terça-feira, 31 de março de 2009

Diário de Wesley, abril de 1736

Domingo, 4 de abril. Quase quatro da tarde parti para Frederica, em uma piroga (uma espécie de barco com fundo chato). Na noite seguinte ancoramos perto da Ilha Skidoway, onde a água, na cheia, tinha doze ou quatorze pés de profundidade. Me agasalhei dos pés à cabeça com um grande manto, tanto para me manter afastado das moscas de areia como para deitar no convés. Entre uma e duas acordei submerso, estando tão profundamente adormecido que não notei onde estava até que minha boca estava toda cheia de água. Tendo deixado meu manto, eu não sei como, sobre o convés, nadei em volta até chegar do outro lado da piroga, onde um barco estava amarrado, e subi pela corda sem qualquer dano, mais do que molhar minhas roupas. Tu és o Deus de quem vem a salvação, Tu és o Senhor por quem escapamos da morte.

Os ventos estavam tão contrários, que no sábado, 10, pudemos apenas atravessar a Ilha Doboy, vinte milhas de Frederica, mas não pudemos de jeito nenhum percorrer a baía, tendo também uma forte onda contra nós. Aqui continuamos sendo forçados para trás durante mais de uma hora, quando o relâmpago e a chuva, que há muito tínhamos visto ao longe, moveram-se completamente sobre nós, até que, depois de quinze minutos, as nuvens se dividiram, algumas passando para a direita, e outras para a esquerda, nos deixando um céu claro, e um vento tão forte bem atrás de nós, que em duas horas nos levou a Frederica.

Pouco antes de desembarcarmos, abri meu Testamento nestas palavras: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” Chegando em terra firme, encontrei meu irmão bem fraco, tendo estado por algum tempo doente de uma disenteria, mas, da hora que me viu, recuperou sua saúde. Isto também Deus operou!

Domingo, 11. Preguei no novo armazém sobre o primeiro versículo do Evangelho para o dia: “Quem dentre vós me convence de pecado? E se vos digo a verdade, por que não credes?” Havia uma grande congregação, a qual me esforcei para convencer da incredulidade, propondo simplesmente as condições da salvação, como são declaradas nas Escrituras, e apelando aos seus próprios corações se eles criam que não poderiam ser salvos de nenhuma outra forma.

Em cada um dos seis dias seguintes, tive algumas novas provas da absoluta necessidade de seguir aquele sábio conselho do apóstolo: “Nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações.”

Sábado, 17. Partimos para Savannah, e lá chegamos na noite de terça-feira. Ó, que bendito lugar, onde, tendo apenas um fim em vista, não existe fingimento ou engano, mas cada um de nós podia desabafar sem medo no seio de seu irmão!

Não encontrando, até agora, nenhuma porta aberta para colocarmos em prática nosso plano principal [converter os índios], estudamos uma maneira de sermos mais úteis ao pequeno rebanho em Savannah. E concordamos em, 1. Recomendar aos mais compromissados entre eles para se organizarem numa espécie de pequena sociedade, e se reunirem uma ou duas vezes na semana, a fim de admoestar, instruir e exortar uns aos outros. E, 2. Dentre esses, eleger um grupo menor para uma união mais íntima, que poderia ser favorecido, em parte por uma conversa particular que teríamos com cada um, e em parte convidando-os todos juntos para nossa casa, e isto, conseqüentemente, decidimos fazer todo domingo à tarde.

Tradução: Paulo Cesar Antunes

http://www.metodistasonline.kit.net/diariodewesleyabrilde1736.htm

segunda-feira, 30 de março de 2009

A Cara do Brasil

Delis Ortiz

Outro dia, ao chegar ao Rio de Janeiro, tomei um táxi. O motorista, jeito carioca, extrovertido, foi logo puxando papo, de olho no retrovisor.

-- A senhora é de Brasília, não é?

-- Sim -- respondi.

-- É, eu a reconheci. E como é que a senhora aguenta conviver com aqueles ladrões lá do Planalto Central? Não deve ser moleza.

O sujeito disparou a falar de políticos, do tanto que eles são asquerosos, corruptos... Desfiou um rosário de adjetivos comuns à politicagem nacional.

Brasília é o palco mais visível dessas mazelas e nem poderia deixar de ser. Afinal, o país inteiro olha para lá. O taxista era só mais um crítico, aparentemente atento. E ele sabia dar nomes aos bois que pastavam tranquilamente no orçamento da união, que se espreguiçavam impunemente sob a sombra da imunidade parlamentar ou de leis feitas em benefício próprio. E que, de tempos em tempos, se refrescavam nas águas eleitoreiras.

O carro seguia em alta velocidade; a distância parecia esticada. Vi uma bandeira três em disparada.

Lá pelas tantas, quando já estávamos dentro de um segundo túnel escuro, o condutor falante sugeriu um “dia sem corrupção”.

-- Já pensou -- disse ele -- se uma vez por ano esses homens não roubassem?

-- Interessante -- a exclamação me escapou aos lábios.

-- Sim -- continuou entusiasmado --, seria uma economia e tanto.

Nessa hora, me dei conta de que estávamos percorrendo o caminho mais longo para o meu destino. Chegava a ser irracional a quantia de voltas para acertar o rumo. Deixei.

-- Os economistas comentam -- tagarelava ele -- que somos um país rico. Não deveria existir déficit da previdência, os impostos nem precisariam ser tão altos, o serviço público poderia ser de primeira. O problema é que quanto mais se arrecada, mais escorre pelo ralo, tamanha a roubalheira.

Tão observador, será que ainda se lembrava em quem tinha votado para deputado ou senador na última eleição? Fiz a pergunta e, depois de algum silêncio, a resposta foi não. Pena.

Caímos num engarrafamento, cenário perfeito para aquele juiz de plantão tecer mais comentários sobre o malfeito.

-- Veja como são as coisas, os riquinhos ociosos da Zona Sul, que deveriam pensar em quem tem pressa, acham que são os donos do pedaço e vão embicando seus carros, furando fila, costurando de uma faixa a outra, querendo levar vantagem. A gente, que é motorista de táxi, tem que ficar atento, porque os guardas estão de olho, qualquer coisinha eles multam. Mas eles fazem vista grossa para as vans que transportam pessoas ilegalmente. Elas param onde querem, estão tomando os nossos passageiros. Como não tem ônibus para todo mundo e táxi fica caro, muita gente prefere ir de van.

Por falar em “caro”, a interminável corrida já estava me saindo um absurdo... Resolvi pontuar algumas coisas.

-- Por que o senhor escolheu o caminho mais longo?

Ele tentou se justificar:

-- É que eu estava fugindo do congestionamento.

-- Mas acabamos caindo no pior deles -- retruquei. E por que o senhor está usando bandeira três se não tenho bagagem no porta-malas nem é feriado hoje? -- continuei questionando.

Ele disse que estava na três para compensar a provável falta de passageiro na volta. Claro que não, eu sabia.

Finalmente, consegui chegar ao endereço pretendido. Fiz mais um teste com o “probo” cidadão: paguei com uma nota mais alta e pedi nota fiscal. Ele me devolveu o troco a menos e disse que o seu talão de notas havia acabado.

-- Veja como são as coisas, seu moço -- emendei. O senhor veio de lá aqui destilando a ira de um trabalhador honesto. No entanto, se aproveitou do fato de eu não saber andar na cidade, empurrou uma bandeirada, andou acima da velocidade permitida, furou sinal, deu voltas, fingiu que me deu o troco certo e diz que não tem nota fiscal!

O brasileiro esperto quis interromper, mas era minha vez de falar.

-- O senhor acha mesmo que ladrões são aqueles que estão em Brasília? Que diferença há entre o senhor e eles?

Eu sabia que estava correndo risco de uma reação violenta, mas não me contive. Os “homens” do Planalto Central são o extrato fiel da nossa sociedade. Quantos taxistas desse porte vemos dirigindo instituições? Bons de discursos... Na prática...

Desembarquei com a lição latejando em mim. Quantas vezes, como fez esse taxista, usamos espelho apenas como retrovisor para reter histórias alheias? Nossas caras, tão deformadas, tão retocadas, tão disfarçadas, onde estão? Onde as escondemos que não aparecem no espelho?

Sem a verdade que liberta, jamais estaremos livres de nós mesmos. Ainda sonho com um Brasil de cara nova... A começar por minha própria cara.


Delis Ortiz é jornalista, repórter especial da TV Globo, em Brasília. É mãe de Brenda e Bianca, e avó de Gabriel e Stella. É membro da Igreja Presbiteriana do Planalto.

fonte: revista Ultimato edição 317 , disponível em http://www.ultimato.com.br/?pg=show_artigos&artigo=2354&secMestre=2372&sec=2384&num_edicao=317

domingo, 29 de março de 2009

A Subversão está no sangue



Bráulia Ribeiro

Fui criada no sopé de uma favela belorizontina. Meu pai e minha mãe se conheceram na Escola Guignard como alunos do mestre. A paixão em comum, que era a arte, depois se transformou em muitas mais; os pobres, a esquerda política, a literatura, a imprensa e, claro, os sete filhos que geraram juntos. Minha infância se pareceu com a da família descrita por Orígenes Lessa em “O Feijão e o Sonho”, só que sem o feijão. O Sonho e o Sonho viviam pelos ideais que acreditavam em plena subversão ao sistema.

