terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Avatar, o filme

Eduardo Ribeiro Mundim

Avatar, o filme, traz alguns pontos provocantes. Não há dúvida sobre o visual, belíssimo (seja natural ou da tela do computador). Aceito a adequação do idioma criado especificamente para os Na'vi. Entendo a propaganda que diz ser o filme um marco, do ponto de vista técnico.

Mas o roteiro peca, em alguns momentos importantes.

A solução militar não combina com a imagem paradisíaca do lugar. Ok, os Na'vi são guerreiros, mas não me pareceu que fazem da guerra uma arte. Antes, do saber viver integrado ao mundo que habitam, aceitando a caça como modo de adquirir alimento, sem deixar de sentir tristeza pelo fato - mas justificando-o pelo retorno da "energia" à fonte original. Como ele faz referência a outros universos (os livros "Eragon" e "O Senhor dos anéis", a trilogia "Matrix", o filme "Dança com lobos"), poderia tê-los criado vegetarianos como os elfos. Naquelas mitologias, guerreiros quando necessário, mas habitualmente pacíficos.

É particularmente irritante a cópia do comportamento estereotipado dos indígenas nos filmes de faroeste - o som emitido pelos Na'vi convidando para a batalha é plágio evidente.

Infelizmente Jake Sully torna-se um habitante de Pandora de "corpo e alma" por necessidade, e não por livre escolha. Talvez o maior erro do roteiro, preso talvez a "Dança com lobos". "Transfere-se" para seu avatar porque seu corpo não tem mais chances de sobrevivência na atmosfera de dióxido de carbono, metano e amônia. Poderia, de livre e espontânea vontade, rompido seus laços com os humanos ao decidir lutar, até a morte, contra eles. Muito além de uma "conversão" mais politicamente correta, deixaria clara a opção por um modo de vida, e valores, absolutamente diferentes daqueles no qual fora criado.

Sendo tão alicerçado nos faroestes, não há como escapar das lições da história: os brancos sempre venceram. Venceram porque tinha uma superioridade tecnológica e eram em número cada vez maiores que os índios norte-americanos. Venceram porque tinham uma ambição de expansão (a aventura) e uma justificativa (fazer dinheiro). Os humanos perderam, no filme, uma batalha; mas perderam a guerra? A solução militar encontrada fica provisória, com promessa de mais destruição (e provável derrota), se houver continuação; ou no imaginário do espectador, na falta desta.

A história também é presa ao maniqueismo habitual, onde aqueles que detêm o poder entre os humanos, nada aprendem. Nos últimos anos o conceito de "desenvolvimento sustentável" tem sido debatido e objeto de experimentos de viabilidade. James Cameron quis transmitir com o filme a expectativa que estes esforços atuais falharão? Desejou apenas fornecer momentos de entretenimento estético sem preocupação com o conteúdo, ou com alguma mensagem de esperança? Ou é basicamente pessimista? Pessimismo não é, exatamente, o que impulsionou seu último sucesso, "Titanic".

Há pelo menos uma provocação bioética: "vejam, um demônio com corpo mas sem alma" (segundo minha lembrança da cena), brada Tsu'Tey, futuro líder do clã Omaticaya. Quando Jake tem sua ligação com o corpo avatar interrompida, este desaba no solo, "sem alma". É possível criar corpos "sem vida" (ou seja, "sem alma"?). Como no primeiro filme da trilogia Matrix, é possível manter corpos funcionando sem vida relacional, onde os corpos, e não só a vida psicológica, está envolvida? (Em Matrix, os corpos que serviam como fonte de eletricidade para as máquinas eram mantidos em repouso, mas eles sonhavam que viviam, e se inter-relacionavam com os demais corpos apenas nos sonhos, sem envolvimento biológico real).

Mas talvez a maior provocação seja "o que é religião?" Eram os habitantes de Pandora religiosos? Eles tinham uma deusa (Eywa )?

A cientista Grace Augustine descobre que todos os seres vivos no planeta se interconectam, à semelhança dos neurônios humanos. Seres racionais se interconectam, racionais e irracionais, e mesmo racionais e vegetais. Esta descoberta é um modelo científico, mostrado pelas análises realizadas por ela, de diversos modos. Seria Eywa uma deusa, ou "meramente" um nó de intercomunicação entre todos os seres vivos? Os Na'vi se comportavam de modo religioso (por exemplo, as atitudes tomadas para a transferência de corpos, uma grande dança coletiva, regida por música), mas havia uma explicação racional e mensurável para o efeito. Seria Pandora, uma lua, um ser vivo e racional (como permite deduzir de sua participação na batalha final)?

Santos no mundo: os cristãos e a arena pública

Alderi Souza de Matos

Os acontecimentos dos últimos anos, tanto no Brasil quanto no cenário internacional, têm demonstrado amplamente a necessidade e a importância da participação dos cristãos -- como cristãos -- na vida da sociedade. No contexto altamente ideológico do mundo pós-moderno, discutem-se questões e adotam-se práticas que afetam as comunidades religiosas e suas convicções. Se os cristãos se omitirem, causarão grande dano às suas igrejas e às causas que abraçam. Fechar-se dentro das quatro paredes ou isolar-se numa torre de marfim é uma opção cada vez menos viável. Os que insistirem nessa postura, poderão ser atropelados pelos acontecimentos.

A expressão "arena pública" é usada intencionalmente aqui. É mais do que simples sinônimo de ambiente ou setor público. Arena significa um lugar de luta, e os cristãos são convocados explicitamente a pugnar por seus valores, ideais e crenças (Fp 1.27), não de maneira rancorosa, antipática, mas construtiva. A militância cristã na arena pública não pode ser semelhante à de certos grupos ideológicos que usam táticas de violência verbal, chantagem e intimidação. É claro que nem todos os cristãos estão qualificados, seja por temperamento ou aptidões, para atuar nessa esfera. Todavia, aqueles que se sentem chamados para tanto, devem exercer essa vocação e ter o apoio e o encorajamento dos demais.

Posições contrastantes
Na época da Reforma Protestante, houve grupos que, alarmados com os males e corrupções da sociedade, entenderam que a melhor atitude era se afastar dos ambientes urbanos. Alguns anabatistas, por exemplo, achavam que a maneira correta de evitar os vícios e tentações que viam ao seu redor era viver em comunidades agrícolas isoladas das cidades. Assim, pensavam eles, seria mais fácil preservar sua identidade, manter suas crenças, criar suas famílias e cultivar uma vida de consagração a Deus. Para eles, um cristão não devia exercer cargos públicos, fazer juramentos oficiais e participar das forças armadas. No seu entender, tudo isso atentava contra a sua liberdade em Cristo, contra uma vida de santificação.

Os calvinistas ingleses, mais conhecidos como "puritanos", adotaram uma posição diferente. Eles concluíram que era não só lícito, mas desejável, que os cristãos participassem plenamente da vida da coletividade. O mundo certamente oferecia perigos, mas era também o lugar em que os cristãos deveriam viver suas vidas, dar o seu testemunho e servir a Deus. Não havia uma dicotomia entre a santidade e o envolvimento com a família humana. Na verdade, era no contexto da vida social, com suas oportunidades e desafios, dores e alegrias, que os crentes deviam cultivar sua espiritualidade, seu relacionamento com Deus. Eles eram, no dizer de um autor, "santos no mundo", ou seja, sua santidade devia ser vivida na sociedade, e não fora dela. Existem algumas áreas específicas nas quais os cristãos devem atuar responsavelmente como tais, procurando exercer sua influência e prestar serviço à comunidade.

Esfera política
Os puritanos eram herdeiros do reformador João Calvino. Ao contrário dos grupos mencionados, que se retraíam da arena pública, Calvino defendeu com insistência a participação cristã nesse ambiente complexo e difícil. No século 16, a política de modo algum era mais íntegra e respeitável do que hoje. Havia corrupção, luta pelo poder, manipulação e outros males. Mesmo assim, o reformador adotou uma posição que parece absurda para muitos hoje. Em sua obra magna, ele declarou a certa altura: "Ninguém duvide que a autoridade civil é uma vocação não só santa e legítima diante de Deus, mas até mesmo a mais sagrada e a mais honrosa de todas as vocações em toda a vida dos mortais" ("Institutas", 4.20.4).

Foi graças a esse entendimento que a tradição calvinista ou reformada produziu o ideal do governante culto e piedoso, dotado de sólida formação intelectual, espiritual e ética. São exemplos disso Jeanne D'Albret (rainha de Navarra), John Winthrop e William Bradford (antigos governadores de Massachusetts), Abraham Kuyper (pastor, teólogo e primeiro-ministro da Holanda) e Woodrow Wilson (presidente dos Estados Unidos). À luz das Escrituras, Calvino afirmava que a tarefa dos cristãos em posição de autoridade era promover a justiça e a harmonia na vida social, preservar a paz e a tranquilidade comum e, em particular, proteger os fracos e os sofredores. Caso fossem negligentes, a igreja devia lembrar-lhes esses deveres, como fizeram os profetas do Antigo Testamento.

Outras áreas
Erasmo Braga, destacado líder da cooperação evangélica no início do século 20, defendia a participação cristã em todas as áreas da sociedade e criticava as igrejas que não davam aos seus fieis oportunidades para tal. Disse ele em seu último livro (1932): "A tendência para a centralização levanta uma cerca em torno das comunidades evangélicas, e isso inevitavelmente resultará em sua segregação da vida nacional. Participar do serviço à comunidade é um esplêndido meio de dar testemunho de Cristo tanto na vida particular quanto na vida pública... Os evangélicos assumem posições de destaque na vida cívica sempre que saem dos seus próprios círculos eclesiásticos e assumem com outros cidadãos a tarefa de prestar serviço à nação. É chegada a hora de que aqueles que são qualificados para tal se levantem diante do seu próprio povo e testemunhem de Cristo em todas as esferas que estão abertas para eles".

