domingo, 30 de setembro de 2012

Sobre ser cristão e profissional

Fwd: Comunicado CPPC - Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos

Cristãos, Psicólogos/Psiquiatras
: nossa autodefinição


Ultimamente temos sido perguntados com mais frequência sobre como nos definir e nos apresentar enquanto profissionais psi e também cristãos. Visando um melhor esclarecimento, a Diretoria Nacional do CPPC reuniu-se e preparou este documento:


Prezados profissionais membros do CPPC,


No CPPC temos aprendido a conjugar e fazer conviver ciência psi com a fé cristã há mais de 30 anos, e estamos convictos de que, apesar de tensões que aparecem, não é necessário e não é bom subordinar uma à outra. Em nossa declaração de fé consta que cremos que tanto a verdade revelada quanto a verdade científica vêm de Deus. Assim entendemos que a Ciência da Psicologia e da Psiquiatria tem direito a existir como tal, e a Fé Cristã também tem o direito de existir como tal. Então, quando um cristão como nós se dedica à prática profissional da psicologia ou psiquiatria, o que ele faz será boa ciência, boa psicologia/psiquiatria; ele não criará uma "psicologia cristã" ou "psiquiatria cristã", mas será um bom cristão e um bom psicólogo/psiquiatra.


Para exemplificar: nós não recomendamos utilizar o tempo e o espaço de uma sessão terapêutica para orações, estudos bíblicos, apelos, profecias, imposição de mãos e outras práticas comuns nas igrejas. Inclusive porque o evangelho nós recebemos de graça, e a psicologia/psiquiatria foi uma formação profissional que cursamos, da qual tiramos o sustento para a vida. Outro motivo para não fazê-lo é que a posição de psicoterapeuta já é por si só uma posição de poder na relação; mesclá-la com um atendimento "em nome de Deus" iria levar o terapeuta a assumir uma posição por demais empoderada, que tende a fazer mais mal do que bem para o paciente. Nos casos em que houver questões espirituais a serem tratadas, achamos melhor propor, caso o paciente concorde, que ele procure um pastor, um padre, ou uma igreja para tratar de sua "sede espiritual".


Isso não quer dizer que não sejamos cristãos: Amamos nossos pacientes, colegas de ONGs ou alunos, oramos a Deus por eles, pedimos ao Senhor que nos ajude em nosso trabalho psicológico. Mas no contato profissional nos esmeramos no exercício da psicologia/psiquiatria, em manejar bem os conceitos, técnicas, intervenções, sintomas, significados, transferências, medicações, campanhas, cada um de acordo com sua linha de formação e atuação.


Escrevemos isso para ilustrar porque acreditamos que não é adequado falar que praticamos "Psicologia Cristã/Psiquiatria Cristã", como se fosse uma ciência diferente da que aprendemos nas universidades. Não é. O diferencial nesse caso somos nós, as pessoas que a praticam – nós é que somos cristãos. Mas mesmo como cristãos, somos profissionais da área da saúde, onde praticamos a Psicologia/Psiquiatria, sem adjetivos. Sei que alguns irmãos e irmãs se apresentam de modo diferente, mas não concordamos com essa postura.


A própria Bíblia nos orienta, como em 1Pe 2.11-17, a "manter vosso procedimento exemplar no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação," e também recomenda o respeito às autoridades legalmente constituídas.


Nesse sentido, ao mesmo tempo em que pertencemos a uma associação de psicólogos e psiquiatras cristãos, não procuramos utilizar nossa fé como arma em conflitos. Quanto às questões que envolvem psicologia/psiquiatria e fé, não nos furtamos ao diálogo acadêmico e científico: transformamos estas questões em pesquisas, dissertações e teses, escrita de artigos e livros, participação em fóruns de debate, cursos, palestras e aulas em diálogos interdisciplinares. Sem preconceito nem contra nem a favor, promovemos encontros, congressos, simpósios e debates, atuamos em ONGs, na saúde pública, em campanhas educativas, participamos de esforços de socorrismo. Os resultados destes esforços respaldam nosso diálogo com os conselhos profissionais e ambientes acadêmicos, como por exemplo, a respeito da importância da fé para a saúde, que não pode ser negligenciada.


