terça-feira, 30 de junho de 2009

gripe suína e suas relações


Gripe Suína — Influenza A(H1N1) [1/2]

Um susto revelador

Marinilda Carvalho

PorquinhoNada como um susto sanitário global para detectar a taxa de solidariedade entre as nações — ou a falta dela. Também se mede o bom senso das autoridades de saúde nas medidas de prevenção — ou as pressões políticas e econômicas que as embasam. O vírus da Influenza A(H1N1), nome adotado pela OMS em lugar de gripe suína após protestos da indústria de carne de porco e derivados, espalhou preconceito e alarmismo, além de medo institucional.

A origem desse nome inodoro, Influenza A(H1N1), está na estrutura viral: um envoltório de superfície com suas glicoproteínas, logo abaixo dele a matriz (membrana); dentro, nucleoproteínas (NP) e material genético, ou RNA. Esse vírus ganhou em abril o nome de A/California/4/2009 (H1N1). A nomenclatura funciona assim: uma cepa de influenza tipo A isolada, por exemplo, nas Filipinas em 1982, tendo o segundo vírus descoberto no local as proteínas de superfície H3 e N2, seria descrita como A/Filipinas/2/82 (H3N2). Na hora do "batismo", o virologista considera o tipo do vírus, a localização geográfica do isolamento, o número de casos, o ano do isolamento e as propriedades antigênicas das glicoproteínas, a hemaglutinina (HA) e a neuraminidase (NA) — as tais iniciais H e N do H1N1 (essa relação já está em H16 e N9). A hemaglutinina liga o vírus ao receptor da célula hospedeira; a neuraminidase produz substância que facilita o transporte do vírus pelo muco.

Graças a essa "sopa de letras" os virologistas descobriram que esse vírus era algo novo. Segundo a bióloga Laurie Garrett, premiada escritora de ciência, ele foi detectado pela primeira vez em novembro de 2005 nos Estados Unidos, quando um garoto de 17 anos de Sheboygan, Wisconsin, contraiu gripe. Ele ajudara o cunhado açougueiro a abater porcos. Como estava muito frio, abrigou em casa a galinha que a família prepararia para o feriado de Ação de Graças.

O vírus de Sheboygan era um mosaico: continha cepa de influenza aviária, suína e humana, um triplo "rearranjo" genético (o reassortment de que falam os virologistas) resultando em novo vírus com traços genéticos de três espécies — uma delas, o Homo sapiens. O garoto ficou bom logo e esse "novo passo na árvore da evolução genética" foi esquecido. Para nós, brasileiros, espanta a omissão dos americanos, que podem não prover assistência universal a seu povo, mas têm vigilância epidemiológica impecável (um exemplo: em outubro de 2001, um mês depois do 11 de Setembro, 60 casos confirmados de dengue no Havaí causaram frenesi; recorreu-se até ao serviço meteorológico para que o satélite localizasse a incidência, e o foco foi logo controlado).

A ROTA DO VÍRUS

Pois em setembro de 2008 o novo H1N1 reapareceu no Texas; em meados de março, mais dois casos, no Texas e na Califórnia. Laurie Garrett contou essa história primeiro em 27/4, em entrevista por conference call de Nova York, mas poucos acompanharam: aqui, só o Jornal do Brasil, que em 28/4 reproduziu sua fala em formato de artigo. Nos EUA, a revista Newsweek prestou atenção a ponto de entregar a Laurie sua capa (nas bancas do Rio na manhã de 8/5), com o artigo "A rota de uma pandemia", de 7 páginas (www.newsweek.com/id/195692).

Em tempos de medo, diz ela, é próprio dos humanos procurar culpados. "O dedo está apontado para a espécie suína Sus domestica ou a nação do México". Foi lá que o vírus eclodiu, matou gente e transformou os mexicanos em alvo de cruel discriminação. Nos EUA, aprofundou a xenofobia (ver pág. 2). China, Cuba, Peru, Equador e Argentina suspenderam voos. Nem os nacionais podiam regressar a sua terra. Na Argentina, o governo foi alarmista. "Como não podiam voltar direto, os argentinos que estavam no México faziam conexão em outro país qualquer e desembarcavam em Buenos Aires sem problemas", contou à Radis um brasileiro lá radicado. "Era só para inglês ver".

Colômbia e Chile negaram seus estádios a equipes mexicanas para partidas da Copa Libertadores. Antes da proibição, um time do México que jogou no Chile denunciou que foi tratado "como leproso". Em campo, estressado pelas provocações, um atleta mexicano tossiu no rosto do oponente e gritou: "Agora te infectei!" As imagens correram mundo.

O governo chinês trancou em hotéis e hospitais mexicanos lá desembarcados — alguns nem viviam no México — e todos que com eles tiveram contato. O México denunciou as medidas draconianas à ONU e fretou avião para repatriar seus cidadãos. Os chineses tentaram explicar: não podem se arriscar a epidemias numa população de quase 1,5 bilhão — e com sistema de saúde deficiente, acrescente-se (uma das causas apontadas para a letalidade da doença no México, agravada pela pobreza, mas falar disso virou tabu entre as autoridades de saúde).

Na Newsweek, Laurie fala de vários tabus, como o vírus similar ao H1N1 que circula no mundo. Não é muito letal, mas no ano passado desenvolveu resistência ao Tamiflu. "Seria preocupante se o H1N1 humano de 2008 trocasse material genético com o novo vírus suíno/humano: teríamos cepa pandêmica tratável apenas com Relenza, que exige um inalador".

E mais: circula no Egito um vírus aviário antigo, com traços do H5N1 (Radis 40) que evoluiu muito. "É uma ironia", diz ela, que o Egito sacrifique 300 mil porcos, carne consumida pela minoria cristã, enquanto a variação do H5N1, que já matou 23 egípcios, deixe em paz os frangos da maioria muçulmana. "Um grupo islâmico egípcio declarou que a gripe suína é a vingança de Deus contra os infiéis", conta. A Irmandade Muçulmana, com cadeiras no Parlamento, quer fechar a Namru, unidade naval americana de pesquisa médica "que prestou serviços de saúde ao Oriente Médio por décadas". A Namru deve parar de enviar amostras do H5N1 à OMS, exigem, ecoando a ministra indonésia da Saúde: Siti Supari se nega a compartilhar amostras de H5N1 com a OMS desde 2006 — lacuna no acompanhamento de sua evolução. Em 28/4, Supari declarou: o H1N1 foi "geneticamente fabricado e espalhado para promover as vendas das farmacêuticas americanas".

Bem, sabemos que o Tamiflu é da suíça Roche e o Relenza, da britânica GlaxoSmithKline — mas, em tempos globalizados, quem sabe o que é de quem? Teorias conspiratórias à parte, a organização Médicos Sem Fronteiras e países emergentes condenam a OMS por estocar Tamiflu, que envia a nações pobres. Por que não o genérico oseltamivir, questionam? Em janeiro, por pressão dos EUA e da Europa (leia-se fabricantes de medicamentos), a OMS tentou mudar em resolução a definição de "remédio falsificado", numa redação que incluiria os genéricos. O Brasil, liderado pela embaixadora Maria Nazareth Azevedo, montou aliança de emergentes e derrubou temporariamente a tentativa.

Acusado de demorar a anunciar a gripe, o paciente ministro da Saúde mexicano, José Córdoba, reagiu indignado: "A Opas sabia desde 11/12 de abril, queriam que o México alardeasse foco de influenza?" De fato, os casos de La Glória, onde começou o foco, foram estudados pelos americanos da Veratect Consulting, que dizem ter alertado a Opas. A obsessão antiterror dos EUA e seu controle de materiais biológicos impediram a chegada de 200 amostras de mexicanos infectados ao CDC de Atlanta em meados de abril. Foram então para Winnipeg, no Canadá — o dobro da distãncia. E o CDC não soube que se tratava "dele", o vírus de Sheboygan.