Além da esfera política, existem muitos outros ambientes da arena pública que requerem a participação dos cristãos. Um exemplo importante é o mundo científico e acadêmico. O cristianismo, com sua crença em um universo ordenado, governado por leis fixas, contribuiu para o surgimento da investigação científica. Durante várias gerações, os cristãos atuaram intensamente nos círculos acadêmicos e profissionais, mas hoje muitos estão na defensiva. Outra área significativa é a das artes. É desejável a participação consciente dos cristãos no cinema, no teatro, nas artes plásticas, na música. Ainda outra área fundamental é a das comunicações (imprensa, rádio, televisão, internet). É claro que os cristãos não devem simplesmente transformar esses instrumentos em púlpitos, mas utilizá-los com perspicácia, sensibilidade, criatividade e desejo de fazer o bem aos seus semelhantes.

Conclusão
É importante lembrar que o evangelho é algo a ser vivido na sociedade humana, para que possa cumprir o seu papel saneador e vivificador. O mundo do século 21 será palco de enormes tensões -- crise ecológica, enfrentamentos bélicos, aumento do fosso entre ricos e pobres, recrudescimento dos extremismos, criminalidade. Ao lado de progressos valiosos em muitas áreas, haverá ameaças antigas e novas ao bem-estar da humanidade. A própria fé cristã e a integridade das igrejas serão duramente testadas. Que os cristãos não se omitam -- por medo, alienação ou comodismo --, mas assumam o seu lugar nas diferentes áreas a que são chamados, na força daquele que não veio ao mundo para ser servido, mas para servir e dar a sua vida.


• Alderi Souza de Matos
é doutor em história da igreja pela Universidade de Boston e historiador oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil. É autor de A Caminhada Cristã na História e "Os Pioneiros Presbiterianos do Brasil".

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Bioética e Fé Cristã número 6 ano IV







Novidades

Biblioteca
Diálogo entre Teologia e Bioética

Quando se fala de um diálogo entre Teologia e Bioética, temos em vista a
importância que ambas as ciências dão ao ser humano.
Mais >>
Biblioteca
Matar ou deixar morrer?

A morte n ão é um dos assuntos mais discutidos dentro das igrejas.
Mais >>
Biblioteca
A Bioética e os Evangélicos no Brasil: Uma Visão a partir da Mídia Evangélica.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências da Religião.
Mais >>
Biblioteca
Consideraciones sobre el
embrión humano

En las últimas décadas y especialmente
en los últimos años, la investigación
biomédica ha avanzado mucho en diferentes terrenos. Uno de ellos es el de la investigación en biología molecular y celular en los procesos de crecimiento, diferenciación y desarrollo, y muerte celular, de manera que se nos plantea la cuestión de si el principio de la inviolabilidad de la vida humana necesita más precisión.
Mais >>

Conteúdo


Editorial
Caminhamos para nosso quarto ano. Foram três anos de aprendizado e esperança.
Mais >>

Notícias / Destaques


 Mecanismo Interno de Buscas


Quem somos
Cristãos, cidadãos. Não representamos nenhuma instituição ou outros, senão nossa própria consciência e o desejo de sermos relevantes ao provocar o debate e interação.
Não oferecemos respostas, oferecemos reflexão. Não queremos encerrar discussões, mas iniciá-las. Não pensamos possuir a verdade, cremos que se a buscarmos, ela nos encontrará.
Eduardo Ribeiro Mundim, médico, presbiteriano
Paulo de Castro, professor, batista


Como funciona
Os textos disponíveis no portal pertencem aos seus autores, sendo estes os únicos responsáveis pelas idéias divulgadas. A publicação de um texto não implica em concordância com seu conteúdo por parte dos administradores.
Não serão aceitos textos de caráter ofensivo a pessoas, crenças ou instituições. Afirmativas de conteúdo histórico duvidoso serão analisadas individualmente.
Não há, por parte dos administradores, o compromisso de publicar no portal os textos encaminhados que firam a política aqui definida.
Ao enviar um texto, o(s) autor(es) autorizam sua divulgação pelos leitores de modo responsável e ético, ou seja, com a citação da autoria e do endereço do portal.
Solicita-se aos autores que, ao enviarem o material (que será convertido em formato "pdf" pelos administradores) identifiquem um endereço eletrônico, profissão e, sempre que possível, filiação religiosa. Estes dados permanecerão em outro arquivo, separado do texto, à disposição dos leitores.
Textos acessíveis através de outros endereços na internete serão disponibilizados, desde que atendam ao objetivo do portal.
As críticas e sugestões ao funcionamento e aparência do portal são bem vindas.





Free counter and web stats


Página inicial
l
Contato
l
Última atualização: 22 de Dezembro / 2009 - Número 06 - Ano 4

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Teologia tem contribuições a dar às questões climáticas

Juan Michel/CMI

Genebra, terça-feira, 22 de dezembro de 2009 (ALC) - O que diz a Bíblia sobre a mudança climática? Quais idéias teológicas as igrejas podem oferecer ao mundo frente a uma crise ecológica sem precedentes?

Estas perguntas, propostas num seminário sobre "A criação e a crise climática", assistido por representantes de igrejas durante a Cúpula do Clima da ONU, reunida em Copenhague, parecem hoje ainda mais urgentes depois do fracasso do encontro, que não conseguiu produzir um acordo justo, ambicioso e juridicamente vincular que milhões de pessoas esperavam.

"Não há nenhuma relação evidente entre o evangelho e a mudança climática", disse o chefe do Departamento de Teologia Sistemática da Universidade de Copenhague, Jakob Wolf. A Universidade co-patrocinou o seminário junto com o Conselho Nacional de Igrejas da Dinamarca.

Mas como a mudança climática é conseqüência da atividade humana, ela recai sob o imperativo dos princípios éticos, porque os seres humanos são responsáveis de seus atos. A exigência ética de amar ao próximo se aplica aqui porque o "planeta Terra converteu-se em nosso próximo", disse Wolf.

Segundo o acadêmico, uma visão teológica do planeta e da vida que há nele como criação de Deus lhes confere um valor intrínseco, pelo que suscita "respeito e amor". "Quanto mais amamos a vida sobre a Terra mais dispostos estaremos a atuar de forma não-egoísta", sublinhou Wolf.

Esta é a contribuição que a fé e a teologia cristã podem oferecer à luta contra a mudança climática: uma motivação que é abarcadora, profunda e "bem mais vigorosa" do que aquela baseada apenas em "meros cálculos e frias obrigações".

Isto é fundamental, enfatizou Wolf, porque a humanidade "tem à mão todos os instrumentos" para adotar medidas em relação à mudança climática. "A única coisa que falta é a vontade."

A biblista Barbara Rossing, professora na Faculdade Luterana de Teologia de Chicago, Estados Unidos, concordou com Wolf de que "a Bíblia não diz nada sobre a mudança climática". Mas ela crê que os cristãos podem basear na Bíblia sua resposta ao fenômeno.

O ponto de partida de Rossing é a pergunta: "Onde está Deus nesta crise?" Ela recusa a noção de que Deus castiga a humanidade e acredita, antes, que Deus "se lamenta junto com o mundo".

Segundo sua leitura do livro do Apocalipse, "Deus chora pela terra, não a amaldiçoa". As famosas pragas não são predições, senão ameaças e advertências, telefonemas de alarme, projeções do futuro sobre conseqüências lógicas dos atos humanos, se não forem alterados os rumos.

No entanto, para Rossing, o livro do Apocalipse não anuncia o fim do mundo, senão o fim do Império. Por conseguinte, apesar das atuais pautas insustentáveis de consumo e de uma economia baseada no carbono, a teóloga estadunidense encontra nele uma mensagem de esperança: "A catástrofe não é necessariamente inevitável; ainda há tempo para mudar."

Esta "visão de esperança para hoje" é uma contribuição essencial que a teologia e a fé cristãs podem trazer aos esforços mundiais para enfrentar a mudança climática.

"De forma muito ameaçadora e inquietante, a crise do clima nos faz estar unidos como a humanidade una, como a comunidade una de crentes, como a igreja una ", disse o secretário-geral eleito do Conselho Mundial de Iglesias (CMI), Olav Fykse Tveit. 

"Somos chamados a mostrar um sinal do que significa ser a humanidade una, do que significa o fato de que Deus ama ao mundo inteiro", disse Tveit. Quando as igrejas se reúnem para oferecer este sinal, a luta contra a mudança climática "nos une de forma muito especial: como igrejas, como crentes".

A mensagem de que Deus ama ao mundo e a cada criatura que há sobre a terra "foi a sensação dolorosa que o movimento ecumênico enfrentou com relação à mudança climática", disse Tveit, recordando a longa história da preocupação do CMI pelas questões ecológicas.

Numa perspectiva ecumênica, a preocupação pela Criação tem estado sempre vinculada à preocupação pela justiça e a paz. "Não se pode dizer que este é um planeta para alguns de nós", disse o secretário-geral eleito, mas"é um planeta para todos nós".

