domingo, 26 de dezembro de 2010

Está na hora de repensar o testemunho evangélico IV

Eduardo Ribeiro Mundim

Não importa qual é a igreja: poderia ser a minha, ou a sua.
A Folha de São Paulo de 26 de dezembro traz uma reportagem sobre a ação de uma comunidade cristã de Belo Horizonte nos presídios mineiros (caderno Cotidiano, pg C4). Todas as celas de uma prisão na cidade receberam uma TV LCD de 32 polegadas. Durante todo o dia todos os aparelhos instalados estão sintonizados na programação televisiva daquela igreja, disponível 24 horas por dia. Os presos não têm a opção de desligá-los - somente de reduzir o volume. O governo mineiro considera a experiência um sucesso (pela modificação do comportamento dos detentos), e pensa em estendê-lo às demais unidades. O diretor do Centro de Remanejamento do Sistema Prisional, que é quem controla a programação, é membro da igreja.

Ideia genial? Proclamação do evangelho? Testemunho cristão? Estas são algumas das perguntas que o texto do repórter Rodrigo Vizeu levantaram para mim.

O articulista Helio Schwartsman levantou algumas objeções jurídicas:
1. a exposição compulsória a um programa de televisão único se configura em uma segunda pena a ser cumprida, não estabelecida pela justiça
2. a separação entre igreja e Estado proíbe que o poder público estabeleça alianças com igrejas (não importam quais sejam)
3. para que o princípio da impessoalidade seja respeitado, todas as demais crenças religiosas deveriam ser convidadas a participarem do programa
4. o serviço, sendo relevante para os interesses do Estado, deveria ter sido submetido a um processo licitatório.

Acredito nas boas intenções do diretor, mas questiono como um funcionário público graduado é desatento para as questões levantadas acima. Quais são suas credenciais para ocupar o posto?

Segundo o repórter, o diretor alega que os presos do CERESP ficam pouco tempo, pela própria missão daquela unidade, e que este é o tempo que tem para "plantar a semente". Qual semente?

Pergunto: onde está o mandamento bíblico para esta atitude? É isto o que o apóstolo Paulo quis dizer quando recomendou a Timóteo "prega a tempo e a fora de tempo" (II Tm 4.2). Evangelizar é obrigar as pessoas a ouvirem aquilo que não desejam ouvir? Evangelizar é impor, ou convencer?


Imagino se, como evangélicos, não invejamos os séculos durante os quais a Igreja Católica foi a religião oficial do Brasil (colônia e império); imagino se o poder consequente a esta posição não é por nós desejado; imagino se não confundimos mudanças de coração com imposição de hábitos e costumes.


Temos certeza do que significa evangelizar?


Até onde estamos dispostos a ir?

Valores do Reino e o mundo não-cristão

Eduardo Ribeiro Mundim

Política é o nome pelo qual o relacionamento entre as pessoas, quando o assunto é o estabelecimento de regras para as suas relações mútuas, é chamado. Enquanto sociedade, é necessária uma definição de papéis sociais, financiamento das atividades que a todos beneficiam (infraestrutura de saneamento básico, por exemplo), normas de comportamento e de punição.  Este acordo social precisa ser alinhavado porque os desejos individuais são discordantes, as visões de mundo são diferentes, as percepções das distorções variadas e as propostas de soluções, múltiplas. E não é possível ao homem viver isolado dos demais, pois nem na assim chamada idade da pedra isto acontecia. E a vivência de todos como eremitas acarretaria o fim da espécie humana.

Política é uma atividade onipresente, que se inicia no microcosmo (relacionamento em condomínios, por exemplo, onde existe a figura do síndico) e se estende ao macro - seu ápice hoje seria o secretário-geral da Organização das Nações Unidas. Perto do microcosmo, está o relacionamento dentro de uma igreja (onde há eleições para oficiais, diáconos e presbíteros), intradenominacional (onde as igrejas de certa denominação se reúnem em assembleia, concilio ou sínodo) e interdenominacional (onde a face mais visível foi, nas décadas passadas, a Confederação Evangélica Brasileira, mais recentemente a AEvB - Associação Evangélica Brasileira e sua sucessora, a Aliança Cristã Evangélica Brasileira [1]).

Política, portanto, é uma atividade inerente à condição de ser um humano - exceto àqueles que se refugiam solitariamente em cavernas. Curiosamente, não vejo maiores questionamentos sobre o cristão e seu envolvimento político quando se trata de sua igreja local ou denominação; ou mesmo condomínios. Mas quando se trata do Estado, há, grosso modo, três possibilidades [2].

O cristão pode ignorar a política secular. Ao adotar esta atitude, ele diz, explicitamente, que o Reino de Deus não tem nada a dizer ao relacionamento entre as pessoas não cristãs, que Deus as abandonou à própria sorte (se como castigo, ou descaso, ou cansaço, fica em aberto) e o Evangelho não tem aplicação prática para os pequenos dramas cotidianos.