BRASIL SOLIDÁRIO

O Brasil foi exemplar: não fechou fronteiras, não suspendeu voos, não isolou ninguém à força, não cedeu à histeria ensaiada. O ministro José Gomes Temporão eximiu o México: atribuiu a responsabilidade pela hesitação à OMS, que só disparou o alerta internacional em 25/4; aos repórteres que cobravam medidas duras respondia: "Seguimos as recomendações da OMS".

Um susto sanitário mostra, além de tudo, a dimensão tecnológica das nações. Poucos países (EUA, Reino Unido, Canadá, Austrália, Japão e mais alguns) puderam identificar com rapidez a variação do vírus, e o Brasil, por enquanto, não está entre eles, lembra o sanitarista Expedito Luna, professor do Instituto de Medicina Tropical da USP.

Ex-diretor de Vigilância Epidemiológica (2003-2007), Luna entende que o Brasil levaria talvez o mesmo tempo que o México para identificar o vírus. É provável. Primeiro, os países — os periféricos, nem se fala — dependem da distribuição das cepas pelo CDC. Aqui, os primers (kits de diagnóstico) só chegaram em 6/5 (o St. Jude Children's Research Hospital, de Memphis, Tennessee, recebeu-os na última semana de abril — mas é um dos cinco laboratórios-referência da OMS no mundo).

Por isso, na 62ª Assembleia Mundial da Saúde, em Genebra, de 18 a 22 de maio, o Brasil liderou bloco que reivindica que os vírus e seus sequenciamentos genéticos sejam declarados "bens públicos mundiais", para garantir o acesso de qualquer país a tecnologias e dados científicos em eventuais pandemias. Com apoio de africanos e sul-americanos, impediu que EUA e Canadá — e México! — encerrassem as discussões sobre o tema. Temporão anunciou: o Brasil também quer sediar o primeiro laboratório-referência da OMS na América do Sul.

Para Luna, é fundamental ainda uma política de investimentos em vigilância, cuja urgência "só aparece nessas horas". Os gestores deslocam recursos da vigilância para a assistência e o pesquisador vai embora. "Os profissionais mais mal pagos estão na pesquisa básica".

Tudo isso, contudo, é consequência. A causa: os gigantescos criadouros de animais em confinamento das grandes corporações do agronegócio, hipermedicados e sujeitos a todo tipo de reassortment genético. A OMS silencia, os governos não se rebelam, a mídia não denuncia. As exceções são Laurie Garrett, que fala da "estranha ecologia que inventamos para alimentar com carne nossas populações", e o historiador Mike Davis, da Universidade da Califórnia, que cita com raiva a "fracassada estratégia antipandêmica da OMS, a progressiva deterioração da saúde pública mundial, a mordaça das grandes transnacionais farmacêuticas aos medicamentos vitais e a catástrofe planetária que é uma produção pecuária industrializada e ecologicamente insustentável".

Aqui, o jornalista Mauro Santayana falou disso no JB ("A gripe dos porcos e a mentira dos homens"), citando deputado mexicano que denuncia: a Carroll, subsidiária da Smithfield Foods, expulsa da Virgínia e da Carolina do Norte por danos ambientais, montou em La Glória imenso criadouro de porcos — coberto por nuvem de moscas. Haja vírus novo. (Laurie, Davis e Santayana estão no Radis na Rede). è

Fontes
Projeto Grog, Unifesp/Adolfo Lutz
http://www.grogbrasil.com.br/default.asp
Manual da OMS para jornalistas (2005) http://www.opas.org.br/influenza/UploadArq/jornalista.pdf

Gripe Suína — Influenza A(H1N1)

1 - Um susto revelador
2 - Ações do sistema de saúde

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Sumário

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Comissão denuncia perseguição religiosa

Brasília, segunda-feira, 29 de junho de 2009 (ALC) - Igrejas neopentecostais promovem uma "ditadura religiosa" no Brasil, acusa documento da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa. O texto foi entregue, na sexta-feira, ao presidente do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, Martin Uhomoibai, em visita a Brasília.

O documento acusa a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) e seu "discurso xenófobo, racista e de exploração da população carente", colocando em risco a liberdade religiosa no país.

A IURD, aponta a Comissão, serviu de modelo a outras igrejas, dentre elas a Renascer em Cristo, na perseguição a praticantes da religiosidade afro-brasileira. A comissão acompanha 34 ações judiciais e outros 12 registros de ocorrência em delegacias do Rio de Janeiro,

O relatório, informa a repórter Claudia Lamego, do jornal O Globo, cita o "braço armado" da intolerância religiosa no Rio: "Traficantes e milicianos proíbem manifestações religiosas em templos de umbanda e candomblé nas comunidades dominadas, e ainda expulsam sacerdotes e adeptos, sendo incondicionalmente apoiados, e na grande maioria das vezes incitados, por pastores neopentecostais, líderes religiosos deste 'rebanho de armas'".

A Comissão, criada há um ano, é integrada por representantes de 18 instituições, dentre elas a Federação Israelita do Rio, a Sociedade Beneficente Muçulmana, a Congregação Espírita Umbandista do Brasil, a Polícia Civil, o Ministério Público e o Tribunal de Justiça do Rio.

 fonte: Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC)

sexta-feira, 26 de junho de 2009

A esmola envergonha e vicia o cidadão

Derval Dasilio

Há urgências. Porém, a sociedade não é receptiva. Pessoas famintas, desnutridas, doentes, discriminadas por causa da cor da pele, portadoras de deficiências, sem autonomia física, ficam ainda mais fragilizadas (Mc 3 --10). Quem cuidará delas? A religião as condenaria ao conformismo, como resultado de pecados pessoais ou ancestrais, de acordo com o senso comum. Jesus mandou: “Entra na roda, fique no meio!”. E o esquadrão que vigiava, perguntou: “Será que ele ousará contrariar a religião?”. Na sinagoga/igreja, lugar dos religiosos, o fato chama a atenção. E Jesus, entendendo o espírito coletivo repressivo, legalista ou fatalista, pergunta: “O que a Lei permite fazer no sábado: fazer o bem ou o mal? Salvar uma vida ou dar-lhe fim?”. Fica-se em cima do muro. O medo de “agir ilegalmente”, contra ideologias tradicionais, é mais forte.

A religião não cuida dessas coisas? Jesus não espera -- cura o homem deficiente, alimenta famintos, “porque hoje é sábado”, como diria Vinícius de Moraes. E inclui diferentes, estranhos. Aqui e agora, a vida não pode esperar pela morte. A neutralidade e a equidistância, porém, escondem o julgamento de morte. Estabelecer condições de relacionamento para ações que instrumentalizem teológica e eticamente estas questões como próximas da vida de fé, é urgente. Mas Jesus, enquanto vigiado pelas autoridades religiosas de seu tempo, era julgado.

Heróis nas lutas por libertação no século 20, como Mahatma Ghandi, Martin Luther King, Nelson Mandela, jamais teriam chance de fazer o que fizeram, se dependessem da aprovação oficial da igreja cristã, para não falar da fé fundamentalista. Ghandi leu o Novo Testamento numa noite, quando morava na África do Sul. Ao amanhecer, convicto de que encontrara orientação certa para sua causa, procurou uma igreja cristã. Deparou-se com uma e quis entrar. Imediatamente viu uma placa: “É proibida a entrada de cães e negros”. Nunca mais entrou numa igreja cristã. Não há notícia sobre qualquer apoio evangélico ou cristão à sua causa. Entre cristãos, o legalismo sempre está próximo do preconceito e do exclusivismo. A fome e o racismo não são estudados na Escola Dominical. A afirmação do pecado abstrato, sim.