Ao longo de tantos anos, o Senhor tem nos ajudado a crescer e discernir melhor essa relação. Ainda temos mais coisas a aprender, mas quanto à auto-denominação, nós sugerimos apresentar-nos primeiramente como profissionais. É verdade que somos psicólogos/psiquiatras e somos cristãos, assim como podemos também dizer que somos casados ou solteiros, pai/mãe de filhos, etc., e não estará errado se nos apresentarmos assim. Mas observem que a recomendação bíblica é para que sejam vistas nossas boas práticas (obras), não palavras, argumentos ou bordões.


Sabemos que dependemos de Deus para todas as áreas de nossa vida, e cremos não só que Ele existe, mas também que é bom para todos os que dele se aproximam. Que nosso bom Deus, portanto, nos ajude a sermos bons profissionais neste mundo caótico, trazendo assim bom testemunho da sua bondade onde estivermos!


Diretoria Nacional do CPPC, 01 de março/2012.

fonte: http://www.cppc.org.br/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=373

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Na cadeia, máfia de evangélicos denunciada por tortura, cobrança de dízimo e ameaça Leia Mais em: http://www.genizahvirtual.com/2012/09/na-cadeia-mafia-de-evangelicos.html#ixzz27hgLLnV1 Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial Share Alike

Universal do Reino de Deus emitia boletos para serem pagos por familiares, que por sua vez eram cobrados por leões de chácara bombados. Homossexuais eram obrigados a virarem machos na marra, caso contrário, tinham aval para serem estuprados



Dezesseis presos da Ala Evangélica do Centro de Ressocialização de Cuiabá (CRC) foram denunciados, pelo Ministério Público, por tortura, tráfico de influência e extorsão. Outros 3 servidores de todos os níveis da unidade foram identificados na prática do crime de corrupção e serão investigados. Promotor de Justiça responsável pelo caso, Célio Wilson de Oliveira explica que representantes de duas das 3 denominações religiosas que realizam trabalhos junto aos presos estão envolvidos com o esquema.

Os acusados cobravam para que outros presos permanecessem na ala, além de obrigá- los a frequentar cultos. Ficavam com 40% dos alimentos e produtos de higiene levados por familiares e vendiam regalias por meio do pagamento de propina. Uma das “facilidades” oferecida com a conivência e suposta participação dos servidores eram indicações para o trabalho externo.

O esquema, que arrecadava mensalmente cerca de R$ 15 mil, consistia na cobrança de cotas diversas, para motivos estabelecidos pelos líderes das alas. Entre eles a aquisição de televisores, geladeira, a manutenção do prédio e outras reformas. Aqueles que se negavam a pagar eram alvo de retaliações, como a perda do direito a dormir em um dos colchões da unidade, além de sofrerem agressões físicas e ameaças, inclusive de morte.

Em outra frente, 40% de tudo o que os familiares dos presos levavam nas visitas eram recolhidos pelos líderes e vendido aos reeducandos. Dos valores arrecadados, uma parte era destinada aos líderes do esquema. Uma das igrejas, a Universal do Reino de Deus, emitia boletos que deveriam ser pagos por familiares utilizando, inclusive, dinheiro do auxílio-reclusão, benefício concedido pelo Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS) para presos condenados que estavam trabalhando com carteira assinada. Faturas foram apreendidas durante operação realizada na unidade em 13 de abril deste ano.

As igrejas escolhiam como líderes das alas pessoas de porte físico avantajado, que se impunham sobre os outros presos, tudo para garantir o pagamento de dízimo diariamente além de cotas quinzenais. Apenas uma das ações descobertas pelo MP arrecadou mais de R$ 1 mil.