O cristão pode submeter-se, completamente, à política secular. Desta forma, ele diz, explicitamente, que o Reino de Deus é menor que o mundo caído, com uma ética de menor valor e pior qualidade, e que somente terá significado em um futuro distante. Tal futuro distante assemelha-se aos dos contos de fada, ou às estórias do cinema, pois que futuro pode haver se não há relevância hoje?

O cristão pode expor sua opinião, calcada na análise da realidade através de todas as ferramentas disponíveis (como a sociologia, a biologia, a filosofia, a matemática, a linguística, etc) e confrontada esta realidade com a vontade de Deus expressa nas Escrituras. Esta conclusão pressupõe um cuidadoso trabalho de interpretação bíblica e contextualização, não podendo ser feito às pressas. Esta conclusão também pede um debate entre os cristãos, pois a Igreja trabalha em conjunto, e não de modo isolado. Desta forma, o cristão afirma, explicitamente, que é sal da terra e luz do mundo: diz ser portador de uma ética superior - ainda que, frequentemente, não viva segundo ela. Mas, pecador humilde que é, reconhece estar longe do ideal, e chama os não cristãos a trilhar o mesmo caminho com ele.

Quando o cristão resolve colaborar na política secular, há dois modelos: imposição e confronto.

Imposição foi o que Constantino iniciou no Império Romano, tornando o cristianismo religião oficial - um trabalho bem feito do Demônio. A igreja foi tola o suficiente para levar avante na Idade Média ocidental, impondo os padrões do evangelho indistintamente a todos os cidadãos. O resultado, consequência de uma série de fatos (baixa educação popular, clero despreparado, clero não cristão, dentre outros), foi uma sociedade culturalmente cristã e, na prática, pagã: as guerras entre os diferentes reinos cristãos, as cruzadas, a inquisição, etc. As consequências permanecem até hoje: os árabes com um inconsciente coletivo de massacres perpetrados por cristãos no passado (e atualizado pelo colonialismo dos séculos XIX e XX), desprezo pelo clero, igrejas vazias transformadas em qualquer outra coisa...

O confronto é o preceituado no Sermão da Montanha, analisado por John Stott com o provocante título de Contracultura Cristã [3]. A Igreja é chamada a ser uma cultura que confronta aquela na qual está inserida, não pelas palavras, mas pelos atos. Não foi assim na igreja em Jerusalém?

A imposição dos valores do Reino a uma sociedade não cristã (e desconheço qualquer sociedade cristã, ou seja, constituída por 100% de cristãos por opção, e não culturais) traz uma série de problemas, de éticos a teológicos:
- é compatível com o ensino bíblico impor a quem não deseja, ou para quem não há nenhum sentido perceptível no seu horizonte, uma ordem a ser cumprida onde a justificativa não está no bem comum, mas no cumprimento de ordem divina?
- a Igreja não é Israel!!!
- os valores do Reino somente são significativos para aqueles que neles creem. Impor um valor, através da força policial, a quem nele não crê somente traz violência e violação do mesmo valor
- os cristãos, que lutam para impor a si mesmos estes valores, o fazem com boa dose de renúncia pessoal (sofrimento), pois, por amor a um Deus que os ama, querem ser como Ele deseja que sejam. Paulo deixa bem claro que as obras da carne são para serem deixadas para trás (atitude consciente) e suas cartas à igreja em Corinto mostram como aquela comunidade tão rica de dons espirituais e tão abençoada e perdoada era imensamente pecadora, a ponto de fazer um testemunho ao contrário. Como nós, entre outras atitudes, foram aos tribunais seculares resolver disputas internas! Como impor a alguém um processo de santificação quando ele não é desejado? Nossos pastores já não foram fonte suficiente de escândalos? Nossos políticos evangélicos são, todos, genuinamente cristãos ou apenas eleitoralmente? O termo "abuso espiritual" não tem sido fonte de livros e artigos?
- não há, nas Escrituras, mandamento para que os valores do Reino sejam impostos a quem quer que seja. Eles devem ser ensinados com toda a perícia e empenho, mas não há ordem para sua imposição a quem quer que seja. Incluindo ao cristão apóstata.

O confronto, quando a Igreja se apresenta como sociedade alternativa, que, inclusive, pune os seus com a justiça necessária [4], demonstra, na prática do dia a dia, a começar pelos pequenos conflitos, os valores do Reino. Estes, por serem basicamente o amor altruísta, podem seduzir aqueles que assim o desejam ser (na perspectiva arminiana) ou aqueles predestinados para tal (na calvinista), pelo valor que tem em si, única e exclusivamente. A lógica dos valores do Reino pode, e deve, ser traduzida em linguagem não cristã, com argumentação calcada em outros campos do conhecimento humano que são aceitos, pelos não cristãos, como fonte de conhecimento. Usar a bíblia como fonte não tem sentido no diálogo político, exceto se o propósito for a proclamação do Evangelho.