O Brasil quer torrar milhões e milhões para sediar a Copa do Mundo em 2014, e aqui há milhões de pessoas morrendo de fome. O governo desistiu do Fome Zero, pouco depois da vitória nas urnas. Será a fome uma crise humanitária, social e econômica, resultante da hipocrisia política, de campanhas eleitorais governamentais, insensibilidade das elites, da religião, do conformismo da sociedade? Se não é, então, o que é? O homem tolhido pela doença socializada -- e a fome é a pior delas -- ou pelo racismo, necessita de amparo. Precisa ser útil, trabalhar, produzir o seu sustento e o dos dependentes. Especialmente do ponto de vista coletivo, curar a desnutrição e evitar o holocausto infantil causado por doenças. Transformações, são importantes para a manutenção da vida.

A desnutrição mata mais que a Aids, acidentes aéreos e terrestres, guerras e terrorismo, juntos. Seriam como mil transatlânticos afundando, cheios de crianças que vão morrer; e ninguém chora, ninguém protesta, ninguém lamenta. Talvez porque a Aids, a guerra e o terrorismo não fazem distinção de classe como a fome faz. Desnutrição em massa, epidemias e aumento na mortalidade são “privilégios”dos fracos, excluídos da participação dos bens sociais.

Programas como o Bolsa Família são esmolas, enquanto o que as famílias necessitam é trabalho, habitação e seguridade sanitária, em primeiro lugar. A fome não espera pela religião, diz o Evangelho. Mais de um bilhão de homens, mulheres e crianças, neste planeta -- mais de vinte milhões no Brasil -- sofrem por causa da fome. “A esmola mata de vergonha ou vicia o cidadão”, diz Luiz Gonzaga. E Jesus diz, a respeito do “descanso” que deram a Deus: “Meu Pai ainda trabalha” para saciar as fomes do mundo.

“No juízo final, você espera ser desculpado? Deus poderá lhe obrigar a derramar lágrimas de vergonha, nesse dia, fazendo recitar de cor os poemas que você poderia ter escrito, e não o fez; as palavras de indignação que evitou proferir, tivesse sido sua uma vida de amor à justiça” (W.H. Auden).


Derval Dasilio é pastor da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil.

http://www.ultimato.com.br/?pg=show_conteudo&util=1&categoria=3&registro=1076

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Lista dos senadores beneficiados por atos secretos

(segundo o jornalista Leonardo Colon, do Estado de São Paulo)

(chama a atenção a presença de alguns senadores, como Pedro Simon e Cristovam Buarque, e dois evangélicos - em vermelho. A conferir, em suas páginas pessoais, a resposta que dão ao jornalista Leonardo Colon)

Aldemir Santana (DEM-DF)
Antonio Carlos Júnior (DEM-BA)
Augusto Botelho (PT-RR)
Cristovam Buarque (PDT-DF)
Delcídio Amaral (PT-MS)
Demóstenes Torres (DEM-GO)
Edison Lobão (PMDB-MA) licenciado para assumir ministério
Efraim Moraes (DEM-PB)
Epitácio Cafeteira (PTB-MA)
Fernando Collor (PTB-AL)
Geraldo Mesquita (PMDB-AC)
Gilvam Borges (PMDB-AP)
Hélio Costa (PMDB-MG) licenciado para assumir ministério
João Tenório (PSDB-AL)
José Sarney (PMDB-AP)
Lobão Filho (PMDB-MA)
Lúcia Vania (PSDB-GO)
Magno Malta (PR-ES)
Marcelo Crivella (PRB-RJ)
Maria do Carmo (DEM-SE)
Papaléo Paes (PSDB-AP)
Pedro Simon (PMDB-RS)
Renan Calheiros (PMDB-AL)
Roseana Sarney (PMDB-MA) renunciou para assumir o governo do Maranhão
Sérgio Zambiasi (PTB-RS)
Serys Slhessarenko (PT-MT)
Valdir Raupp (PMDB-RO)
Wellington Salgado (PMDB-MG)

LISTA DOS SENADORES QUE ASSINARAM ATOS SECRETOS QUANDO INTEGRAVAM A MESA

Antonio Carlos Valadares (PSB-SE)
César Borges (PR-BA)
Eduardo Suplicy (PT-SP)
Garibaldi Alves (PMDB-RN)
Heráclito Fortes (DEM-PI)
Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR)
Paulo Paim (PT-RS)
Romeu Tuma (PTB-SP)
Tião Viana (PT-AC)

fonte: jornalista Lucia Hippolito

Movimento indígena a favor da vida

Testemunhos indígenas a respeito do infanticídio podem ser vistos no blog "Movimento Indígena a Favor da Vida".

terça-feira, 23 de junho de 2009

A morte e os 3 irmãos


Eduardo Ribeiro Mundim

Um conto lido recentemente marcou meu imaginário a respeito do tema. Provavelmente, ele apenas organizou pensamentos e leituras até então desconexos. Trata-se do "conto dos três irmãos", de Joane K Rowlingi. Resumidamente: três irmãos bruxos iniciaram uma jornada, onde, a certo momento, encontraram um caudaloso rio. Não havia possibilidade de atravessá-lo à pé ou à nado, nem embarcação disponível. Juntos, conjuraram uma ponte, imediatamente concretizada. Após percorrerem metade da sua extensão, o caminho encontrava-se bloqueado por uma figura negra e encapuzada. Furiosa por não ter conseguido as três vidas (que era o evento habitual para os viajantes naquele ponto da estrada), a Morte se apresentou a eles, dando-lhes o direito de demandarem, individualmente, um desejo. O mais velho, orgulhoso, e o mais forte, exigiu uma varinha mágica imbatível, impossível de ser derrotada, digna daquele que a vencera. Do galho de uma árvore próxima, a Morte tirou um ramo, fabricando dele tal varinha, deixando-o passar. O segundo irmão, arrogante, desejando ampliar a humilhação da inimiga, demandou a capacidade de tornar à vida os mortos. Ela, pegando um pedregulho das margens do rio, infundiu-lhe tal poder, e a entregou. O mais moço a tudo observava, e desconfiado do drama que se desenrolava, pediu-lhe apenas que pudesse dali sair, sem ser achado por ela. Muito a contragosto, a Morte lhe entregou a própria capa. Os irmãos seguiram viajem, e se separaram no devido tempo. O mais velho tinha contas a ajustar com um conhecido. Procurou-o e o venceu em um duelo de mágicos, matando-o. Dirigiu-se a um bar na cidade, onde, em meio aos muitos copos de álcool, vangloriou-se do feito e de sua varinha. Pela madrugada, um dos ouvintes invadiu seu quarto, onde dormia profundamente, roubando-lhe a preciosa varinha. Apenas por precaução, degolou-o. E a Morte recebeu o primeiro irmão. O segundo, sozinho em sua residência, viu, através da pedra, uma moça que sonhara desposar anos antes. Resgatou-a do mundo dos mortos, trazendo-a para junto de si. Contudo, ela não se adaptava ao mundo dos vivos, e preferiu novamente morrer. Desesperado, e como única maneira de reunir-se verdadeiramente a ela, ele se matou. E a Morte recebeu o segundo irmão. Os anos se passaram, e por mais que procurasse, ela não encontrava o caçula. Já muito velho, família constituída até a terceira geração, tendo realizado o que fora possível, o mais novo retirou a capa, passando-a para o filho, e aguardou a Morte. Ela foi recebida como uma velha amiga, e, como amigos e iguais, ele partiu com ela.

Neste conto temos três mortes, três faces. O primeiro, seguindo o ditado popular, morreu como viveu, pela violência. O segundo, incapaz de fazer frente à impossibilidade do seu desejo, suicida-se. O terceiro, sabedor de que o encontro somente poderia ser adiado, viveu a vida com plenitude, e soube encontrar a morte no momento em que ela se encaixava na vida.

i Rowling JK Os contos de Beedle, o bardo Editora Rocco, RJ, Rio de Janeiro, 2008

sexta-feira, 19 de junho de 2009

O Papel da mulher na conservação do meio ambiente

Isabelle Ludovico da Silva

Deus criou uma natureza deslumbrante, uma profusão de formas, cores, cheiros, texturas, sabores e sons, para o nosso deleite. O ápice de sua criação foi o ser humano. Ele criou macho e fêmea à sua imagem e lhes deu autoridade sobre a terra. Porém, a ambição de ser igual a Deus os levou a usar o conhecimento a serviço desta ânsia pelo poder. Assim, rompeu-se a parceria com Deus, entre eles e com o resto da criação.