O tipo de reeducando escolhido para liderar a denominação facilitava todo o trabalho de arrecadação. “Se sozinho ele já se impunha perante os outros, formando um grupo coeso e com o apoio ou a conivência da direção da unidade eles se tornaram intocáveis dentro do CRC. Isso impedia qualquer reação dos outros presos”.

Para Oliveira, o domínio de reeducandos nas atividades do CRC, a exemplo do que ocorre em outros presídios, é motivado pela falta de discernimento dos gestores sobre o que deve ficar a cargo dos presos, aliado ao fato de que o Poder Público é omisso quando se trata do sistema prisional. “A concessão de regalias, a conivência com determinadas condutas e a necessidade de pactuar com lideranças nem sempre positivas é uma constante para que seja possível manter um mínimo de tranquilidade.”

O trabalho do Ministério Público foi possibilitado por uma denúncia formal de um familiar de um reeducando, ameaçado pela organização. Após o início das investigações, pais, mães e esposas de presos relataram os problemas. Mãe de um reeducando, que prefere não ser identificada, uma dona de casa conta como tudo começou. “Cheguei um dia para visitar meu filho e toda a alimentação que levei para ele, além de roupas, ficou retido com um ‘líder’. Perguntei para o meu filho e ele explicou que tinha que levar dinheiro para resgatar os produtos. Era o dízimo”.

A mulher conta que quando não conseguia juntar o dinheiro, recebia um boleto para o pagamento durante a semana. O comprovante deveria ser levado na visita seguinte. “Quando não chegava com o dinheiro, meu filho ficava apavorado, porque sabia que ia ser humilhado, maltratado e até agredido ou morto”.

Além do pagamento, a mulher relata que os familiares eram também obrigados a participar dos cultos promovidos nos dias de visitas.

Servidores

A participação dos funcionários, explica o promotor Célio Wilson, ajuda a tornar claro por qual motivo a rede de extorsão atingiu praticamente toda a unidade prisional. Sem a conivência de servidores, era impossível aos evangélicos conseguir atingir a ala conhecida como “contêiner”, uma das melhores, na opinião dos presos.

Além de supostamente corromper os funcionários da unidade - o caso será investigado pela 14ª Promotoria de Justiça Criminal - os líderes do esquema utilizavam da proximidade com a direção da unidade para realizar as indicações. “Eles negociavam as vagas e se valiam da proximidade com a direção da unidade para fazer as indicações, que muitas vezes eram acatadas”.

Quem também era obrigado a seguir as determinações da organização criminosa eram os homossexuais. Matéria de 4 de março denunciava o “leilão” de travestis que eram usados como “moeda” em trocas envolvendo os presos. Na reportagem, o presidente da Organização Não Governamental (ONG) LivreMente, Clóvis Arantes, explicava que os presos da ala evangélica comandavam os leilões dentro do CRC.


Destaca que a violência contra os travestis começa na entrada da unidade prisional, quando são obrigados a raspar a cabeça e abandonar o nome social, adotado, além de utilizar roupas masculinas. “É uma violência simbólica exigida pelos detentos que irão conviver com os travestis e ocorre, principalmente, onde existem as organizações evangélicas”. Aqueles que não aceitam a imposição de reprimir a homossexualidade e decidem manter sua orientação sexual, passam a ser considerados aptos a serem estuprados por outros presos.


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terça-feira, 25 de setembro de 2012

A necessidade de um estado laico

Posted: 2012-09-24 17:39:13 UTC-03:00
Disputa pelo voto evangélico
agita corrida à prefeitura de São Paulo
 Johnny Bernardo

Se no ditado popular "religião e política não se discute", na vida pública a distância entre Estado e Religião deve ser preservada. A teocracia, comum em alguns países árabes, tem como marco principal a interferência - não divina, mas religiosa - no cotidiano das pessoas. A interferência por vezes é caracterizada por imposições doutrinárias, punições aos delitos e perseguição às religiões concorrentes. Nos estados confessionais, apesar de garantida a liberdade de culto aos demais credos religiosos, há primazia e até favorecimento da religião oficial. 

