terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Senciência

Senciência é a capacidade de sentir ou perceber, e é um termo da filosofia e da ciência, incluindo o estudo de inteligência artificial. Na filosofia oriental, é uma qualidade metafísica de todas as coisas que merecem respeito e cuidado. O termo difere de outras características da mente e da consciência, como criatividade, sapiência, inteligência, autopercepção e intencionalidade. Alguns filósofos defendem que este aspecto da consciência, por sua subjetividade, é o único que não pode ser cientificamente compreendido.

Quando aplicado aos direitos dos animais, o termo descreve a capacidade de sentir dor e prazer. A partir do momento em que um ser vivo é capaz de experimentar, mesmo que sem consciência, dor e prazer, passa a vigorar a questão da justiça e eticidade de infligir dor desnecessariamente a eles. Ainda que a extensão que a senciência confere de direitos entre os diversos animais seja discutível, alguns filósofos propõe que a questão básica de direitos não é a razão ou a fala, mas a possibilidade de sofrer.

Peter Singer aponta que considerar antiético o sofrimento de humanos em situações especiais (como os comatosos, por exemplo) e considerar ético o sofrimento de animais (por exemplo, no abatedouro) é incongruente, é falacioso. A única razão para esta distinção seria a seleção da espécie animal, unicamente baseada no poder de cada uma (especismo). Segundo outro, o único direito que todos os seres sencientes, humanos e não-humanos, têm é o de não serem tratados como propriedade.

fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Sentience

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associação vegetariana cristã

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Homossexuais e solteiros podem usar das técnicas de reprodução assistida?

Eduardo Ribeiro Mundim

 O Conselho Federal de Medicina emitiu uma resolução recentemente revendo as normas éticas para a reprodução assistida. Reprodução assistida é o termo que descreve quando um casal necessita da intervenção médica para uma gravidez. Há diversas questões éticas envolvidas, e nenhuma delas é simples. Para citar, a popular "barriga de aluguel" e a possibilidade dos pais "montarem" o filho, escolhendo a cor da pele, dos olhos, etc. Esta resolução causou maior impacto a partir do momento em que diz ser ético, para o Conselho Federal de Medicina (a única instância legalmente capaz de dizer o que é ético dentro do exercício da medicina), que casais homossexuais e solteiros se beneficiem desta prática. E segundo o próprio presidente do Conselho, a resolução atende a uma demanda da sociedade (cf Jornal Medicina, dez/2010, pg 7).

Alguns políticos pensam em anular a Resolução através de um decreto legislativo. Tomei conhecimento do fato através de uma pessoa que trabalha como assessor parlamentar. Privadamente, encaminhei o texto abaixo a diversas pessoas. Agora o faço publicamente.

10 Razões para deixar em paz a Resolução CFM 1957/2010

1. o CFM normatiza exclusivamente a atuação profissional do médico. Suas resoluções e demais documentos oficiais não afetam nenhum brasileiro, diretamente, que não seja bacharel em medicina e registrado em uma das regionais estaduais. As resoluções também descrevem aquilo que os conselhos regionais e o federal considerarão ético e não-ético na atuação profissional do médico. A resolução sobre reprodução assistida dispõe que é considerada ética o uso das técnicas de reprodução assistida nos moldes por ela estabelecida. Ela não obriga os médicos a tratarem solteiros ou homossexuais, mas explicita que os conselhos não veem impedimento de natureza ética. Tal fato já assinala que a disposição política dos conselhos irá  nesta direção, mesmo que ocorra algum impedimento legal temporário! Anulá-la não impedirá que solteiros e homossexuais procurem auxílio médico para reprodução assistida, porque não é ilegal! (certamente para solteiros e com muita disputa jurídica - e diferentes decisões - para os homossexuais).

2. a resolução, até prova em contrário, não viola nenhuma lei brasileira. Caso o fizesse, o caminho seria o questionamento jurídico. Se o caminho proposto não é este, entendo que a legalidade é aceita.