Adão assumiu o controle, chamou sua companheira Eva, que significa “mãe”, e a confinou ao espaço do lar, enquanto ele, sozinho, se encarregava de construir o mundo. Sua escolha por privilegiar o racional e o pragmático em detrimento do afetivo gerou um mundo muito desenvolvido do ponto de vista tecnológico, mas doente no aspecto relacional. O ser humano está desintegrado e construiu um sistema injusto em que a concentração de renda e poder produz cada vez mais excluídos, condenados à miséria. Os recursos naturais foram dilapidados para aumentar o lucro de alguns em detrimento da maioria, colocando em risco nossa própria sobrevivência.

A recente emancipação feminina abriu à mulher a possibilidade e a responsabilidade de afirmar a importância do ser humano e da paz, fruto da justiça. A vocação da mulher é gerar a vida e contribuir para sua conservação. Por meio da razão, o homem enxergou um mundo linear, fragmentado e excludente. Com os olhos do coração, a mulher apreende o mundo em sua totalidade, com todas as partes interligadas e interdependentes. Esta visão sistêmica é essencial para percebermos as consequências das nossas ações e precisa se traduzir em ações práticas. A pioneira do movimento ecológico foi uma mulher. Em 1962, Rachel Carson denunciou o efeito nefasto dos pesticidas em seu livro “Primavera Silenciosa”.

Morei um tempo em João Pessoa, na Paraíba, onde a natureza exuberante está sendo destruída pela ignorância e pela miséria. Pessoas sobrevivem enfiando a mão nos lixos domésticos com risco de ferir-se e contaminar-se. Vão jogando ao redor os restos, que o vento espalha. A caminho da praia, frequentemente encontrava fraldas sujas e plásticos que entopem o estômago das tartarugas que vêm desovar ali. Perto do Natal, fizemos um mutirão de limpeza e decoramos uma palmeira com a sucata que juntamos. Queríamos denunciar o descaso dos banhistas e a omissão da prefeitura. Aliás, diante da reivindicação por lixeiras, o prefeito declarou não gostar de lixeiras porque elas atraem lixo! O dono de um bar que fica em uma das dez praias mais lindas do Brasil respondeu que não precisa de lixeira porque o mar se encarrega de limpar!

A mulher acompanha a formação das crianças no dia-a-dia. É ela quem pode ensiná-las a não desperdiçarem a água do banho fechando a torneira enquanto se ensaboam e a fazerem as compras do supermercado com sacolas reutilizáveis. Parecem detalhes, mas pequenos atos praticados por muitos fazem uma grande diferença. É com nossas atitudes em relação ao semelhante e à natureza que demonstramos respeito, generosidade e solidariedade. Infelizmente, estes valores bíblicos geralmente são ignorados na igreja, onde focalizamos a moral sexual e nos esquecemos o chamado para sermos carvalhos de justiça, porta-vozes dos vulneráveis e mordomos dos recursos que Deus nos confiou para sinalizar o seu reino. Esta ética da reconciliação e do cuidado com o ser humano e com a natureza não é uma opção -- é a essência do cristianismo. “Ethos” significa “modo de viver”. A palavra nos lembra que, sem esta conversão, nossa oração é inútil.


Isabelle Ludovico da Silva, francesa de nascimento e brasileira de coração, é psicóloga e terapeuta sistêmica. Aprendeu com a filha a separar o lixo e com o filho um estilo de vida mais simples.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Deus: Pai ou Mãe?

Bráulia Ribeiro

Os braços que me aqueciam quando eu era criança, o colo que me consolava, a voz que me aquietava cantando à noite quando eu despertava inquieta de um pesadelo não eram de meu pai -- eram de minha mãe. Quem me dava um trocado pra comprar bala depois da escola, quem me cobria, quem me vestia, era sempre minha mãe. A casa da minha infância, cujas lembranças me trazem conforto, tem o cheiro dela, e mesmo quando eu saía na rua pra tomar caldo de cana e comer pastel era em sua mão, que hoje sinto tão pequena e magra, que eu segurava.

Minha experiência não é diferente do que é vivenciado pela maioria da população brasileira e do mundo. Mãe pra nós é igual amor caloroso, quente, cheiroso, vivo. Pai já é mais complicado. Pra muitos, infelizmente, pai significa abuso, violência, abandono, dor.

No livro de Gênesis temos duas narrativas da criação. A primeira (Gn 1.27) é mais geral e o processo de criação do homem é resumido em uma frase. A segunda (Gn 2) nos narra os detalhes de como Deus formou o homem do barro e de como criou a mulher. Uma narrativa não contradiz a outra. Na cronologia dos detalhes da criação Deus criou a mulher depois do homem, mas ela não foi uma invenção de último minuto. As evidências bíblicas e o próprio caráter de Deus nos comunicam que Deus pensou a humanidade mulher e homem desde o início, ambos à sua imagem e semelhança.
Na pessoa de Deus encontramos a plenitude da masculinidade e também da feminilidade. Ele deu características de si mesmo aos dois gêneros, planejando que apresentássemos a imagem completa do amor numa família heterossexual. Homem e mulher juntos, gerando em amor, nutrindo, educando, criando, estabelecendo outros seres completos e também capazes de amar, gerar, nutrir e educar.

Apesar de muitas vezes usar imagens maternas para se referir a seu amor por nós, Deus certamente teve uma razão para chamar-se de Pai. Apesar de a ideia de um Deus Pai nos distanciar da noção de amor sacrificial e transcendente que brota mais fácil quando se fala de mãe, ela provê um modelo de amor paterno para a humanidade.

Deus previu que a cruel perversão da masculinidade nos deixaria quase incapazes de entender o verdadeiro significado do amor de um pai. Ele precisou garantir pessoalmente que este modelo fosse expresso de forma inequívoca e o fez tornando-se ele o Pai.

É uma escolha que todo tradutor faz -- reduzir significados -- e que ele, como tradutor de suas verdades celestiais para nós, também teve de fazer. Então ele se fez Pai; ainda assim, nos deixa ver seu lado mãe. É o Pai-Mãe como exemplo de hombridade e não de macheza. É um pai-mãe que persegue, que missiona, que se inclina e que se humilha ("missio Dei").

Seu amor às vezes é "brega" e "babão" como amor de mulher ou música sertaneja; outras, é digno e contido, mas nunca indiferente, cruel ou egoísta. Como uma mãe, ele faz tudo o que é necessário para nos dar conforto, prazer, alegria, alimento, calor. Como um pai, ele nos dá destino, missão, identidade. Ele é um solo de violino que corta o silêncio com uma melodia profunda, mas também um surdo, uma orquestra completa de tambores axé, que marca o ritmo alegre e complexo de nosso desfile nas micaretas da vida.

Na América Latina, o continente onde o pai veio de longe e ao nos estuprar nos concebeu bastardos, vivemos no vazio da imagem masculina do amor. O pai se foi, e dói em nossa alma órfã. Resgatar a imagem do pai é tarefa de nossos homens de verdade; recriar uma figura masculina não baseada nos modelos culturais corruptos que vemos todos os dias em nossos lares, mas na imagem do Deus Pai.

No entanto, o Deus-Mãe sempre vai nos ser importante. Vamos precisar dele para entender com o coração o amor transcendente. Sem a Mãe, nosso Deus não é completo, não é vivo. A misericórdia, a ternura, o carinho sempre nos chegarão do Deus-Mãe, que não saiu um dia com outra mulher, que não foi comprar cigarros para nunca mais voltar, que não foi preso, que não bebeu o seu salário em vez de nos comprar comida, que não bateu em nossa mãe e em nós no desvario do álcool.