[2] Matos AS. Cristãos e política: uma relação imprescindível. Revista Ultimato.... disponível em http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/327/cristaos-e-politica-uma-relacao-imprescindivel
[3] editado no Brasil pela ABU Editora (http://www.abueditora.com.br/livros.htm)
[4] não é esta a queixa das vítimas da pedofilia, ou do abuso espiritual, de que os responsáveis não são punidos na proporção do crime cometido?

corrigido em 14/06/13

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Nossa sutil hipocrisia

Rodrigo de Lima Ferreira*

Emil Brunner disse certa vez que, em sua caminhada histórica, a igreja oriunda da Reforma procura automaticamente o engessamento de uma crescente e perene institucionalização, matando o caráter orgânico, vivo e livre da igreja. Brunner identifica o início da institucionalização da igreja quando o apóstolo Paulo normatiza o sacramento da Ceia em 1 Coríntios 11. Discordo do teólogo, pois creio que a semente dessa institucionalização é bem anterior, e pode ser encontrada nos embates travados entre os fariseus e o Crucificado.

Nesses embates, os fariseus, que eram professores da Lei, e que deveriam, por dever de ofício, conhecer as Escrituras, as negam ao reclamarem contra a terrível falha de Jesus em curar num sábado. “Era só o que faltava!”, diziam eles. Em sua sutil hipocrisia, os fariseus da época de Jesus ficavam chateados com a falta de modos do Senhor, que comia sem lavar as mãos, mas não se importaram em corromper um processo jurídico contra ele, ao comprar testemunhas e permitir correr o julgamento no Sinédrio à noite, o que era ilegal à época.

Hoje em dia, a igreja dita evangélica cada vez mais se engessa em seu institucionalismo ensimesmado, se aproximando do sistema religioso farisaico, cada vez mais se distancia da pura fonte de conhecimento de Deus, ou teologia, que é Jesus, e cada vez mais vivencia uma hipocrisia de modo sutil.

Enchemos a boca ao afirmarmos que nossa salvação é pela graça, mas enchemos as pessoas de cargos, sobrecargos e obrigações, que devem ser desempenhados sem pestanejar, para provar que é “um dos nossos” e merecedor da salvação.


Nos alegramos, e até mesmo nos orgulhamos, de nossa herança reformada. Mas, se é verdade que muitos arminianos oram como calvinistas (“Se for da tua vontade, Senhor...”), também é verdade que muitos calvinistas vivem sua vida como perfeitos agnósticos. Afinal, Deus é distante, intangível, inalcançável, portanto vou viver minha vida do meu jeito, sem me importar com isso.

Prezamos a família. Há até ministérios voltados para ela, e grande volume de literatura especializada no tema. Mas o número de divórcios aumenta, a quantidade de maus-tratos contra crianças se torna assustadora (sem contar os casos de abuso sexual cometidos dentro de famílias evangélicas, por pais, tios, avós ou padrastos), cada vez mais desordens de ordem sexual se tornam presentes, sem que isso seja tratado com coragem, discrição e amor. E sem falar também que, de todas as famílias da igreja, a do pastor é a mais penalizada.

Há muitas camisetas e adesivos de carro que dizem “Jesus te ama”, “Deus é amor”, mas somos frios, distantes, individualistas e cruéis. Não conseguimos expressar esse amor ao homossexual, ao alcoólatra, ao mendigo. Ou ao crente da igreja com uma teologia diferente da nossa, ou mesmo ao católico.

Aliás, somos muito ciosos em relação à pureza da nossa devoção. Falamos contra a crescente mariolatria, como bem apontou Hans Küng, mas temos nossos ídolos, nossos pequenos deuses, nossos altares de adoração abjeta. Enquanto muitos católicos adoram uma figura bíblica que foi instrumento da ação de Deus na história, muitos de nós adoramos homens sem escrúpulo, sem caráter e com uma enorme voracidade por fama, poder e dinheiro. Talvez até mesmo por nos espelharmos neles.

Prezamos a transparência, reclamamos até mesmo disso em relação aos governos. Mas não sabemos o que fazer com aqueles que decidem abrir seus corações, expondo suas fraquezas e sua dependência de Deus. Em um tempo de cultivo de heróis gospel, não soa bem se mostrar frágil.

Prezamos o papel de líder, enquanto Jesus prezava a atitude de servo. Prezamos a vitória e a intrepidez, mas Jesus morreu como um bandido fora da cidade santa, abandonado por todos. Nos espelhamos na esperteza relatada em livros sobre liderança, mas Jesus nos incita à simplicidade infantil. Buscamos metodologias para a igreja crescer, mas nos esquecemos que quem enche a igreja é o Espírito, e qualquer outro crescimento produzido fora dele é puro inchaço.

Em tempos em que as técnicas ditam as normas (como bem disse Won Sul Lee), é anacrônico ser fiel a alguém que não se vê e que nem sempre responde como queremos. Mas somos chamados a este anacronismo, somos chamados para vivermos, como diz o antigo hino, para o Deus dos antigos, o Deus que nos limpa por dentro e nos remove a sutil hipocrisia dos fariseus modernos. O Deus que nos quer íntegros e transparentes. O Deus que nos quer santos.