3. portanto vamos nos indispor, enquanto evangélicos, com o CFM, criando empecilhos no lugar de buscar diálogo? Desculpem-me a rudeza, mas não aprendemos nada com a experiência junto ao CFP???

4. chamado ao confronto, via decreto legislativo, o CFM ficará inerte, vendo sua competência legal e exclusiva, pois é o que diz nossa lei, ser invadida? Alguém considera chance de vitória a longo prazo?

5. exatamente o que esperamos ganhar com este movimento? simpatia da população em geral? respeito do CFM? Angustia-me profundamente o fato que está sendo escrito no inconsciente coletivo: crente não gosta de homossexuais e faz de tudo para prejudicá-los. Existirá outra possibilidade de leitura por parte da população em geral???

6. aliás, se este movimento for à frente, qual será o preço político que a assim chamada "bancada evangélica" pagará? os acordos para a aprovação de tal decreto nos seriam contados? de que conchavos seríamos cúmplices?

7. Jesus foi claro ao dizer que seríamos conhecidos como seus discípulos pelo amor mútuo. Esta é uma demonstração de amor ao próximo? As explicações para demonstrar amor seriam tantas que tal amor deixaria de ser reconhecido como tal...

8. as normas do Reino são válidas para aqueles que confessam Jesus como Senhor, e só! Elas não afetam os não cristãos. É verdade que eles fariam muito bem em segui-las livremente, mas impô-las por decreto legal não é, na minha opinião, proclamação do Evangelho, testemunho da sua capacidade de modificar vidas nem ordem dada por Ele (todas as vezes em que a Igreja se aliou com o Estado, Satanás nadou de braçada - não nos esqueçamos disto!!!)

9. por questão de coerência, o mesmo decreto legislativo, ou qualquer outra atitude jurídica, deveria impedir a adoção de crianças por solteiros e homossexuais. Como ficaria a fila de adoção? Quantas crianças estariam condenadas aos abrigos oficiais sem a chance de construírem laços familiares com alguém?

10. nosso suposto apego à "defesa da vida", como no caso do aborto, se tornaria então uma farsa. Explico: se dizemos que parto prematuro de uma criança anencéfala é assassinato, ou o aborto de uma mulher vítima de estupro, e que estas mulheres têm de suportar a dor de dar à luz com este histórico, estaremos impedindo novas vidas porque não vale à pena viver com um pai/mãe solteira, ou homossexual??

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

direitos de animais

Eduardo Ribeiro Mundim

Desejo retomar o ponto do artigo de João Pereira Coutinho, sumariado em publicação anterior neste blog (os animais têm direitos?), que mereceu um comentário pertinente.

"Os animais não tem direitos. Porque os animais não têm deveres. "Direitos" e "deveres" são concepções e imperativos humanos, criados pela nossa específica superioridade enquanto homens, enquanto seres racionais".

O ponto de partida do autor não é um bíblico, em última análise, pois a partir das Escrituras "direitos" e "deveres" são pontos outorgados pelo Criador às Suas criaturas. Portanto, vou pensar sua afirmativa a partir do seu próprio ponto de vista.

Direitos somente existem quando atrelados a deveres? Acredito que sim.

A capacidade de conceituar, que depende da capacidade de linguagem estruturada, é privativa, até prova em contrário, do animal humano. Desta forma, a ideia de que os termos "direitos" e "deveres" são criação nossa é sensata. A igualdade entre todos os animais humanos obriga a parceria direito/dever, pois aquele que estiver desacompanhado do outro desequilibra a relação entre os humanos. Estes, enquanto espécie, são iguais entre si, ainda que particularidades mais diversas atribuam a cada um singularidade. É perfeitamente aceitável, do ponto de vista lógico, que a superioridade do animal humano sobre os não-humanos, que é incontestável a partir da criação da cultura, desemboque na atitude de tirania e opressão daquele sobre estes.

Mas este não é o único caminho lógico, porque uma visão mais abrangente, ecológica, estipula uma dependência mútua, direta e indireta.