Pai-Mãe nosso celestial, acima do gênero e falhos modelos humanos, tenha piedade de nós, nos ajude a conhecer o verdadeiro amor...


Bráulia Ribeiro, missionária em Porto Velho, RO, é autora de Chamado Radical (Editora Ultimato). braulia.ribeiro@uol.com.br

Crédito da imagem: Anderson Monteiro, avozdatela.blogspot.com/

fonte: http://www.ultimato.com.br/?pg=show_artigos&artigo=2401&secMestre=2409&sec=2430&num_edicao=318

terça-feira, 16 de junho de 2009

Decálogo da pessoa que está morrendo de uma enfermidade incurável

  1. Viver até o máximo de sua potencialidade biológica, emocional, espiritual, vocacional e social
  2. Viver de modo independente e alerta
  3. Ter alívio do sofrimento físico, emocional, espiritual e social
  4. Conhecer e recusar-se a conhecer sobre sua doença e sobre o processo de morrer
  5. Ser atendido por profissionais competentes e seguros nos seus campos, e sensíveis a suas necessidades e temores do seu processo de aproximação com a morte
  6. Ser o eixo principal das decisões a tomar em sua etapa final de vida
  7. Direito a que não se prolongue desnecessária e heroicamente suas funções vitais
  8. Direito a fazer o melhor uso criativo do seu tempo
  9. Direito de ter respeitadas as necessidades e temores dos seus entes queridos no manejo do seu processo, antes e depois da morte
  10. Morrer com dignidade, com o conforto e tranquilidade possíveis.
fonte:  Peralta A Enfermedad terminal em Juan Carlos Tealdi (dir) Diccionario latinoamericano de bioética, vol III, UNESCO – Red latinoamericano e del Caribe de bioética, Universidad Nacional de Colombia, pg 492-495, 2008

segunda-feira, 15 de junho de 2009

A Santíssima Trindade é a melhor comunidade

Marcos Aurélio de Matos Barcellos

Recentemente estive lendo um livro de Leonardo Boff, com o título “A Santíssima Trindade é a melhor comunidade”, um livro muito interessante. Gostaria de partilhar com vocês o meu comentário sobre a sitada obra e à visão de Boff referente a trindade.

Leonardo Boff

Não posso iniciar um comentário sobre a presente obra, sem antes apresentar tão importante teólogo nacional, autor da mesma. Leonardo Boff cursou Filosofia em Curitiba-PR e Teologia em Petrópolis-RJ. Doutorou-se em Teologia e Filosofia na Universidade de Munique-Alemanha, em 1970. Ingressou na Ordem dos Frades Menores, franciscanos, em 1959.
Em 1984, em razão de suas teses ligadas à Teologia da Libertação, apresentadas no livro “Igreja: Carisma e Poder”, foi submetido a um processo pela Sagrada Congregação para a Defesa das Fé, ex Santo Ofício, no Vaticano. Em 1985, foi condenado a um ano de “silêncio obsequioso” e deposto de todas as suas funções editoriais e de magistério no campo religioso. Dada a pressão mundial sobre o Vaticano, a pena foi suspensa em 1986, podendo retomar algumas de suas atividades. Em 1992, sendo de novo ameaçado com uma segunda punição pelas autoridades de Roma, renunciou às suas atividades de padre e se auto-promoveu ao estado leigo.
Esteve presente nos inícios da reflexão que procura articular o discurso indignado frente à miséria e à marginalização com o discurso promissor da fé cristã gênese da conhecida Teologia da Libertação. Foi sempre um ardoroso defensor da causa dos Direitos Humanos, tendo ajudado a formular uma nova perspectiva dos Direitos Humanos a partir da América Latina, com “Direitos à Vida e aos meios de mantê-la com dignidade”. Agraciado com vários prêmios no Brasil e no exterior, por causa de sua luta em favor dos fracos, dos oprimidos e marginalizados e dos Direitos Humanos.
É autor de mais de 60 livros nas áreas de Teologia, Espiritualidade, Filosofia, Antropologia e Mística.

A Santíssima Trindade na visão de Leonardo Boff

Leonardo Boff, teólogo da Escola Católica Romana, brasileiro, ou seja, nascido em um país, porque não falar em um continente, claramente marcado pela desigualdade social. Tendo em vista isto, Boff encontrou campo fértil para a Teologia da Libertação, onde a proposta é a difusão do evangelho, voltado para o âmbito social. Nesta teologia, a proposta da trindade é, acima de tudo, trabalhar a sociedade, enfatizando a conquista da libertação para o pobre, marginalizado e oprimido. É sobre este prisma que fundamenta suas opiniões teológicas.
Boff, deixa muito clara sua forma de compreender a verdade trinitária, ele parte da experiência específica da fé cristã que, primeiramente, afirma a trindade. Isto significa que é irrefutável, para ele, a existência de Pai, Filho e Espírito Santo.
Entretanto, Leonardo Boff acredita, que não basta afirmar que existem três pessoas. Afirmar tão somente a existência de três pessoas poderia resultar na existência de três deuses, o que seria triteísmo, incompatível com a fé cristã.
Segundo Boff, é importante, para se evitar o triteísmo, sustentar o fato de que cada pessoa da Trindade, está plena e totalmente na outra. Para melhor entendimento deste ponto, é fundamental a pericórese trinitária, que consiste no “ínter-relacionamento eterno que existe entre os divinos Três”.
Assim como definiu o concílio de Florença, Leonardo Boff também entende que, “O Pai está todo no Filho e todo no Espírito Santo; o Filho está todo no Pai e todo no Espírito Santo; o Espírito Santo está todo no Pai e todo no Filho; ninguém procede ao outro em eternidade ou o excede em grandeza ou o sobrepuja em poder”.
Ele destaca um ponto importante ao falar da unidade das pessoas da Trindade. Diz ele que não devemos imaginar que as três divinas pessoas são como que três indivíduos que, posteriormente, se relacionam em comunhão e se unem. Por que, então, afirmar que as pessoas são distintas? Sendo a principal característica delas, segundo argumenta Boff, a unidade promovida pela comunhão das partes, porque três pessoas e não uma somente? O teólogo responde a esta indagação alegando que a distinção é fundamental porque as pessoas são distintas para se unir e se unem, não para se confundir, mas para uma conter a outra.
Portanto, a distinção na Trindade é apenas para possibilitar a comunhão. A Trindade das pessoas, unidas pela distinção e distintas pela união, designa uma diferença que não se opõe, mas se põe, pondo as outras.
Para Leonardo Boff, a comunhão reciproca, é o fator para a compreensão do mistério que se esconde por detrás da doutrina da Santíssima Trindade. A palavra comunhão é de fundamental importância para compreender o pensamento de Boff à respeito da Trindade, tanto em suas relações internas, quanto nas relações com os seres humanos.
Quando analisa o mistério da Trindade, o autor parte do princípio de que somente sendo Deus-Trindade, pode-se entendê-la como mistério de inclusão. Ele confronta a tese trinitária com o monoteísmo e com o politeísmo, para explicar tal proposição.
De forma que a Trindade expressa inclusão, Leonardo Boff afirma que tal inclusão e que a unidade das pessoas residem na comunhão entre os divinos Três. “Comunhão, que é a natureza da Trindade, significa crítica a todas as formas de exclusão e não participação”. E isto é algo que pode haver somente entre pessoas, uma vez que elas se abrem intrinsecamente umas às outras. “Pai, Filho e Espírito Santo vivem em comunidade por causa da comunhão”, conclui o autor.
O Pai, O Filho e o Santo Espírito, vivendo em perfeita harmonia, definem a essência da Trindade. “A interpenetração permanente, a correlacionalidade eterna, a auto-entrega das Pessoas umas às outras constitui a união trinitária, a união das Pessoas”.
Uma das linhas de pensamento importante de Leonardo Boff com relação à Trindade como mistério de inclusão é o fato de esta comunhão trinitária se abrir “para fora”. Portanto, esta comunhão não existe em uma dimensão tão somente interna. Visto que o aspecto mais importante da Trindade, para o autor, é a comunhão, seria incompleto se tal comunhão fosse desenvolvida apenas internamente.
Devido a isto, é que o autor afirma que a comunhão trinitária convida as criaturas, especialmente as humanas a se inserir na vida divina. Desta forma, quando se refere a Trindade, para ele, é o mesmo que falar de comum união. Reside em enxergar a possibilidade de coexistência da pluralidade no único, da diferença na igualdade.
A Trindade é composta por pessoas e levando-se em conta que é normal à pessoa o fato de relacionar-se, Boff argumenta, que as relações desenvolvidas pelas pessoas que a compõem se dão também nas dimensões externas ao seu ser. “Esta união-comunhão-pericórese se abre para fora… ‘que todos estejam em nós… a fim de que sejam uma coisa só como nós somos uma coisa só’ (Jo 17.21-22)”.
Segundo Boff, tomando como ponto de partida o fato de que Deus criou o homem, à sua imagem e semelhança, é correto afirmar, que o modelo de vida comunitária, deve se espelhar na Santíssima Trindade. Por isso, a grande influência exercida por esta na humanidade.
A Trindade atua como modelo para libertação, reformulação e reconstrução de uma nova sociedade. Pelo fato de ser ela uma comunhão perfeita, a maneira como as pessoas que a integram se relacionam se dá de modo igualmente perfeito. Assim, nada mais correto, para se promover relações mais saudáveis entre os homens, do que espelhar-se nas relações trinitárias.
Por isso, conclui o autor, a comunhão é a primeira e a última palavra do mistério trinitário. Traduzindo socialmente esta verdade de fé pode-se dizer como já foi feito: “A Santíssima Trindade é a melhor comunidade”.