O professor Jesse Mugambi, da Universidade de Nairobi e membro do grupo de trabalho do CMI sobre mudança climática, também destacou esse aspecto. "O mundo é um mundo no qual todos estamos relacionados por parentesco, mas teve algum momentos em que decidimos […] tratar-nos uns a outros como estrangeiros", afirmou.

Mugambi explicou que na África a mudança climática está causando graves secas, por uma parte, e inundações, por outra. Com a ajuda de mapas ele demonstrou que as partes do continente ricas em água e terras cultiváveis são também as zonas de maior conflito. Este conflito "não tem nada que ver com etnicidade, ele está relacionado com os recursos", disse.

Para Mugambi, a função da fé cristã e da religião em geral, por meio de seus líderes e teólogos é a de "fazer-nos voltar às normas" que possam contribuir para enfrentar um problema como a mudança climática.

"Não falamos de 'ajudar' os países africanos", disse Mugambi. "Não é questão de 'ajuda', senão da sobrevivência de todos nós".------------------------


Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC)
Edição em português: Rua Ernesto Silva, 83/301, 93042-740 - São Leopoldo - RS - Brasil
Tel. (+55) 51 3592 0416
Encontre o RSS Chanel en: http://alcnoticias.org/rsspor.php

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Agulhas no corpo e bioética

Eduardo Ribeiro Mundim

Nestes últimos dias um mesmo fato ocorreu em dois lugares diferentes: adultos inseriram em crianças de 2 anos diversas agulhas. Uma delas está internada em uma unidade de tratamento intensivo em Salvador, onde já foram retiradas agulhas do tórax (incluindo uma que transfixava (?) o coração); a outra, fato cronologicamente mais antigo, no Maranhão, ainda em observação. A primeira, talvez vítima de um psicopata (ou mais de um) ou de um ritual mágico com intenções amorosas e a segunda ainda por esclarecer.

Apenas com o objetivo de trazer o assunto para discussão, vamos assumir que a motivação seja religiosa / mágica. Os adultos, neste caso, têm o direito de fazer o que fizeram para atingir seus objetivos mágico / religiosos?

O sentimento provavelmente predominante causado por estas duas tragédias é de repugnância. Pela crueldade impetrada a crianças indefesas; pela ineficácia, aos olhos da grande maioria da população, do ato frente ao objetivo desejado (garantir a fidelidade da amante no primeiro caso); pela pobreza de visão e escolaridade dos adultos.

Talvez os únicos que não se revoltaram foram os psicopatas (segundo recente entrevista de uma especialista em um jornal de Belo Horizonte eles seriam 4% da população). Portanto, a condenação seria quase unânime.

Mas e se o evento fosse uma criança que morresse devido a não transfusão de sangue, rejeitada pelos pais? e se fosse um adulto que se recusasse a submeter-se ao tratamento de um câncer plenamente curável?

Tais questões trazem à tona um dos maiores conflitos bioéticos e religiosos a serem resolvidos: até onde é possível se permitir o livre exercício de uma crença, seja ela científica ou religiosa? até onde é possível o Estado intervir? até onde é aceitável a regulação de uma minoria por uma maioria? O que é abuso?

domingo, 20 de dezembro de 2009

Fé e ciência: irmãs gêmeas ou inimigas? parte 2

Timóteo Carriker

A prioridade cosmológica da fé bíblica
A fé, pelo menos a fé bíblica, não é de maneira alguma, contra a ciência. Pelo contrário, do ponto de vista teológico, a fé incentiva e exige a ciência no que se refere geralmente a qualquer busca pela verdade e no que se refere especificamente à incumbência humana de classificar, compreender e explicar abstratamente a natureza (Gênesis 2.19-20).

1. A busca da verdade (Sl 25.1-5; Pv 1.7; 2.1-6; 23.23; Dn 2.20-21; Jo 14.6; Rm 12.1-2; Fp 4.8)
Paul Tillich definiu certa vez a religião como qualquer "preocupação última" que alguém tenha. Assim, ele foi além das definições tradicionais que restringia a religião ao campo do místico, ou do sobrenatural. Mesmo com esta definição ampla de Tillich, não é difícil associar a fé bíblica com uma preocupação com o divino. É interessante perceber que as Escrituras fazem uma nítida ligação entre o divino e a verdade. Em João 14.6, Jesus alega ser a verdade, não só saber ao seu respeito, mas ser a verdade. E ele não estava inovando. No Antigo Testamento está escrito que o conhecimento ("daath") pertence a Deus (1 Sm 2.3). E onde a sabedoria é personificada, ela adquire características divinas. Aliás, em Provérbios 1-8 ela é ao mesmo tempo personificada e divinizada. Agora, é importante esclarecer que a afirmação teológica "Deus é a verdade", deve ser entendida inclusivamente, não exclusivamente. Não é uma negação da ciência. Pelo contrário, é uma afirmação de tudo na ciência e em qualquer paradigma humano que é verdadeiro. Quem busca a Deus, busca a verdade. E quem de fato busca a verdade, está no caminho a Deus, mesmo que não intencionalmente, quer seja teísta, deísta ou ateu. Portanto a fé, pela sua busca pela verdade e de modo geral, incentiva e exige a ciência.

2. A incumbência científica
Também especificamente a fé cristã, nas primeiras páginas da sua constituição, a Bíblia, começa com uma preocupação cosmológica: "no princípio criou Deus os céus e a terra." E nas suas últimas páginas lemos da recriação dos mesmos. Os diversos relatos da Bíblia sobre o início do universo (só em Gênesis há duas versões logo no início e há outras nos salmos, nos profetas e também no Novo Testamento) demonstram um interesse nos elementos da natureza em si e por si só que em muito supera o interesse que se encontra nos escritos teológicos e que em muito coincide com as descrições científicas.

Agora esta última frase, "a preocupação bíblica… em muito coincide com as descrições científicas" precisa de explicação. Duas observações quanto à linguagem não científica da Bíblia e o papel de auxílio que ciência presta para uma leitura retrospectiva da Bíblia.

Primeiro, tem havido verdadeiras revoluções a partir do fim do século passado e especialmente nas últimas duas décadas sobre métodos de interpretação da Escrituras. Alguns métodos são mais controvertidos que os outros. Mas de grosso modo tem havido uma compreensão e apreciação cada vez mais dos meios culturais e historicamente limitados da composição literária dos diversos livros da Bíblia. Sem necessariamente abrir a mão da autoridade das Escrituras (alguns abrem, outros não), e baseado na analogia da encarnação do divino no ser humano Jesus, e francamente com o auxílio do desenvolvimento da antropologia cultural e social, os teólogos começam a apreciar e dar espaço cada vez mais para a expressão de verdades divinas através de forças de expressão culturalmente influenciadas. Talvez para muitos de vocês estou falando o óbvio. Mas para outros não é tão óbvio. Por exemplo, se Davi não era o pai de Jesus, por que Jesus é chamado constantemente "filho de Davi"? A resposta é simples: a palavra "filho" ("bem") em hebraico se refere à descendência, não apenas filiação imediata. Semelhantemente o arranjo de eventos na vida de Jesus varia entre os Evangelhos simplesmente porque aqueles que relataram os eventos -- Mateus, Marcos, Lucas, e João -- não seguiram, por razões óbvias, a metodologia da historiografia moderna e ocidental. Escreveram dentro das normas culturais da sua época e a inspiração divina veio através de sua humanidade, não ultrapassando-a.

Tendo isto em vista, volto a afirmação anterior: "a preocupação bíblica, dentro da linguagem bíblica, …em muito coincide com as descrições científicas". Por exemplo, Gênesis fala do surgimento de toda a raça humana, não apenas dum indivíduo. A palavra, "Adão" significa simplesmente "ser humano" e é uma derivação da palavra "terra", de onde o ser humano surgiu. Não é isto a perspectiva científica: que a raça humana se constitui dos mesmos elementos da terra?

Em segundo lugar, a perspectiva bíblica -- nem sempre a mesma dos teólogos -- não se restringe à criação da terra e muito menos da raça humana, mas começa numa escala mais abrangente, a criação do universo. E apesar de tudo que alguns cristãos bem intencionados dizem, a linguagem hebraica a respeito dos "dias" da criação não só permite mas exige o conceito de períodos longos, não somente de 24 horas (como já acreditavam os pais da igreja: Irineu, Orígenes, Basil, Agostinho nos primeiros séculos (1-5), e Tomás de Aquino no século 13, certamente não sob a influência da modernidade). Dentro do campo semântico da palavra, "yom", está o conceito de períodos. Só para dá um exemplo, pelo menos mil anos depois do relato da criação, o autor de Hebreus no Novo Testamento, disse que podemos entrar no descanso de Deus, a nomenclatura do sétimo dia da criação, dia este no qual ainda passamos conforme o autor de Hebreus.

Em terceiro lugar, todos os relatos da criação na Bíblia pressupõem um alto grau de ordem num relacionamento dinâmico com o caos (Js 10.12; Jz 5.20; Gn 49.25; Êx 15.8,11; Nm 16.30; Dt 33.14ss; Jr 31:35-36 e Sl 29 e 8). A construção ordeira da criação sobressai em Provérbios 8.22-36 como a arquitetura da sabedoria personificada. Também, a ordem é imediatamente evidente no relato de Gênesis 1 da ação inicial de Deus sobre e contra todo o caos (compare Gn 1.2 com Is 45.18). Essa ordem, ou subordinação da criação, continuamente recebe destaque em vários salmos, especialmente Salmo 18.7-15. Hoje, as teorias do caos e especialmente da complexidade (fenômenos de estudo interdisciplinar) confirmam esta relação necessária para o surgimento de sistemas complexos (talvez a relação entre a entropia e as forças "kenéticas" ilustre este ponto).