Também a visão materialista do animal humano, derivada da teoria da evolução, dá a ele a capacidade de criar culturas unicamente pelo acaso (e não por vontade de um Criador), sendo a chave do seu sucesso enquanto espécie a capacidade de cooperação mútua em bases racionais - capacidade única na natureza (até prova em contrário).

Estes dois fatos, a necessidade de cooperação mútua para a sobrevivência enquanto espécie e o acaso de sua posição zoológica, formam a matriz da humildade com a qual o animal humano deveria olhar a si e ao mundo que o cerca.

O necessário equilíbrio do poder, fato que esta espécie animal, apesar de milênios de existência teima em não aprender até hoje, sugere a necessidade de benevolência em direção aos não-humanos, e a aceitar o fato deles terem o direito natural de existir porque a negação do mesmo atenta contra a humildade ditada pelo acaso e pela fragilidade individual do animal humano. Esta é uma evolução, e não a única, do ponto de vista expresso pelo colunista.

As crianças de tenra idade, e as pessoas vitimadas por doenças/acidentes que as privem do exercício do raciocínio não perderiam, necessariamente, seus direitos pelo fato de não poderem cumprir seus deveres. As duas situações são exceções estatísticas, e se são tratadas de uma forma por Peter Singer, esta não é a única alternativa a partir das colocações materialistas de João Pereira Coutinho. Pode ser argumentado que o "princípio da cooperação", auxiliado pelo fato da singularidade de cada animal humano, obriga a proteção daqueles desvalidos ou em situação de risco - fato que diferencia o animal humano da norma dos não-humanos, sem comprometer a sobrevivência da espécie. O reconhecimento deste dever, cuidar dos desvalidos que não podem cumprir com seus próprios deveres, é fermento de longo prazo para a manutenção da espécie humana, em contraponto a sua milenar tendência de autodestruição (incapaz de extingui-la, até agora).

Pessoalmente adoto outros óculos para entender a criação - as Escrituras cristãs. As linhas acima são um exercício de se raciocinar partindo de pressupostos que não sejam os meus. Acredito que ouvir novas ideias e avaliar suas repercussões, positivas e negativas, um exercício necessário, não só acadêmico, mas como modo de construir pontes em uma área tão minada como a da bioética, entre outras.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Crer também é biológico

Quando me perguntam por que é que sou crente, a minha primeira resposta é porque fui educado na fé e porque as minhas próprias investigações me levaram a aceitar como verdadeiro aquilo que meus pais e educadores me ensinaram. Há muito que entendo que o homem crê porque pensa e que é tão natural ao homem pensar como crer. Começo também a admitir que o homem é crente porque a própria biologia o leva a ser.

A Neurobiologia têm desenvolvido um ramo do conhecimento muito interessante a que se dá o nome de Bioteologia ou Neuroteologia.

A Neuroteologia dedica-se a analisar as relações entre a actividade espiritual e religiosa e a actividade cerebral. E vem concluindo que algumas partes do cérebro só entram em actividade quando o homem reza ou faz meditação profunda.

Tais dados científicos levantam, naturalmente, perguntas importantes: são essas zonas cerebrais que levam o homem a ser religioso ou foi o sentimento religioso que levou ao desenvolvimento dessas zonas cerebrais?

Por outro lado, sabendo que a evolução tende a eliminar o que, no corpo, é inútil e acessório, por que razão manteve no cérebro uma zona específica para a religião?

Existe consenso generalizado entre os cientistas sobre o bem que a religião faz à saúde. Recentemente, o ateu Stephen L. Hauser, presidente do Comité de Bioética do presidente Barack Obama, em entrevista ao jornal espanhol La Guardia, acentuava a importância da prática religiosa para se viver com optimismo. O optimismo produz endomorfinas que fortificam o sistema imunológico e diminuem a percepção da dor, levando, pois, a uma qualidade de vida muito melhor. Daqui se deduz que o corpo humano está estruturalmente preparado para a experiência religiosa e que a religião, ao mesmo tempo, traz benefícios ao homem e à vida em sociedade.