Nos países seculares ou laicos - mesmo que mantida a distância entre religião e Estado – há uma forte influência das organizações religiosas, pondo em risco os limites estabelecidos pelo republicanismo. Estados Unidos e Brasil são dois países onde a religião é tema frequente de debate e disputa política. A formação histórica explica, em parte, a presença da religião na vida política dos norte-americanos – a disputa presidencial entre o "evangélico" Barack Obama e o mórmon Mitt Romney tipifica todo um contexto histórico em que religião e política mesclam-se no debate público.

Apesar de reconhecidamente laico – conquista alcançada com a proclamação da República e a Constituição de 1889 -, o Brasil continua sob forte influência de líderes e grupos religiosos. Nos séculos seguintes, com a explosão do fenômeno pentecostal e neopentecostal – hoje englobando algo em torno de 42,3 milhões de evangélicos, segundo o Censo 2010 do IBGE –, a religião volta a ser tema de debate e especulação política. Em São Paulo e Rio de Janeiro – e também nas demais capitais do Brasil - templos evangélicos são disputados palmo a palmo por candidatos ao paço municipal.

Ausência de laicidade 

Tanto no Brasil como nos Estados Unidos a presença de símbolos religiosos em repartições públicas, ensino religioso pautado de acordo com a religião dominante e a influência de religiosos nas decisões dos governos é um claro indício de fragilidade republicana. A laicidade pressupõe neutralidade em assuntos que dizem respeito unicamente às entidades religiosas, decisão com base no interesse nacional etc.

Apesar de todos os conceitos pré-definidos na cartilha republicana e da luta por um Estado laico, a tendência mundial é a da divisão religiosa. Inevitavelmente o mundo caminha para teocracias, estados confessionais e um crescente fanatismo religioso. São consequências do desenvolvimento tecnológico, do isolamento cada vez maior da humanidade. A religião terá maior espaço nas gerações futuras do que na Antiguidade. (destaque do crerpensar)



Johnny Bernardo é jornalista, pesquisador da religiosidade brasileira e colaborador do Genizah


fonte: http://feedproxy.google.com/~r/Genizah/~3/0ZhkDKHhKVU/a-necessidade-de-um-estado-laico_22.html

domingo, 23 de setembro de 2012

A Verdade Bem Menos Sensacionalista sobre a ‘Esposa’ de Jesus - por Michael J. Kruger

Desde a descoberta dos “Evangelhos Gnósticos” em Nag Hammadi em 1945, estudiosos e o público em geral parece ter inesgotáveis versões alternativas da vida de Jesus. O Evangelho de Tomé, o Evangelho de Pedro, o Evangelho de Maria, e mais recentemente, o Evangelho de Judas, levantaram questões provocativas sobre o Cristianismo. Histórias de Jesus foram intencionalmente omitidas do Novo Testamento? Estas versões alternativas do Cristianismo foram reprimidas (ou oprimidas)? E os evangélicos canônicos realmente nos dão uma descrição fiel de Jesus?

Fragmento encontrado
Justamente quando a poeira baixou depois da descoberta do Evangelho de Judas, uma nova descoberta agora reabriu todas estas questões. Durante meu intervalo de almoço ontem (ironicamente justo antes de eu começar minhas palestras sobre os evangelhos apócrifos), eu recebi a notícia de um novo manuscrito que retrata Jesus como tendo uma esposa. Isso é notável, pois — apesar das afirmações do O Código Da Vinci — nós não possuímos nenhum texto dentro de todo o Cristianismo que diga explicitamente que Jesus era casado.
Este novo manuscrito — apropriadamente intitulado de o Evangelho da Esposa de Jesus — é um fragmento de um códice do quarto século em copta (Sahídico) que em um lugar se lê: “Jesus lhes disse: ‘Minha esposa… ela será apta de ser minha discípula’”. O fragmento é bem pequeno (4 x 8 cm), com escrita desbotada no verso. O texto principal está escrito em uma caligrafia limitada e semialfabetizada. Mais notavelmente, Karen King da Universidade de Harvard sugeriu que ainda que o manuscrito seja do quarto século, a composição original deve ser datada para a metade do segundo século.
Então, o que devemos fazer com esta nova descoberta? Eis aqui diversas considerações.