Antigamente, os teólogos tinham basicamente duas opções para a interpretação do relato cosmológico de Gênesis 1 e 2. Alguns trataram os relatos de Gênesis 1 e 2 como pura invenção sem nenhuma relação com acontecimentos históricos. Isto parecia-lhes a única solução a tantas incompatibilidades com a ciência moderna. Outros estudiosos, no intuito de ser fiel a autoridade das escrituras, forçam uma seqüência restritamente cronológica nos relatos propondo interpretações cada vez mais fantásticas e inacreditáveis.

Hoje, com as lições da antropologia, é mais fácil descartar estas duas interpretações tão preocupadas com a cronologia (ou pela sua negação ou pela afirmação) ambas partindo de conceitos contemporâneos e ocidentais do tempo e da história, em contraposição aos conceitos hebraicos antigos. Nos relatos da criação, Israel não estava interessado na natureza física da criação em si, como nós hoje em dia procuramos entender pela ciência natural a origem das coisas. Para Israel, o relato da criação era importante à medida que explicava seu relacionamento com o plano de Deus, para este mundo todo. Isto é, devemos entender os relatos não cronologicamente mas topicamente, o tópico sendo o propósito de Deus para a sua criação, ou mais precisamente, o reino de Deus.

Desta perspectiva, Deus primeiro cria três grupos básicos de reinos, ou domínios, durante os primeiros três dias. Nos próximos três dias, Deus cria os reis para governarem nos reinos, anteriormente criados. O último rei a ser designado (constituindo a primeira Grande Comissão!) é o homem, que recebe o mandato representativo e real como governador-administrador sobre todos os outros reis e reinados. Por representativo, quer dizer que a humanidade foi criada por Deus à sua imagem ("çelem") e semelhança ("dêmûth"), isto é, segundo a sua espécie (Gn 1.26,11).

O importante no relato, então, é ressaltar o propósito da criação do homem, e não tanto a forma que assumiu. Semelhantemente, o relato se importa mais com o propósito do resto da criação, do que com a forma e com a natureza desta origem em si, sendo estas últimas, preocupações da ciência moderna.

Dentro do esquema apresentado a humanidade tem um chamamento representativo para reinar como Deus reina. Por esta razão, o ser humano é não somente o servo do Senhor, como também representante dele. Assim como Deus faz, o representante deveria fazer, refletindo as características do Criador. Nisto, a realeza e o domínio de Deus são refletidos no domínio e na administração apropriados da humanidade sobre a criação. A função que a imagem de Deus no ser humano tem, portanto, é exatamente o que o texto bíblico elabora em Gênesis 1.28, "ter domínio" ("râdhâh") e "sujeitar" ("kôbhash") a terra. Isto é o seu status como senhor no mundo. Deus coloca a humanidade no mundo como sinal da sua soberania. E de acordo com Gênesis 2.19-20, esta soberania é exercida pela incumbência (divina) de classificar, compreender, e explicar abstratamente a natureza. A incumbência e o destino do ser humano estão ligados ao universo e vice versa (Rm 8.19-21).

O Salmo 8 concorda com este conceito de Gênesis 1 de que a humanidade realiza sua comissão como rei do reino terrestre, assim como Deus é Rei do reino celeste, e o status do ser humano sendo por um pouco menor do que Deus. Daniel Thambyrajah Niles, teólogo e missionário indiano, ilustra esta relação da seguinte forma:

"O homem é a única criatura que Deus fez cujo ser não está em si mesmo, e que por si mesmo não é nada. A 'canicidade' do cão está no cão, mas a 'humanidade' do homem não está no homem. Está na sua relação com Deus. O homem é homem porque reflete Deus, e somente quando ele assim o faz." [tradução] (1958:60-61)

O ser humano é "homo Dei", ou está aquém da sua própria humanidade. As implicações desta incumbência divina do ser humano para a tarefa da ciência são grandes. Repare, por exemplo, que tal incumbência é da essência da humanidade, e não um derivado da sua salvação. Pois em Gênesis 1 e 2 não se fala da salvação simplesmente porque não havia ainda a queda. A queda aparece somente no capítulo 3. Novamente afirmo: a incumbência divina para governar o mundo natural especialmente através da sua classificação nominal das suas diversas partes (sem dúvida a ciência é campeão na fabricação de palavrões!) É da essência de toda a humanidade, não só dos religiosos. Precede a queda. Aliás, mesmo depois da queda a incumbência permanece em pé (Gn 9.1-7). Na teologia esta incumbência comum é denominada "graça comum" ou "revelação comum" e se distingui da "graça especial" pela salvação, ou a "revelação especial" através das Escrituras. Só que "especial" não significa que a revelação é verdadeira que a revelação comum (por exemplo, por meio da ciência). A qualificação, "especial", se refere ao meio da revelação -- as Escrituras -- não a sua qualidade.

O interesse estético e teleológico da ciência
Acima usei a analogia de gêmeos criados separadamente para descreve a relação entre a ciência e a fé. Disse que a fé, certamente a fé cristã, literalmente começa e termina com uma preocupação cosmológica, uma preocupação que normalmente relegamos a ciência e elaborei um pouco sobre isso. Também disse que a ciência está fazendo perguntas cada vez mais teleológicas e estéticas, que se refere à finalidade e a beleza da realidade conhecível, perguntas que geralmente relegamos à religião. Já que tal afirmação foge da minha competência profissional, não vou arriscar uma elaboração deste ponto. Vou apenas ilustrá-lo através de alguns cientistas mundialmente conhecidos e respeitados.

Primeiro, algumas citações do astrônomo John Barrow (co-autor com Frank Tipler do livro que elabora o princípio cosmológico antrópico), no seu livro, "The Artful Universe" (Oxford: Oxford University, 1995):

"Incrivelmente, descobrimos que algumas das propriedades do Universo que são essenciais para a existência de qualquer forma de vida fazem um papel chave na determinação de respostas psicológicas e religiosas para o Cosmos."

"A fascinação científica com o fruto da complexidade organizada em todas as suas formas deveria levá-los às artes criativas aonde se encontra m exemplos extraordinários de precisão estruturada."

Segundo, John Holland, um dos maiores matemáticos e simuladores de inteligência no computador de MIT, no seu livro, "Hidden Order: How Adaptation Builds Complexity" (Reading, Massachusetts: Addison-Wesley, 1995):

"A construção de modelos é a arte de selecionar aqueles aspectos dum processo que são relevantes para a pergunta sendo feita… esta seleção é guiada por gosto, por elegância e por metáfora; é uma questão de indução ao invés de dedução. A alta ciência depende desta arte."

Terceiro, o prêmio nobel, Steven Weinberg, no seu livro, "Dreams of a Final Theory" (New York: Pantheon Books, 1992):

"O progresso na física é frequentemente guiado por julgamentos que somente podem ser chamados de estéticos."

"Acredito que a aceitação geral da relatividade geral se deve em grande parte à atração da teoria em si -- em síntese, à sua beleza."

"Cientistas e historiadores da ciência já há muito tempo desistiram da perspectiva antiga de Francis Bacon, que as hipóteses científicas deveriam se desenvolver pela observação patente e sem preconceito da natureza."

"Não somente nosso julgamento estético é um meio para chegar às explanações científicas e julgando sua validade -- faz parte daquilo que queremos dizer por uma explanação."

"O alvo da física no seu nível mais fundamental não é somente descrever o mundo mas explicar por que ele é do jeito que é."

Conclusão
Portanto é tanto pelo interesse científico -- explicar por que o mundo é do jeito que é -- quanto pelo interesse da fé bíblica -- que a grosso modo incentiva e apoia a investigação cientifica, que prefiro ver a fé e a ciência como irmãs gêmeas, ou para diminuir o exagero, pelo menos como irmãos. Mas ainda não falamos dos métodos e muito menos das conseqüências dos dois paradigmas que tanto os distinguem. Quem sabe, tanto Rubem Alves quanto eu, no fim, temos razão e devemos ver os agentes da fé e da ciência, isto é os religiosos e os cientistas como lobos gêmeos, embora criados separadamente.

Passagens bíblicas para meditação:
Sl 25.1-5
Pv 1.7; 2.1-6; 23.23
Dn 2.20-21
Jo 14.6
Rm 12.1-2
Fp 4.8


• Timóteo Carriker é teólogo, missionário da Igreja Presbiteriana Independente, capelão d'A Rocha Brasil e surfista nas horas vagas. É autor de A Visão Missionária na Bíblia e coordena diversos sites (acesse www.tim.carriker.com).

fonte: http://www.ultimato.com.br/?pg=show_conteudo&util=1&categoria=5&registro=1196

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Minha declaração de não-fé

  Rodrigo de Lima Ferreira

Existem várias e diversas declarações de fé. São documentos históricos importantes que servem como resumo daquilo que uma comunidade ou localidade específica crê. A mais conhecida delas é o Credo Apostólico, em que todo cristão se vê identificado. Há a Confissão de Westminster, a Helvética, a da Guanabara, o Pacto de Lausanne, entre outros.

Porém, como vivemos em um tempo estranho (passamos daquilo que Francis Schaeffer denomina "linha do desespero") onde o "não" significa "sim", o "sim", talvez" e o "talvez", "quem sabe, pode ser, passa lá em casa para tomar um café", resolvo fazer uma confissão de fé diferente. Faço uma confissão de não-fé.