A Organização Mundial de Saúde advertiu que o século XXI será dominado pelas doenças mentais. Convém perguntar, ao menos, se tal fenómeno não terá relação com o ambiente de hostilidade, sobretudo no Ocidente, para com a fé religiosa. Não estará o homem a dar cabo de si próprio, mesmo biologicamente falando, quando abandona a fé em Deus?

fonte: http://www.diariodominho.pt/conteudo/41903/Crer%20tamb%C3%A9m%20%C3%A9%20biol%C3%B3gico 

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Os animais têm direitos?

O direito dos animais é tema bioético e frequentemente associado com o filósofo utilitarista (e habitualmente o termo técnico "utilitarista" tem conotação pejorativa) Paul Singer. Na sua coluna semanal na Folha de São Paulo, João Pereira Coutinho nos brinda com algumas considerações, no dia 11/01/11 (artigo na íntegra disponível apenas para assinantes da Folha ou da UOL):

"Os animais não têm direitos. Porque os animais não têm deveres. "Direitos" e "deveres" são concepções e imperativos humanos, criados pela nossa específica superioridade enquanto homens, enquanto seres racionais.
 
Só nós temos direitos. Só nós temos deveres. Só nós somos capazes de os formular e articular e de viver em sociedades politicamente organizadas onde existe o poder necessário para proteger e aplicar esses direitos e deveres.

Temos o direito de não ser arbitrariamente perseguidos ou mortos. Temos o dever de não perseguir ou matar. Mas também temos o dever de não torturar um animal para gáudio das massas.

...nós, como humanos, temos deveres para com eles. As touradas são uma forma de degradação, não apenas para os animais, mas, antes de tudo, para nós. Elas suspendem a nossa singularidade como seres racionais e compassivos."

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Desigrejados, desviados e evangélicos não praticantes

Danilo Fernandes


Em agosto de 2010, eu decidi coletar dados capazes de sustentar uma abordagem quantitativa de algumas questões apoquentando os que pensam nos rumos da Igreja. Nesta mesma época, a revista Cristianismo Hoje tinha na pauta este ARTIGO mirando a questão dos cansados de igreja. Pensei: Vou botar números em algumas destas questões.
Postei no site um questionário de pesquisa usando a ferramenta On-Line Survey Monkey. Em uma segunda fase, fiz uso do cadastro de 1,2 milhão e-mails de cristãos evangélicos que possuo, produzi uma amostra e enviei questionários com perguntas abertas e fechadas envolvendo temas relativos a fé e a religião. Os resultados trouxeram nada menos do que surpresas atrás de surpresas com material para muitos posts. Este é o primeiro.

Genizah: Um site de hereges de desviados?

Definitivamente não. Em termos numéricos absolutos tem muito desviado por aqui, risos. Afinal, o Genizah tem tráfego oscilando entre 8,8 – 14,8 mil pessoas por dia, mas em termos relativos a coisa não é bem assim! Um alívio (sem querer ofender os desviados) afinal, os colaboradores do site são na sua maioria esmagadora pastores, líderes, missionários, etc... Iria ficar mal pra gente, risos.
Para começar 88,5% dos respondentes se declaram membros batizados de uma denominação cristã. Para agravar nossa beatitude, 31,25% dos leitores – ver gráfico a seguir – se identificaram com a opção “FAMILIARES ECLESIA” que separamos para pastores, família pastoral, presbíteros, diáconos e líderes ministeriais.
Conclusão: Genizah é um site muitíssimo lido pela liderança da Igreja. Levando ainda em consideração que 25% dos leitores se dizem professores de Escola Bíblica Dominical e, estamos falando de até 80.000 visitas de professores de EBD por mês, não dá para chamar o Genizah de um site de desviados! Envolvidos e incomodados, sim. Subversivos, muitos. Desviados, dificilmente.
Tirando o Genizah da reta, bem-dito, alguns números saltam aos olhos e confirmam que os fenômenos recentes que formaram os grupos que muitos chamam de desigrejados, decepcionados com a igreja, reorganizados (em comunhão heterodoxa) e, claro, desviados se revelam todos mais do que estatisticamente consideráveis. São números muito representativos e deveriam estimular acadêmicos a realizarem uma pesquisa comme il faut.

