terça-feira, 30 de setembro de 2008

Fé que Pensa, Razão que Crê

Ciência e fé tem uma longa história, nem sempre tranquila. Ambas são formas de conhecimento, e ambas são essenciais para a constituição de um sujeito saudável. Ambas são vítimas de preconceitos mútuos, e ambas teimam, ocasionalmente, em invadir o terreno alheio.

 

Neste momento, nenhuma fé religiosa específica será analisada dentro do tópico proposto. Contudo, falo a partir da fé cristã de orientação protestante - um termo menos ambíguo na sociedade brasileira atual que o evangélico.

 

Igualmente, nenhuma ciência específica será focada, mas o será partindo da experiência pessoal como médico endocrinologista, que participa há uma década de um processo de formação de especialistas na área.

 

Ciência e fé compartilham, provavelmente, mais semelhanças que dessemelhança. Ambas observam o mundo, tem pontos de partida específicos, propõe perguntas e respostas, compartilham de incompreensões.

 

Observar a criação é uma questão de sobrevivência desde o alvorecer da humanidade. Como saber a época do plantio? como caçar sem conhecer os hábitos da caça? como construir abrigos sem conhecer a resistência dos materiais? como tratar das feridas e dores sem observar o efeito de cada tentativa?

 

Ciência nada mais é que executar as observações de modo sistemático, detalhado, registrado. Um benefício direto é aplicado no conforto, na saúde ou em outra área; ou um benefício indireto, através da proposição de uma idéia (hipótese) que necessita ser comprovada ou descartada. É uma atividade democrática, pois como é registrada nos detalhes, pode ser repetida por quem o desejar (e se capacitar para tal), colocando os resultados anteriormente obtidos sob nova avaliação.

 

Mas não é possível observar sem ter algumas idéias preconcebidas sobre aquilo que é escrutinado. A mais básica é que a realidade é passível de apreensão pelos cinco sentidos. Parece óbvio, mas quem a "provou cientificamente"? A interface homem / natureza que eles são não pode ser vítima de ilusão de ótica (a miragem no deserto) ou de um distúrbio de sensibilidade (como a boca anestesiada pelo dentista)? Este é um exemplo de pressupostos sobre os quais a observação sistematizada da natureza, o processo científico, se ergue. Pressuposto não provado, mas aceito como verdadeiro. A ciência também crê!

 

Crer é uma necessidade humana básica, pois sem ela não há sentido na vida, e o ser humano não suporta a ausência de sentido (os torturadores modernos bem o sabem). Não importa a crença, mas o fato que existe. Não é necessário acreditar na existência de um ser superior ou supremo, mas pelo menos em um conjunto de idéias que signifique a vida. O stalinismo negava a existência da divindade, mas colocava uma ideologia para dar sentido às existências privada e coletiva.

 

Mas não basta crer para dar sentido. O sentido tem de ter um mínimo de coerência, caso contrário não subsistirá. O conjunto de crenças precisa se articular em um todo orgânico que se sustenta frente às intempéries. A fé também pensa!

 

A caminhada destas duas atividades humanas no mundo ocidental se mistura com a busca pelo poder, tanto sobre o conjunto social (o político) quanto sobre a consciência individual (a religião e principalmente a moral). A brecha que possibilita isto é a extrapolação, o salto criativo do cientista em busca de uma nova idéia, ou da articulação de antigas idéias que possibilita ver o mundo de modo completamente novo, trazendo modificações (positivas, sempre se espera). A extrapolação a partir do texto sagrado, que busca transcender uma visão mecânica e desprovida de sentido pessoal que a árida descrição técnica provê.

 

A extrapolação científica inadequada é provar, ou não, a existência de Deus - ela é, em si, uma piada.

 

A extrapolação religiosa inadequada é determinar a idade do universo baseado nas Escrituras (pelo menos nas cristãs).

 

O campo mais ilustrativo da disputa, inadequada, de poder entre ambas está na controvérsia sobre as origens do homem e do universo. A face humana da questão é a biografia de Charles Darwin, atormentado entre o salto criativo proporcionado por suas observações e a criação religiosa, que insistia em uma interpretação literal de Gênesis capítulos 1 e 2. A face política é a condenação de Galileu por um tribunal inquisitorial por contrariar a teologia oficial da época.

 

O maior prejuízo para a questão fé e ciência que a controvérsia evolucionista trouxe foi reduzir a dupla ciência / fé, tão ampla, a apenas este aspecto. Baseado nele se decide acreditar em Deus ou negá-lo, aceitar o progresso científico ou descartá-lo. Todo reducionismo é escapista, incluindo este.

 

A fé tem de questionar sim a eticidade de condutas científicas, porque é sua missão constitutiva e, no caso da fé cristã, um imperativo. Onde estaria o controle sobre experimentos científicos em seres humanos se não houvesse uma crença (ou fé) no caráter especial do homem (mesmo que este caráter seja determinado exclusivamente pelo naturalismo)? A Declaração de Helsinki existiria? Os experimentos nazistas em campos de concentração teriam sido condenados?

 

A ciência tem de questionar sim a fé, porque enquanto atividade de observação, adota a dúvida como ferramenta de trabalho (como ferramenta e não como ideologia de vida). Pode existir cura de doenças através da religião sem comprovação científica da mesma?

 

Ciência e fé são atividades humanas radicais, mas que não podem ser fanáticas. Ambas são radicais porque a aceitação de uma premissa científica exclui aquela(s) que a contradiz(em), tornando possível uma linha de raciocínio e patrocinando uma linha de experimentos, negando voz a(s) outra(s), mesmo que haja nela(s) valor. Não é possível ser budista e mulçumano ao mesmo tempo; se for o somatório de ambos, não será nem um, nem outro, e negará ambos. Fanatismo é quando o cientista ou crente se recusa a ouvir o que o desafia e questiona, protegendo-se através de dogmas científicos ou de fé. Não ter resposta a uma nova questão não invalida uma tese acadêmica ou uma visão religiosa, mas frequentemente as fragiliza de alguma forma. Impor pela força uma visão religiosa ou científica talvez seja a maior demonstração possível de fanatismo por parte de um, ou de outro.

 

O próximo capítulo desta saga será escrito pela geração atual, chamada a fazer ciência crendo, e a crer fazendo ciência.

domingo, 28 de setembro de 2008

Infanticídio e missionários na mídia americana

Sent: Friday, September 26, 2008 11:39 AM
Subject: infanticídio e missionários na mídia americana
----- Original Message -----

Queridos amigos e irmãos,
 
A campanha  a favor da vida das crianças indígenas chegou à grande mídia americana. Dan Harris, jornalista da ABC veio ao Brasil, entrevistou vários missionários da JOCUM de Porto Velho, nós da ATINI, membros da FUNAI, de ativistas  de direitos humanos. Como resultado deste trabalho, o debate pegou fogo nos Estados Unidos nos últimos dias. Houve uma matéria no jornal escrito USA Today, uma  reportagem de 8 minutos no Nightline da ABC e uma entrevista no jornal CBN. Além disso o assunto tem sido abordado em programas de rádio e a discussão tem sido acirrada na internet.
 