* Casado, duas filhas, é pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil desde 1997. Graduado em teologia e mestre em missões urbanas pela FTSA,  é autor de "Princípios Esquecidos" (Editora AGBooks). http://revdigao.wordpress.com
 

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Homofobia: não cabe ao cristão discriminar

Transcrevo texto publicado em http://www.ultimato.com.br/conteudo/homofobia-nao-cabe-ao-cristao-discriminar por concordar plenamente com o autor (Rev Elben Cesar). É provável que seja criticado por alguns, mas apoiado por outros tantos. E avanço um pouco mais na sua conclusão: sim, para aqueles que não querem ser cristãos os critérios éticos serão outros, não os do Reino, mas o mais próximo deles. Estão os cristãos prontos para isto?

Homofobia: não cabe ao cristão discriminar


Além de não poder praticar nem dar seu aval à conduta sexual adulterina e à homossexual, o cristão precisa aprender a arte da convivência com aqueles que as praticam. Por ter se comprometido espontaneamente com Cristo ao se converter, o cristão é membro de uma comunidade cristã e responsável por seu comportamento e testemunho. Porém, ele não é retirado do mundo, da sociedade no meio da qual vive. Segundo Paulo, o cristão não deve ficar separado dos não-cristãos, que vivem a seu bel-prazer. Para viverem separados, os cristãos “teriam de sair deste mundo” (1Co 5.10, NTLH), atitude com a qual Jesus não concorda. Na oração sacerdotal do Cenáculo, Jesus é claro: “Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno” (Jo 17.15, NTLH). Retirado do mundo, o cristão jamais seria “o sal da terra” e “a luz do mundo” (Mt 5.13-16).

Por uma questão de princípios, se o cristão não se retira da sociedade, ele tem de aprender a conviver com seus contemporâneos e vizinhos, sem se deixar influenciar ou enredar por eles. Convivência e conivência são coisas distintas: “convivência” é viver com outra pessoa; “conivência” é cumplicidade, colaboração, conluio.

Não cabe ao cristão discriminar, desprezar, odiar, maltratar, humilhar ou apedrejar o homossexual ou a lésbica, em uma sociedade em que há muitos outros desvios, como a injustiça, a avareza, o consumismo, a hipocrisia, a idolatria, o ódio, a vingança, a arrogância, a frivolidade e assim por diante. Cabe ao cristão conviver com todas essas pessoas, com temor e tremor, sem espírito de superioridade, reprovando todas essas coisas mais pela conduta do que pelas palavras.

O ensino de Paulo tem um valor imenso se o contexto for considerado. Não há concessão alguma ao desregramento sexual. No mesmo capítulo, o apóstolo é enfaticamente contrário à presença de certo indivíduo da comunidade cristã de Corinto que estava tendo relações com a mulher de seu pai (já morto ou não), provavelmente sua madrasta. Ele deveria ser temporariamente afastado dos privilégios da comunidade, até que sua natureza carnal fosse suplantada pela nova natureza (1Co 5.1-5). No capítulo seguinte, Paulo recorda que entre os membros fundadores da comunidade cristã havia ex-homossexuais ativos e ex-homossexuais passivos, bem como muitos outros ex-isto-e-aquilo (1Co 6.9-11).

Na comunidade, o critério seria um; na sociedade, seria outro. Não se pode exigir que o não-cristão se comporte como cristão, mas é lícito exigir que o cristão se comporte como cristão.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Os cristãos americanos creem que a morte foi tragada pela vitória?

 Rob Moll
30/03/09

Mark Galli comenta um estudo que confirma minhas evidências empíricas através de entrevistas com médicos cristãos - especialmente os envolvidos em asilos ou com o cuidado de idosos: cristãos são surpreendentemente agressivos nas tentativas de adiar sua própria morte através de intervenções médicas.

Isto é surpreendente pois a crença cristã básica é que Jesus Cristo morreu e se levantou do túmulo. E como Paulo diz aos Romanos, os cristãos têm a vida do Deus que levantou Jesus dentre dos mortos. Por causa desta vida que desafia a morte, os cristãos creem, como a Bíblia repete, "a morte foi tragada pela vitória. Onde está, ó morte, sua vitória? onde está, ó morte, o seu aguilhão?"

Esta ausência de medo da morte, especialmente como ensinada por Paulo em I Coríntios 15 e pelas evidências de sua própria vida, não é de todo clara nas decisões tomadas por muitos, incluindo cristãos (segundo o estudo citado por Mark), que usam a tecnologia médica para enfrentar a morte.

Durante a pesquisa para o meu livro a respeito do modo cristão de morrer bem (The art of dying) encontrei pelo menos duas razões pelas quais cristãos em particular buscam intervenções médicas agressivas ao final da vida.

A primeira é a transferência de valores pró-vida do início para o fim da vida. "Somos tão pró-vida", um médico me disse, "que somos antimorte". Repetidas vezes ele vê pacientes que defendem suas desesperadas decisões apelando para as crenças pró-vida.