Não creio que o Espírito Santo mude de ideia a cada seis meses, feito barata tonta, teleguiado por gente com desejos inconfessáveis.

Não creio que Deus tenha se "esquecido" de derramar seus dons por dois mil anos, reavivando somente agora alguns dons específicos, como línguas.

Não creio em apóstolos auto-nomeados, auto-ordenados e auto-consagrados. Napoleão Bonaparte sagrou-se imperador e deu no que deu.

Não creio na autoridade bíblica de pessoas que não se submetem a outros, em atitude de total arrogância e prepotência, fazendo do espelho e do afago bajulador os melhores aliados.

Não creio que Deus tenha eleito pessoas especiais dentro de sua eleição salvadora. Tropa de elite é coisa só de filme, ou de polícia.

Não creio na total autonomia humana em fazer escolhas certas sem a ação direta de Deus, especialmente em relação à salvação. Se posso mudar de ideia sobre o que almoçar, quanto mais para algo tão importante quanto seguir a Jesus!

Não creio que meu ego, corrompido pelo pecado, seja um referencial na minha adoração a Deus. Não creio ainda que a adoração deva ser necessariamente individual. A experiência coletiva é altamente benéfica para quebrantar potenciais megalomanias.

Não creio que a submissão, ou melhor, a subserviência da igreja ao Estado seja algo do agrado de Deus. A história se repete como farsa, como bem disse Karl Marx, e Constantino serve de aviso contra a tentação de se aliar ao poder temporal e poder espiritual.

Não creio que constituições, estatutos, manuais, apostilas e coisas parecidas tenham o mesmo peso das Escrituras na vida de um cristão.

Não creio que o ego ou o espelho sejam padrão e medida para a espiritualidade e conduta na vida cristã de outros. Se temos a Bíblia como fonte inesgotável de sabedoria, qualquer tentativa de ir além disso é confissão de farisaísmo.

Não creio em barganhas com Deus. Se eu fosse abençoado única e exclusivamente com a salvação eterna, sem nenhuma bênção aqui na terra, ainda assim teria muito o que agradecer. Afinal, Deus salva e abençoa não por obrigação e pressão, mas por amor e misericórdia.

Não creio no divórcio entre minha vida religiosa e minha vida, digamos, "civil". Os puritanos tinham um lema genial: "Aquilo que você faz fala tão alto que não consigo escutar aquilo que você diz". São separações assim que geram episódios bizarros como a "oração pela propina alcançada".

Não creio em demônios que tomam conta de certas regiões geográficas, ou mesmo de anjos que os combatem nessas mesmas regiões.

Não creio em copo de água em cima da televisão, rosa ungida, toco de carvão, corredor de sal grosso e outras "macumbas gospel". Os sacramentos são elementos comuns (pão, água, vinho) que servem de canal para a graça em nossas vidas. Mas tudo o que citei anteriormente, em vez de ser só uma cópia malfeita dos sacramentos, é, em sua essência, tentativa de manipular um pretenso mundo espiritual a favor daquele que pede.

Vou terminar minha declaração de não-fé com uma declaração de esperança: "Creio e espero que Deus, em sua infinita graça, venha restaurar os corações e as mentes da igreja evangélica brasileira, tornando-a saudável e livrando de seus tumores e mau humores. Derrama sua graça sobre nós, Senhor!".


• Rodrigo de Lima Ferreira, casado, duas filhas, é pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil desde 1997. Graduado em teologia e mestre em missões urbanas pela FTSA, hoje pastoreia a IPI de Rolim de Moura, RO. revdigao.wordpress.com

fonte: http://www.ultimato.com.br/?pg=show_conteudo&util=1&categoria=3&registro=1193

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Fé e ciência: irmãs gêmeas ou inimigas?

Timóteo Carriker

O divórcio entre a fé e a ciência, ou entre a física e a metafísica, marcou o fim da Idade Medieval e o início do Iluminismo. Não me entenda mal. Creio que este divórcio trouxe inestimáveis benefícios para ambos os lados, mas não sem um alto preço. Assim como os divórcios são caracterizados por brigas, mal-entendidos, rotulações preconceituosas ou até xingamentos de ambos os lados, a ciência e a teologia também sofrem de grande dificuldade de comunicação. Além disso, com o amadurecimento da ciência, cresce a convicção popular de que a ela pertence o campo dos fatos enquanto à religião pertence o campo dos valores. Curiosamente, ao campo dos fatos se aplica a regra de singularidade e dogma. Isto é, a respeito de determinado fenômeno, cientificamente falando, os fatos são únicos e, uma vez estabelecidos, se tornam dogmas. O inverso ocorre na percepção do papel da religião para quem é relegado ao campo dos valores. Estes valores, não como fatos, são múltiplos e, por isso, culturalmente, não devem ser entendidos como dogmas universais, apenas ao gosto do freguês.

Digo isso a princípio apenas para ilustrar a dificuldade de intercâmbio que historicamente existe entre estes dois paradigmas. Uma parábola vai ajudar (a primeira regra da teologia é: se não souber a resposta, conte uma parábola!).

Em julho de 1979, na famosa Massachusetts Institute of Technology, em Cambridge, Massachusetts, igrejas do mundo inteiro, protestantes, católicos romanos e católicos ortodoxos, se reuniram (com o apoio do Concílio Mundial de Igrejas) para discutir o tema "Fé e ciência num mundo injusto". O eminente astrônomo australiano Robert Hanbury Brown foi convidado para dar início à conferência com uma definição de ciência e uma interpretação da sua natureza. Dois dos seus temas eram especialmente interessantes.

Começando com uma definição clássica, ele descreveu como a "industrialização" da ciência -- sua aliança com instituições políticas e econômicas -- modificou a compreensão clássica como uma busca pela verdade objetiva e verificável. Mesmo assim, como bom cientista que é, Brown afirmou a importância da objetividade e a verificabilidade para toda tarefa científica.

Ao mesmo tempo, Brown enfatizou que os conceitos científicos são metáforas e abstrações relacionadas a uma realidade essencialmente misteriosa. Disse ainda que, dentro da própria ciência, há metáforas e abstrações diferentes que podem ser consideradas "complementares" e não antagônicas. Com base neste último ponto, ele argumentou que uma ciência devidamente modesta e a fé podem ser vistas como respostas complementares aos mistérios últimos da existência.

Depois da palestra de Brown, houve duas reações de conferencistas convidados. A primeira veio da cientista africana Matu Maathai, que era basicamente uma aprovação entusiástica da ciência, mesmo com algumas ressalvas a respeito do perigo do abuso da ciência no terceiro mundo, especialmente para o aumento de armas de destruição.

A segunda reação veio do teólogo e filósofo social brasileiro, Rubem Alves, então professor da UNICAMP, atualmente psicanalista e meu vizinho. Com um típico espírito brasileiro poético e brincalhão, Rubem Alves deu sua resposta contando a seguinte estória:

"Era uma vez um cordeiro que, amando o conhecimento objetivo, resolveu descobrir a verdade sobre os lobos. Já sabia de muitos contos ruins sobre os lobos. Eram verdadeiros? Resolveu investigar em primeira mão. Então ele escreveu uma carta para um lobo filósofo com uma pergunta simples e direta: O que é um lobo? O lobo filósofo respondeu a carta explicando o que os lobos são: seus formatos, seus tamanhos, suas cores, seus hábitos sociais, seu pensamento etc. Pensou, entretanto, que era irrelevante falar dos seus hábitos alimentícios já que tais hábitos, de acordo com a própria filosofia do lobo filósofo, não pertenciam à essência dos lobos. Pois bem, o cordeiro ficou tão impressionado com a carta que resolveu fazer uma visita na casa do seu novo amigo, o lobo. Foi somente então que aprendeu para sua infelicidade que os lobos têm uma fraqueza por churrasco de cordeiro".

Seria fácil confundir as personagens da parábola de Rubem Alves. Poderia imaginar que, para ele, o lobo representa o cientista puro e o cordeiro, o religioso. Também não seria difícil imaginar o contrário. Porém, o próprio Rubem Alves explica: o lobo somos todos nós que pretendemos nos definir com objetividade e distância pessoal. Os lobos são os cientistas, religiosos, políticos, economistas e até professores universitários. Entretanto, o tom bastante negativo de Alves ilustra a difícil relação entre a ciência e a religião. Esta relação tênue tem uma longa história que não é possível relatar adequadamente aqui. Porém, é um relacionamento que não precisa ser -- e não é -- o único relacionamento possível. Gostaria de propor outro, não de incompatibilidade entre lobo e cordeiro, mas do desconhecimento mútuo entre dois gêmeos que são criados separadamente.

Eventualmente vemos na televisão a notícia de que dois gêmeos, ou duas gêmeas, que foram separados logo depois do nascimento se encontram décadas depois. A alegria é enorme, mas na própria reportagem se percebe que os dois já são bem diferentes, devido não só a influência de fatores psicológicos que levam quaisquer irmãos, gêmeos ou não, a terem suas próprias personalidades, mas também devido à criação em contextos totalmente diferentes. Talvez eu esteja exagerando na analogia, mas prefiro ver a fé e a ciência como irmãs gêmeas criadas separadamente. Deveriam ter mais em comum do que de fato têm, não idênticas, pela mesma razão que gêmeos idênticos não são idênticos em sua personalidade. Faço esta fantástica afirmação de que a fé, certamente a fé cristã, literalmente começa e termina com uma preocupação cosmológica, uma preocupação que normalmente relegamos à ciência. Enquanto isso, a ciência sem dúvida está fazendo perguntas cada vez mais teleológicas e estéticas, que se referem à finalidade e a beleza da realidade que se pode conhecer.

