, mas em mortificar esta natureza, dominá-la, subjugá-la e mantê-la sob controle. Essa é a etapa do processo de salvação que você está vivendo agora. Lembra da ênfase que dei à necessidade de usar os meios de graça como oração, meditação e comunhão com outros irmãos em Cristo? Lembra que oramos para que o Espírito de Deus produzisse diariamente em você o fruto do domínio próprio? Sandro, neste processo há uma luta constante, ferrenha e interminável que você tem que travar contra o pecado que habita em você, contra as tentações de Satanás e do mundo. Todavia, esta luta em si não é pecado. Ser tentado não é pecado. Sentir desejos pecaminosos, vontade de fazer o mal, disposição para o que é errado, estas coisas vão nos acompanhar todos os dias de nossa vida e não são pecado – a não ser que cedamos a elas. A vitória consiste em dizer "não" a todas elas, diariamente, todos os dias de nossa vida, pelo poder do Espírito.

A terceira etapa que lhe falei é a glorificação, quando ocorrerá a libertação da presença do pecado em nós. Ela ocorrerá quando morrermos ou se estivermos vivos quando da vinda do Senhor Jesus. Haverá a ressurreição dos mortos e a transformação dos crentes que estiverem vivos. Todos os filhos de Deus serão transformados para serem como o Senhor Jesus, num corpo glorificado e sem pecado, glorioso, imortal e incorruptível, com o qual os filhos de Deus viverão eternamente no novo céu e na nova terra onde habita a justiça. Só então, Sandro, você e eu seremos finalmente livres dos desejos carnais que habitam em nosso coração.

Deus não prometeu que você ficaria livre de toda tentação e de todos os desejos a partir do momento que você cresse em Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Você foi perdoado e justificado de seus pecados – inclusive do pecado do homossexualismo. Mas isto representou apenas o início do seu processo de libertação do poder do pecado que habita em você, processo este que é incompleto e imperfeito nesta vida, embora bastante real. Você precisa aprender a lutar e a dominar todos os seus desejos pecaminosos, inclusive o desejo de ter relações com pessoas do mesmo sexo, da mesma forma que os crentes heterossexuais lutam e dominam seus desejos de prostituição, fornicação, adultério, impureza e pornografia.

No seu caso, após a conversão você recobrou a atração pelo sexo oposto, casou com a Rita e tiveram dois filhos. Mas isto nunca significou que você ficaria livre da tentação pelo mesmo sexo, como você está sendo tentado agora. Outros, não conseguiram casar e optaram por viver solteiros, no celibato, sem relações sexuais com qualquer pessoa. Resolveram renunciar a tudo para se manterem fiéis a Cristo que disse que o caminho é estreito e a porta é apertada. Em qualquer situação, Sandro, a vitória consiste em resistir ao desejo e seguir o caminho da obediência, que é a mesma coisa para os heterossexuais.

Acredito que você está desanimado desnecessariamente, pois de alguma forma foi levado a pensar que a conversão lhe libertaria completamente dos desejos que você tinha antes de conhecer a Jesus Cristo. Espero que esta carta seja útil para trazer verdadeira libertação.

Por favor, não interprete minha carta erroneamente. Não estou limitando o poder de Deus ou dando brecha para que você volte aos seus antigos pecados com a consciência tranquila. Como eu disse, as relações homossexuais, na prática ou nas fantasias eróticas de quem se masturba diante de um computador, são pecado e iniquidade. Ser tentado a fazer isto não é. Portanto, fique firme, continue a praticar as disciplinas e exercícios espirituais, continue a conversar com a Rita e a abrir seu coração para ela e a ver seu pastor regularmente. Conte comigo em tudo que precisar. Acima de tudo, não desista, pois Deus nunca nos prometeu uma viagem tranquila, somente uma chegada certa.

Termino declarando a minha mais completa confiança na veracidade destas promessas bíblicas, que deixo para sua meditação:

“Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça” (Rm 6.14)

“Porque, quando éreis escravos do pecado, estáveis isentos em relação à justiça. Naquele tempo, que resultados colhestes? Somente as coisas de que, agora, vos envergonhais; porque o fim delas é morte. Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação e, por fim, a vida eterna; porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor”. (Rm 6.20-23)

Do seu irmão e amigo,

Augustus

publicado em http://www.ultimato.com.br/conteudo/carta-a-um-ex-gay-tentado-a-voltar-atras

ver resposta em http://crerpensar.blogspot.com.br/2014/06/carta-de-um-homossexual-ao-seu-pastor.html