A segunda relaciona-se com a ideia da saúde e da riqueza como uma promessa a ser cobrada de Deus. Outro médico, que trabalha em uma casa de idosos - e cristão - disse-me que regularmente escuta pacientes que foram admitidos em hospitais recusarem-se a aceitar que qualquer doença fosse uma ameaça a suas vidas. Recusando esta aceitação, eles negam a sua existência. Ou invocando um versículo ou uma passagem que promete a cura (mesmo "a morte foi tragada pela vitória", muitos cristãos creem que serão os primeiros desde Elias a serem levados diretamente para o céu - um dom que mesmo Jesus recusou).

Naturalmente, ambas explicações são um disfarce para um assunto mais profundo: o medo da morte. E enquanto cristãos tem esperança na derrota da morte por Jesus na cruz, o medo da morte não é único e é perfeitamente compreensível.

Mas os problemas com tais medos conduzindo a um tratamento médico agressivo ao fim da vida são duplos. Primeiro, a morte é sempre mais difícil quando se recusa a aceitar sua chegada. Tratamento agressivo não somente fornece uma (frequentemente falsa) esperança de cura, mas é tipicamente exaustiva e frequentemente não permite ao paciente tempo ou energia para fazer as pazes com o final da vida. Sem a aceitação da morte, o processo de morrer é frequentemente difícil do ponto de vista físico, doloroso e prolongado. E para os familiares, esta morte difícil faz o processo de luto e dor mais doloroso e espinhoso de ser trabalhado.

O próximo aspecto é relacionado. Através do século XIX, os cristãos praticaram várias formas de morrer bem. Enquanto certos detalhes se modificam, a crença básica é que a morte e ressurreição de Jesus é um modelo para a morte do cristão e esperança na ressurreição. Morrer bem pois requer 1) a disposição para morrer, 2) uma expressão da esperança cristã na ressurreição do corpo e na vida eterna com Deus, e 3) a despedida dos seus e da comunidade, frequentemente acompanhada pelas últimas palavras. Este padrão foi consistente através da história cristã até o século XX.

Devido a uma série de questões médicas e sociais, o século XXI é uma boa época para tentar recuperar a perdida arte cristã de morrer. Mas estes valores são melhor aprendidos antes que o paciente necessite decidir ser hospitalizado ou buscar tratamento curativo. E são melhor ensinados pela comunidade da igreja que oferece esperança na ressurreição após a morte - e não a promessa de saúde e prosperidade agora.

traduzido por eduardo ribeiro mundim de More on Faith and End-of-Life Care

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Natal no complexo do alemão

Presb. Ronaldo Pereira Martins

Na semana passada os brasileiros acompanharam pela TV a operação militar que a imprensa chamou de “guerra contra o tráfico”. Pouco se falou sobre o fato de que, durante décadas, a população do conjunto de comunidades do Complexo do Alemão viveu abandonada à própria sorte, sem a presença e o apoio do Estado. O que se destacou foi o fato de que, triunfalmente, a polícia e as Forças Armadas “libertaram a população do jugo dos traficantes”.

A cinematográfica “libertação” demonstrou o que todos sabemos: se há “vontade política”, o Estado pode ter êxito na promoção do bem comum.
Mas de que tipo de libertação nós precisamos? A que provém da vontade ou a que provém da esperança? Essa questão me veio à mente enquanto assistia, estarrecido, à “guerra urbana” no Rio de Janeiro, em pleno domingo de Advento

O que distingue a vontade da esperança? Segundo Sponville, “a esperança é um desejo que se refere ao que não depende de nós; a vontade é um desejo que se refere ao que depende de nós”. Corroborando com o que afirma o filósofo, eu diria que a esperança da libertação proposta no Reino de Jesus Cristo se funda em uma novidade de vida que não depende de nós mesmos, mas da graça de Deus.

É bom que os moradores do Complexo do Alemão tenham sido libertados da opressão imposta pelos traficantes. Mas devemos ter claro em nossas mentes que eles ainda não receberam o verdadeiro presente de Natal. Apenas tiveram paga uma dívida que poderia ter sido quitada há muito tempo se  houvesse vontade.
Que a esperança resista no coração daquela comunidade e que as famílias do Alemão continuem ansiando a libertação definitiva, aquela que foi assim descrita pelo profeta Isaías: “ele edificará a minha cidade, e soltará os meus cativos, não por preço nem por presente”. (Isaías 45:13)

A liberdade apregoada no tempo do advento é aquela que se estabelece como direito de todos os cidadãos do Reino de Deus. É a liberdade que nasce da esperança de que o Senhor está no controle das nossas vidas. É a liberdade que não depende da nossa própria vontade. É a liberdade que advém da verdade, nos guiando para o caminho no qual a presença de Jesus Cristo é definitiva.