Leia a continuação deste artigo na próxima semana.

fonte: ultimato

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O circo gospel

Robson Ramos

Pois é Spyware*, é incrível como esses pastores conseguem surpreender até mesmo a nós que estamos do lado do "nosso pai que está cá embaixo".

Nosso agente Greenbelly* tem feito um ótimo trabalho na região sul do país. Circulando por essas igrejas novas ele vê e ouve coisas das mais pitorescas.

Confesso, Spyware, que eu mesmo, por mais incrível que possa parecer, fico chocado e ao mesmo tempo feliz com esses relatos. O Greenbelly ouviu de um mesmo pastor duas pregações que estão arrancando risos dos nossos colegas da ZonQunran*. Eu gostaria de ter estado lá e ouvido o que ele ouviu. Ele viu e ouviu um pastor pregando em dois cultos, na mesma igreja. Num dos cultos o pastor falou sobre um tal de "Calebe" que, na língua hebraica segundo ele, significa "cão". A partir disso ele elaborou uma mensagem no mínimo estapafúrdia e que seria forte candidata a levar o prêmio de "Mensagem do Ano". Depois de dizer que Calebe significa "cão", ele afirmou que Deus gosta de Calebe. "Assim como o cão marca seu território fazendo xixi, nós temos que marcar nosso território", continuou o erudito pastor. Ele ainda contou sobre uma experiência vivida numa visita que fez a um estádio de futebol. Nessa visita, conforme seu relato pessoal, perante uma plateia de crentes atentos e ao mesmo tempo incrédulos, descobriu que próximo ao estádio havia um ponto de prostituição e resolveu fazer xixi nos lugares onde ficavam as prostitutas. Por ter feito o tal xixi as prostitutas não apareceram mais, concluiu com grande sabedoria o pastor. Enquanto isso algumas das pessoas presentes no culto gritavam "glória a Deus", outros se contorciam nas cadeiras. Os gritos de "aleluia", da parte de alguns, ficaram mais acalorados quando o referido pastor desferiu: "Quando você crê em Deus até o seu xixi tem poder".

Nosso agente Greenbelly pensava que o tal pastor nunca mais seria convidado para voltar àquela igreja. Mas para sua surpresa nesse último final de semana lá estava ele de novo, na mesma igreja, numa cidade turística do sul do Brasil. Não deu outra. Não demorou muito e as pessoas começaram a se contorcer nos bancos. O tal pastor esbravejou umas loucuras que deixou todos boquiabertos, sem reação, especialmente quando ele disse: "Deus vai te penetrar. Abra as pernas para Deus te penetrar. Tem gente colocando preservativo em Deus. Ele vai romper teu hímen espiritual".

Ora, Spyware, enquanto tivermos pastores como este atuando nas igrejas, não precisamos nos preocupar. Eles já fazem o nosso trabalho melhor do que nós mesmos.


* Nomes fictícios

• Robson Ramos
é autor de Evangelização no Mercado Pós-Moderno, acadêmico de Direito, bacharel em teologia pela Faculdade Teológica Batista de São Paulo e mestre em Estudos do Novo Testamento pelo Pittsburgh Theological Seminary, EUA. É também blogueiro, responsável pelo www.mateus21.com.br

fonte: http://www.ultimato.com.br/?pg=show_conteudo&util=1&categoria=3&registro=1187#comentarios

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Cristãos e mulçumanos - hora de repensar

Eduardo Ribeiro Mundim

Há algumas semanas recebi um correio eletrônico acompanhado por um vídeo. Não consegui identificar o autor da gravação, e nem o amigo que o enviou a sua lista de contatos. Em síntese, o vídeo defende a tese que uma cultura qualquer entra em processo de extinção quando a taxa de natalidade daqueles que a ela pertencem cai a partir de certo percentual. Este fenômeno aconteceria hoje na Europa, que estaria sendo ameaçada pela imigração de muçulmanos. E estes têm uma taxa de natalidade elevada. Termina com uma convocação subliminar para que os cristãos redobrem seus esforços a fim de evitarem esta derrota.

Algum tempo depois, outro amigo enviou-me um texto do pastor Eli reproduzido em diversos blogs (http://apologian.blogspot.com/2009/11/muculmanos-outra-vez-nao.html), que mereceu comentário favorável do Bispo Anglicano Robinson Cavalcante (http://www.dar.org.br/bispo/50-artigos/678-ameaca-islamica-e-narcisismo-diletante.html). Nele, o pastor Eli narra a evangelização de um muçulmano durante um voo de avião, e a irada reação doutro, que a tudo assistia. Este, envolvido em um projeto mundial de disseminação do islamismo por toda a terra - ele viria ao Brasil. Nova convocação.

E neste último domingo, dia 29 de novembro, os suíços entenderam, através de uma consulta plebiscitária, ser hora de proibir a construção de minaretes em uma determinada localidade (http://www.alcnoticias.org/interior.php?lang=689&codigo=15604). Um dos motes da campanha era manter a Suíça para os suíços e impedir sua islamização.

Há cerca de 1 mês, a Folha de S Paulo publicou uma coluna do filósofo Luiz Felipe Pondé (http://crerpensar.blogspot.com/2009/11/proibicao-da-cruz.html) a respeito da proibição da cruz em escolas públicas italianas, decidida por uma alta corte. O filósofo expõe o receio de que o evento mostre a perda de identidade cultural européia, e que a proibição "cospe na cara de 2.000 anos de história".

Por que tememos o islã?
Por ser uma fé mais palatável, com um esquema salvífico menos complicado e mais óbvio, de "salvação pelas obras"? Nós já temos a IURD e semelhantes destruindo o Evangelho da Graça através da teologia da prosperidade...
Por estar atrelado, em diversos países, a esquemas políticos ditatoriais, com perseguição polítca, religiosa e econômica? O ocidente tem seu católico Francisco Franco na Espanha, e o protestante "nascido de novo" George W Bush, defensor da tortura sistemática dos supostos inimigos do estado e da política do "grande porrete"...
Por ter uma face bárbara através da mutilação genital feminina, do cerceamento da mulher enquanto ser humano em igualdade de condições com os homens, do apedrejamento de adúlteras? Mas pessoas morrem de fome no nosso Brasil, políticos alimentam-se a si mesmos e aos seus (e acham a coisa mais natural do mundo) e o tráfico de drogas e a prostituição, inclusive infantil, encontra guarida em postos sociais inimagináveis...

Não encontro nas Escrituras a afirmativa que o cristianismo será a fé majoritária do planeta em alguma época. Encontro o ensino de que, na nova Jerusalém, haverá um só rebanho e um só Pastor - uma fé única. Encontro o ensino de que muitos são chamados, mas poucos os escolhidos; de que os salvos são incontáveis como a areia do mar, assim como aqueles que se excluem do Reino, ao negar o sacrifício substitutivo de Jesus; de que o número destes é muito maior que o daqueles; de que a vocação da Igreja é servir no presente século, e reinar, somente no Reino escatológico, onde apenas o Cordeiro se assenta no trono.

O diabo marcou um dos maiores gols de sua carreira quando convenceu o imperador Constantino a converter-se. Conversão bastante conveniente do ponto de vista político e questionável enquanto fato. Mas inquestionável o dano colateral produzido: o atrelamento do Evangelho à força política e ao estado. Jesus recusou-se a adorá-lo em troca do poder político, e a igreja aceitou o poder político sem adorá-lo, mas tornou-se permanente pedra de tropeço a incontáveis pequeninos. E Jesus alertou sobre que for pedra de tropeço para os vulneráveis...

Não quero a cruz como elemento de minha cultura. Desejo-a como minha vocação, inspiração e senhorio. Como lembrete das Escrituras e de que ela está vazia, pois nem a morte conseguiu detê-lo. Talvez eu tema mais o conformismo atual, que esvazia o seu conteúdo, igualando-o ao folclore, que uma eventual (e improvável) ditadura islâmica.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

E se o PLC 122 fosse aprovado hoje, como ficaria?




Rubem Amorese

Gostaria de contribuir um pouco mais com o debate sobre o PLC 122/2006, "que pune a discriminação contra homossexuais", cuja enquete está em andamento na página do Senado. Desta vez, minha colaboração é no sentido de permitir a você um julgamento pessoal sobre essa questão.

A gente ouve vozes alarmadas, pedindo que você vá lá e vote "não" e acaba se sentindo manipulado. Então, minha colaboração é a seguinte: veja aqui todo o texto do parecer da senadora Fátima Cleide, na Comissão de Assuntos Sociais (parecer aprovado na Comissão, na forma de um substitutivo).

Para facilitar seu entendimento da matéria, já que o PLC 122 altera uma lei já existente, eu fiz uma consolidação. Ou seja, peguei as alterações propostas e as inseri na lei alterada, de modo a você poder ler o texto final, passado a limpo, como ele ficaria se fosse promulgado hoje. Não é o caso; tem muita água para passar por baixo dessa ponte, ainda. Coloquei as alterações em outra cor para facilitar o entendimento das últimas mudanças.

Se esse assunto lhe interessar, leia o texto e a argumentação da senadora e faça sua própria avaliação. Sem alarde, sem induções pró ou contra (muita gente tem escrito, perguntando se deve responder sim ou não à enquete do Senado; e eu tenho evitado uma resposta desse tipo).