Em nossa vida um dia nunca era igual ao outro. Meu pai escapou por pouco de ser preso e exilado pela ditadura, viu os jornais em que trabalhou serem submetidos à censura prévia e depois depredados pela repressão policial, viu seus amigos desaparecerem e até adoeceu de desespero existencial. Minha mãe, extraída da carreira de pintora expressionista pelas demandas da maternidade, conseguiu ser mais prática; abrigava pobres em casa, escolarizava crianças da favela, além de escrever, pintar e cuidar que meu pai se mantivesse próximo da realidade.

Aos 16 anos tive um encontro emocional e sobrenatural com a realidade do evangelho. Este encontro me conduziu a terríveis conflitos existenciais. A sementinha nova da fé parecia não resistir às investidas cruéis da razão. Era frágil demais, “des-argumentada”, “des-científica” e, infelizmente, reacionária demais. Aos 17, no entanto, encontrei um grupo que vivia uma utopia próxima da que meus pais haviam sonhado, só que movido à fé cristã. Foi aí que minha alma se encontrou com minha razão e a fé me pôde se tornar concreta. Desde então vivi na JOCUM (Jovens com uma Missão), ou pelo menos pensei viver, bem perto do radicalismo socialista de meus pais. Anos demais, quem sabe; alguns extremamente distantes de qualquer realidade, alienados demais pela utopia gospel da sociedade alternativa, outros anos oprimidos pela realidade inexorável do sistema.

Aprendi nesta jornada que o verdadeiro cristianismo é mais subversivo que qualquer revolução política. Meus pais queriam mudança. Não se conformavam com os problemas e os erros de seus pais, queriam uma sociedade mais justa, queriam liberdade e igualdade para todos. Não pensavam eles na época que o próprio humanismo que os consumiu trabalharia contra os ideais humanos.

Não caberia no coração de meu pai a frieza de se descartar embriões sem uso e fetos inconvenientes ou com defeito. Ainda estava fresco na memória de sua geração o horror que a eugenia produziu durante a Segunda Guerra. Apesar de agora ser quase senso comum, não fazia parte de suas convicções a ideia de que a consciência social nos obriga a ter menos filhos, ou de que a liberação do aborto pudesse ser uma solução para os problemas socioeconômicos atuais ou, eufemisticamente, um mero problema de saúde pública. Por sua origem católica, meu pai e minha mãe acreditavam que a vida humana tinha valor. Favelados, classe média, crianças pobres ou ricas, todos teriam de ter direito aos mesmos direitos, afinal este é o ideal humanista supremo. Vida humana é sempre bem-vinda e deve ser protegida.

Mesmo durante o Iluminismo, quando os valores cristãos começavam a ser mal-afamados e perseguidos, ainda a noção do valor intrínseco do ser humano tinha de ser apoiada em uma metafísica superior à ciência, a qualquer arrazoamento meramente humanista. O ser humano tem valor em si mesmo porque algo superior a ele lhe atribui valor. A linguagem permaneceu religiosa. A noção que chamamos de “Imago Dei”, (somos todos, não importa a cor, o credo ou a condição social, feitos à imagem de Deus) é indispensável para estabelecer igualdade entre os seres humanos. Qualquer coisa fora dela deixaria dúvidas quanto à profundidade e à amplitude desta declaração.

Certa vez, Vácilav Havel1 fez um discurso dizendo que o maior desafio político do século 21 seria fazer com que os Estados soberanos do mundo reconhecessem limites em sua soberania, e se submetessem a uma lei superior baseada no Código Universal de Direitos Humanos. Em suas palavras: "Eu sempre me perguntei por que seres humanos têm direitos quaisquer. Porém, sempre chego à conclusão de que a noção de direitos humanos, liberdade humana e dignidade humana tem suas raízes mais profundas fora do âmbito físico. Descubro que não existe resposta possível no mundo perceptível. Estes valores só têm razão de ser na perspectiva do infinito e do eterno. Concluo minha palestra com a declaração de que enquanto o Estado é uma criação humana, seres humanos são criação de Deus”.

Qualquer outra fé além da cristã deixa dúvidas sobre este valor essencial. É coerente com as pressuposições da Nova Era, ou do hinduísmo, presumir que matar aleijados, sejam fetos ou adultos, é um favor que se faz àquele que por mau carma não se encarnou da maneira correta. É coerente com a ciência a serviço do deus capital sacrificar vidas humanas desfavorecidas na África ou em outros países pobres, como sugerido no filme "O Jardineiro Fiel", para beneficiar o bem maior: o conhecimento a ser adquirido pelas sociedades mas ricas. É coerente com a escalada da eugenia pensar, como Hitler, que eventualmente descobriremos os genes da "raça" ideal, e enquanto isto temos liberdade de matar os embriões que não nos servem, os bebês concebidos que nos sejam inconvenientes.

Quando me reuni com membros do Comitê Nacional de Enfrentamento a Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, descobri que o slogan nacional para o combate do abuso sexual é: “Direitos sexuais são direitos humanos”. Também descobri no site da rede que a agenda do governo desde 2008 não é mais defender as crianças vítimas, mas promover uma nova noção de moralidade em que o sexo entre crianças e adultos poderá ser entendido como legítimo e consentido. Vendo isto percebo o quão longe estamos da sublimidade moral dos direitos humanos. O Papai Noel virou Bicho Papão. Reduzimos a noção de direito à escravidão à sexualidade perversa de alguns. Em nome da justiça social sonhada pelos intelectuais da época de meu pai o governo perverte, torce e profana o direito, os valores da família e o compromisso com a moral que deveria ser a própria razão de ser do governo. A sexualização precoce e irreversível das crianças as levam à condição de objeto a ser usado pelos ideólogos da máquina lasciva do governo PT, sem nenhuma vergonha, sem nenhuma responsabilidade moral.

Enquanto hoje leio cristãos, pastores e teólogos defendendo o aborto como mecanismo de justiça social, o divórcio como um serviço à felicidade pessoal, altar no qual muitos cristãos sacrificam a sua fé, eu oro para continuar livre. Livre para ainda pensar do jeito de Deus. Livre para promover a subversão dos valores da sociedade atual, enfatuada de si mesma, doente. A subversão, meus amigos, está no sangue. Não no sangue de meus pais que me corre nas veias, mas no sangue de Cristo, que nos liberta para não termos de nadar na imundície ideológica da esquerda atual, e para, com um mínimo de bom senso, nos tornarmos reacionários de direita sim, em defesa da vida, com orgulho.

Nota
1. Presidente da antiga Tchecoslováquia e depois da República Tcheca e conhecido filósofo e escritor, a palestra aconteceu no dia 30 de abril de 1999 para o parlamento do Canadá (dado obtido em palestra do teólogo Vinoth Ramachandra à USC Berkeley, 2002).


Bráulia Ribeiro, missionária em Porto Velho, RO, é autora de Chamado Radical (Editora Ultimato). braulia_ribeiro@uol.com.br



http://www.ultimato.com.br/?pg=show_conteudo&util=1&categoria=3&registro=996





terça-feira, 24 de março de 2009

Católicos e protestantes: menina e aborto

Fui católico romano praticante até os 18 anos de idade, e, na infância, pretendi ser Padre (tinha um primo Cônego), mas tive a minha primeira “crise religiosa” justamente em razão do celibato. Passei por uma experiência de conversão, aceitando a Jesus Cristo como meu único Senhor e Salvador, aos 16 anos. Permaneci anda dois anos da Igreja de Roma. Fui, em grande parte, educado pelos jesuítas, como aluno do Colégio Nóbrega e da Universidade Católica de Pernambuco, onde me formei em Ciências Sociais e onde fui professor de três departamentos por seis anos. Saí da Igreja de Roma por uma questão de honestidade para comigo e para com a própria Igreja, quando não mais aceitava alguns dogmas e disciplinas. Retive os estudos de Filosofia e da Doutrina Social.

O problema no Brasil, com a massa de católicos romanos nominais ou tradicionais, é o desconhecimento e a desobediência dos ensinamentos daquela Igreja. Muitos querem ser “católicos ao meu modo”, como o sujeito que quer ser atacante em time de futebol, mas insiste no “direito” de pegar a bola com a mão...

Dom José Cardoso Sobrinho é um tradicionalista, uma personalidade arredia e nada ecumênica, mas devo respeitar a sua fidelidade ao que a Igreja de Roma é e ensina. Para a Igreja de Roma, com sua hierarquia e o seu Código de Direito Canônico, se aplica a máxima “Ame-a ou Deixe-a”. Não adiante exercer o “jus sperniandi”, que é não é, nem nunca pretendeu ser, uma organização democrática, acredita no seu “magistério”, e pouco está se lixando para o que seja pretensamente “atual” ou “moderno”.

Se outros grupos religiosos expõem outros entendimentos, temos todos que ser honestos, reconhecendo que, no caso do Aborto da menina estuprada pelo seu padrasto em Pernambuco, Dom José não deu opinião própria, nem falou nenhum absurdo, mas apenas foi transparente afirmando a posição oficial da sua Igreja. Se médicos, jornalistas ou Presidentes da República pretensamente “católicos” ficaram surpresos ou irados, isso fica por conta da ignorância ou incoerência dos próprios para com a sua religião.

Vivemos em um mundo secularizado, que contesta a autoridade e os valores, que não dá valor à vida, e que fica surpreso quando essa falta de valores e de respeito à vida resulta em injustiças, opressão, exclusão, exploração e toda sorte de violência, inclusive doméstica, entre cônjuges, destes para com filhos e destes para com seus pais e avós.

Como Bispo Anglicano, devo expressar, por um lado – e principalmente –, meu compromisso com as Sagradas Escrituras e com o Consenso Histórico dos Fiéis, e, por outro, o que tem deliberado a Conferência de Lambeth, como nosso fórum maior.