Neste tempo de Advento podemos cultivar nossas vontades ou nossa esperança. Na última segunda-feira, a Federação do Comércio divulgou uma pesquisa demonstrando que o índice de otimismo dos consumidores de Belo Horizonte bateu o recorde histórico. Segundo a pesquisa, todos querem consumir como nunca no próximo Natal. Essa é uma vontade que depende apenas de nós. Mas, com certeza, é a maneira menos adequada de esperar pelo Natal.
Talvez devamos aceitar o desafio de reconstituir o sentido do Advento como um tempo de esperança. Podemos e precisamos cultivar a esperança de que o Natal represente, a cada ano, um recomeço, o despertar de um novo dia, no qual ganhamos força para lutar pela transformação definitiva da sociedade e do ser humano.

Quais são as imagens que lhe vêm à mente quando você pensa no Natal? Quais são os desejos que você cultiva? Se eles se referem apenas a prazeres passageiros, como presentes e ceias fartas, são mera vontade humana. Se remetem você ao sentimento de que um mundo novo é possível a partir da libertação preconizada no Reino de Deus, os seus desejos estão revestidos da esperança do Natal.

Feliz Natal para os moradores do Complexo do Alemão!

Presb. Ronaldo Pereira Martins:[1] Jornalista. Mestre em Ciência da Informação pela UFMG. Diretor do Fundo Cristão para Crianças.

fonte: http://www.segundaigreja.org.br/noticias_view.asp?id=393

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Pastor de origem japonesa lê para delegação africana um pedido de perdão da igreja brasileira


Postado por Ultimatoonline em 22 de novembro de 2010 às 8:21 em Especial Lausanne III | 6 Comments
[1]Especial Lausanne III – Carta lida por Key Yuasa, brasileiro de origem japonesa, pastor da Igreja Evangélica Holiness da Liberdade em São Paulo, no último dia de Lausanne 3 (24/10) no Auditório n. 1 do Convention Center do Cape Town, onde se reuniam todas as delegações ao sul de Sahara, neste momento presidida pelo Arcebispo Henry Orombi da Uganda. 

Amados irmãos e irmãs do grande continente da Africa:

Nós os participantes brasileiros de Lausanne III temos sido abençoados abundantemente neste Congresso e estamos muito felizes de estar nesta parte do mundo. Os navegadores portugueses do século XV venceram os temores e as dificuldades naturais do Cabo das Tormentas, e abriram o caminho do comercio para Moçambique e para as Índias. Aqui eles ganharam inspiração, ousadia e coragem para explorar o Oceano Atlântico Sul e procurar chegar às Índias ainda que fosse “por mares dantes nunca navegados” avançando para o oeste, e Pedro Alvarez Cabral oito anos depois de Colombo foi capaz de “descobrir” a Ilha de Vera Cruz, depois rebatizada de Terra de Santa Cruz, quando perceberam que não era ilha, e depois terra do Brasil.

Ao re-lembrar esses fatos da formação de nossa terra e nação, não podemos deixar de recordar nossa grande dívida histórica, moral e física para com o grande continente da Africa, seus povos e nações. Depois da descoberta e por quase 400 anos do Brasil colonia e Brasil independente, nós dependemos do trabalho escravo para a formação de nossas plantações, para cavar nossas minas, para a construção de nossas casas, nossas cidades e nossa nação. Assim cometemos o pecado de sequestrar pessoas deixando atrás muitos órfãos, destruindo casas e vilas causando feridas profundas em suas nações.

Cometemos o pecado de homicídios, de tratar pessoas criadas à imagem de Deus como bestas, impondo em seus povos violência física, psicológica e moral e condições sub-humanas de vida; cometemos abusos de todos os tipos e sempre que foi possível ajudamos a destruir suas identidades pessoais, familiares, culturais e nacionais.

A dívida moral que nós temos em relação as suas nações e povos é tão vasta, profunda e enorme, que nem começamos a medi-la. Cremos que é uma dívida impagável.

Se nós quiséssemos mostrar que realmente sentimos muito pelo que aconteceu e que estamos arrependidos desse pecado histórico de nossa nação em contra de vossas nações, nos teríamos de vir até vocês e dizer: Por favor dá nos a graça de sermos seus escravos. Sejam por favor nosso patrões e nossos senhores, e dá-nos a oportunidade de servi-los. Deixa-nos ajudar a construir suas fazendas, cavar suas minas, construir suas casas e cidades com nosso suor, sangue e lágrimas como gentes do seu povo fizeram por nós. Permitam que nossos corpos sejam enterrados anonimamente embaixo de suas estradas e cidades, como fizeram os vossos povos por nós.

E então, somente então, poderíamos perceber que somos irmãos e irmãs de sangue , porque o seu povo derramou sangue por nós e nos abençoou, e vocês nos teriam dado a graça e a oportunidade de derramar nosso sangue em favor de vocês. Talvez depois disso poderíamos começar a entender juntos a amplidão, o comprimento, a profundidade, e a altura do amor de Cristo que derramou por nós ambos o seu precioso sangue e derrubou o muro de partição para nos fazer uma só família n’Ele!