Em todas as entrevstas ficou claro que há uma  campanha de pessoas da FUNAI para desacreditar a luta a favor da vida das crianças indígenas. Eles dizem que o infanticídio é raríssimo e  tentam confundir e distrair a opinião pública, desviando o foco  da discussão para a questão religiosa. Eles afirmam  que toda essa questão é na verdade um exagero de missionários. 
 
Alegam que o que os missionários querem através dessa campanha é justificar a evangelização das tribos. A FUNAI joga pesado, acusa a JOCUM de crimes terríveis como escravização de indígenas e sequestro de crianças das aldeias. Missionários são retratados como fanáticos e fundamentalistas e até brutais. As falas são editadas - há muita manipulação e sensacionalismo. Mesmo sabendo que a luta contra o infanticídio tem sido levada adiante principalmente pela ATINI, que é uma organização não-religiosa, que inclui vários indígenas em seus quadros, o jornalista omite este fato. A idéia é reduzir tudo a uma guerra religiosa.
 
Na nossa opinião, a maior fraqueza das reportagens é que o lado dos indígenas envolvidos na questão foi completamente omitido. Dan Harris não colocou em nenhum momento que são as famílias indígenas que estão lutando para salvar suas crianças, e estão pedindo ajuda da nossa sociedade. A ausência dessa informação fundamental faz parecer que nosso movimento milita contra os indígenas. Isso é uma grande distorção, pois nosso movimento existe exatamente para dar voz a eles.  
 
Mas mesmo com essas falhas, o problema do direito à vida das crianças indígenas vem à luz com essas reportagens. A luta pelos direitos das crianças indígenas não é uma guerra religiosa. As contradições do relativismo cultural ficam evidentes - uma ativista de direitos indígenas chega a dizer que matar uma criança, em certas circusntâncias, é a "coisa mais gentil que pode ser feita a ela". Depois dos programas já fui entrevistada por uma rádio americana  e o apresentador, Jeff Whitaker, mostrava-se evidentemente chocado com a frieza com que a vida destas crianças é tratada. 
 
 
No final, a matéria da ABC, a maior de todas, aponta para a vida. Ele termina mostrando Hakani brincando, falando, sorrindo, saudável (e linda!). O jornalista termina a matéria dizendo que olhando para ela, feliz e saudável, fica difícil dizer que teria sido melhor que ela tivesse sido morta.
 
Por favor, pedimos que vocês orem pelos missonários da Jocum de Porto Velho, especialmente implicados neste debate - as acusações da FUNAI são terríveis. Orem também por nós, pela nossa equipe e pelas crianças da ATINI, que Deus as proteja de todo o mal. Orem pela Hakani, que ela continue feliz e saudável, e que sua vida continue sendo um exemplo e inspiração para muitos.
 
O link dos programas segue abaixo, assistam e tirem suas próprias conclusões. Pedimos que, se possível, nos envie sua opinião.
 
 
 
 
 
Um abraço e muito obrigado pela participação, pelas orações e pelo apoio. Vamos continuar levantando a voz em nome da vida, mas sem esquecer que há sempre um preço a pagar.
 

Edson e Márcia Suzuki
ATINI - VOZ PELA VIDA
www.atini.org

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

O Deus Humilde

Uma das características do Deus revelado pelas Escrituras Bíblicas é a Sua humildade.

 

Apesar de Criador e Mantenedor de todas as coisas, Ele não propaga isto aos quatro cantos, mas deixa que a própria criação proclame a Sua glória e o firmamento anuncie Suas obras.

 

Apesar de doador da vida, de eternamente Ele mesmo, a humanidade continua divida entre os tolos que dizem em seus corações "não há deus" - e são em grande número - e os sábios, que O reconhecem em todos os seus caminhos.

 

Apesar de Todo Poderoso, Suas ações acontecem sem estardalhaço. Muitas precisam de um profeta para interpretar acontecimentos que seriam lidos apenas como manifestações naturais. Faraó não entendeu as dez pragas como juízo divino, mesmo alertado por Moisés. E Deus não ligou... o plano de ação traçado foi mantido e executado.

 

Apesar de não poder ser visto pelos mortais, pois não há ser vivo capaz de se manter na Sua presença, não Se impõe, mas se expressa através de palavras - que podem e são contestadas. Aguarda pacientemente elas convencerem os ouvintes dos seus pecados, da justiça dEle e do Seu juízo.

 

Poderia ter escolhido outro local para Se tornar homem - o único Deus a ter pés para empoeirar - mas escolheu um país obscuro, pouco importante; uma pequena cidade cuja única glória era ter sido o berço de um grande rei, falecido centenas de anos antes. Poderia ter escolhido um tempo glorioso, mas optou por uma época em que ninguém notaria Sua presença. Poderia ter optado por um grau de conforto para a mãe primípara, em uma hospedaria confortável ou em um palácio, mas optou por acomodações apropriadas para servos e escravos, e uma situação de menor comodidade.

 

Mesmo no grande dia, quando reunirá bilhões e bilhões de pessoas a Sua volta, separando-as à direita e à esquerda, não se imporá nem por força nem por violência, mas pelo poder do reconhecimento de que "Jesus Cristo é o Senhor".

 

O Deus Pai de Jesus Cristo é um deus humilde...

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Os Monges do Monte Atos

Um amigo contou-me a seguinte es(his)tória:

Nos primeiros séculos do cristianismo havia um monsteiro no Monte Atos, na Grécia. Os monges eram piedosos, mas absolutamente iletrados no que concerne às Escrituras Sagradas. Muitos eram analfabetos.

Durante uma viagem de pastoreio, o bispo da diocese ficou escandalizado com o desconhecimento dos aspectos mais básicos da espiritualidade cristã. Pô-se, pois, a ensinar-lhes os rudimentos, inciando pela oração do "Pai Nosso". Foi com grande esforço que concluir ter dado cabo satisfatoriamente da tarefa. Embarcou novamente para outra etapa de sua jornada.

Logo após o barco estar saindo da baía onde estava sediado o porto, sua atenção foi chamada para uma cena assustadora. Diversos monges caminhavam sobre a água, tranquilos, sem molhar os pés, ou mesmo submergir. Acenavam freneticamente para o bispo, que, com esforço, conseguiu ouvir as palavras conduzidas pelo vento:

"Eminência, eminência! O que é que vem mesmo após 'venha a nós o vosso reino' ?"

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Cuidado, indígenas na pista!*

Data da impressão: 24 de setembro de 2008

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Colunas — Da linha de frente

Bráulia Ribeiro

Tenho vivido um momento tão surreal, que às vezes me belisco para sentir se é verdade ou se é um sonho absurdo. Em meus últimos artigos tenho mais filosofado teologias que escrito sobre o que se passa ao meu redor. Porém, esta (des)realidade que nos cerca tem de se tornar conhecida, pois não se refere apenas a mim ou à missão em que trabalho, mas a todos os brasileiros. Estamos todos sob o mesmo governo e, supostamente, sob o mesmo estado democrático e de direito. 

