segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Feira dos rins

Governo iraniano permite e controla o comércio do órgão, mas fila de espera criou mercado negro 
SAMY ADGHIRNI DE TEERÃ


O funcionário público iraniano Alireza Noruzi (nome fictício), 45, tem um irmão doente que precisa de um transplante de rim. Em qualquer outro país, Noruzi dependeria da morte de algum doador compatível para aliviar o sofrimento da família. 


No Irã, porém, ele pode comprar legalmente o órgão de uma pessoa viva. 


O comércio de rins é permitido, incentivado e controlado pelas autoridades da república islâmica há mais de 20 anos. Por meio de sua Associação Caritativa de Apoio aos Pacientes de Rins, o governo promove encontros entre doadores e compradores, que, uma vez em contato, definem o preço da transação em comum acordo. 


Quem quiser vender seu órgão receberá em média 90 milhões de riais, equivalentes a US$ 3.000, dos quais US$ 300 são pagos pelo Estado como "retribuição" fixa por ajudar a diminuir filas de espera. 

restante em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/139362-feira-dos-rins.shtml (a Folha de São Paulo não permite a reprodução gratuita dos seus artigos)

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Entre a cruz e o arco-íris


Não posso deixar de estimulá-los à leitura do livro Entre a cruz e o arco-íris da jornalista Marília Camargo César, pela Editora Gutemberg, lançado a duas semanas. Livro que, sem dúvida, se tornará uma referência para todos que queiram entender melhor tantas controvérsias envolvendo a condição homossexual humana e suas repercussões religiosas, políticas, jurídicas e culturais. 
No interior das igrejas cristãs tem-se silencioso sofrimento de homens e mulheres que se descobriram homo-orientados, independente de suas vontades, e que se sentem atingidos por profunda contradição entre suas crenças e desejos. O ensinamento clássico das igrejas cristãs, de condenação do comportamento homossexual, claramente se choca com o extenso ativismo gay, fenômeno contemporâneo por excelência - que tem obrigado as denominações históricas a reestudarem seus posicionamentos públicos, suas exegeses dos textos bíblicos e a repensarem suas práticas pastorais diante da demanda de homossexuais que em número crescente esperam ser acolhidos nas igrejas. Ou que criam suas próprias igrejas.
Pode-se dizer que antes do Levante Gay em São Francisco, na década de 60, praticamente não havia uma Pastoral para pessoas com questões de identidade sexual e de gênero; era como se estas pessoas simplesmente não existissem; as que não se continham eram vistas como casos excêntricos e sofriam bullying. E a pedofilia homossexual, prática multissecular, revelou-se como o mais grave problema na Igreja Católica, motivando a inédita renúncia do Papa Bento XVI no início de 2013. Como terapeuta a quarenta anos, constato que a imensa maioria dos pastores não querem se envolver no cuidado de alguém homossexual. Gostam de ficar em regiões celestiais e tratar de amenidades. Mas o barulho das ruas e da mídia chega aos templos e questiona a fé, o corpo doutrinário e especialmente a prática pastoral e eclesial. Ninguém quer ser visto como homofóbico, hostil a homossexuais, mas algumas lideranças pentecostais e neopentecostais ganharam notoriedade justamente por se contraporem agressivamente ao movimento GLTTB. Com alguma dificuldade o grande público distingue a fala destes atores midiáticos da voz de milhares de pastores comuns. Registre-se contudo que pastores e terapeutas cristãos continuam sendo procurados por pessoas que não abrem mão de seus desejo por Deus e confessam a vivência de um impasse existencial profundo. Exemplos assim estão documentados no livro Entre a cruz e o arcoris .
Paralelo a esta demanda de inclusão na igreja, lugar onde abafavam suas identidades, homossexuais igualmente batalham, e estão conquistando vitórias significativas em Cortes Supremas, pelo reconhecimento de direitos a casamento e adoção de filhos como qualquer heterossexual. Posições milenares que implicavam na clandestinidade, exclusão e até morte de homossexuais tem sido revistas nos países ocidentais. O movimento gay se tornou um gigantesco movimento de massas em âmbito mundial, muito bem articulado, e com crescente simpatia das populações heterossexuais dos países democráticos. Isto e muito mais é mostrado no livro da Marília, resultado de boa pesquisa em fontes históricas, teológicas e científicas. Entrevistou gays e pessoas que viveram como homossexuais parte de sua história, militantes gays e seus críticos, terapeutas e teólogos de variadas tendências, mães perplexas e pastores. Colocou-se favor das pessoas que estão em busca de sentido e de integridade. Entregou-nos histórias reais cheias de humanidade. Seu livro é fruto de sua busca pessoal para se aproximar do mistério da questão mais espinhosa da igreja de nosso tempo. Avançou com bastante clareza num caminho que poucos cristãos ousam caminhar. Deixou que diversas situações se apresentassem, costurando elos entre as falas, nos brindando com delicado e amoroso texto. Poderá ser vítima de apressados julgadores ou de gente insatisfeita com sua falta de dogmatismo, mas alegrará o coração de muitos por apresentar o rosto paterno-maternal de Deus.
Ageu Heringer Lisboa, psicólogo [31 out.2013].