No caso específico, os anglicanos, como a maioria dos cristãos, reconhece que o ser humano após o Pecado Original vive distante dos ideais do seu Criador, pecando por pensamentos, palavras, obras e omissões, contra Deus, contra o próximo, contra si mesmo e contra a natureza. Como Protestante não cremos em pecados “mortais” e “veniais”. Mas afirmamos que todo pecado é pecado, e que todo pecador deve se arrepender, buscar o perdão e novidade de vida, e quando o pecado também for um delito diante do Estado, cumprir a sua pena em uma Justiça confiável.

A vida é um dom de Deus, e ninguém, desde a sua concepção, tem o direito de tirá-la.

O aborto não é um direito da mulher em relação ao seu corpo, mas um homicídio qualificado em relação ao ser ou seres que ela gerou (juntamente com o seu companheiro) e que hospeda em seu ventre por nove meses. Somos, em tese, contra o aborto porque somos pró-vida, inclusive depois do nascimento, com a dignidade que a todos o Criador outorgou e que os modelos sócio-político-econômicos, em geral, privam.

Somos favoráveis a todos os métodos anticoncepcionais não-abortivos. Somos favoráveis a campanhas de educação sexual, que inclui a prevenção da gravidez precoce. Somos a favor da paternidade e da maternidade responsáveis, de um Estado responsável e de uma sociedade solidária. Somos favoráveis ao instituto da adoção.

Para a Comunhão Anglicana, há apenas uma exceção para que o aborto seja legal e legítimo: quando implicar, concretamente, em risco de morte para a mãe. Isso, porém, deve ser comprovado pela Justiça e pelo Ministério Público mediante atestado técnico assinado por uma junta médica de especialistas. No caso dos menores, deve-se levar em conta, também, o posicionamento dos genitores. O pátrio poder pode, até, vir a ser suspenso, nos casos mais graves e urgentes.

As perguntas de Dom José, e de todos nós, é: poderia a menina ser assistida clinicamente, para superar a sua anemia, e ter fortalecido o seu organismo? Poderia o parto cesariano vir a se dar sem maiores riscos para a mãe? Sim ou não? Se sim, o aborto não se justificaria; se não, o aborto se justificaria. Quanto aos traumas emocionais, esses existiram com ou sem aborto, embora o aborto, em princípio, se constitua em um trauma a mais.

Quanto ao estuprador, que cometeu um grave pecado, mas (sem emocionalismos) não se equipara ao tirar uma vida. Que se cumpra a Lei Penal, e que o mesmo se arrependa e se corrija. Que acerte as suas contas com o Juiz Togado e no Juízo Final. O mesmo aconteça com pais omissos, adolescentes lascivos, médicos pragmáticos, jornalistas sensacionalistas, teólogos permissivos ou repressivos, e governantes irresponsáveis.

Que a Palavra de Deus seja anunciada! Que os valores do Reino de Deus sejam anunciados! “Eu vim para que tenhais vida, e vida em abundância”, disse Jesus.

Olinda (PE), 07 de março de 2009

Perpétua, Felicidade e seus companheiros, mártires em Cartago, 203
Fundação da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, 1804

+ Dom Robinson Cavalcanti, ose
Bispo Diocesano

fonte: http://www.dar.org.br/episcopal09/news/news_item.asp?NewsID=4643

segunda-feira, 23 de março de 2009

Oração, um diálogo muito especial

Eduardo Ribeiro Mundim

Somos seres humanos, e como tais, repletos de desejos que conhecemos e desconhecemos; com uma história pessoal que nos motiva a tomar certas atitudes conscientemente, e a fazer certas escolhas e a não fazer outras, também conscientemente; mas muitas atitudes e escolhas ocorrem sem que as razões e motivações sejam claras. E quando oramos, tudo isto, e muito mais, é o terreno no qual construímos esta relação. Portanto, um grande risco na oração é querermos transformar Deus em um mero efetivador de nossa vontade, no lugar de buscar um despreendimento progressivo “das coisas que para trás ficam”, dos frutos da carne, da nossa natureza mais íntima que milita contra o Espírito.

Certamente dependemos de Deus para nossa sobrevivência; somente pela Sua graça comum é que conseguimos sobreviver neste mundo muitas vezes cruel. Certamente necessitamos expor-lhe nossas necessidades. Contudo, Ele não se confunde com nossas carências, do mesmo modo como o leite do seio materno não é a própria mãe, nem a função dela se resume na produção e entrega lácteas.

Segundo alguns, a verdadeira oração é aquela capaz de sobreviver a não resposta, a não satisfação de nossas necessidades. Afinal, se oramos “seja feita a Tua vontade” aceitamos a possibilidade de não termos nossas súplicas atendidas; se buscamos comunhão com Deus deve ser pelo prazer que Sua companhia desperta, e não pela recompensa, por mais santa e justa que possa parecer. Podemos ter uma ideia fixa, biblicamente embasada, psicologicamente válida, amparada pelo bom senso e a defendermos em oração arduamente, com jejum se necessário...e ficarmos a ver navios...

Esta oração que transcende a necessidade pura traz a aceitação da solidão última de cada um de nós, com a qual temos de conviver, queiramos ou não. Não somos Deus, Ele não é nós; nosso desejo é somente nosso, e impotente, pois não podemos transformar um fio de cabelo nosso de preto em branco, nem crescermos em estatura pela força de nosso querer. Comunhão com Ele não quer dizer fusão com Ele.

Não O vemos; aceitamos Sua existência através de um complexo jogo psicológico e intelectual, cimentado pelas experiências subjetivas cotidianas. Não podemos pedir-lhe prova de Sua realidade; ou do Seu poder; ou chantageá-Lo. O descrente que assiste o crente em oração tem certeza de presenciar uma ilusão pura, uma fantasia ou um delírio. O crente que ora sabe que nada pode provar, e ele mesmo se pergunta sobre sua própria sanidade. Sabe que nenhum sinal lhe será dado, porque o de Jonas já foi-lhe relatado, cabendo-lhe crer ou não; sabe que se for atrás de Jesus por causa do pão, será por Ele rejeitado; sabe que seu Senhor e mestre foi perseguido, humilhado, torturado e morto – e que o servo não pode esperar destino diferente.

O Deus real é bem diferente do dos nossos desejos...

(baseado no livro “Orar depois de Freud”, de Carlos Dominguez Morano, Edições Loyola)

Manifesto de Madri contra o aborto

«Los abajo firmantes, profesores de universidad, investigadores, académicos, e intelectuales de diferentes profesiones, ante la iniciativa del Grupo Socialista en el Congreso, por medio de la Subcomisión del aborto, de promover una ley de plazos, suscribimos el presente Manifiesto en defensa de la vida humana en su etapa inicial, embrionaria y fetal y rechazamos su instrumentalización al servicio de lucrativos intereses económicos ó ideológicos.

En primer lugar, reclamamos una correcta interpretación de los datos de la ciencia en relación con la vida humana en todas sus etapas y a este respecto deseamos se tengan en consideración los siguientes hechos:

a) Existe sobrada evidencia científica de que la vida empieza en el momento de la fecundación. Los conocimientos más actuales así lo demuestran: la Genética señala que la fecundación es el momento en que se constituye la identidad genética singular; la Biología Celular explica que los seres pluricelulares se constituyen a partir de una única célula inicial, el cigoto, en cuyo núcleo se encuentra la información genética que se conserva en todas las células y es la que determina la diferenciación celular; la Embriología describe el desarrollo y revela cómo se desenvuelve sin solución de continuidad.

b) El cigoto es la primera realidad corporal del ser humano. Tras la fusión de los núcleos gaméticos materno y paterno, el núcleo resultante es el centro coordinador del desarrollo, que reside en las moléculas de ADN, resultado de la adición de los genes paternos y maternos en una combinación nueva y singular.

c) El embrión (desde la fecundación hasta la octava semana) y el feto (a partir de la octava semana) son las primeras fases del desarrollo de un nuevo ser humano y en el claustro materno no forman parte de la sustantividad ni de ningún órgano de la madre, aunque dependa de ésta para su propio desarrollo.

d) La naturaleza biológica del embrión y del feto humano es independiente del modo en que se haya originado, bien sea proveniente de una reproducción natural o producto de reproducción asistida.

e) Un aborto no es sólo la «interrupción voluntaria del embarazo» sino un acto simple y cruel de «interrupción de una vida humana».

f) Es preciso que la mujer a quien se proponga abortar adopte libremente su decisión, tras un conocimiento informado y preciso del procedimiento y las consecuencias.

g) El aborto es un drama con dos víctimas: una muere y la otra sobrevive y sufre a diario las consecuencias de una decisión dramática e irreparable. Quien aborta es siempre la madre y quien sufre las consecuencias también, aunque sea el resultado de una relación compartida y voluntaria.

h) Es por tanto preciso que las mujeres que decidan abortar conozcan las secuelas psicológicas de tal acto y en particular del cuadro psicopatológico conocido como el «Síndrome Postaborto» (cuadro depresivo, sentimiento de culpa, pesadillas recurrentes, alteraciones de conducta, pérdida de autoestima, etc.).

i) Dada la trascendencia del acto para el se reclama la intervención de personal médico es preciso respetar la libertad de objeción de conciencia en esta materia.

j) El aborto es además una tragedia para la sociedad. Una sociedad indiferente a la matanza de cerca de 120.000 bebés al año es una sociedad fracasada y enferma.

k) Lejos de suponer la conquista de un derecho para la mujer, una Ley del aborto sin limitaciones fijaría a la mujer como la única responsable de un acto violento contra la vida de su propio hijo.

l) El aborto es especialmente duro para una joven de 16-17 años, a quien se pretende privar de la presencia, del consejo y del apoyo de sus padres para tomar la decisión de seguir con el embarazo o abortar. Obligar a una joven a decidir sola a tan temprana edad es una irresponsabilidad y una forma clara de violencia contra la mujer.