Os Assembleianos, considerando todos os ministérios e divisões são o grupo que mais frenquenta o Genizah. Em seguida, os Batistas.
Em determinada questão do instrumento de coleta de dados pedimos para as pessoas marcarem a alternativa que melhor descreveria o formato de sua comunhão principal. Uma das opções disponíveis oferecia possibilidades, entre outras: membro de células, igreja em casa e comunidades. 12,5% das pessoas marcaram esta opção. Eu considerei o percentual bem alto. Não esperava que tanta gente tivesse este tipo de comunhão, primariamente. Devo admitir que há um viés na questão. Embora a formulação da pergunta fizesse uma ressalva entre opções “membros de uma igreja tradicional que tenha células ou grupos pequenos” e “igreja em células”, há a possibilidade de alguns terem se equivocado na sua resposta. Ainda assim, é alto o percentual dos internautas que tem a sua comunhão principal em um arranjo heterodoxo (célula, grupos em casa, formações alternativas, etc.). Deixando claro que o heterodoxo não carrega nenhum preconceito ou crítica, mas tão somente qualifica o que é não é ortodoxo (igreja tradicional).
Os afastados da igreja

Apesar de relevante, o achado anterior só serve para dar peso a uma descoberta ainda mais importante: O alto percentual dos que marcaram a opção “AFASTADO”. Afinal, fica estabelecido que os 7,25% dos respondentes que assim se identificam estão de fato afastados de qualquer tipo de comunhão. São crentes, mas estão afastados da igreja denominacional, seja em que formato ou arranjo for. Ortodoxo ou heterodoxo. Seria uma gente cansada de tudo que lembra uma igreja? Gente ferida pelo corpo institucional? Gente massacrada ou decepcionada com doutrinas? Vítimas da religião? As opções são muitas, contudo repito: São todos crentes. Ainda seguem com Cristo.
Na nossa pesquisa por e-mail com amostra na base dos 1,2 milhão de e-mails buscamos o reforço para este percentual de AFASTADOS. Obtivemos um resultado oferecendo uma boa consistência ao percentual já estimado, mas como disse antes, são muitos os fatores enfraquecendo a metodologia. A amostragem e o método de coleta, entre os principais. Considere que um grande percentual de evangélicos não tem acesso à internet, por exemplo. Contudo, apesar das limitações, temos aqui é um bom termômetro e, o único disponível.

Genizah é um site de líderes.


Agora, imagine se este mesmo percentual  de afastados se aplicar a massa dos que se declaram evangélicos no país? Seriam milhões. Temos um sinal de alerta, e dos grandes, de que há algo ferindo gravemente o corpo e é tempo de despertar para a questão.
E o que dizer dos 1,25% que se declaram “SEM RELIGIÃO”? O que fazem estas pessoas em tão grande número (150 por dia!) em um site de evangélicos? E mais, os 7,25% “AFASTADOS”, o que fazem em um site de apologética? Estamos falando de um grupo entre 13.000 e 27.000 pessoas apenas entre os leitores do Genizah!
Claramente, estamos diante de fenômenos interessantes. Por um lado, constatamos percentuais relevantes de AFASTADOS e SEM RELIGIÃO em um site de interesse evangélico, indicando gente cansada de Igreja, mas não de Cristo. Por outro lado, não é nenhum disparate afirmar que um percentual ainda mais significativo de irmãos forme um grupo chamado de EVANGÉLICOS NÃO PRATICANTES, cuja quantificação deve ser objeto de pesquisa específica. Para que o leitor tenha uma ideia, da população de 1,2 milhão de e-mails de cristãos de nossa base, a amostra retornou 2,1% de respondentes declarando que são evangélicos, mas não tem comunhão em igreja por 12 meses ou mais. A seguir, as razões principais declaradas, segundo o tipo de pergunta formulada.
Em resposta fechada (múltipla escolha previamente definida): 
- Cansei de dar dinheiro e ser enganado por falsas promessas.
Resposta aberta (respondente marca a opção “OUTROS” e declara a sua razão livremente):
- Tenho vergonha do que os outros evangélicos andam fazendo (na TV, no rádio, na Igreja XYZ, nos negócios, na política, etc.); ou algo equivalente.