Espero, com isso, ajudar você a adquirir uma consciência crítica e livre sobre um tema tão controvertido e que tem alarmado os cristãos.


• Rubem Amorese é consultor legislativo no Senado Federal e presbítero na Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília. É autor de, entre outros, Louvor, Adoração e Liturgia e Fábrica de Missionários -- nem leigos, nem santosruben@amorese.com.br

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Deus faz mal à vida?

Leonardo Boff *

Adital - Recentemente esteve entre nós o renomado biólogo darwinista Richard Dawkins afirmando que Deus faz mal à saúde humana e que "Deus é um delírio", título, aliás, de seu livro. Quase simultaneamente saiu um outro livro de um renomado filósofo e teólogo anglicano Keith Ward que, sem pretende-lo, deu uma resposta a Dawkings. Seu livro se intitula: Deus, um guia para os perplexos (Difel 2009).
Ward depois de percorrer mais de três mil anos de reflexões sobre Deus, tranquilamente, com o humor inglês que o caracteriza, poderia escrever: Dawkins, um delírio.
A questão fundamental que seu livro suscita é: o que os humanos querem dizer quando falam "Deus"? Por que as culturas, desde sempre, colocam o tema Deus?
Ward começa com a mitologia grega, cujo panteão é repleto de deuses e deusas. Mas adere à interpretação inaugurada por C. G. Jung e por Campbel segundo a qual no panteísmo não temos a ver com a multiplicidade de divindades, mas com múltiplas formas de presença divina na natureza e na vida humana. As divindades não são seres subsistentes, mas representam energias poderosas e criativas para as quais nos faltam as palavras adequadas para descrevê-las. Então se usam nomes divinos e mitos.
Ward passa pelos grandes representantes do pensamento ocidental, sem esquecer seus paralelos orientais, que detidamente se enfrentaram com a problemática de Deus. Mostra a grande ruptura que ocorreu entre o pensamento clássico greco-cristão para qual Deus representava a eternidade, a imutação e a pura transcendência e entre o pensamento moderno que entende a realidade como mutação e evolução, carregada de virtualidades apontando para várias direções.
A figura de Hegel é especialmente estudada porque foi ele que introduziu Deus na história, ou melhor fez da história a forma como Deus se mostra (tese), se autonega (antítese), entrando nos avatares da condição temporal e retorna sobre si mesmo carregando toda a riqueza de sua passagem pela evolução (síntese). Sua essência como Espírito absoluto é ser dinamismo, mutação, liberdade e criação. Vê no próprio conceito cristão da Trindade, a dialética divina da história: o poder auto-afirmativo que se mostra como Pai, a sabedoria que se revela como Filho e o amor unitivo que se concretiza como Espírito Santo.
Ward mostra as implicações lingüísticas e filosóficas que a temática de Deus encerra. Vão desde o discurso raso do fiel que identifica imagem de Deus com Deus mesmo, passando pelo discurso analógico dos teólogos para os quais os conceitos são meras analogias e não descrições do ser divino até o silêncio reverente que sabe ser impossível dizer qualquer coisa objetiva sobre Deus. Famosa é a frase de um dos maiores teólogos cristãos, o Pseudo-Dionísio Aeropagita (século VI): "Se Deus existe como as coisas existem, então Deus não existe". É a linguagem dos místicos seja dos muçulmanos como os sufis, seja da sabedoria dos taoístas, seja dos místicos cristãos que afirmam que sobre Deus dizemos mais mentiras que verdades. Por isso, vale a advertência do filósofo Ludwig Wittgenstein: "Sobre coisas que não podemos falar, devemos calar". É o que as religiões e igrejas menos fazem.
Mas nem por isso deixamos de permanentemente colocar o tema de Deus. Seguindo a tradição pragmática inglesa Ward enfatiza que ao invés de perguntar o que a palavra "Deus" representa, deveríamos perguntar "como a palavra Deus é usada"? Ela está na boca e nas atitudes dos que oram, cantam e meditam. Esta é uma forma de se relacionar com o Inefável e a partir dele com o mundo. A conseqüência prática é que ocupar-se com Deus libera o eu do desespero e da ilusão e lhe possibilita atingir certa integração que gera a felicidade.
Como se depreende, pensar Deus não é nunca um mero exercício intelectual. É pensar a forma mais adequada de vivermos como seres humanos, compreendermos melhor o mundo e conectar-nos com aquela Energia soberana e boa que tudo pervade e penetra nas profundezas de cada um.
Finalmente, crer em Deus é crer na bondade fundamental do ser, é crer que vale a pena viver e desfrutar da alegria de passar por esse pequeno planeta no qual habitam seres que sentem o pulsar da Realidade Suprema feita de amor, compaixão e último aconchego. Deus é a maior viagem, o melhor delírio jamais experimentado.
[Autor de Experimentar Deus, Verus 2007].
* Teólogo, filósofo e escritor

Ao publicar em meio impresso, favor citar a fonte e enviar cópia para: Caixa Postal 131 - CEP 60.001-970 - Fortaleza - Ceará - Brasil

Para receber o Boletim de Notícias da Adital escreva a adital@adital.com.br

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Teologia a favor do racismo

Daniel Santos

"O homem não pode fazer o certo numa área da vida enquanto está ocupado em fazer o errado em outra. A vida é um todo indivisível."
Gandhi

Chamamos de "racismo teológico" toda a construção bíblico-teológica que tem o propósito de fundamentar ou justificar a ideia de que o negro (em nosso caso específico) é inferior ao branco.

No contexto histórico-protestante brasileiro, esse tipo de "teologia" contaminada com o preconceito etnocentrista1 surgiu juntamente com os primeiros missionários norte-americanos, oriundos dos estados do Sul. Muitos desses missionários eram membros de igrejas brancas onde, a cada seis meses, eram feitas leituras das leis estaduais que diziam que qualquer branco poderia matar um negro fugitivo sem punição alguma; que um negro receberia trinta açoites caso levantasse sua mão contra um branco cristão; que nenhum negro poderia pregar o evangelho sem o consentimento de um branco; que nenhum negro poderia aprender a ler e escrever e que ninguém poderia dar nenhum livro (nem a Bíblia) a nenhum negro.

Como resquícios da derrota na Guerra da Secessão para os estados do Norte, esses missionários eram a favor da manutenção da escravidão e afirmavam que ela era instituída por Deus como resultado da maldição imposta aos filhos de Cam.

A "base teológica" do racismo ensinava que a palavra hebraica "cam" significava "queimado", "preto", fazendo do filho de Noé o pai da raça negra. Numa maldição imprecada por Noé, Cam deveria ser o mais baixo dos servos (Gn 9.18-27).2 Daí o fato de os negros, segundo os pregadores do racismo teológico, serem excelentes serviçais. Conforme essa interpretação, os filhos de Sem e Jafé têm um "direito teológico" de se aproveitarem do trabalho dos filhos de Cam, contribuindo, assim, para a redenção daqueles que são marcados por dois "pecados originais": o de serem filhos de Adão (pecado comum a todos os homens) e o de serem filhos de Cam (pecado específico dos africanos e negros, em geral).

Ao negro restava suportar sua miserável condição nesta terra (uma espécie de karma) enquanto aguardava sua redenção nos céus. Caso essa doutrina fosse questionada, alguns pastores apelavam para o expediente infalível da miscigenação, que alguns especulavam ser o pecado que havia levado Deus a destruir o mundo nos dias de Noé.

Esse racismo teológico não foi exclusividade das igrejas históricas.3 Segundo Oliveira (2004, p. 86), há vários teólogos pentecostais que ainda hoje sustentam a ideia de que o sinal posto sobre Caim, quando este matou seu irmão Abel, representava uma maldição caracterizada pela cor negra.4

O conceito teológico das igrejas neopentecostais 5 tem contribuído para uma maior proliferação do racismo. Sua postura é eminentemente antiafro (Freire, 2005, p. 19). A doutrina da prosperidade, a batalha espiritual e a doutrina das maldições hereditárias reforçam o estigma da cor negra, como sinônimo de algo negativo ou demoníaco. Nesse aspecto, o racismo sai da esfera do conceitual-teológico e avança para a prática, a vivência e as relações eclesiais.

Na doutrina da prosperidade, o fiel é abençoado conforme a quantidade de seus bens materiais. A situação socioeconômica do negro é vista de forma simplista e racista: "é pobre porque é pecador e oriundo de um continente idólatra e praticante de bruxaria".

Na doutrina das maldições hereditárias, o povo negro é considerado uma raça maldita, usando-se os mesmo argumentos "teológicos" já citados. Para que o negro seja livre de sua maldição é necessário que ele se desvincule de todo o seu passado histórico (origem, costumes, cultura, cosmovisão etc).

Na batalha espiritual, evidente principalmente por meio da literatura, o mal é personificado na cor preta. Em "Este Mundo Tenebroso", de Frank E. Peretti (1991), o exército de Deus é retratado por anjos brancos e louros e o exército do diabo, por anjos pretos e negros.

As igrejas históricas e pentecostais também já manifestaram altas doses de racismo por meio da literatura, hinologia e métodos pedagógicos.