A revista "Carta Capital" publicou, no final de julho, uma reportagem caluniosa em que acusa a JOCUM de vários crimes. A matéria é típica de um momento em que a verdade é comprada e moldada para servir a interesses partidários e oligárquicos. Baseia-se, aparentemente, em um dossiê criado por um antropólogo da FUNAI, que se preocupa em elencar uma série de mentiras em formato pseudo-acadêmico. Ninguém investigou, perguntou, nem viu. Mas uma mentira repetida muitas vezes passa por verdade.
Estamos com nosso telefone grampeado, e-mails violados e a sensação de que a qualquer momento a Polícia Federal pode invadir nossa casa atrás de provas de uma possível conspiração contra o estado brasileiro. 

Desde que tiramos dois bebês Suruwahá da área em 2005, para tratamento médico, nossa situação política se complicou muito. Ousamos desafiar o governo em cadeia nacional de televisão, lutar pela vida e não nos conformar com regras que mantêm os indígenas num cárcere paleolítico, impedidos de receber até o simples tratamento médico, direito de todos os brasileiros. 

A questão indígena vai além das políticas periféricas e, principalmente, desta guerra religiosa e ideológica que é usada contra as missões. Chegamos ao cerne quando debatemos quem é o índio. Ele é o "nobre selvagem" de Rousseau, o herói de Alencar? Um ser primitivo preso num lugar remoto do processo evolucionista? A nossa legislação presume a incapacidade do índio de tomar decisões ou entender a dinâmica da sociedade. A maioria das tribos brasileiras se encaixa na descrição de semi-integrados e, de acordo com a Constituição, estão sob a tutela legal do governo. O Estatuto do Índio de 1988 prevê que para obter cidadania plena o indígena tem que pagar impostos e trabalhar em funções "normais" que sirvam à sociedade brasileira. Ou seja, índio só é gente, só é cidadão brasileiro pleno quando deixa de ser índio. 

Como sociedade brasileira, escolhemos para os indígenas o caminho mais fácil para nós. Escolhemos fingir que não os vemos, falar deles no tempo passado, parte de uma história da qual nos arrependemos. Escolhemos delegar a um órgão governamental, ou a um grupo de missionários, o que deveria ser responsabilidade de todos nós.
 
Quando a igreja pensa o ser humano, ou pensa a sociedade alternativa com o sonho cristão, este sonho deve incluir todas as nações, todos os povos. Sem todos não somos completos. Sem todos os povos brasileiros o Brasil não é o Brasil. Que o impasse atual nos ajude, como igreja e missão, a construir um país melhor, onde os indígenas não sejam tratados apenas como animais na pista, mas como parte essencial de nossa identidade.

Nota
* Placa numa rodovia do Paraná. 


Bráulia Ribeiro, missionária em Porto Velho, RO, é autora de Chamado Radical (Ed. Ultimato). braulia_ribeiro@yahoo.com
 
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sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Pai Nosso

Em 02/01/99

 

         Deus meu, bom é poder chamá-lo Pai. Sei que há muitos que não conseguem fazê-lo, ou não conseguem imaginá-lo Pai; obrigado porque a nós o Senhor assim Se revelou.

         Pai, obrigado

                   porque sua paternidade não nos é imposta, mas oferecida.

                   porque o Senhor não se nos impõe, usando de Seu poder e majestade.

Obrigado

porque na Sua infinitude, o Senhor se revela a nós na condição de um obscuro carpinteiro, sem pompas nem circunstâncias, oferecendo-Se a nós como alguém que deseja nossa submissão pela compreensão de sua Palavra, e não pela força do Seu poder.

 

         O fato de estar nos céus não O coloca mais longe de nós; nossos pecados o fazem muito mais...

         Obrigado porque não despreza aquele que O busca com coração humilde, cônscio da sua própria pequenez e imperfeição, sabendo que nada pode exigir daquele que o criou.

 

         Pai, que todos possam reconhecer o quão diferente é o Senhor de nós.

         Que nossas atitudes, interiores e exteriores, sejam governadas por esse conhecimento, e que até mesmo nossos desejos mais ocultos sejam testemunhos da Sua Santidade.

 

         Pai, ansiamos pelo seu Reino; Reino onde impera a justiça e o sol brilha uniformemente para todos.

         Pai, ansiamos por ver Jesus descer dos céus, com todo poder e glória, para transformar nosso mundo naquilo que nossos esforços jamais conseguirão.

         Pai, que nossas atitudes e pensamentos, e até mesmo nossos desejos, fiquem a serviço do seu Reino:

para antecipá-lo, naquelas pequenas realizações do dia a dia que são testemunhas dele;

para apressá-lo, de modo que aqueles tempos que só o Senhor conhece venham logo sobre este, muitas vezes, vale de lágrimas.

 

         Pai, que a Sua Vontade seja feita...

         E, seguramente, para nós isso não é fácil:

Bom é render graças e cantar louvores quando A vemos na vida do nosso próximo.

Duro é quando Ela bate de frente com a nossa ...

         Pai, que a Sua Vontade seja a nossa vontade. Não pela força, nem pela violência, mas pela grandiosidade do Deus que se torna um de nós, pisando nas mesmas areias nas quais sujamos os pés, abrindo mão, voluntariamente, daquilo que É, para se tornar homem de dores, que soube o que é padecer.

 

         Obrigado pelo pão de cada dia.

         Obrigado porque ele é nosso; portanto, dividi-lo é um imperativo.

         Ensina-nos a sermos gratos por ele.

         Ensina-nos a sermos fiéis mordomos, repartindo com justiça e fidelidade, tanto o pão, quanto o sonho. Mas, por misericórdia, que repartamos ambos igualmente: não nos deixe cair na tentação de considerarmos o espírito mais importante que a carne!

 

         Perdoa-nos.

         Se possível, não como perdoamos, porque somos lentos nessa arte e muitas vezes temos prazer em cultivar a ira, o ódio e o ressentimento contra nosso próximo.

         Mas reconhecemos, Pai, que é justa a parábola e verdadeiro o ensino de que quem muito foi perdoado, muito deve perdoar.

         Portanto, mostra-nos nossas faltas e dá-nos coração humilde para sabermos que, "enquanto o pecado do meu irmão me parece maior que o meu próprio, estou longe de conhecer o tamanho do meu pecado."

 

         Não nos coloque em situações difíceis, que não possamos suportar, ou que possamos fracassar.

Afasta de nós a tentação de vivermos pelos nossos próprios meios, apartados da Sua Palavra e exilados da Sua Vontade.

Afasta de nós a tentação de soltamos nossos demônios interiores e ouvirmos as suas vozes.

Afasta de nós a tentação de considerarmos nosso conhecimento infinitamente maior que o Seu, de modo que passemos a considerar Suas Palavras e Vontade coisas de crianças...

 

         Livra-nos do mal.

         Da violência urbana,

Da violência doméstica,

Da violência institucionalizada e

Da vida sem o Senhor.

 

         Pai, que não nos esqueçamos nunca, e que conduzamos nossas vidas tendo em mente de que:

                   Seu é o Reino

                   Sua é a Glória

                   Seu é o poder

         Hoje, e para todo o sempre.