Definitivamente, em nosso esforço, apenas testamos com um dedinho a temperatura do corpo. É tão somente um vislumbre de diagnóstico, mas assusta. Se relevarmos a precariedade do exame, podemos dizer que estamos diante da estatística do tecido machucado pelo próprio corpo. Quase nove para cada cem! É o tamanho da cicatriz no corpo da Igreja. Estes são os amputados.
Quantos serão os mortos? Aqueles que nem sequer buscam crescimento, conhecimento da Palavra, refrigério, informação sobre rumos mais seguros. Quantos nem mesmo buscam algum tipo de comunhão em sites e redes sociais de evangélicos? Os que perderam a fé?
Os hoje feridos de morte? Os para sempre NÃO PRATICANTES? Todos são vítimas das práticas predatórias de uma porção cada vez mais significativa da igreja onde as ovelhas são cuidadas por lobos. Estes irmãos feridos e afastados hoje estão vivendo a mornidão da sua fé.


Almas sobre as quais iremos dar conta um dia. Estamos desafiando um Deus Santo!
Há algum consolo? Claro que há. Ao menos 4,7% declararam que deixaram a Igreja (não tendo adotado nenhum outro modelo de comunhão), contudo não desistiram de Jesus.
E mais: Se considerarmos as respostas destes irmãos (AFASTADOS, DESVIADOS, ETC.) não seria de se perguntar o que fazem eles, em tão grande número, em um site cristão? Eu quero crer que mesmo contra as suas declarações, o AMOR por Jesus está presente, mesmo no caso dos que se declaram ateus. O que há nestes casos é uma grande ferida que precisa de bálsamo.
Os sites e blogs apologéticos apontam as feridas da Igreja, os absurdos. Contudo, também tratam da Glória de Deus. E também de teologia, evangelismo, missões, prática cristã, humor cristão e muito mais. São todos assuntos que interessam a quem está na Igreja e a quem não está, mas ama a Cristo. E, vendo por este lado, faz até muito sentido que os irmãos que estão feridos sintam-se atraídos por sites que tratam das “armadilhas” da Igreja moderna de forma direta e sem hipocrisia. Os sites apologéticos tratam dos bandidos e de suas armas, que um dia foram usadas para ferir estes irmãos. Rever o processo do engano e perceber que há o “lado A” deste disco horripilante é consolo e incentivo.
Os blogs e sites apologéticos cresceram muito nestes dois últimos anos, na proporção do aumento dos feridos nesta guerra entre a sã doutrina e a heresia. Contudo, ao contrário de reafirmar a decepção e aumentar a ferida, o que vemos, e constatamos, na pesquisa por e-mail, é que os blogs apologéticos têm ajudado na cura das pessoas. Muitos buscaram outras denominações (com doutrina mais ortodoxa fundamentada na Palavra) ou mesmo igrejas em suas denominações atuais onde a Palavra é o centro e não há lugar para o espetáculo e a profetada. Enfim, onde não se coloca na boca de Deus promessas que nunca foram feitas. Desta forma, muitos irmãos voltam à comunhão.
Os blogs apologéticos servem para expor a ferida, rir da ferida (no nosso caso em especial), indicar o que é bom. Muitos irmãos decepcionados achavam que Igreja era aquilo que viviam no G12, MIR12, na fogueira santa de Israel, nas doutrinas de apóstolos empresários, nos moveres e atos proféticos, nas sementes e unções financeiras, e outros negócios gospel.
Outros tantos entenderam que não foi a sua vida de pecado, ou sua falta de fé que os relegaram a uma vida de decepção e ausência de conquistas. Pode-se dizer, os blogs apologéticos funcionam como vacina, inoculam a praga para propiciar a benção bereana. No primeiro momento o irmão machucado entra, sente raiva do que vê, responde com um chavão do tipo “não toque no ungido”, mas lê. Com o tempo entende o sentido de tudo. Abre os olhos (alguns nos esculacham bastante antes, claro. Risos).