En definitiva, consideramos que las conclusiones que el Grupo Socialista en el Congreso, por medio de la Subcomisión del aborto, trasladará al Gobierno para que se ponga en marcha una ley de plazos, agrava la situación actual y desoye a una sociedad, que lejos de desear una nueva Ley para legitimar un acto violento para el no nacido y para su madre, reclama una regulación para detener los abusos y el fraude de Ley de los centros donde se practican los abortos».

Fdo.:

Nicolás Jouve (Catedrático de Genética; DNI 1154811)

Francisco Ansón (Escritor; DNI 847005)

Cesar Nombela (Catedrático de Microbiología; 1346619S)

Francisco Javier del Arco (Biólogo, Filósofo y Escritor; DNI: 00138438-N)

Vicente Bellver (Profesor Titular Filosofía del Derecho: DNI: 24335564T)

Luís Franco Vera (Catedrático de Bioquímica: DNI es 02.464.829B)

…/…

Siguen un millar de adhesiones a fecha de 17 de marzo de 2009, y siguen aumentando.


fonte: http://www.hazteoir.org/node/18344

sexta-feira, 20 de março de 2009

ATNI acusada de racismo

----- Original Message -----
To: undisclosed-recipients
Sent: Thursday, March 19, 2009 8:58 PM
Subject: ESTAMOS SENDO ACUSADOS DE INCITAR RACISMO!

Irmãos e amigos,

Estes são dias de grandes batalhas. Não temos nem como comunicar por e-mail tudo o que tem acontecido aqui em Brasília, mas a luta tem sido grande. O Deputado Henrique Afonso passou o dia inteiro numa reunião muito pesada, o prédio cercado de manifestantes que o odeiam, mas defendeu sua posição com sabedoria, verdade e unção. O partido vai ter que encontrar outra razão para continuar perseguindo este homem de Deus.

Para completar, hoje a Survival International, que é uma ONG muito famosa na "defesa dos direitos dos povos indígenas", está lançando na Inglaterra uma campanha contra os missionários. Eles estão afirmando que o documentário Hakani é mentiroso, e que é parte de uma campanha internacional para incitar o racismo contra os índios da Amazônia!!!

A Survival International considera os missionários ignorantes, intolerantes e racistas. Está em curso uma grande campanha na internet e na mídia, com o objetivo de caluniar nosso trabalho. Existem centenas de comentários na INTERNET de pessoas que não conhecem a realidade, que realmente são racistas, e que falam muita bobagem. Mas nós precisamos reagir. Nós, que conhecemos mais de perto a realidade dos povos indígenas, que nos identificamos com o sofrimento deles, que conhecemos a Hakani, precisamos falar! Todos nós sabemos que isso não é verdade e o que está por trás disso.

Nosso pedido é que você entre com urgência nos fóruns onde a matéria da Survival International está sende publicada, e dê a sua contribuição. Não precisa escrever muito, só algumas linhas, dizendo o que você sabe sobre isso. Mostre que os índios não se ofendem com o filme, que o filme foi feito com a participação deles mesmos. Que mais de 60 tribos já assistiram. Que em várias partes do Brasil professores e agentes de saúde indígenas estão se reunindo para assistir o filme e usá-lo como instrumento de defesa das suas crianças. Que no Xingu eles mesmos estão se organizando num grupo de trabalho para combater o infanticídio. Que o infanticídio existe sim, que centenas de crianças foram mortas nas aldeias nos últimos anos. Mande eles consultarem os líderes indígenas e os trabalhos que têm sido publicados. Enfim, dê sua contribuição.

Clique nos links abaixo, leia a matéria e faça seu comentário.

Vamos ser VOZ, vamos mudar esse discurso hipócrita, vamos ser sal da terra.


ONG inglesa diz que documentário incita ódio contra índios brasileiros
EFE - 19/03/2009


http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2009/03/19/ult1766u30230.jhtm

http://blogdaamazonia.blog.terra.com.br/2009/03/19/filme-de-missionarios-incita-odio-racial-contra-indios-brasileiros/#comment-3555
Muito obrigado pelo apoio e vamos continuar orando e lutando pela vida.

Edson e Márcia Suzuki
ATINI - VOZ PELA VIDA
www.atini.org

quarta-feira, 18 de março de 2009

Direito ao Aborto

Frei Betto

Embora contrário ao aborto, admito a sua descriminalização em certos casos, como o de estupro, e não apoio a postura do arcebispo de Olinda e Recife ao exigir de uma criança de 9 anos assumir uma gravidez indesejada sob grave risco à sua sobrevivência física (pois a psíquica está lesada) e ainda excomungar os que a ajudaram a interrompê-la.

Ao longo da história, a Igreja Católica nunca chegou a uma posição unânime e definitiva quanto ao aborto. Oscilou entre condená-lo radicalmente ou admiti-lo em certas fases da gravidez. Atrás dessa diferença de opiniões situa-se a discussão sobre qual o momento em que o feto pode ser considerado ser humano. Até hoje, nem a ciência nem a teologia têm a resposta exata. A questão permanece em aberto.

Santo Agostinho (séc. 4) admite que só a partir de 40 dias depois da fecundação se pode falar em pessoa. Santo Tomás de Aquino (séc.13) reafirma não reconhecer como humano o embrião que ainda não completou 40 dias, quando então lhe é infundida a “alma racional”.

Esta posição virou doutrina oficial da Igreja a partir do Concílio de Trento (séc. 16). Mas foi contestada por teólogos, que, baseados na autoridade de Tertuliano (séc. 3) e de santo Alberto Magno (séc. 13), defendem a hominização imediata, ou seja, desde a fecundação trata-se de um ser humano em processo. Esta tese foi incorporada pela encíclica Apostolica sedis (1869), na qual o papa Pio IX condena toda e qualquer interrupção voluntária da gravidez.

No século 20, introduz-se a discussão entre aborto direto e indireto. Roma passa a admitir o aborto indireto em caso de gravidez tubária ou câncer no útero. Mas não admite o aborto direto nem mesmo em caso de estupro.

Bernhard Haering, renomado moralista católico, admite o aborto quando se trata de preservar o útero para futuras gestações ou se o dano moral e psicológico causado pelo estupro impossibilita aceitar a gravidez. E o que a teologia moral denomina ignorância invencível. A Igreja não tem o direito de exigir de seus fiéis atitudes heróicas.

Roma é contra o aborto por considerá-lo supressão voluntária de uma vida humana. Princípio que nem sempre a Igreja aplicou com igual rigor a outras esferas, pois defende o direito de países adotarem a pena de morte, a legitimidade da "guerra justa" e a revolução popular em caso de tirania prolongada e inamovível por outros meios (Populorum progresio).

Embora a Igreja defenda a sacralidade da vida do embrião em potência a partir da fecundação, ela jamais comparou o aborto ao crime de infanticídio e nem prescreve rituais fúnebres ou batismo in extremis para os fetos abortados ... Para a genética, o feto é humano a partir da segmentação. Para a ginecologia-obstetrícia, desde a nidação. Para a neurofisiologia, só quando se forma o cérebro. E para a psicossociologia, quando há relacionamento personalizado. Em suma, carece a ciência de consenso quanto ao início da vida humana.

Partilho a opinião de que, desde a fecundação, já há vida com destino humano e, portanto, histórico. Sob a ótica cristã, a dignidade de um ser não deriva daquilo que ele é e sim do que pode vir a ser. Por isso, o cristianismo defende os direitos inalienáveis dos que se situam no último degrau da escala humana e social.

O debate sobre se o ser embrionário merece ou não reconhecimento de sua dignidade não deve induzir ao moralismo intolerante, que ignora o drama de mulheres que optam pelo aborto por razões que não são de mero egoísmo ou conveniência social, como é o caso da menina do Recife.

Se os moralistas fossem sinceramente contra o aborto, lutariam para que não se tomasse necessário e todos pudessem nascer em condições sociais seguras. Ora, o mais cômodo é exigir que se mantenha a penalização do aborto. Mas como fica a penalização do latifúndio improdutivo e de tantas causas que, no Brasil, levam à morte, por ano, de cerca de 21 entre cada mil crianças que ainda não completaram 12 meses de vida?

"No plano dos princípios - declarou o bispo Duchene, então presidente da Comissão Espiscopal Francesa para a Família -, lembro que todo aborto é a supressão de um ser humano. Não podemos esquecê-lo. Não quero, porém, substituir-me aos médicos que refletiram demoradamente no assunto em sua alma e consciência e que, confrontados com uma desgraça aparentemente sem remédio, tentam aliviá-la da melhor maneira, com o risco de se enganar" (La Croix, 31/3/79).

O caso do Recife exige uma profunda análise quanto aos direitos do embrião e da gestante, a severa punição de estupros e violência sexual no seio da família, e dos casos de pedofilia no interior da Igreja e, sobretudo, como prescrever medidas concretas que socialmente venham a tomar o aborto desnecessário.

Frei Betto é escritor.

Fontes: Jornal "Estado de Minas", dia 12 de março de 2009 / blog O Absurdo e a Graça

terça-feira, 17 de março de 2009

A sombra do suicídio

Uma mulher reúne pequenos pedaços de esperança depois de perder o filho.