Mas hoje precisamos pedir a vocês, perdão a algo imperdoável. Por favor perdoem-nos. Por favor perdoem os pecados do nosso povo contra vocês. Perdoem os pecados de nossa nação contra as nações de vocês.

As gentes provindas da Africa em uma imigração forçada, ajudaram a construir o nosso país não apenas com suor, trabalho árduo e sangue. Esta pessoas e seus descendentes tem construído com suas mãos, sua cabeça e pernas (como Pelé, Ronaldo, Robinho, etc.), com coração, mente e sentimentos cálidos como muitos músicos, romancistas e artistas, ou com habilidades técnicas como médicos, engenheiros, juristas, políticos, em todas as esferas da atividade humana. Muitos são membros de igrejas, e com sua fé , esperança e amor tem sido pastores, bispos, professores,líderes e santos. O seus povos e seus descendentes tem sido uma benção para a nossa nação. Em vez de devolverem o mal que receberam com o mal eles tem abençoado a nós com a riqueza de sua música, enriqueceu a nossa cultura alimentar com sua contribuição, e sobretudo com a sua maneira rica e peculiar de ser humano, de ser gente, um próximo e irmão de alma, como estamos experimentando esta semana com vocês. Seus povos e descendentes se tornaram parte integral de nosso país, e de nossas famílias. Muitos de nós nos orgulhamos de ser em certa medida, descendentes dos povos da Africa.

Por favor aceitem-nos como seus servos e servas, seus escravos e escravas em nome do Senhor Jesus. Com amor e ternura fraternais,

(Seguem 59 assinaturas)

Participantes brasileiros em Cape Town 2010
Cape Town, 24 de Outubro de 2010

Crédito foto: Lissânder Dias. Legenda: Pr. Key Yuasa abraça líder africana após ler pedido de perdão.

Artigo impresso de Blog da Ultimato: http://ultimato.com.br/sites/blogdaultimato
Endereços neste artigo:
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Em reação aos comentários do blog do Ultimato, registro a minha:

Creio que a delegação brasileira agiu corretamente. Sim, pessoalmente eu não comprei escravos, e apenas muito indiretamente fui beneficiado pela escravidão. Mas toda a sociedade brasileira o foi, indiretamente. Muito indiretamente eu fui.
 
Caso estivesse presente, assinaria o pedido de perdão, reconhecendo estes fatos.
 
Como já foi comentado, o pedido implica em revisão de pontos de vista, em modificações de atitudes. Quais serão, o momento histórico individual e coletivo apresentará oportunamente.
 
Acrescento que a igreja ocidental também deve pedir perdão aos povos orientais que foram por nós colonizados. Se o Evangelho encontra dificuldades naquelas paragens, parcialmente a conduta de nossos antepassados que misturaram evangelização com comércio e a salvação com lucros é responsável. Foram cristãos que massacraram os árabes na queda de Jerusalém na primeira cruzada; foram cristãos que deceparam a mão de africanos "rebeldes" no assim chamado "Congo Belga"; são cristãos os países que se enriqueceram com as colônias e hoje recusam seus cidadãos.
 
Não vivemos em um mundo perfeito, mas é parte de nossa vocação curarmos as feridas que podem ser curadas, limitar as que podem ser limitadas e procurarmos não abrir outras.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Dourados é a maior tragédia indígena do mundo, afirma Deborah Duprat

Antonio Carlos Ribeiro


Campo Grande, sexta-feira, 3 de dezembro de 2010 (ALC) - "A reserva de Dourados é talvez a maior tragédia conhecida na questão indígena em todo o mundo", afirmou a vice-procuradora-geral da República, Deborah Duprat, ao falar sobre a questão indígena em Mato Grosso do Sul no XI Encontro Nacional da 6ª Câmara de Coordenação e Revisão (CCR) do Ministério Público Federal (MPF), realizado essa semana nesta capital. 

Duprat atua no setor do MPF que trata de assuntos relativos aos povos indígenas e minorias étnicas. A escolha de Mato Grosso do Sul se deve ao fato de o Estado contar com 70 mil índios, a segunda maior população indígena do Brasil, e que tem os maiores problemas de conflito de demarcação de terras, especialmente pela situação de discriminação da população, violência por parte dos proprietários rurais e uma política do governo estadual cujo descaso transforma a vulnerabilidade dessa população em genocídio.

"O cerne da questão certamente é a identificação e demarcação de terras. Como vai se fazer em relação a produtores rurais é uma outra questão", afirmou ao Duprat ao boletim Mundo que nos rodeia. "Agora que tem que se enfrentar a questão indígena, não resta dúvida. Não adianta supor que esse conflito se resolverá deixando a demarcação em suspenso, como está se pretendendo fazer por meio de recurso à Justiça, por meio de inviabilização da atividade da Fundação Nacional do Índia. Ele poderá ficar suspenso mas não será resolvido", disse.

Informada, a vice-procuradora retornou à história para afastar o argumento de que "suicídios, que durante algum tempo se supôs que fosse um traço cultural daquele grupo, hoje há fortes indícios de que essa questão está associada à insuficiência de terras". Relembrou que o propósito dessa reserva era mesmo o confinamento e não criar um espaço territorial digno. Por isso, "a reserva de Dourados é a coisa mais indigna que existe", declarou sem meias palavras.