 

         Amém.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

"E Sereis minhas testemunhas"

Eduardo Ribeiro Mundim

Escrito em 13/05/99

 

         Esse mandamento, um dos últimos que Jesus nos deixou, é tido por muitos como o mais importante, estando sempre agregado ao "ide por todo o mundo". Testemunhar, pois, sempre foi uma preocupação do povo chamado evangélico. E essa noção é sempre ressaltada, tanto a nível da escola bíblica dominical quanto a nível do púlpito. Talvez como conseqüência da esperada conversão, não apenas das idéias, mas das atitudes (a vida do cristão passa a ter um novo referencial ético), e também com a necessidade sentida de fazer-se ímpar frente à sociedade pagã, somos conhecidos, em alguns lugares, pela negativa: crentes são aqueles que NÃO dançam, NÃO fumam, NÃO bebem...

 

         Mas o que é testemunhar?

 

         O que temos a testemunhar?

 

         O Aurélio nos ensina que testemunhar pode ser tanto intransitivo, quanto transitivo direto e/ou indireto. Em todas as regências, alguém testemunha quando declara, ou depõe em um tribunal, fatos que conhece, seja pelo ouvir ou pelo ver. No primeiro caso, ela é dita "auricular"; no segundo, ocular. Como exigência formal em alguns procedimentos legais, alguém pode ser convocado, chamado, para validar certo ato, que somente será válido juridicamente porque foi assistido por outra pessoa; é a testemunha instrumentária. Quem presta depoimento, testemunha sobre aquilo que sabe por conhecimento próprio, ou advindo de terceiros, mas, fundamentalmente, fala daquilo que tem por verdade, segundo sua capacidade interpretativa.

 

         O ministério de Jesus foi bem planejado. Não só seu final, voluntário e não obra do acaso, mas todo o seu desenrolar. Cristo selecionou e reuniu junto a si um grupo de homens, a fim de que fossem instrumentos, testemunhas instrumentárias do que Ele faria/não faria, ensinaria/ordenaria. Não que Seu ensino dependesse da autenticação do grupo. Mas a Sua existência, origem e trabalho históricos necessitavam ser autenticados pelo depoimento de quem havia participado diariamente, intensamente, dos Seus últimos três anos de vida terrena . E que grupo! Um coletor de impostos (e todos duvidavam da honestidade dos publicanos), um ladrão com vocação terrorista (que se tornou traidor), dois irmãos "capitalistas" que exploravam uma empresa pesqueira (seriam eles pobres como sempre imaginamos?)... Jesus tinha uma maneira bem peculiar de acercar-se de pessoas contrastantes, sem fazer distinção entre elas. Um círculo menos íntimo também foi chamado a ser depoente, constituído por mulheres (algumas prostitutas inclusive; ou, ex-prostitutas), outros funcionários da burocracia romana e os mais variados tipos de pecadores confessos, bem como algumas autoridades religiosas judaicas.

 

         Aos apóstolos cabia testificar, comprovar, assegurar:

1.   que aquele Jesus, filho de José e Maria, descendente de Davi, da antiga tribo de Judá, era o Messias, aquele que havia de vir, como predito pelos profetas:
      "Um ramo sairá do tronco de Jessé, um rebento brotará de suas raízes.
      Sobre ele repousará o Espírito de Iahweh, espírito de sabedoria e de inteligência, espírito de conselho e fortaleza, espírito de conhecimento e de temor de Iahweh: no temor de Iahweh estará a sua inspiração.
      Ele não julgará segundo a aparência.
      Ele não dará sentença apenas por ouvir dizer.
      Antes, julgará os fracos com justiça,
com eqüidade pronunciará uma sentença.
      Ele ferirá a terra com o bastão da sua boca
e com o sopro dos seus lábios matará o ímpio.
      A justiça será o cinto dos seus lombos
e a fidelidade, o cinto dos seus rins"
(Is 11.1-5)

2.   que a Sua morte não fora obra das forças políticas, mas deliberadamente planejada e executada, como Ele advertira os incrédulos apóstolos em Lc 18.31-33:
      "...Eis que estamos subindo a Jerusalém e vai cumprir-se tudo o que foi escrito pelos Profetas a respeito do Filho do Homem. De fato, ele será entregue aos gentios, escarnecido, ultrajado, coberto de escarros; depois de o açoitar, eles o matarão".

Também todo o sucedido fora anunciado pelo menos 500 anos antes, como está escrito em Is 53:
      "Mas Iahweh quis feri-lo, submetê-lo a enfermidade." (v 9)
      "Foi maltratado, mas livremente humilhou-se e não abriu a boca...
      Após detenção e julgamento, foi preso."
(V 7,8)

3.   que Sua morte e ressurreição cumpriam um plano urdido por Deus Pai desde a fundação do mundo, tendo ambas um significado único na história da humanidade. No mesmo "IV canto do servo", em Isaías, lemos
      "E no entanto, eram as nossas enfermidades que ele levava sobre si,
as nossas dores que ele carregava...
      Mas ele foi trespassado por causa das nossas transgressões,
esmago em virtude das nossas iniqüidades;
o castigo que havia de trazer-nos a paz, caiu sobre ele,
sim, pelas suas pisaduras fomos curados."
(v  4,5)

e o apóstolo Pedro, no discurso no dia de pentecostes, afirma:
      "Davi... sendo, pois, profeta,... previu e anunciou a ressurreição de Cristo... A esse Jesus Deus o ressuscitou, e disto nós todos somos testemunhas... Saiba, portanto, com certeza, toda a casa de Israel: Deus o constituiu Senhor e Cristo, esse Jesus a quem vós crucificastes" (At 2.29-36)

Paulo, escrevendo à igreja que estava em Corinto, por ele iniciada, alerta:
      "E, se Cristo não ressuscitou, ilusória é a vossa fé; ainda estais nos vossos pecados... Se temos esperança em Cristo tão-somente para esta vida, somos os mais dignos de compaixão de todos os homens." (I Co 15.17-19)

         Enquanto Igreja, somos constituídos sobre o fundamento lançado por Cristo Jesus e seus apóstolos. Temos acesso a Deus pelo sangue da cruz, e vida eterna pela Sua ressurreição. Este é o testemunho básico que eles nos deixaram, por conhecê-lo em primeira mão, e não por ouvir falar. E todo o restante dos cristãos testemunham essa mesma verdade, após tê-la experenciado pessoalmente, de modo íntimo e único (assim como cada ser humano é único em si mesmo), como relatado na carta de Paulo aos romanos: "o próprio Espírito (de Deus) se une ao nosso espírito para testemunhar que somos filhos de Deus" (Rm 8.16). Nosso testemunho é, a rigor, de segunda mão. Mas isso de modo algum lhe tira o valor, pois Jesus já nos autorizou a dá-lo, quando disse a Tomé: "Porque viste, creste. Felizes os que não viram e creram!" (Jo 20.29)

 

         Nos nossos dias é muito popular testemunhar sobre o que Deus tem feito nas nossas vidas. Habitualmente, tal depoimento diz respeito à saúde orgânica/psicológica ou financeira. Ainda que tenha seu valor, não é esse relato para o  qual fomos comissionados; relatos subjetivos, emotivos, muitas vezes bonitos, que carregam em si o vírus de atrair pelos benefícios, e não pela verdade dos fatos. E o próprio Senhor se irritou com esse tipo de atitude, como narra João: "em verdade, em verdade, vos digo: vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos saciastes" (Jo 6.26).Se a nossa declaração se resume nas maravilhas e nos "lucros" que a conversão pode significar, traímos o verdadeiro sentido do Evangelho, ou seja:

 

                   1)"Não há homem justo,

                        não há um sequer,

                  não há quem entenda,

                  não há quem busque a Deus.