Choque: “No momento em que pensei em reconquistar minha família no tranco, Gabriel se suicidou. Ele tinha 23 anos.”

Quando tinha 13 meses de vida, meu filho Gabriel teve seu primeiro ataque de asma fatal. Eu e minha mãe estávamos terminando os ajustes do vestido e das lembranças para o meu casamento que se aproximava. Gabe cresceu desanimado e sua respiração trabalhava incrivelmente. Durante todo aquele dia ocupado, fizemos turnos o acalmando com remédios em casa e chamando o médico. No cair da noite, estávamos na emergência do hospital vendo os milagres que podem ser forjados com adrenalina e esteróides orais. Gabriel passou os cinco dias seguintes, incluindo o do casamento, se recuperando no tubo de oxigênio.

Essa memória me lembra que alegria, dor e doença estão sempre misturados em minha família. Gabriel é a criança metade tanzaniana de um romance universitário falido. Não havia o que esconder nas circunstâncias de seu nascimento depois que casei com um homem branco como eu. Também não havia remédio para a dor sentida, que não fosse o bálsamo do amor.

Por aproximadamente duas décadas o amor deu rédea a Gabriel, seu irmão, meu marido e eu, como se galopássemos lindamente pela vida. Então tivemos uma surpresa. Enquanto Gabe se formava na universidade, era também mal visto por nossos conhecidos e pelos outros. Infelizmente, nossas experiências pessoais com a igreja tinham deixado meu marido e eu mancando e meus filhos desmotivados. Novamente falei pra mim mesma que remédios em casa e o tempo iriam nos curar. Contei para outros que iria provar a supremacia do amor nas vidas de meus filhos. “No momento em que pensei em reconquistar minha família no tranco, Gabriel se suicidou. Ele tinha 23 anos.”

As lembranças são de calma entre inexoráveis ondas de tristeza e culpa. Isso me lembra que eu não sou Deus. Não posso saber ou ver tudo. Isso também me lembra das muitas vezes que consegui ajuda para meu filho antes que fosse tarde demais. Minha sanidade e fé demandam cada lembrança.

Mais cedo, o suicídio é como uma cruel brincadeira cósmica. Era como se Deus ou o diabo, ou algum Jó, estivessem escarnecendo ou brincando conosco. Teríamos eu e meu marido sido pais não dedicados ou imperfeitos? E qual tipo de ironia horrível foi essa que o nosso garoto com uma grande disposição, o qual tinha uma história com uma grande mensagem de vida, tiraria sua própria vida? Seu legado seria reduzido a símbolos contra o estigma social, no aniversário ou morte? Eu não tinha sido submetida, no dia anterior, a uma história do Fórum de Psiquiatria e Espiritualidade na Universidade da Califórnia-Irvine para uma nova saída? Meu interesse havia sido suprimido pela minha preocupação materna? Até bloguei em um fórum sobre prevenção de suicídio. Claramente, deveria ter reconhecido os sinais de aviso.

É uma virada diabólica, onde quem exibe os mais pronunciados sinais de aviso de suicídio tende a escolher recursos menos letais, enquanto aquele que age impulsivamente tende a exibir poucos sintomas e empregar métodos mortais - como fogo ou se jogar de um precipício. Menos de 10% dos sobreviventes de tentativa de suicídio prosseguem em tirar suas vidas. Para mais de 90% a crise passa.

Logo depois que a polícia veio e anoiteceu, eu não chamei um pastor ou um amigo, mas Aaron Kheriaty, o psiquiatra que me direcionou para o Fórum de Psiquiatria e Espiritualidade. Ele pacientemente assegurou que a morte de Gabriel não era nossa culpa e, gentilmente, mas com firmeza, insistiu que a morte nunca faria sentido: o suicídio é um ato inerentemente irracional. Kheriaty era uma pessoa segura para convidar ao nosso momento de horror, ao contrário de alguns pastores que mais tarde descreveram o suicídio como uma escolha imprudente e uma simples falha espiritual.

Kheriaty também falou no funeral de Gabriel. Ele produziu uma estrutura para meu desgosto e providenciou descanso para minha mente, que travava batalhas de dúvidas.

Nós sobreviventes relembramos as conversas finais com o falecido em nossas mentes - como aquela que Gabriel teve com um amigo dias antes da morte, na qual falava sobre os recursos que iria empregar. Ou daquela que tive com ele antes dele sair naquela noite. “Gabe, querido”, eu disse, “O que está acontecendo? Seus olhos parecem mortos”. Ele somente fez como que se não precisasse de nada e o deixei ir.

Gabe, como aproximadamente metade dos universitários, se tornam depressivos quando deixam sua casa. Eu o incentivei a procurar conselhos no serviço escolar. Em retrospectiva, desejei que tivéssemos estabelecido um ultimato: “Procure ajuda ou volte pra casa”.

Somente no final de semana seus sintomas se tornaram subitamente, mas incrivelmente pronunciados. Ele se tornou retirado e irritante, com humor oscilante. Notícias de empréstimos e delinqüência chegavam ao correio quase que diariamente. Ele usava roupas sujas para ir trabalhar, dormia pouco e aparentava pouco apetite.

Entretanto, antes de sua morte, Gabriel se apresentou em um clube de comédia em pé. No dia de sua morte, brincou com colaboradores e publicamente professou seu amor por Jesus. Especialistas descrevem essa contradição como “suicídio calmo”, que acontece quando alguém decide, finalmente, acabar com o tormento mental. O olhar vago que notei em seus olhos foi uma função de depressão suicida e desprendimento. Em mente e em espírito, ele já tinha nos deixado.

Sobreviventes precisam de tempo e espaço para vir à realidade de auto-avaliação. Kheriaty fechou essa mensagem com uma meditação do Príncipe da paz. Na cruz e na sua agonia, nosso Senhor sofreu não somente nossas aflições físicas, mas nossas angústias mentais também.

Fora de nossas profundidades, choramos para ele, e Jesus alcança o nosso profundo e nos levanta com ele. Deus sabe da profundidade do nosso sofrimento. Ele sabe do nosso coração frágil. E o coração do próprio Cristo, um coração de carne, um coração tanto humano quanto divino, é misericordioso além da medida. E é nessa misericórdia que colocamos nossa esperança. É nessas mãos esticadas na cruz num gesto de amor que confiamos Gabriel.

Quando penso em tudo que Gabriel sofreu em sua vida, não entendo. Descobri que é difícil confiar em Deus ou me engajar com intimidade como fiz uma vez. E. ainda todo dia, inalo um momento de graça. Estou imensuravelmente grata pelo privilégio de ter sido a mãe de Gabriel. Pela fé, vejo agora que meus encontros acidentais com Aaron Kheriaty não foram uma piada cósmica, mas uma evidência da imanência de Deus.

Como Gabriel estava caminhando para fora da porta desta vida, eu o chamei, “eu te amo”. Amor é tão forte como a morte, Salomão escreveu. O amor de Deus é mais forte.


Christine A. Scheller é escritora e mora no centro de New Jersey, EUA.

Copyright © 2009 por Christianity Today International

(Traduzido por Sulamita Ricardo)

extraído de http://www.cristianismohoje.com.br/artigo.php?artigoid=38353

segunda-feira, 16 de março de 2009

Defensores da vida ou militantes antiaborto?


Eduardo Ribeiro Mundim

A notícia da morte da pequena Tititu já havia sido comentada neste espaço. Mas os detalhes trazidos pela Bráulia, na edição 317 da Revista Ultimato, reproduzida aqui ontem, encaminharam meus pensamentos em uma direção: como o chamado movimento pró-vida é, muitas vezes, apenas antiaborto. Na sua prestação de contas, reproduzida neste blog, a ATNI informa que dezenas de blogs e páginas se juntaram à luta contra o infanticídio indígena. Pessoalmente, dei falta de alguns "blogueiros" famosos no mundo evangélico, de alguns filósofos por eles citados, assim como algumas instituições radicalmente "pró-vida" (quando o tema é o aborto).

O silêncio sobre a morte da pequena Tititu pode ser entendido como o silêncio deste blog em certos temas: homossexualidade, terrorismo palestino (mas não o terrorismo de estado israelense), dentre outros. Não estão na minha agenda particular neste momento.

Mas como ser pró-vida quando alguém foi condenada à morte por descaso ou desconhecimento (esta última hipótese muito pouco provável), sendo-lhe impedido o acesso ao remédio que a mantia viva?

A santidade da vida é alardeada por muitos como a razão para se condenar o aborto em qualquer situação. Mas como defender esta santidade e permanecer calado quando a cultura é mais importante que uma vida? quando não se fala das mortes de trânsito? quando não se fala na desigualdade de acesso aos tratamentos de saúde?

Aqueles que acertadamente se posicionam ccontra o aborto em qualquer circunstância dão um tiro no argumento da santidade da vida ao ficarem calados à frente do túmulo da Tititu.

De como a ideologia matou Tititu

Bráulia Ribeiro

Numa sala apertada, com janelas pequenas e paredes de cal desbotadas, sentaram-se, desiludidos, índios e não-índios.

-- É sempre muito triste. -- disse-me a Lucília na volta.

Ela tinha ido à cidade de Lábrea para a reunião do Distrito de Saúde Indígena (DISEI), da qual participavam a JOCUM e o CIMI, juntamente com órgãos públicos. Lucília sempre ora pela microcidade e por suas mazelas: corrupção, devassidão extrema, doenças, entre outras.