Sem poupar os governos da ditadura, lembrou que mesmo no Parque Nacional do Xingu "não tinha a preocupação de respeitar essa diversidade étnica, o modo de vida desses povos". A ideia era "confinar para que eles ficassem ali e não se misturassem à sociedade enquanto não fossem emancipados".

Denunciou ainda que "é uma visão absolutamente racista e que vem da época colonial", voltando ao episódio da demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, região em que "o maior rebanho de gado era dos índios".

Frisou ainda o temor das oligarquias rurais. "Esse receio de perder terra para os índios é ignorar qualquer capacidade que eles tenham de contribuir para o que é coletivo". Na visão simplista de exploração dos ditos 'civilizados', em que "entra a relação diferenciada do índio com a terra, que não a vê como um meio de produção mas ele se vê como parte dela".

Com a visão acurada de quem defende a cidadania, a vice-procuradora critica o próprio poder em que atua. "O Judiciário talvez seja o poder mais carente de informações. Não digo o Judiciário local, mas o Tribunal Regional Federal, o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal estão muito distantes", disse, aludindo à "resistência", cujo resultado é o descaso que custa vidas humanas. "Esse distanciamento, a pouca informação e a inexperiência na questão indígena formam um consórcio contrário à solução dessa questão no estado", afirmou.

Ela elogiou o empenho dos grupos de trabalho do Ministério da Justiça. "Na verdade, ainda não se sabe qual o tamanho do território que cabe aos índios, quais são os proprietários atingidos, se são grandes ou pequenos, o quanto isso compromete a questão territorial do Mato Grosso do Sul. Nós não temos nem esse diagnóstico, porque os trabalhos de identificação de áreas indígenas estavam inviabilizados", observou.

Duprat usou a expressão que mais incomoda os donos do poder, a sociedade e os três poderes. "Eu acho que é preciso resolver a questão indígena. Esse é um compromisso que vem da Constituição Federal e de tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário".

Denunciou o "desconhecimento da questão indígena no Judiciário", que é patente no caso do julgamento dos acusados pela morte do líder Marcos Veron, julgado em São Paulo, em que "a juíza do caso impediu que os indígenas se expressassem em guarani". E alfinetou: "era preciso permitir que os índios tivessem ali algo que lhes é comum, familiar, que é a sua língua, num ambiente totalmente estranho".

Não ter nenhum dos brancos acusados de assassinato de índios no Mato Grosso do Sul "é de extrema gravidade. Primeiro, que não temos um diagnóstico da violência contra os índios, quantos índios estão presos, onde eles estão. Eu li em uma publicação que só em Amambai a população carcerária indígena chega a quase 40%. Esse é um lado. O outro é a impunidade dos agressores. Esse é um quadro que diz muito a respeito do Judiciário local, tanto federal quanto estadual. Então, há um concurso de fatores, sendo que o principal deles é esta visão de que quem age contra indígenas não deva ser punido", confrontou.

Para a procuradora-geral da República, "os índios em Mato Grosso do Sul estão num processo de recuperação de suas terras". Isso implica insistência e luta, e "não é uma característica só dos índios de Mato Grosso do Sul, processo similar aconteceu no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, na região sudeste".

Ela esclareceu que "o MPF não defende invasões de terras, mas reconhece como legítimo que, de alguma forma, os índios procurem, diante da inércia do Estado, tomar alguma atitude de recuperação de seu território". E por isso o MPF provoca os órgãos estatais para por fim a essa situação de precariedade que vivem os índios.
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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Prática religiosa e o uso de meios extremos para prolongar a vida em pacientes com câncer

Este provocador estudo é citado no livro "The art of dying", de Rob Moll, publicado pela IVP Books. Foi publicado na revista médica JAMA (Journal of the American Medical Association) em 2009, e está disponível gratuitamente na internete no endereço http://jama.ama-assn.org/cgi/content/full/301/11/1140.

Os autores justificaram o estudo pela ausência de informações adequadamente coletadas sobre o impacto da adesão religiosa frente ao final da vida de uma pessoa com câncer: estas pessoas usam morrem sem usar meios extraordinários de manutenção da vida, quando já não há mais esperança?

Eles avaliaram 345 pessoas em diversos lugares nos Estados Unidos e que estavam com câncer em estado avançado. Estas pessoas foram acompanhadas por, em média, 122 dias. No início de cada acompanhamento foram anotados os planos de tratamento, variáves religiosas e psicológicas e as preferências para o momento de morte.

As pessoas com maior aderência religiosa se mostraram muito mais propensas ao uso dos meios extraordinários de prolongar a vida, como respirador artificial ou manobras de reanimação cardiovascular na última semana de vida.

Rob Moll, o autor do livro, questiona se os cristãos (a maioria dos entrevistados) não estão levando a defesa da vida longe demais.