Considerações Finais

A interpretação “Social” que Boff realiza da Trindade é muito interessante e convidativa. A maneira como o autor descreve e exemplifica o mistério da Trindade é interessante, porque ele nos leva a vislumbrar a perfeita comunhão dos diferentes e distintos a ponto de serem uma só realidade divina.
Convidativa, porque ele nos incentiva a olharmos para a Trindade, como modelo perfeito de sociedade e anelar por uma transformação, de forma que venhamos a manter relações de comunhão com todos, dando e recebendo e juntos construindo uma convivência rica, aberta respeitosa das diferenças e benéfica para todos.
Quando fala sobre a distinção das pessoas, Leonardo Boff destaca que tal distinção ocorre, também, para que se perceba as principais características da Trindade: A comunhão e o amor. Entretanto entendimentos errôneos do Deus Trino, podem acarretar problemas, como por exemplo: Totalitarismo político, autoritarismo religioso, machismo familiar, vanguardismo, espiritualismo, modalismo, subordinacionismo e triteísmo, são abordados com muita propriedade pelo autor.
Podemos com certeza, entender, concordar e aceitar quando o autor faz referência a existência de uma dimensão feminina do Deus Triúno. Entretanto Boff se perde, quando na tentativa de dar um lugar para a mulher em Deus, ele utiliza a figura de Maria, como um “quarto elemento”, elevado à altura do divino. Tal “elevação” não encontra amparo nas escrituras.
Leonardo Boff reduz a revelação bíblica, ainda que misteriosa, da Trindade a um modelo de relacionamento. Aponta como principal função e característica do Deus Trinitário servir de modelo para relações verdadeiras e livres da opressão a qual muitos são e foram, em todas as épocas, submetidos.
Lembro ainda que, Boff ressalta que “a comunhão é a primeira e última palavra do mistério trinitário… Ela é a melhor comunidade”. Conquanto seja verdade que a Trindade, sendo ela o único sistema relacional que funciona em harmoniosa perfeição, deva ser o modelo para as relações sociais desenvolvidas pelos homens, não se pode desconsiderar que sua existência não pode ser reduzida a tal papel, visto que ela não existe para o homem, mas este por causa dela.
Outro ponto, é que em sua tentativa de encaixar a Trindade como paradigma para a libertação social, Boff romantiza a necessidade do número três nesta comunhão divina. Realiza isto quando fala: “A Trindade impede um frente a frente do Pai e do Filho, numa contemplação narcisista. A terceira figura é o diferente, o aberto, a comunhão. A Trindade é inclusiva, pois une o que separava e excluía.” Neste ponto, mostra seu romantismo tentando compreender a misteriosa verdade ocultada em parte acerca do ser divino. No desejo de mostrar a importância da comunhão, por exemplo, Boff faz afirmações que não guardam relação com as verdades escriturísticas.
É bem verdade que a Bíblia afirma a existência de três pessoas no ser de Deus. Isto, no entanto, biblicamente, não pode ser explicado pelo fato de que, existindo dois, estes estariam expostos a um conflito narcísico, como se a existência de três pessoas fosse a razão pela qual a comunhão se estabelece, e não o fato de Deus, em seu Ser, ser perfeito em todos os seus atributos, refletindo-se isto em suas relações.
Entendo que além de se apoiar sobre as revelações escriturísticas, Boof procurou compreender a Trindade, também, pelo prisma das necessidades sociais, chegando a dar uma certa supremacia deste aspecto social, quanto a esta doutrina e quando, para isto, fundamentou seus argumentos, em especulações românticas, que acabaram em determinados momentos, levando-o a se afastar das revelações da Sagradas Escrituras.

fonte: http://holofote.net/materias-e-estudos/

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Diário de Wesley, agosto de 1736

Segunda-feira, 2 de agosto. Parti para a casa do representante do governador, aproximadamente trinta milhas de Charlestown, para entregar as cartas do Sr. Oglethorpe. Ela está localizada muito agradavelmente sobre uma pequena encosta, tendo um vale de cada lado, em um dos quais está uma densa floresta, e no outro uma plantação de arroz e milho indígena. Planejei ter voltado pela casa do Sr. Skeene, que tem por volta de cinquenta negros cristãos. Mas como meu cavalo estava cansado, fui obrigado a voltar direto para Charlestown.

Tinha enviado de volta para Savannah o barco que chegamos, esperando passar para o lado de lá, na casa do Coronel Bull. Como ele não ia tão logo, fui para a Travessia de Ashley na quinta-feira, pretendendo caminhar até Port Royal. Mas o Sr. Belinger não apenas me providenciou um cavalo, mas ele mesmo foi comigo dez milhas, e enviou seu filho para me acompanhar até a Travessia de Cumbee, vinte milhas mais afastada, de onde, tendo alugado cavalos e um guia, cheguei em Beaufort (ou Port Royal) na noite seguinte. Embarcamos pela manhã, mas o vento estando contrário, e muito violento, só chegamos em Savannah no domingo à tarde.

Terça-feira, 10. Verificando que o Sr. Oglethorpe tinha ido, fiquei somente um dia em Savannah e, deixando o Sr. Ingham e o Sr. Delamotte lá, parti na manhã de terça-feira para Frederica. Em minha caminhada até Thunderbolt peguei uma chuva tão violenta que todas as minhas roupas estavam tão ensopadas como se eu tivesse atravessado um rio. Nessa ocasião eu só pude observar aquele erro comum, sobre a nocividade das chuvas e dos orvalhos da América. Já fiquei completamente molhado com estas chuvas mais de uma vez, todavia sem qualquer prejuízo. E tenho deitado muitas noites ao ar livre, e recebido todos os orvalhos que caíam, e assim, creio, qualquer um poderia também, caso sua constituição física não tenha sido enfraquecida pela brandura de uma polida educação.

Embarcamos em Thunderbolt, e na sexta, 13 de agosto, chegamos em Frederica, onde entreguei as cartas do Sr. Oglethorphe que tinha trazido da Carolina. No dia seguinte parti para o Forte São Jorge. Desde aquela hora tive cada vez menos expectativa de ser útil em Frederica, muitos lá sendo extremamente zelosos, e incansavelmente diligentes, para impedir isto, e, do restante, poucos ousando mostrar-se contrários, por medo de seu descontentamento.