Os habitantes de Lábrea têm os rostos macilentos das muitas malárias e cachaças. Falam sem convicção, parecendo não saber o que dizem. Mas sabem; só não creem mais que algo possa mudar no caos de desserviços que o governo finge prestar àquele arremedo de cidade.

-- Isto é o que mais me dói -- me diz Lucília na volta. -- Os índios baixam a cabeça como animais domesticados à custa de muita dor. O formato da reunião é excludente. Discute-se como em uma repartição pública, e os indígenas não acompanham.

A situação Suruwahá é debatida. Lucília imagina a dificuldade dos técnicos presos no posto distante de tudo. Parece que nem visitar a aldeia eles conseguem. O medo, a pouca educação, o salário menor ainda -- os índios que se virem para chegar até o posto.

E assim foi. No dia 14 de janeiro Naru caminhou sete horas com Tititu nos braços, antes saudável, agora sem vida. A menina estava em péssimo estado e o técnico não sabia como tratá-la. Fez gestos e sons imitando um avião, para mostrar aos pais da menina que ela deveria ser retirada. A noite caiu, a menina piorou. De madrugada o corpinho esfriou e foi endurecendo aos poucos. A alma de Tititu foi para Jaxuwá, no reino onde as bananas são fartas e os peixes, grandes.

Tititu foi escolhida para morrer desde que nasceu. A ideologia que impede os Suruwahá de obter tratamento médico decente prevê que casos de deformidade congênita sejam “eliminados” no nascimento. O pai da menina recusa-se a matá-la ao ver a deformidade com que nasceu. Não conhece a ideologia, ainda se sente gente. Pede ajuda, e Lucília e Moisés conseguem retirá-la da aldeia. Com a oferta de muitos irmãos, ela vai a São Paulo para ser operada no Hospital das Clínicas. Mas a ideologia envia um procurador do Ministério Público, que proíbe a cirurgia. Os médicos ficam chocados com a proibição. A mídia divulga o caso e a pressão aumenta. O procurador desiste do impedimento e a menina é operada. Volta à aldeia, mas precisa de um medicamento mensal. Enquanto a JOCUM está presente, o remédio chega -- agitamos meio mundo, vamos para a Funasa a cada atraso. Até que a ideologia nos impede de voltar à aldeia. Nas mãos da ideologia, os índios não têm chance. Para o CIMI, a Funai e a Funasa eles não são gente. São um construto, uma abstração antropológica, um número nos gráficos. A falta do medicamento na data precisa poderia causar a morte da menina Tititu; morte já prevista, escrita, desenhada e explicada academicamente na voz estridente da ideologia.

É a inexorável força darwiniana. Tristes, imaginamos o sofrimento de Naru, o pai, e de Kusiumã, a mãe, carregando a filha na mata escura para vê-la esfriar de repente ao som de um forró desafinado no barraco de madeira do posto da Funai.


Bráulia Ribeiro, missionária em Porto Velho, RO, é autora de Chamado Radical (Editora Ultimato). braulia_ribeiro@yahoo.com.

fonte: revista Ultimato

sexta-feira, 13 de março de 2009

Para não viver em vão

Ricardo Gondim

Clint Eastwood produz e dirige filmes densos, especialmente os que lidam com o abuso de crianças. Gostei da trama de “A Troca” (“Changeling”), baseado em fatos reais. Um garoto desaparece enquanto a mãe, divorciada, trabalha algumas horas extras no sábado. Para encontrar o filho, Christine, personagem encenada por Angelina Jolie, precisa enfrentar sozinha a corrupta máquina policial de Los Angeles e ainda tem de manter o emprego, apesar da solidão e do desespero pelo sumiço do menino.

O pastor presbiteriano Rev. Gustav Briegleb (John Malkovich), que lutava contra a violência policial, se une a Christine em sua luta contra a politização do Xerife que deveria cuidar da segurança pública. A militância de Briegleb é ética, corajosa e persistente. No final, enquanto projetavam as explicações finais sobre os desdobramentos do que aconteceu no filme, desabafei: “Quando crescer, quero ser igual a esse pastor”. O ministério de Briegleb desencadeou mudanças profundas nas leis da cidade. A obstinação de um homem salvou a vida de milhões de pessoas que ainda nem tinham nascido.

Fui ordenado ao ministério em 1977. Desde então, trabalho com evangelização, missões urbanas e plantação de igrejas. Preguei milhares de sermões, participei de centenas de congressos, mesas-redondas e seminários. Comparo-me ao que Jesus disse aos primeiros discípulos: “Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e darem fruto, fruto que permaneça” (Jo 15.16). Conto os anos de ministério, vejo que o meu futuro é mais curto que o passado e me pergunto: “Qual a pertinência do meu esforço? O fruto do meu ministério permanecerá?”.

Não pretendo terminar os dias desempenhando as funções sacerdotais como mero sacerdote que batiza, celebra ritos de passagem e enterra os mortos. Não almejo acomodar-me à função de xamã. Não tolero o papel de “baby-sitter” de crentes burgueses, sempre ávidos por bênçãos.

É possível encontrar muitos cristãos em movimentos populares que reivindicam reforma agrária. Porém os pastores, com certeza ocupados com a máquina religiosa, não dispõem de tempo para se aliarem aos oprimidos pela burocracia estatal, que perpetua a injustiça. Poucos se atrevem a sair do conforto das catedrais para defender o meio ambiente.

Como pastor pentecostal, inquieto-me com o massacre da teologia da prosperidade, que ocupa a maior parte do culto com promessas de bênção. Não gosto de ver a instrumentalização de quase todo esforço missionário para fazer proselitismo, em nome de uma evangelização.

Pastores semelhantes a mim vivem a responder a questiúnculas sobre doutrina, a legislar sobre moralismos e a apagar fogo de contendas entre os membros de suas comunidades. O discipulado desaparece na catequese que tenta adequar as pessoas às demandas religiosas. O resultado é trágico e o testemunho cristão, pífio.

Por todos os lados pipocam sinais de que os evangélicos começam a repensar a teologia fundamentalista que lhes serviu de suporte. Agora urge fazer o dever de casa com a eclesiologia. O significado de ser igreja em áreas cosmopolitas tem de ser mais bem avaliado. Os paradigmas atuais sufocam o surgimento entre os evangélicos de gente como Martin Luther King ou Dorothy Stang.

Caso não mexamos com os conceitos fundamentais da teologia da missão, continuaremos repetindo fórmulas desgastadas. Resgatar pessoas do inferno, garantir o céu, mas esquecer a “plenitude da vida” diminui brutalmente o mandato cristão. O tempo gasto das pessoas, os recursos financeiros aplicados, a mobilização de talentos, não podem ser desperdiçados. A função da igreja é também resgatar vidas, proteger os indefesos da burocracia estatal, da opressão do mercado e até da frieza eclesiástica.

Como cuidei basicamente de igrejas urbanas, lamento o tempo perdido com a máquina religiosa. Fui absorvido por programações irrelevantes. Defendi teologias desconexas da existência. Fiz promessas irreais. Discuti ideias estéreis. Corri em busca de glórias diminutas. O tempo é uma riqueza não renovável, portanto, resta-me lamentar tanto esforço para tão pouco resultado.

Entreguei-me de corpo e alma à oração, fiz vigílias, jejuei. Ralei os joelhos em busca de uma espiritualidade eficiente. Acreditei piamente que a maturidade humana aconteceria pelo caminho da piedade religiosa. Ledo engano. Muitos companheiros de oração se levantaram ferozmente contra mim.

O mundo passa por mudanças radicais e as igrejas, se quiserem ser relevantes, precisam repensar seu papel na sociedade. Se não quiserem sucumbir à tentação de serem meros prestadores de serviços religiosos, os pastores precisam abrir mão de egolatrias tolas como o fascínio por títulos. É tolice brincar de importante usando o nome de Deus.

O descrédito do cristianismo ocidental se tornou agudo nos últimos 20 anos. Urge que os pastores revejam os seus sermões e se questionem se pregam conceitos relevantes em uma sociedade profundamente injusta, cruel e opressiva. Não fazer nada custará muito à próxima geração. Mais jovens se fatigarão prematuramente. E os idosos morrerão com o gosto amargo de terem gastado a vida em vão. O que seria muito triste.

“Soli Deo Gloria”.


Ricardo Gondim é pastor da Assembleia de Deus Betesda no Brasil e mora em São Paulo. É autor de, entre outros, Eu Creio, mas Tenho Dúvidas. www.ricardogondim.com.br

fonte: revista Ultimato
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quinta-feira, 12 de março de 2009

Uma outra perspectiva cristã

Ariovaldo Ramos, pr

É assim que disse Deus?

Estamos todos estarrecidos com o caso da menina de Pernambuco, abusada desde os 6 anos; aos 9 anos, grávida de gêmeos, violada pelo padrasto.

A mãe alega que não sabia de nada. E já é o segundo caso em sua família, sua outra filha, de 14 anos, é vitima da mesma violência. Como explicar essa não sensibilidade aos sinais que suas filhas, certamente, emitiram?

Cumprindo a lei, o aborto foi realizado.

A Igreja Romana deu o seu veredito: excomungou a mãe, e todos os profissionais que prestaram serviço para que o aborto fosse consumado. Só o padrasto foi poupado.

A Igreja Romana fez isso alegando o direito à vida e a obediência à lei de Deus.

Dizer que a Igreja Católica de Roma não pode se pronunciar nessa questão, por ser, o Brasil, um estado laico, não se sustenta, porque é uma questão de ética, que é, por definição, transversal, afetando todos os segmentos da sociedade. Dizer que é um atentado ao direito, também não procede, porque a Igreja Romana usa um código próprio, o Direito Canônico.