                  Todos se transviaram,

                  todos juntos se corromperam;

                  não há quem faça o bem,

                  não há um sequer." (Rm 3.10-12)

 

                   2)"Nisto consiste o amor:

                  não fomos nós que amamos a Deus,

                  mas foi Ele quem nos amou

                  e enviou-nos o Seu Filho

                  como vítima de expiação pelos nossos pecados" (I Jo 4.10)

 

                  3)"Tendo sido, pois, justificados pela fé, estamos em paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo" (Rm 5.1) e "Portanto, não existe mais condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus" (Rm 8.1)

 

         O Evangelho não é um apelo ao nosso conhecimento dito científico. Portanto, Deus e Cristo não precisam provar nada. É um apelo aos nossos sentimentos mais interiores, de natureza puramente "filosófica": ou nos consideramos afastados de Deus ou não; ou aceitamos a morte substitutiva de Cristo na cruz, ou não. Mas não solicetemos provas, pois o apóstolo já nos advertiu: "Deus não tornou louca a sabedoria deste século? Com efeito, visto que o mundo por meio da sabedoria não reconheceu a Deus na sabedoria de Deus, aprouve a Deus pela loucura da pregação salvar aqueles que crêem. Os judeus pedem sinais, e os gregos andam em busca de sabedoria; nós, porém, anunciamos Cristo crucificado, que para os judeus é escândalo, para os gentios é loucura, mas para aqueles que são chamados, tantos judeus quanto gregos, é Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus" (I Co 1.21-23).

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Os excluídos do caminho de Jericó e o infanticídio indígena

Ronaldo Lidório

Erramos ao pensar que decisões são tomadas com base em nossa vontade. Apesar do desejo humano de exercer papel fundamental em nossas escolhas, tal sentimento não é forte o suficiente para gerar e manter iniciativas complexas — muitas vezes nem mesmo as mais simples. 

Decisões são tomadas com base em princípios. Aquilo que cremos e que nos impele a manter uma posição, por mais desconfortável ou improvável que pareça. As decisões mais duradouras são tomadas sob a motivação da Palavra de Deus. 

Lucas nos apresenta quatro personagens distintos no capítulo 10. O necessitado caído ao longo do caminho com feridas e dores era a figura de um judeu, assaltado e inconsciente entre Jerusalém e Jericó. Um sacerdote viajava por este caminho e provavelmente iria cultuar a Deus na sinagoga de Jericó. Possuía em sua bagagem um sermão pronto, usava suas vestes cerimoniais e tinha uma agenda a cumprir. Era seguido por um levita que talvez também caminhasse para Jericó para o mesmo evento cúltico. Se assim fosse poderíamos encontrar em sua bolsa o repertório de cânticos de adoração e palavras de exortação a uma vida mais santa. Talvez até pensasse em expressões poéticas que levassem o povo a buscar ao Senhor com mais intensidade. 

Passava por ali um samaritano. Possuía todos os motivos sociais para fechar os olhos, pois o homem caído era um judeu, intruso em sua terra e opressor do seu povo. Poderia ser esta a oportunidade de vingança, mesmo que silenciosa. Também não cairia bem a um samaritano ajudar um judeu. Mas ele se compadeceu e decidiu ajudar. Não parou puramente pela vontade. Talvez nem tivesse vontade de parar. Parou por seus princípios. Assim ele salvou o ferido, o que nos leva a entender que algumas iniciativas podem transformar vidas. E estas são as iniciativas que devemos buscar ao longo da nossa existência. 

O sacerdote e o levita, absortos pela institucionalização de seus ministérios, esqueceram que pessoas são mais importantes que coisas e compromissos, que uma alma vale mais que o mundo inteiro. Embora tivessem a roupagem e a função sacerdotal e levítica, esqueceram-se da missão e já não choravam pelos homens caídos em caminhos vazios. 

Em 2005, Edson e Márcia Suzuki, co-fundadores da ONG ATINI — Voz pela Vida, atendendo ao apelo dos pais, colaboraram com a retirada de dois bebês da tribo Suruwahá para tratamento apropriado em São Paulo. A retirada dos bebês os liberava do sacrifício por iniciativa da comunidade Suruwahá. Iganani, uma das crianças, chegou a ser deixada na mata para morrer, mas foi resgatada pela mãe, por convencimento da avó. Tititu, a outra criança, quase foi flechada pelo pai, que decidiu levá-la aos brancos à procura de ajuda. A mãe de Iganani desejava, a despeito da prática comunitária de seu grupo, preservar a vida da filha. Os Suzuki, que vivem entre os Suruwahá há vinte anos, contabilizam cerca de 28 casos de infanticídio no grupo. Este fato social (a preservação da vida, por iniciativa indígena, de crianças que seriam sacrificadas na comunidade) abriu um precedente ético e comportamental entre os Suruwahá: quando um povo repensa suas soluções para o sofrimento e as ajusta a práticas mais humanizadoras na cosmovisão do próprio grupo. A ATINI tem sido também promotora da conscientização sobre o direito à vida em cerca de cinqüenta etnias no Brasil através de cartilhas sobre os direitos humanos aplicados ao universo indígena. 

No Brasil convivemos com a injustiça humana todo o tempo: a injustiça do trabalho escravo, do abuso sexual, do infanticídio tolerado, da prostituição forçada, do alcoolismo induzido, dos que não têm nada nem chance de nada ter, nem esperança. Não é preciso olhar muito longe. Basta olhar ao redor. 

Para se envolver é preciso decidir. Decisões tomadas pelos princípios de Deus, que nos movem, não apenas pelo impulso do coração, pois para cada iniciativa há um preço a pagar. 

Que Deus nos guarde de ser uma Igreja de sacerdotes e levitas apressados, com sermões prontos, vestes bem passadas e agenda inflexível. Que o Senhor nos ajude a ser uma Igreja de samaritanos, que tenha olhos abertos, que se arrisque a parar, que pague o preço e tome decisões que transformam.

Leia também o texto Não há morte sem dor; uma visão antropológica sobre a prática do infanticídio indígena no Brasil


Ronaldo Lidório é doutor em antropologia pela Royal London University e organizador de Indígenas do Brasil — avaliando a missão da igreja (Editora Ultimato). Atuou durante 9 anos no norte de Gana, na África, como plantador de igrejas, tradutor bíblico e coordenador de programas sociais nas áreas de saúde e educação.