Era bastante comum (em alguns casos, ainda o é) encontrar hinos e cânticos nos quais, em determinados trechos, a palavra "negro(a)" tem conotação do mal: "as negras nuvens", "o meu coração era preto", "a negridão do mal", "o negro pecado". Um dos exemplos mais notáveis foi o da Igreja Presbiteriana Independente que no seu hino oficial, "O pendão real", tinha uma frase racista que dizia: "os negros batalhões do grande usurpador". Essa frase foi mudada por aquela igreja e não mais cantada dessa forma, mas algumas igrejas ainda mantêm a forma original.6

A APEC (Aliança Pró Evangelização das Crianças), entidade evangelística interdenominacional presente em vários países do mundo, inclusive o Brasil, possui como principal método de evangelização infantil a utilização das cores. Sua principal ferramenta é o livro "Sem Palavras", no qual, por meio das cinco cores (verde, dourada, branca, vermelha e preta) a mensagem de salvação é explicada às crianças. As cores são simbolizadas da seguinte forma: o verde é a nossa esperança de ir para o céu, a cor dourada representa o céu, a cor branca simboliza a pureza do coração, a cor vermelha é a representação do sangue de Jesus que nos purifica do pecado e a cor PRETA simboliza o pecado que nos levará para o inferno. Após receber inúmeros protestos, a APEC mudou a expressão "preta" para "escura". Como o livro é muito usado por Escolas Bíblicas de inúmeras igrejas, sua correta utilização fica restrita à imaginação e capacidade de cada professor. A APEC utiliza o mesmo método didático por meio de folhetos, canetas, réguas e pulseiras.7

Concepções teológicas como essas tornam o racismo ainda mais enraizado no conceito de muitos cristãos, fazendo com que atitudes discriminatórias já não sejam tão raras dentro de algumas igrejas:

Um pastor negro, membro de uma respeitada denominação do país, guarda alguns bilhetes anônimos que recebeu, com os dizeres: "Lugar de macaco não é no púlpito, é na bananeira!".
Num seminário para casais, o palestrante branco afirmou: "Jamais permitirei que minha filha se case com um negro". Para angústia dos participantes, havia um casal inter-racial presente.
Determinado pastor consentiu no casamento de sua filha com um negro, desde que se comprometessem a ter apenas um filho. O argumento: se passasse disso, poderia haver problemas "raciais" entre as crianças.
Um pastor negro pentecostal ouviu de um pastor branco: "O negro não pode pregar porque tem o nariz chato, conforme ensinamentos bíblicos".8

Teologia Negra
A Teologia Negra surgiu em resposta às condições de vida dos negros norte-americanos, juntamente com o movimento denominado Poder Negro (Black Power), por volta da década de sessenta, período de maior organização e articulação do movimento a favor dos direitos do negro. Não há um líder específico que possa ser considerado o "pai" do movimento. Martin Luther King Jr. é considerado um importante precursor e também o Dr. James H. Cone, professor de teologia no Seminário Teológico da União, em Nova York, e autor de "Black Theology and Black Power" (Teologia Negra e Poder Negro, 1969) e de "God of the Oppressed" (Deus dos Oprimidos, 1975), o mais profícuo escritor dentro da Teologia Negra.

Seu discurso profundamente centrado nos ideais de libertação do povo negro revela sua estreita ligação com a Teologia da Libertação.

A Teologia Negra procura relacionar mais uma vez Deus e Cristo com o negro e seus problemas cotidianos, o que a torna essencialmente existencial. Isso está explícito na definição de Cone sobre o papel do teólogo negro. "O teólogo é, antes de tudo, um exegeta simultaneamente das Escrituras e da existência. Sua tarefa é investigar exegeticamente as profundezas das Escrituras com o propósito de relacionar aquela mensagem com a existência humana" (Cone, 1985, p. 17).

Se sua principal fonte é a experiência da vivência negra e se ela é essencialmente existencial, é possível concluir que sua forma está limitada ao contexto social e histórico de seu público alvo: os negros.

Toda teologia é "discurso humano e subjetivo" sobre Deus, um discurso que nos revela muito mais acerca dos sonhos e esperanças daqueles que falam sobre Deus do que acerca de Deus, de fato (Cone, 1985, p. 49.51). Toda teologia está relacionada a situações históricas e, por isso, é culturalmente limitada. Isso explica porque brancos e negros veem a Deus de formas diferentes. O pensamento teológico dos negros acerca de Deus está diretamente ligado ao seu contexto social da mesma forma que os pensamentos teológicos dos brancos sofrem influências de sua posição dominante. Como poderiam dois grupos tão distintos enxergarem a Deus da mesma forma? Como isso seria possível, posto que, enquanto o branco cristão europeu veio para o Novo Mundo fugindo da tirania, o negro foi trazido para cá como prisioneiro para se tornar vítima da mesma tirania? "O contexto social e histórico de alguém não apenas decide as perguntas que dirigimos a Deus, mas também o modo e ou forma das respostas dadas às perguntas" (Cone,1985, p. 24).

Cone concorda com a posição de Feuerbach de que "teologia é (antes de tudo) antropologia" (1985, p. 50) e que "o pensamento é precedido pelo sofrimento" (1985, p. 19). Ou seja, o homem não pode raciocinar acerca de Deus e de tudo o mais concernente a ele além da sua experiência social, da sua esfera de visão e da sua condição humana.

A Teologia Negra está fundamentada na forma e no conteúdo do pensamento religioso dos negros. Segundo Cone (1985, p. 65), a forma do pensamento religioso dos negros foi moldada conforme sua história repleta de extrema opressão e o conteúdo desse pensamento religioso não poderia ser outro, senão a libertação dessa opressão. Consequentemente, prática e pensamento não possuem distinção dentro do pensamento religioso dos negros porque suas reflexões teológicas sobre Deus ocorrem no mesmo espaço da sua luta pela liberdade.

Diferentemente da teologia dos brancos, acostumados ao raciocínio filosófico e teológico, a Teologia Negra se expressa por meio de histórias com profundo conteúdo libertador. Isso se dá porque os negros, na condição de escravos, tinham de trabalhar do nascer ao pôr-do-sol, não tendo tempo nem oportunidade para a arte do discurso filosófico e teológico. Assim, narrativas como a libertação do povo de Israel da tirania egípcia, da intervenção divina em favor de Daniel ou do caráter libertador da pessoa do Messias eram frequentemente utilizadas nos sermões.

Isso refletia na forma do sermão direcionado ao público negro. Ele não estava preso aos conceitos acadêmicos do evangelho de matriz branca. A liberdade revelada no evangelho pregado conforme a cosmovisão negra (formada por seu sofrimento e suas esperanças de liberdade) também se revelava no momento da sua proclamação.

A Teologia negra é, portanto, uma teologia do povo negro para o povo negro, refletindo, por meio de um exame de suas histórias, contos e ditos, sobre aquilo que significa ser negro.

O Brasil ainda não possui uma estrutura teológica exclusiva para o povo negro. Provavelmente isso seja reflexo da nossa condição histórico-sócio-cultural, já discutida nesse trabalho. Isso não significa que o assunto seja desconhecido ou não interesse aos brasileiros negros. Há evidentes sinais de um maior engajamento e de tentativas de desenvolvimento de uma Teologia Negra com a "cara" brasileira por parte de alguns líderes e militantes negros, como o pastor Marcos Davi de Oliveira, autor do livro "A Religião Mais Negra do Brasil", Hernani Francisco da Silva, militante do Movimento Negro e co-fundador da Sociedade Cultural Missões Quilombo, e Walter Passos, teólogo, historiador e autor do livro "Teologia Preta – a revelação", bem como de grupos como a Sociedade Cultural Missões Quilombo e o Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos, que realizou seu primeiro encontro nacional em Salvador, no mês de abril de 2007, onde foi discutido sobre "Cristianismo de Matriz Africana" e "Teologia Preta", dentre outros temas.

Notas
1. Alexandre Brasil Fonseca chama essa "teologia contaminada" de "teologia do 'apartheid'" e refere-se a ela como o "fazer teológico contaminado por todo o preconceito resultante de conceitos como o etnocentrismo, produzindo um cristianismo assassino e preconceituoso. Assassino, porque -- apesar de apregoar o amor e a fraternidade -- foi responsável por uma série de barbaridades. Preconceituoso, porque -- apesar de ter a igualdade como referencial -- acabou sendo o motivo para o sepultamento de uma série de culturas, como também de relações racistas no decorrer da história". (Oliveira 2004, p. 16)
2. Ninguém se preocupava em destacar que a maldição fora pronunciada, na verdade, contra o neto de Noé, Canaã, e não contra Cam.
3. Refiro-me às primeiras denominações protestantes que chegara ao Brasil: Congregacionais, Batistas, Presbiterianas, Metodistas, Luteranas e Anglicanas. Conforme distinção feita por SILVA, H. F., em "O Movimento Negro nas Igrejas Evangélicas".
4. Além do profundo racismo, fica evidente o grosseiro erro hermenêutico, visto que o "sinal" colocado por Deus em Caim tinha o propósito de protegê-lo, como representação da graça e do favor divinos, e não amaldiçoá-lo.
5. Denominações surgidas a partir da década de 1970 à sombra das igrejas pentecostais clássicas. Principais denominações: Universal do Reino de Deus, Renascer em Cristo, Sara a Nossa Terra, Internacional da Graça de Deus e, a mais recente dentre as demais, Mundial do Poder de Deus.
6. Cf. "Igreja e Racismo".
7. Idem, p. 1.
8. Cf. "O Movimento Negro nas Igrejas Evangélicas".


• Daniel Santos, casado, dois filhos, é pastor auxiliar na Igreja Betesda do Tatuapé, em São Paulo.