Então, a questão é teológica: é assim mesmo que Deus disse?

Jesus Cristo, diante de uma controvérsia sobre o cumprimento da lei do sábado, porque os seus discípulos, movidos pela fome, colheram para comer, em aparente flagrante quebra da lei do dia sagrado de descanso, onde tal colheita constituía crime, disse. em Marcos 2.27: "O Sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado."

Em outras palavras: a lei existe para proteger e servir ao ser humano; logo, colher para comer não viola o dia sagrado, porque o sagrado descanso é para o ser humano, e um ser humano faminto não descansa.

Aqui a questão: quem deve ser protegida, nesse caso, é a menina. Estamos diante do principio estabelecido por Jesus Cristo. Desta feita, o sujeito de direitos é a menina. O sagrado direito à vida por que luta a Igreja Romana e todos nós, agora, tem de ser invocado para proteger a menina aviltada em seu direito à infância e à dignidade. É à menina que está, primariamente, sendo negado o direito à vida. Lamentavelmente, este é um caso em que não é possível proteger a todos. Choramos pelos inocentes que não puderam vir, mas Deus entende que estamos a resgatar a inocente que já está entre nós.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Nosso filho foi assaltado ontem!

Eduardo Ribeiro Mundim

Sabíamos que era uma questão de tempo. As estatísticas contam que você será assaltado ou roubado pelo menos uma vez (se elas não dizem isto, é assim que nos sentimos na cidade grande). Só não contávamos que seria agora.

Estava a poucos metros de nosso prédio, passeando com nossa cadelinha, de uniforme colegial, e sua preciosa corrente (que nós chamamos "coleira"). Preciosa porque presente de um primo muito especial. E o rapaz, talvez uns dois anos mais velho, de bicicleta, para ao seu lado, pega uma pedra e exige a corrente. Não pediu o tênis caro, nem o celular no bolso, mas a corrente.

Chorando, ele nos contou a história. Quis negociar, pensou em reagir, mas entregou. Esperou, ansiosamente, que algum dos transeuntes o auxiliasse. Aquele homem que acabara de sair da academia, com bíceps imenso; aquela senhora logo ali na frente... "Será que sou tão fraco assim? Pareço tão indefeso?"

Não parece haver consolo possível, a não ser fazer o luto pela perda, chorar por ela. Não pelo bem em si, mas pela perda de um objeto de valor que ele julgava inestimável, mas, que na hora da escolha, sabiamente, percebeu que não valia à pena sacrificar-se, correr o risco, por ele...Mais uma razão para chorar...

Oro todos os dias por nossos filhos. Peço que Deus os livre do mal, mas lembrando que vivemos numa sociedade perversa, desigual – portanto, assim como a Sua graça comum é a todos distribuída, talvez a todos caiba uma pequena cota das consequências da sociedade em que vivemos.

Agradeço porque não reagiu, por ter sido sábio. Agradeço porque vai superar esta perda – como já superou outras e ainda terá mais pela frente. Agradeço porque esperamos ter demonstrado nosso amor e solidariedade. Agradeço porque podemos orar pela vida de quem o roubou, e não deixar crescer dentro de nós a revolta insana que só conduz à destruição, e não a construção de uma sociedade melhor aqui, nem da antecipação do Reino dos Céus, que nos espera e que é nossa inspiração política neste mundo tenebroso.

Meu filho, Jesus te abençoe e te guarde, pela força do Seu poder.

Amém.

terça-feira, 10 de março de 2009

Relatório ATNI 2008

Brasília, 01 de março de 2009.

Queridos colaboradores,

Estamos concluindo o relatório de nossas atividades no ano de 2008. Foi um ano de muitos desafios e muitas dificuldades. Mas foi também um ano de muitas surpresas, de muitas vitórias e conquistas. Como um dos valores da ATINI é a transparência na prestação de contas, estamos enviando a cada um dos nossos colaboradores nosso relatório social referente a este ano que se passou.

Durante o decorrer de todo o ano de 2008 pudemos contar com a sua atenção e carinho. Sua
colaboração, somada a colaboração de centenas de pessoas no Brasil e ao redor do mundo, foram decisivas para que a ATINI conseguisse chegar onde chegou.

Quando começamos, em 2006, éramos apenas um grupo de meia dúzia de pessoas que sonhavam um sonho muito simples – que toda criança indígena tivesse garantia do direito à vida. Para garantir a elas este direito arregaçamos as mangas e começamos a trabalhar, ao lado de pais e mães indígenas que compartilhavam deste mesmo sonho. Aos poucos pessoas como vocês foram se juntando a nós e o sonho foi contagiando multidões. Os números de 2008 são impressionantes somente porque refletem o esforço que cada um de vocês realizou na corrida atrás deste sonho.

A você o nosso profundo agradecimento, e a esperança de que poderemos continuar contando com você neste ano que se inicia. Aproveitamos para reforçar a orientação de que necessitamos que a cada depósito bancário que você faça, tenha a gentileza de nos enviar uma mensagem por e-mail ou uma cartinha comunicando o valor doado. Isso vai facilitar o trabalho do nosso departamento de finanças e ao mesmo tempo vai nos permitir lhe escrever uma cartinha especial de agradecimento.

Além dos gastos destinados ao cuidado das crianças, uma parte significativa do orçamento é destinada as campanhas de conscientização nos meios políticos e junto a opinião pública. Por essa razão incluímos também neste relatório um resumo dos resultados da atuação política da ATINI em 2008.

Pelo direito a vida de cada a criança indígena do Brasil,

Edson e Márcia Suzuki
ATINI – VOZ PELA VIDA


OS NÚMEROS DA ATINI

40 crianças é só o começo, mas mesmo assim, já dá gosto contar... Com a sua ajuda, conseguimos alcançar números extraordinários em 2008!

11.800 foram os beijus de tapioca feitos pela mulheres Kamayurá, Suruwahá e Ticuna para alegria das nossas crianças. Nossa criançada consumiu 15 mil copos de leite, 8 mil bananas e 13 mil laranjas!

Nossos bebês usaram 5.184 fraldas descartáveis!

250 foram os cadernos, além dos 80 lápis e das 120 borrachas usados pelas crianças, a medida que elas descobriam o poder da palavra escrita.

Kawana, Matu e Mayuri, salvos por Pajé e Diva Kajabi – beneficiados durante todo o ano de 2008.

18 são os líderes indígenas que se articularam num movimento nacional a favor da vida - Adão Kaiwá, David Terena, Edson Bakairi, Lúcia Bakairi, Eli Tikuna, Jorge Ticuna, Anita Ticuna, Kakatsa Kamaiurá, Karatsupá Kamaiurá, CarlosTerena, Álvaro Tucano, Aritana Ywalapiti, Marcos Mayoruna, Paiê Kajabi, Luiz Terena, Henrique Terena, Paltu Kamaiurá e Josué Paumari.

55 foi o número de etnias indígenas que assistiram o filme Hakani: Bakairi, Baniwa, Baré, Bora, Bororo, Canela, Cinta Larga, Coripaco, Dâu, Desano, Gavião, Guajajára, Hexkaryana, Ka'apor, Kaxinauwa, Kayapó, Macuchi, Makari, Munducuru, Nhengatu, Wari, Pataxó, Paumari, Pira-tapuía, Poyanua, Suruwaha, Quechua (Peru), Sanumá, Sateré-Mawé, Shinpibo, Surui, Terena, Tikuna, Tukano, Uai-uai, Ucayali, Wacaru, Waiãpi, Wapixana, Werekena, Xavante, Yanomami, Zoró, Caiuá, Guarani, Palikur, Pataxó, Wayuu, (Colômbia/Venezuela), Kajabi, Kuikuro, Kalapalo, Waurá, Mehinaco, Jarawara e Yawalapiti.

4.850 foi o número de pessoas (adultos e crianças, de dentro e de fora do Brasil), que juntaram sua voz à voz dos indígenas e fizeram pressão política pelo direitos das crianças – assinaram documentos, fizeram abaixo-assinados, enviaram mensagens, desenhos, telefonaram, conversaram com políticos, se manifestaram nas ruas e participaram de audiências públicas.

7 foi o número de Deputados Federais que defenderam as crianças indígenas no Congresso - Henrique Afonso, Miguel Martini, Sebastião Bala Rocha, Pompeo de Mattos, Antônio Roberto, João Campos e Cleber Verde. 200 deputados assinaram a Proposta de Emenda Constitucional pela vida das crianças indígenas.

14 foram as cidades brasileiras onde houve manifestações a favor da Lei Muwaji, em defesa das crianças indígenas – Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Curitiba, Florianópolis, Guarulhos, Recife, Belo-Horizonte, Aracaju, Porto Velho, Salvador, Cuiabá, Porto Alegre e Belém.

300 foram os bonecos indígenas usados nas manifestações a favor da vida no Rio e em Brasília.

55 Foi o número de eventos que a ATINI participou - palestras em universidades, exibições do
documentário, reuniões em igrejas, cultos, conferências, festas em escolas, manifestações públicas e reuniões no Congresso.

6.500 foi o número de cópias distribuídas do documentário Hakani, que foi produzido em 5 línguas diferentes – português, inglês, norueguês, espanhol e italiano.

379.641 foi o número de pessoas que assistiram diferentes clipes do documentário Hakani, postados na rede por internautas de várias partes do mundo.