Sábado, 28. Separei (do pouco que tinha) alguns livros para uma biblioteca em Frederica. À tarde caminhei até o forte do outro lado da ilha. Por volta das cinco rumamos para casa, mas meu guia errando o caminho, logo nos perdemos na mata. Não obstante, caminhamos em frente tanto quanto pudemos, até entre nove e dez, quando, estando bastante cansados, e completamente molhados de suor, deitamos e dormimos até a manhã.

Ao romper o dia, no domingo, dia 29, partimos novamente, esforçando-nos para caminhar sempre em frente, e logo depois do nascer do sol nos encontramos na Grande Savannah, perto de Frederica. Por esta boa providência eu fui liberto de outro medo, o de ficar na mata, o qual a experiência mostrou que era, a alguém com uma saúde razoável, um mero “leão no caminho” [Pv 26.13].

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Tradução: Paulo Cesar Antunes

http://www.metodistasonline.kit.net/

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Fim da ética do dever

O professor titular da London School of Economics, e coordenador do Departamento de Governo desta universidade, Rodney Barker, concedeu entrevista à Folha de São Paulo, publicada no dia 07 de junho de 2009, à página A21.

Reproduzo algumas frases pinçadas, percebendo que também cabem na atual situação política brasileira, acrescidas de comentários pessoais:

"É somente em democracias que é possível descobrir o que os políticos fazem e estão aptos a fazer." Mas, para isto, é necessário que o cidadão esteja atento aos acontecimentos, saiba se organizar em grupos de pressão e se sinta responsável pela condução da "coisa pública".

"Na verdade, a democracia é a única esperança de se combater a corrupção quando são considerados os regimes autocráticos e totalitários." Não adiantam falsos messias, individuais ou corporativos (como as forças armadas, p. ex) – ou os cidadãos trabalham como equipe, com todas as dificuldades que isto representa, ou ela não cessará.

"Nós nunca seremos governados por anjos. No entanto, havia no passado uma noção de ética no serviço público. Havia pessoas determinadas a entrar para avida pública pelo simples fato de que elas consideravam isso uma coisa relevante. De certa forma, acreditavam ter uma espécia de 'dever' de cidadão em relação as suas classes, sua nação, sua igreja...O que está acontecendo é que essa ética dos erviço público, do dever profissional, está sendo minada e erodida por diferentes ideologias que surgiram depois dos anos 70." No contexto, serviço público parece significar atividade política-partidária. Não sei se o Brasil já viu em grande número pessoas desta categoria. Mas parece inegável que após o retorno da democracia um sem número de pessoas interessadas somente em si mesmas conseguiu ser eleita e fincar o pé nos mais diversos cargos eletivos. Como um insulto a Francisco de Assis, criou-se até a irmandade do "é dando que se recebe".

"O lado negativo disso é que3 essas ideologias pregam que nós não precisamos de pessoas cuidando de nós como se fôssemos crianças...Todos devem buscar o seu interesse próprio, cumprir seus próprios deveres. A lógica é que o sistema não tem que prover escolas e hospitais...mas sim criar as condições para que cada um obtenha seu próprio dinheiro. Cria-se a noção de que uma sociedade saudável é aquela em que todos estão cuidando de seus próprios interesses." Nada mais antibíblico, tanto no Velho quanto no Novo Testamentos; e esta ideologia se infiltra na igreja das mais diversas formas travestida de teologia.

"Os membros do Parlamento Britânico...são políticos que não têm muito poder hoje...vêm todo mundo priorizando seus próprios interesses...então, eles usam o sistema...se as regras permitem que façam isso...eles reivindicam gastos para eles mesmos."

"Nada funciona por si mesmo. Provisões do Estado não vão ser alcançadas por elas mesma, a não ser que você tenha uma população crítica. O mercado não vai funcionar por ele mesmo a não ser que você tenha um estado vigilante e uma população vigilante."

terça-feira, 9 de junho de 2009

O nome de Deus nas tragédias

Ageu Heringer Lisboa*

Acompanhamos pela TV o noticiário da trágica queda do avião da Air France. Perplexidade. Tinha toda a sofisticada tecnologia, estava preparado para todos os problemas previstos de antemão, com garantias de sobra. Raio não derruba avião (?), os pilotos eram preparados, as revisões de rotina rigorosas estavam em dia.
Mistério. O Titanic um dia não afundou? A usina atômica de Chernobil não vazou? A nave Apolo não explodiu? Surge em todos a frustração diante das tragédias. Elas pareciam estar definitivamente afastadas por "obra e graça" do rigor científico e tecnológico. Entretanto, sempre existem importantes variáveis não percebidas ou apenas fracamente consideradas.

Os familiares das vítimas apresentam-se com múltiplos sentimentos. Quem perdeu o avião dá graças a Deus. E quem morreu, como fica? Quem quis ou permitiu que acontecesse? Foi graças a quem?

Em acidentes assim, alguns sobrevivem e dizem graças a Deus; outros morrem, e quem dirá graças a Deus por eles? Então, graças a quem? Ou a ninguém, apenas uma fatalidade, que o próprio Deus não evitou? Quando Ele quis, sustou o final do desfecho, como no sacrifício de Isaque quase consumado por Abraão.

Como ficam os parentes dos mortos quando escutam alguém que não foi atingido dizer que foi salvo graças a Deus? Ele selecionou alguns? Desígnio de sua soberania? Não é esta uma resposta humana para justificar Deus por tão grande ausência de sentido? Não seria melhor guardar silêncio e simplesmente agradecer por estarmos vivos?

Fico inquieto com estas questões. Concluo que não se pode evocar o nome de Deus sem muita reflexão antes. Será que todos usamos em vão o Seu Nome?
Talvez devamos falar nada. Apenas, como Jó, entregar os pontos e exclamar: nada sabemos, apenas nos inquietamos; o Eterno sabe, Ele dá , Ele tira. Um dia saberemos.

Vejo Jesus como resposta a este e outros mistérios. Ele não veio explicar, veio estar com aqueles que sofrem, com os perplexos. Sua própria morte pode até ser entendida como ato de loucura de Deus cumprida por mãos humanas. Morte que depois foi vencida na Ressurreição.
Que nEle todos descansem em paz, mortos e vivos!

* Psicólogo, residente em São Paulo, Membro fundador e ex-presidente do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Infância Violentada

Maria Clara Lucchetti Bingemer *

A vereadora Liliam Sá, do Paraná, declarou na CPI do Turismo Sexual que há denúncias de pontos de prostituição infantil em vários pontos do estado do Rio de Janeiro. Também chegaram à CPI informações de que há meninas se prostituindo em Sepetiba por R$ 1,99. Ao lado e além do fato, triste e desalentador, há a cifra que espanta pelo simbolismo que carrega em si.

Há muitos anos, a cifra R$ 1,99 virou um símbolo da estabilidade econômica popularizado em milhares de lojas de todo o país. O Plano Real ganhava credibilidade e o consumidor brasileiro via com tranqüilidade crescente artigos vendidos a R$ 1, 99, mostrando que se podia confiar no modelo econômico brasileiro, que saíra definitivamente da inflação galopante em que estivemos mergulhados durante longos anos. Agora R$ 1,99 denuncia uma espantosa instabilidade: a do nível de segurança em que vive grande quantidade de crianças e adolescentes em nosso país.

No ano passado, lemos espantados na grande imprensa a notícia de que a cifra R$ 1,99 tinha, nas cidades de Curitiba e Paranaguá, conotação bem diferente que a de calmaria econômica no cenário brasileiro. A simbólica e positiva cifra significa a maneira pela qual são conhecidas algumas ruas dessas cidades paranaenses onde meninas de 11 ou 12 anos - muitas já envolvidas com drogas - fazem programas ao ar livre por R$ 1,99 ou outros valores irrisórios.