Reprodução permitida. Mencione a fonte.
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Capturado de http://www.ultimato.com.br/?pg=show_artigos&artigo=1943&secMestre=2042&sec=2053&num_edicao=309&palavra=ind%EDgena#

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A ciência (des) humana, os indígenas e as missões

Isaac Costa de Souza

Introdução
Alguns setores da imprensa e da academia brasileira têm repassado ao país uma imagem extremamente distorcida da problemática dos indígenas no Brasil. Nessa projeção, os missionários evangélicos e os próprios indígenas que se converteram são tratados como peste a ser banida.

Este artigo é uma tentativa de demonstrar quão desvinculadas estão a produção acadêmica e a postura ético-humanitária de boa parte dos pesquisadores que atuam nas áreas indígenas.

1. Ética But Not for All
Em tom de crítica lúdica ao conhecimento lingüístico dos missionários evangélicos, dois pesquisadores intitularam um subcapítulo de um libelo seu de Linguistics not for all (Lingüística não para todos).¹ O rótulo "Ética But Not for All" (Ética, mas não para todos) é uma paródia ao título maroto elaborado pelos referidos acadêmicos. Com isso, pretende-se chamar a atenção para o fato de que bem mais grave do que uma possível limitação em lingüística é o estreitamento em questões de ética.

A sobriedade ética de pessoas como os referidos autores é tão minúscula que um antropólogo, por não gostar do chefe de um posto indígena da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), incitava os Araweté a referir-se à esposa dele usando a expressão "boca de cari" (peixe de abertura bucal indiscretamente diminuta).

Um outro estudioso, orientando do referido pesquisador, exteriorizou meninice semelhante quando escreveu: "os missionários da ALEM (emissários do além?)".² O que parece brincadeira de péssimo gosto revela, na realidade, uma vergonhosa discriminação física e religiosa por parte desses representantes acadêmicos.

Dominique Tilkins Gallois, uma das autoras da expressão marota Linguistics not for all, fez a seguinte acusação: "[...] os funcionários da ADR [Administração Regional, FUNAI], os missionários evangélicos e seus aliados políticos promovem a discórdia entre grupos locais e lideranças."³

Porém, um indígena do povo supostamente vitimado pela atividade disjuntiva dos missionários (e de outros) denunciou a antropóloga Dominique à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da FUNAI como a responsável direta pelos cismas internos de sua comunidade: "Nunca vi uma antropóloga dividir um povo indígena. É a primeira vez que isso acontece no Brasil. Povo Waiãpi, tá dividido: parente com raiva dos parentes. É muito ruim isso. Só problema mesmo" (Kaubi Waiãpi, CPI-FUNAI, 22/11/99:59).

Diante dos fatos, também em depoimento à CPI da FUNAI, Dominique Tilkins Gallois reconsidera sua acusação de que os missionários eram agentes de discórdias: "Quer dizer, divisões, dissensões, disputas são parte da história e da estrutura do povo Waiãpi [...]. Portanto, eu acho que é muito importante considerar que não é a questão das Novas Tribos ou uma e outra que promove uma cisão, uma divisão, uma facção. Estas diferenças existem por história, por natureza, dentro desta e de todas as comunidades indígenas, né? (CPI-FUNAI, 1/12/99:34.)

Ao defender a Missão Novas Tribos do Brasil, a pesquisadora estava, na verdade, tentando se defender. Anteriormente, ela achava que os missionários eram os agentes de divisão; depois percebeu que os indígenas tinham outra opinião: era ela a causadora das dissensões.

A etiqueta lingüística classifica a inverdade (em linguagem mais popular: mentira) de "infração à máxima de qualidade de Grice", que na verdade é composta de uma super máxima que diz: "Trate de fazer uma contribuição que seja verdadeira", e de duas máximas mais específicas que falam: (1) "Não diga o que você acredita ser falso" e (2) "Não diga senão aquilo para que você possa fornecer evidência adequada".4 Por mais superficial que seja, um estudo dos escritos político-ideológicos da antropóloga Dominique logo demonstra que ela padece de um problema crônico: infringe com freqüência, intensamente abusiva e estúpida, a máxima de qualidade de Grice.

2. Critérios acadêmicos em uma quase publicação
No final de 1999, uma professora de uma universidade do Norte do Brasil rejeitou a publicação de um artigo técnico de minha autoria em uma revista da instituição da qual faz parte. Sua justificativa em carta aberta, de abril deste ano, foi que eu era missionário. Por inabilidade político-jurídica, registrou ainda em sua missiva: "[...] opinei pela não aceitação de nenhum dos três textos, independente do valor intrínseco deles".5

Em apoio a essa carta, muitos outros acadêmicos se manifestaram em nome de vários órgãos acadêmicos. Uma professora do Rio de Janeiro, que cursou uma única disciplina comigo em 1984, na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), aproveitou o ensejo e afirmou que fui um "mau aluno" e que duvidava de que eu tivesse me tornado um bom lingüista. Outros dois professores imediatamente se utilizaram desse parecer maldoso para indicarem a incompetência científica dos missionários evangélicos em geral.

Na parte inicial de sua carta, um outro professor asseverou: "As atividades dos missionários das igrejas evangélicas são nocivas para os povos indígenas e para toda a humanidade". No entanto, em manifestação de ambigüidade ideológica própria de alguns segmentos acadêmicos, é ele o primeiro a indicar o caráter preconceituoso da rejeição de meu artigo. Segundo ele, nesse caso houve "limitação da democracia participativa entre intelectuais". Aí denuncia: "Você abriu o flanco para a acusação de 'discriminação'".

3. O símbolo antes de tudo
Anos atrás, o governo brasileiro ameaçou processar um grupo de videomakers que filmou a morte de um indígena sem prestar-lhe assistência médica aparente, em nome de uma reportagem que provasse o descaso do Estado em relação à saúde do aborígene. Com a iminência do processo, a equipe defendeu-se asseverando que (acredite quem quiser) havia prestado socorro longe das câmeras.

Bem antes disso, na região de Altamira, uma antropóloga tentou impedir um médico de ministrar soro antiofídico a um indígena que havia sido picado por uma cobra extremamente peçonhenta. Segundo ela, os silvícolas possuíam ervas apropriadas para o tratamento. Ao perceber que a vítima estava a ponto de expirar, o médico mandou a antropóloga e a antropologia às favas e medicou o paciente à revelia dos argumentos da especialista em ciências humanas. Para arrematar a polêmica, ele asseverou: "Se eu deixar esse indígena morrer em minha presença, sem assisti-lo, serei processado". Não fosse a firmeza do profissional de saúde, a antropóloga sacrificaria o ser indígena real em favor da simbologia por este vivida e representada.

Na ausência do profissional de saúde, filma-se a morte; na sua presença, tenta-se impedir a sua ação.