160 foi o número de sites e blogs que discutiram a luta pela vida das crianças indígenas. 10 foi o número de revistas e jornais de grande porte que falaram no assunto, entre eles a Folha de São Paulo, as revistas Isto é, VOGUE, Ultimato, Cristianismo Hoje, o Correio Brasiliense, o jornal USA Today e o jornal Aftensposten da Noruega.

12 foram os programas de televisão que nos entrevistaram ou citaram, entre eles o Sem Censura, da apresentadora Lêda Nagle, o Programa do Jô, o noticiário SBT Repórter e o Nightline da ABC americana.

57 são as pessoas que apadrinharam crianças indígenas atendidas pelo programa da ATINI.

60 foi o número de pessoas que colocaram a mão na massa para tudo isto acontecer - profissionais na área de saúde, comunicação, educação, administração, direitos humanos, além de cuidadores, missionários, motoristas, jornalistas, fotógrafos e muitos outros voluntários.

incontáveis foram as orações espalhados pelo mundo inteiro. milhões é o tanto vezes que gostaríamos de agradecer!

Relatório Financeiro
As finanças da ATINI são administradas pelo diretor-executivo, Edson Suzuki, e pela secretária-executiva, Roselene Alves, eleitos pela Assembléia Geral, conforme previsto no estatuto. Neste ano, a diretoria executiva pode contar com ajuda do Rogério Muniz na função de administrador geral. Todas as finanças da ATINI passam mensalmente pela auditoria externa do Escritório de Contabilidade e Assessoria DESTRA, de Brasília.

Apresentamos abaixo o resumo de tudo o que foi gasto neste ano, por área específica. Estes dados refletem o movimento da conta bancária da ATINI, e os recursos são todos oriundos de depósitos bancário vindos de doações de pessoas físcas e jurídicas.
Gastos de 2008 em Reais
Gastos Total
Alimentação/gás 29.558,44
Transp./escolar/combustível 14.938,01
Moradia 42.452,69
Luz 5.633,96
Água 4.950,24
Telefone 9.247,04
Saúde 6.662,35
Tarifas bancárias 955,44
Divulga./design/gráfica/hosped.sites/eventos 46.193,49
Doações Trigêmeos 6.265
Doações FUNSAX 21.565
Despesas de escrit./serviços de secretariado 5.031,59
Material escolar/artesanato 1.022,17
Manutenção/construção 3.964,49
Correios 1.484,35
Equipamentos 62.822,9
Doações/ofertas 4.750
Serviços/taxas/seguro/outros 3.138,37
Gastos totais 270.635,53

Se algum dos colaboradores desejar uma planilha de gastos mais detalhada, é só solicitar e
nosso departamento financeiro terá prazer em enviar. O gráfico abaixo permite uma maior
visualização de como foram empregadas as doações recebidas neste ano de 2008. O relatório
social do Programa de Apadrinhamento será enviado separadamente.

ATUAÇÃO POLÍTICA DA ATINI EM 2008

O que aconteceu com a Lei Muwaji em 2008?

Neste ano de 2008 tivemos vários avanços dentro do Congresso com relação à defesa dos direitos das crianças indígenas. O objetivo desta carta é responder aos muitos que têm nos perguntado sobre o andamento da Lei Muwaji e dos demais movimentos que surgiram dentro do Congresso. Até o meio de 2008 nada havia acontecido - a Lei Muwaji estava engavetada pela relatora já fazia mais de um ano.

16 de julho - pressão aumenta e é aprovado o requerimento do deputado

Aconteceram manifestações públicas em dez capitais brasileiras. A sociedade e os líderes indígenas decidiram provocar a relatora e cobrar uma posição antes das eleições. Chegaram centenas de e-mails, vários abaixo-assinados e muita pressão internacional para pressionar a deputada a tirar o projeto da gaveta e apresentar seu relatório.

O Deputado Henrique Afonso apresenta um requerimento que é aprovado por unanimidade dentro da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Foi um dia inesquecível, com o plenário de reuniões lotado de crianças indígenas e manifestantes de diversas etnias, a Comissão aprovou por unanimidade uma audiência pública para exibição do documentário HAKANI e para discussão do tema dentro do Congresso. Nesta reunião, o presidente da Comissão de Direitos Humanos, Deputado Pompeo de Mattos, e o Deputado Sebastião Rocha Bala (PDT-AP), dentre outros, tomaram posição e mostraram-se totalmente engajados na luta pela vida das crianças indígenas. Pompeo de Mattos prometeu que a Comissão iria tomar providências nesta luta.

17 de julho - Janete Pietá cede e apresenta seu relatório

No dia seguinte, após as manifestações em todo o Brasil e a aprovação do requerimento, a Deputada Janete Rocha Pietá reagiu e decidiu apresentar o seu relatório. Apresentou um relatório favorável à aprovação da Lei Muwaji, mas na forma de um substitutivo.

O fato dela ter apresentado um relatório favorável já foi um grande avanço, pois com isso ela admitiu a existência do problema e a necessidade de uma legislação para tratar desse problema. Por outro lado, o substitutivo mudou a essência do projeto proposto pelo Deputado Henrique Afonso. A versão da deputada não aborda a questão da omissão do Estado nem força o governo a providenciar nenhum tipo de alternativa ou apoio aos pais que não querem matar seus filhos. O assunto precisava ser mais discutido e os deputado precisavam ser sensibilizados.

21 de agosto - emenda na lei de adoção

Enquanto aguardávamos a data da audiência pública, um outro deputado entrou na luta. Deputado Miguel Martini, após assistir o documentário Hakani e ficar profundamente sensibilizado, escreveu uma ementa para o PL 314-2004, conhecida como Lei de Adoção. Segundo o texto dessa emenda, toda criança indígena que corre risco de ser morta em sua comunidade por razões culturais deverá ser encaminhada para adoção, preferencialmente numa comunidade indígena. O texto foi aprovada por unanimidade em plenário e já foi encaminhado para o Senado. No senado a relatoria ficou com o senador Aloizio Mercadante e ele pode ser votado a qualquer momento. Se for aprovado, vai ficar faltando somente ser sancionada pelo Presidente Lula.

27 de novembro - acontece a audiência pública com exibição do filme HAKANI

A audiência pública com a exibição do documentário finalmente aconteceu. Após a exibição os atores mirins foram homenageados e vários líderes indígenas discursaram de maneira emocionado sabre o direito à vida de suas crianças, e contra a omissão do governo. A Comissão de Direitos Humanos se comprometeu de acompanhar e apoiar a luta das organizações e do movimento indígena a favor da vida.

10 de dezembro - um acordo retira a Lei Muwaji da pauta

Mesmo com esses movimentos, a situação da Lei Muwaji continuava complicada. A votação estava na pauta e havia uma grande expectativa, pois ninguém sabia o que poderia acontecer. Havia uma orientação da liderança do PT para que todos os deputados votassem contra, e mesmo que a votação fosse favorável, o texto do substitutivo não era o ideal.

O que aconteceu então foi muito positivo - o autor do PL (Deputado Henrique Afonso), e a relatora (Deputada Janete Pietá), entraram em acordo e decidiram retirar a lei Muwaji da pauta. Resolveram esperar a Lei de Adoção ser votada no Congresso para só depois voltar a discutir a Lei Muwaji. Isso porque se a Lei de adoção for aprovada, parte do que está previsto no PL já terá sido contemplado, então uma revisão será necessária. O texto da Lei Muwaji deverá amadurecer e a discussão vai incluir também os líderes indígenas e o movimento indígena a favor da vida.

Final de dezembro - Proposta de Emenda na Constituição!!! PEC 303/2008

Conforme promessa feita na reunião da Comissão de Direiros Humanos em julho, no dia que os manifestantes encheram o Congresso de bonecos indígenas, o Deputado Pompeo de Mattos realmente tomou posição! Em novembro ele conseguiu a assinatura de mais de 200 parlamentares e conseguiu dar entrada numa PEC, isto é, uma proposta de emenda na Constituição. A proposta visa simplesmente incluir no artigo 231 da Constituição, uma frase que diz que os povos indígenas terão direito de preservar seus costumes e tradições, desde que essas tradições respeitem o direito fundamental à vida, garantido na mesma Constituição. Esse foi o maior avanço de toda a luta no ano de 2008 - o Deputado Pompeu de Mattos foi muito além do que nós sonhamos. Ele decidiu mudar a própria Constituição! A admissibilidade da proposta ainda vai ser votada na CCJ, mas ele está confiante, pois já tem mais de 1/3
dos parlamentares do nosso lado.

O que você pode fazer agora?

Vamos nos concentrar n a aprovação do PEC que tramita na Cämara como 303/2008, e na da Lei de Adoção, tramitando no Senado como SCD 314-2004. Elas pode ser votadas a qualquer momento. Vamos pedir que sejam aprovadas na íntegra, para que as crianças indígenas tenham garantia do direito à vida e à uma família. Vamos mostrar que a sociedade está acompanhando o que está acontecendo dentro do Congresso. Vamos pedir que todo aqueles que estão preocupados com este assunto, que aguardem mais uma ou duas semanas para começarmos nossa campanha. Isso porque a todas as comissões da Câmara dos Deputados estãos sendo mudadas, a não valeria a pena fazer nenhuma manifestação nem comunicação neste momento. As comissões inclusive estão impedidas de enviar ou receber qualquer documento até ficar definida em que comissão cada deputado vai atuar.

Vamos ficar atentos e nos preparar para manifestar apoio à causa das crianças indígenas. Este ano não será apenas a Lei Muwaji - teremos que lutar também pel PEC e pela Lei de Adoção. Isso é um grande avanço, e mostra que nossa luta está valendo a pena!