Estreitamente ligado ao problema da prostituição infantil está, portanto, o imenso monstro da droga e do narcotráfico. Muitas dessas meninas se prostituem para obter droga. Por causa do crack que precisam cheirar e/ou vender, fazem sexo por qualquer dinheiro. Os clientes são caminhoneiros que param em postos de gasolina à margem das estradas federais. Ou marinheiros, em geral estrangeiros, que lotam bordéis na área do porto. No Rio de Janeiro, recentemente, a Polícia Rodoviária Federal identificou 1.918 pontos vulneráveis à ocorrência de casos de violência sexual contra crianças ao longo dos mais de 60 mil km de rodovias federais.

Tudo isso mostra que a exploração da prostituição infantil ainda é um crime sem castigo, que acontece impune, disfarçada de "atendimento ao turista" ou mostrando mesmo sua cara hedionda, sem se preocupar com disfarces. Vários anos depois de o presidente Lula eleger o combate à prostituição infantil como questão de honra de seu governo, ainda há meninas menores que vendem o corpo pelo preço irrisório de R$ 1,99, R$ 0,50 ou mesmo por um prato de comida. Apesar das promessas e dos propósitos, um levantamento recente mostra que muitas das principais organizações criminosas identificadas em 2003 pela CPI da Prostituição Infantil do Congresso não foram sequer investigadas e continuam atuando livremente.

Como sempre, as vítimas mostram a face da fraqueza maior: pobres, do sexo feminino e negras, elas continuam sendo alvo indefeso às terríveis explorações do tráfico e do sexo. O Brasil chora a inocência agredida de suas meninas. E espera medidas enérgicas e eficientes por parte de um governo que, se espera, ainda queira investir no futuro do país.

* Teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio

Autora de "Simone Weil – A força e a fraqueza do amor" (Ed. Rocco).
Fonte: ADITAL / O Absurdo e a Graça

terça-feira, 2 de junho de 2009

A TV Globo Ficou Boazinha?


Fui surpreendido, assistindo a TV Globo nos Estados Unidos (onde ela localmente proíbe publicidade de Igrejas), com a série “Os Evangélicos”, e a divulgação de ministérios sociais da Assembleia de Deus, dos presbiterianos, metodistas, adventistas, batistas e luteranos. A Globo nunca abriu espaço para as Igrejas evangélicas, e a única exceção foi a transmissão da Cruzada Billy Graham Grande Rio, nos anos 70, com o Maracanã lotado pela primeira vez desde o final da Copa de 1950, por pressão do regime militar, como consta da biografia autorizada do Dr. Billy Graham, escrita por John Pollock. Naquela cruzada, o Bispo Sherrill, foi um dos co-presidentes e o Arcebispo de Cantuária, Revmo. Michael Ramsey, vestido de cassoque púrpura, falou da plataforma, com os pentecostais e batistas de olhos arregalados diante de um “Arcebispo Protestante”, traduzido pelo Rev. Benjamim Moraes, da Igreja Presbiteriana.

Pois bem! Durante esses anos a Globo tem “feito a cabeça” de milhões de brasileiros, com um modelo de vida urbano-burguesa-secular, onde Igreja só entra para festa de casamento, os costumes são liberalizados, os personagens de suas novelas não praticam religião, e o homossexualismo é promovido. Os protestantes ou são ignorados ou são pintados negativamente, ou aparecem como personagens que são caricaturas ridículas. Temos sido excluídos por décadas, e temos testemunhado impotentes ao poder deseducativo daquela rede de comunicação, que cresceu no regime militar, foi assessorada pelo grupo Time-Life, de braços com o Ministro da Comunicação “Toninho Malvadeza” (ACM).

E, agora, a Globo “se converteu”? Longe disso.

Os caras são sabidos e são comerciais. No início da série o apresentador fala que somos 15% da população (+/- 25 milhões de pessoas), ou seja, um imenso mercado, que eles percebem que se sente desconfortável com as posturas da empresa.

Com “Jade” ela promoveu o Islamismo; com “O Caminho das Índias” o Bramanismo; e se fala em uma próxima novela que promoverá o Budismo.

Lembro-me de um pastor pentecostal, meu amigo, que após a edição manipulativa da Globo do debate final entre Lula e Collor em 1989 (hoje ambos “aliados”), beneficiando, escandalosamente, esse último, programou o seu aparelho de televisão para não receber o sinal da Globo, como forma de protesto e para melhor garantir a saúde espiritual e moral da sua família.

Portanto, meus irmãos, nada de comemorações apressadas, nada de ingenuidade. A TV Globo continua a mesma, e nós os evangélicos temos que desenvolver um espírito crítico diante da mídia, buscar alternativas (como a Rede Brasil, e outras), cobrar, propor, e sempre que necessário, protestar, pois afinal, somos ou não somos protestantes?...

High Springs, Flórida, 01 de junho 2009.

+Dom Robinson Cavalcanti, ose

Bispo Diocesano

Secretaria Episcopal
Diocese do Recife - Comunhão Anglicana
Escritório Maceió - AL
(das 8h às 13h)

Visite nossa página: www.dar.org.br

"Fiel é esta palavra e digna de inteira aceitação. Ora, é para esse fim que labutamos e nos esforçamos sobremodo, porquanto temos posto a nossa esperança no Deus vivo, Salvador de todos os homens, especialmente dos fiéis" (1 Tm 4:9-10).

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Por que a Globo está divulgando série de reportagens positivas sobre os evangélicos?





Esta é a pergunta que todos os evangélicos deveriam estar fazendo, com profundo senso crítico e em oração, diante da recente série de reportagens a respeito da ação social dos evangélicos no Jornal Nacional, e de texto da edição de aniversário da Revista Época, também de propriedade do grupo, sobre o crescimento da igreja e as consequências (também positivas) para a sociedade. A resposta certa, nenhum de nós pode dar de forma absoluta. As razões do coração de donos e editores dos veículos só eles guardam na sua intimidade. Mas algumas possibilidades devem ser relacionadas.

Veja uma das reportagens do Jornal Nacional, exibida em 28/5, que destaca o trabalho com crianças do Ministério Reame - Resgate e Ame, realizado com o apoio, entre outros, da Igreja Batista.

Apesar do fato de a repercussão, independentemente dos motivos da edição, serem muito favoráveis à igreja, com aumento da simpatia da opinião pública, mais crescimento numérico e até recursos para projetos sociais, é preciso que os líderes evangélicos fujam da tentação do deslumbramento com os 15 minutos de fama e aparente simpatia da Globo, até porque não se deve esquecer que esta mesma mídia até bem pouco tempo, às vezes com razão, outras nem tanto, enxovalhou a imagem da igreja evangélica sem dó nem piedade.

Por exemplo, seria ingênuo não pensar na possibilidade de existir por trás desta iniciativa, agora favorável, interesses políticos, comerciais, ou aqueles relacionados à perda de audiência. Outra possibilidade é que o crescimento surpreendente do número de fiéis evangélicos esteja gerando consequências não favoráveis para a empresa em questão e sua disputa com outras emissoras concorrentes, especialmente a que está ligada à Igreja Universal.

Outro fator importante a ressaltar, é o início da corrida para as eleições para presidente e governadores em 2010. E o fato do apoio dos evangélicos ser cada vez mais ambicionado pelas forças políticas, inclusive as financiadas por anunciantes da própria Globo.

Mas a hipótese de motivo das reportagens que desejaríamos seria a de uma decisão livre de reunião de pauta e de reconhecimento sincero do trabalho dos evangélicos pelos editores do jornal. Afinal de contas, foi para isso que, ao longo de muitos meses de trabalho, enviamos, como agência cristã de notícias, a dezenas de jornalistas daquela emissora informações que demonstram o lado outrora pouco divulgado pela mídia não evangélica.(Por Lenildo Medeiros e Philippe Leandro)

fonte: http://www.agenciasoma.org.br/sys/popmaterias.asp?codMateria=a5bPQRLBb3NZ&secao=show