Se alguns irmãos após um período sabático retornam à igreja, desta vez em busca de uma comunhão mais sadia, muitos outros seguem afastados e inalcançados.
Há muito a perguntar. Eu perguntei algumas coisas. Enviei e-mail para alguns respondentes (nestes casos, já sem valor estatístico) deste grupo de irmãos desigrejados.

Mas afinal, quem são os desigrejados?
Desigrejado não é desviado. O desigrejado se afastou do modelo ortodoxo de comunhão (igreja denominacional) e não aderiu a nenhum outro modelo heterodoxo, seja células, igreja em casa, ou ainda comunidades e novos modelos (tipo aqueles que estão reinventando o modelo tradicional de Igreja, depois de tê-lo desconstruído, risos.). O desigrejado tão pouco se desviou de Cristo, tão somente de sua comunidade, não aderindo a nenhuma outra.
E os desviados?
O desviado simplesmente desviou-se da fé. Pode-se presumir que os irmãos que se declaram SEM RELIGIÃO sejam desviados, afinal estão em um site cristão, mas isto não é certo. A maioria dos desviados, seja por feridas adquiridas na igreja, decisão própria ou qualquer outro motivo, está longe da comunhão e, quase certamente, não buscam mídias eletivas de conteúdo cristão.
Na prática, o desigrejado poderia seguir imitando a Cristo, portando sendo cristão, não fosse um pequeno detalhe, risos: Como ser cristão sem o “outro”? Sem a comunhão?  Sem o culto ao Pai, o louvor? O discipulado? Creio ser muito difícil, mas a questão é nevrálgica. Obvia para mim, mas não para todos. Deixemos o tema para outra oportunidade. O que nos interessa é tentar lançar bases para outros esforços. Penso que devemos olhar esta multidão de irmãos afastados da comunhão, a maioria esfriando na fé (feridos, machucados) e, no entanto, buscando a Cristo e algum tipo de comunhão, em sites e blogs apologéticos como uma oportunidade de:
• Reflexão sobre erros cometidos no apascentar das ovelhas, se somos líderes, pastores, bispos, etc.
Consideração destas doutrinas antropocêntricas, em especial a confissão positiva, que é maligna, pois é uma fábrica de desilusões, desvia a atenção da Cruz para causas mundanas e ainda transforma questões normais da vida em sentimento de inadequação sério, ou desilusão com o Espiritual.
• Reflexão sobre a forma como orientamos o ambiente da comunidade, em especial, se incentivamos o amor entre os membros ou a competitividade.
Consideração sobre as bases na Palavra que estão sendo dadas aos membros, sem as quais os mesmos ficam sujeitos a ventos de doutrinam ou a fraqueza na tribulação, pois desconhecem as promessas que podem lhes confortar.
• Repensar os modelos de comunhão à luz da tecnologia de informação.
Pensar no papel crucial da Escola Bíblica Dominical. Seria este o ministério mais importante da sua comunidade, ou a EBD perde fácil em popularidade para o ministério da cantina, do louvor, social, etc.?
• Reflexão e planejamento na direção de trazer estes irmãos para a comunhão.
Reflexão sobre o caráter profético da nossa missão na internet cristã, lembrando que devemos sempre de nos manter no espirito de Jeremias 1:
Olha, ponho-te neste dia sobre as nações, e sobre os reinos, para arrancares, e para derrubares, e para destruíres, e para arruinares; e também para edificares e para plantares.
- Tudo com muita urgência.

fonte: http://www.genizahvirtual.com/2010/12/desigrejados-desviados-e-evangelicos.html