4. Pesquisas duvidosas
As pesquisas entre o povo Araweté iniciaram em 1982, por meio de um antropólogo. Depois, pelo menos cinco doutoras em lingüística pesquisaram a língua desse povo. Depois de dez anos de insucesso na escola indígena e sem receber auxílio substancial algum dessas estudiosas, a professora do grupo apelou para o autor deste artigo para ajudá-la a melhorar o programa escolar Araweté. Foi constatado que as pesquisas desenvolvidas não contribuíram em nada com o povo. Assim, em três meses (final de 1999 a março de 2000), com base em nosso próprio estudo, elaboramos um alfabeto e confeccionamos material preliminar de alfabetização no idioma indígena. Os materiais de algumas dessas pesquisadoras, aos quais tivemos acesso, padecem de limitação no básico: registro fonético. Por isso, não poderiam mesmo elaborar um alfabeto funcional para o povo indígena.

Certo pesquisador entre os Arara, povo indígena com o qual trabalho, errou em sua dissertação de mestrado e em sua tese de doutorado quase cem por cento de sua transcrição fonética/fonológica. Esse desastroso equívoco o levou a fazer interpretações etnológicas absurdas da cultura dos Arara: imputou-lhes um etnônimo (nome étnico tradicional) baseado em aves psitacídeas (arara vermelha), quando, na verdade, a autodesignação significa apenas "nós inclusivo". Além disso, concedeu status de divindade (não cristã) à alma de um Arara morto, refletindo mais uma análise da cultura ocidental do que da cultura indígena. Com base em parônimos (palavras que apresentam quase a mesma grafia e quase a mesma pronúncia, encerrando significados diferentes), propôs uma bebida alcoólica celeste para essa suposta divindade, revelando profunda inabilidade lingüística. Em neologismos inconseqüentes, criou termos para casamento "geral, primário e secundário" nos processos matrimoniais dos Arara, algo que inexiste na cultura dessa comunidade. Ainda, inventou um desbotamento melânico (perda de cor negra) nos felinos reais, com implicações no mundo metafísico: as onças resultantes das almas de mortos teriam sua ferocidade diminuída à proporção que perdessem a coloração escura, passando pela pintada até chegar à parda suçuarana. Imprudentemente, propôs um esquartejamento espiritual de um defunto masculino em três espectros metafísicos (almas), em que um se originaria na cabeça, outro, nas extremidades (mãos e pernas) e outro, nas vísceras (umbigo) — algo não reconhecido por nenhum Arara. Finalmente, estruturou uma morfologia celestial (de carne e pele rodeada por água), também não identificada pelos indígenas.

Conclusão
Fica patente que, antes de qualquer atividade relacionada à questão indígena deste país, os pesquisadores precisam urgentemente revisitar o que deveria caraterizar seus trabalhos em área indígena: qualidade e ética acadêmica.


Isaac Costa de Souza é missionário entre o povo Arara, do Pará.

fonte: http://www.ultimato.com.br/?pg=show_artigos&artigo=457&secMestre=1380&sec=1401&num_edicao=266&palavra=isaac

Pascal e as Razões do Coração



João Heliofar de Jesus Villar


Quem leu a revista Veja, edição de 18 de junho, encontrou a entrevista do matemático John Allen Paulos, que escreveu o livro Irreligion, para demonstrar que os argumentos clássicos que sustentam a existência de Deus são absolutamente inconsistentes do ponto de vista lógico. Nas respostas dadas nas páginas amarelas, ele garante que se as pessoas gostassem mais de matemática, “pensariam com mais rigor. Isso faria com que pusessem suas crenças em xeque”.

A opinião do matemático é interessante, porque reflete uma concepção comum no meio acadêmico: a de que a fé normalmente é filha da falta de reflexão intelectual mais madura. Houvesse maior rigor lógico no pensamento da massa, a fé tenderia a desaparecer.

Esse ponto de vista de que o crente não pensa com rigor, e só por isso permanece crente, não é incomum no pensamento secular, especialmente na classe culta. Segundo esse paradigma as pessoas acreditam em Deus porque lêem muito pouco. No final das contas a fé decorre de um problema de falta de conhecimento.

A base para essa postura não decorre da irrazoabilidade dos argumentos favoráveis à existência de Deus, todos perfeitamente plausíveis. É que, ainda que razoáveis, esses argumentos não oferecem a prova definitiva que satisfaria um investigador que seguisse rigorosamente o método científico ou o raciocínio lógico.

Mas não vamos nos ocupar disso. A discussão entre ateus e crentes, já observou Donald Miller, está ficando cansativa e há muito deixou de ser sobre Deus e se tornou mais um espetáculo de ostentação onde cada lado procura mostrar que é mais inteligente do que o outro.

A menção ao livro de John Allen Paulos serve apenas de mote para observar que nem o rigor lógico nem o método científico de investigação constituem o instrumento adequado para se buscar a Deus. Talvez a inteligência não seja a ferramenta mais adequada para municiar o explorador que parte nessa aventura de investigação.

É que o objeto de investigação parece não ser um objeto. É alguém que, ao que tudo indica, não está disposto a ser esquadrinhado pela inteligência fria e objetiva, própria da investigação científica. É interessante notar a afirmação de Isaías 45.15 ao Deus que se oculta, o Deus Absconditus. Neste tempo, em que alguns líderes cristãos se sentem tão seduzidos pelo brilho espetacular da inteligência secular, é importante afirmar a impotência dessa ferramenta para perscrutar as coisas de Deus.

O intelecto humano é incapaz de, por si só, encontrar a Deus. Se há alguém por trás da cortina do mundo material, não será descoberto pelos nossos sentidos ou pelo exercício do pensamento lógico.

Na história do pensamento humano quem destacou essa verdade com admirável precisão foi Pascal, destaca Edward Tingley, filósofo canadense, num brilhante artigo publicado na edição da revista Touchstone de junho. Segundo Pascal, “é o coração e não a razão que percebe a Deus”.

Quando Pascal fala no coração não está se referindo simplesmente aos sentimentos, que são trapaceiros e nos enganam freqüentemente, mas à convicção que nasce no âmago do ser, que responde a um anseio muito mais profundo que a simples curiosidade intelectual. Ao contrário do que pensa o matemático citado no início deste artigo, não há como pôr em xeque a crença de quem foi convencido no coração, ainda que essa pessoa seja treinada a “pensar com mais rigor”. O autor de Pensamentos adverte contra dois excessos: “excluir a razão; admitir só a razão”; e ao dizer que “o coração tem razões que a própria razão desconhece” não está afirmando a prevalência dos sentimentos, mas tão-somente estabelecendo que o coração tem o poder de conhecer certas realidades que a razão não pode demonstrar.

Talvez quando Deus usa a boca de Jeremias para afirmar que será encontrado por aqueles que o buscam de todo o coração, esteja querendo afirmar que não pretende ser examinado pela curiosidade intelectual de ninguém. O que ele deseja é relacionamento. E relacionamento só é possível quando há encontro de corações.


João Heliofar de Jesus Villar, 45, é procurador regional da República da 4ª Região (no Rio Grande do Sul) e cristão evangélico.

publicado em http://www.ultimato.com.br/?pg=show_conteudo&util=1&categoria=3&registro=787

terça-feira, 9 de setembro de 2008

A Oração não Respondida

(Tg 4.1-10)

 

Escrito em 16/03/99

 

         Não importando o seu credo, todo ser humano que se confessa religioso usa, de alguma forma e em alguma rotina (em situações ordinárias ou extraordinárias), uma prática que se pode denominar genericamente de oração. Na fé cristã, não se imagina o crescimento espiritual (ou seja, o assemelhar-se gradativamente a Jesus) sem a oração. Nas confissões não cristãs, esse objetivo já não existe (pois Cristo não é o seu centro), ainda que possa existir um semelhante (o fiel deseja tornar-se como imagina que seu deus seja).

 

         Jesus sempre exigiu que seus seguidores orassem. Diversas instâncias do seu ministério foram registradas para que soubéssemos, hoje, a importância e o lugar dessa prática. Lembrando alguns:

1.   certos feitos somente são alcançados com muita oração e jejum (Mt 17.14-20)

2.   há certa atitudes aceitáveis no orar (Mt 6.5-8)

3.   há um modelo de oração (Mt 6.9-15)

4.   orar em circunstâncias de grande tensão/angústia ou de dramas pessoais (Mc 14.32-42)

5.   Deus ouve as orações (Mt 7.7-11)

6.   Deus ouve as orações realizadas no Nome de Jesus (Jo 14.13-14)

 

         Tomando a prece sacerdotal em Jo 17, sem dúvida a maior oração do Senhor registrada, pode-se afirmar que a oração cristã é, sobretudo, um diálogo. Um diálogo estranho, é certo, pois um lado não usa, necessariamente, a mesma linguagem que nós; um diálogo de uma vida inteira, se lembrarmos quantas e quantas vezes os Evangelhos dizem "e se retirou para orar". A prece cristã não é, em nenhuma hipótese:

*      uma troca, para se conseguir o que se deseja

*      uma chantagem, para se obter um fim planejado

*      uma manipulação, para se controlar o mundo em volta

 

         Uma das regras hermenêuticas diz que uma doutrina bíblica não pode ser firmada com o uso de um único texto, sem apoio doutras partes das Escrituras. Um versículo (e o termo quer dizer pequeno verso) que lembramos freqüentemente, e fora de contexto, é Lc 11.9: "... pedi e dar-se-vos-á...". Quem sabe Tiago tinha em mente essa lição de Seu irmão quando escreveu sua carta aos judeus cristãos dispersos no seu tempo...

 

         Faz parte de nossa humanidade caída (e teremos de conviver com isto por toda nossa vida até a única morte que sofreremos) desejos profundamente arraigados no nosso ser, que contrariam os propósitos e desejos do Pai. Tão perigosos que nosso aparelho psíquico os guarda em locais secretos, pois tememos, muitas vezes, as conseqüências de cedermos a eles. Tão atraentes que em muitas ocasiões os acalentamos, secretamente. Tão poderosos que apesar de serem trancafiados no nosso porão psíquico sua influência se faz sentir nas nossas atitudes, muitas vezes sem que nos apercebamos do fato.

 

         A psicologia e a psicanálise esclareceram essa dinâmica, que os autores sagrados conheciam, e nomeavam de modo diverso. Para eles, a questão era "pois a carne tem aspirações contrárias ao espírito e o espírito contrárias à carne. Eles se opõe reciprocamente, de sorte que não fazeis o que quereis" (Gl 5.17). Para as ciências psicológicas atuais, o "fundo do nosso coração" é chamado de "inconsciente", onde guardamos nossa memória. Há fragmentos que, por serem dolorosos/traumatizantes, são guardados "a sete chaves" (o termo técnico é "são recalcados"). Esse recalcado, por ser poderoso e/ou atraente, pode retornar disfarçado, através de sonhos, pensamentos, palavras ou atos.

 

         Nossa conversão, em hipótese nenhuma, anula essa característica humana. Ela nos dá a chance de modificá-la ou de lidar com ela partindo de novas premissas.

 

         "Pedi e dar-se-vos-á", e Tiago alerta "pedis, mas não recebeis, porque pedis mal, com o fim de gastardes nos vossos prazeres", pois "cobiçais e não tendes? Então matais. Buscais com avidez, mas não conseguis obter? Então vos entregais à luta e à guerra" (e Tiago estava falando a cristãos antes do ano 62 a.C...) Usando a gíria profissional, as orações em foco são feitas visando a satisfação pessoal moralmente inadequada (moral do ponto de vista da Revelação, não da sociedade) pois o fruto desse desejo é chamado de "amigo do mundo" e, portanto, "inimigo de Deus". O desejo é tão forte que Tiago usa expressões pesadas: "litigais e fazeis guerra" (em outra versão). É quase como se dissesse "matais para tentar obter o que desejais".

 

         O contraste com o Pai Nosso, a oração modelo, é gritante. Nela somos ensinados a pedir, por ordem hierárquica:

1.   que todos reconheçam a santidade de Deus (v. 9)

2.   que o Reino dEle se instaure na Terra (v. 10a)

3.   que a vontade dEle seja realizada em todo o mundo criado (v. 10b)

4.   que tenhamos o necessário para viver hoje (v. 11)

5.   que nossos pecados sejam perdoados condicionalmente (v. 12)

6.   que fiquemos afastados das situações difíceis e de todo mal (v. 13)

 

         Paulo lembra que "(a caridade) não procura o seu próprio interesse" (I Co 13.5). Por isso, Jesus não recrimina quando alguém solicita um milagre de cura para os outros (Mc 6.53-56), nem para si (Mc 10.46-52), mas rechaça a oração de Tiago e do "discípulo amado", que buscavam honras e glórias para si (Mc 10.35-45).

 

         O que nos motiva a orar?

 

         O que pedimos?

 

         Por que pedimos?

 

         O que podemos aprender sobre nós mesmos a partir de nossas orações e das respostas que temos?

 

         Devemos ser críticos severos de nós mesmos, pois, em última análise, não temos nada a perder. Ou melhor, o que temos de perder é lucro: nossa autoimagem inflacionada na presença do nosso próximo e de Deus. Além do mais, temos a promessa de que "se confessarmos os nossos pecados, ele, que é fiel e justo, perdoará nossos pecados e nos purificará de toda injustiça" (I Jo 1.9).

*      Quando oramos pela salvação de alguém, é por esse alguém ou é por nós? Que motivação egoísta pode (não significa que exista uma) estar nos movendo?

*      Quando intercedemos pelos governantes pensamos nos benefícios que um governo justo traz a toda sociedade ou apenas esperamos obter benefícios?

*      Quando pedimos pela saúde do nosso próximo é nele que pensamos ou na oportunidade de mostrarmos "como nosso deus é poderoso"?

*      Quando rogamos alguma coisa não será por preguiça de correr atrás dela?

 

         Contudo, nossa natureza é complexa o suficiente para termos, dentro de nós mesmos, desejos/sonhos ambíguos e contraditórios. Boas intenções estão, freqüentemente, maculadas por egoísmo. Acredito que devemos orar e discernir bem os propósitos do nosso coração, e aproveitar a oportunidade de expô-los ao Pai, como parte do nosso processo de santificação e crescimento espiritual.

 

         Longe de qualquer um de nós nos constituirmos juízes da oração alheia. Sejamos, unicamente, juízes de nós mesmos e oremos: "Senhor, ensina-nos a orar".