Autenticidade
A falsificação não é incomum no mercado de antiguidades. Eu não sou um especialista em paleografia copta (minha área são os manuscritos gregos), mas me preocupa a aparição inicial do manuscrito. Em particular, a natureza desleixada da caligrafia do escriba, e as pinceladas largas e indiferenciadas da pena pareceram problemáticas. Além disso, a cor da tinta parece incorreta — é muito escura, quase como se tivesse sido pintada. Tintas antigas tendem a ser mais de cores mais claras, apesar de haver exceções. Este cenário é exacerbado pela ambiguidade sobre o local de sua descoberta e a identidade de seu proprietário anônimo.
Contudo, de acordo com o artigo* disponível de Karen King, este manuscrito foi examinado por Roger Bagnall e AnnMarie Luijendijk, dois estudiosos respeitáveis, e ambos o consideraram autêntico e atribuíram o estranho estilo à pena grossa do escriba. Outras indicações de autenticidade são o uso da nomina sacra (abreviações de certas palavras) e a tinta desbotada no verso da página (algo que teria necessitado de tempo considerável). Mas meu amigo e estudioso copta, Christian Askeland*, é cético quanto à sua autenticidade devido a, entre outras coisas, a estranha formação de algumas de suas letras (em especial o épsilon) e as omissões no texto copta. Outros estudiosos também expressaram ceticismo* sobre o fragmento.
Neste ponto, não há maneira de saber se ele é genuíno ou uma falsificação. Não podemos ter certeza até que mais estudiosos tenham uma oportunidade de examiná-lo.

Composição
Assumindo por um momento que o manuscrito seja genuíno, ainda restam questões sobre sua composição. Primeiramente, com que tipo documento estamos lidando aqui? À primeira vista, o documento parece ser escrito como um texto similar a um evangelho que contem histórias e ditos de Jesus. De fato, Jesus parece estar fazendo o que ele frequentemente faz em outros textos dos evangelhos: ele está tendo uma conversa com seus discípulos. Alguns estudiosos sugeriram que este fragmento pode ser um texto mágico como um amuleto, particularmente devido a seu pequeno tamanho. Contudo, amuletos normalmente não continham escritos no verso da página. Se o escrito no verso deste fragmento for continuação da frente (o que é desconhecido até agora) então ele pode simplesmente ser um códice miniatura. Códices miniaturas eram populares no Cristianismo primitivo e frequentemente continham textos apócrifos. Para mais sobre este assunto, veja meu artigo aqui*.

Outra questão diz respeito à data da história que este fragmento contém. Quando esta história foi composta? King argumenta que ela foi composta em meados do segundo século baseada largamente em nas amplas similaridades com o Evangelho de Tomé e o Evangelho de Filipe, ambos cujos existiram durante este intervalo de tempo. Esta é certamente uma possibilidade, especialmente visto que conhecemos diversos outros evangelhos apócrifos que foram compostos no segundo século (por exemplo, Evangelho de Pedro, P. Egerton 2, P.Oxy. 840). Contudo, este argumento não requer uma data no segundo século. Esta história pode ter sido escrita no terceiro século e pode ter simplesmente esboçada sobre escritos como o Evangelho de Tomé e o Evangelho de Filipe.
O mais importante, não há nada que indicaria que a composição deste evangelho deva ser datada do primeiro século. Ele foi produzido muito depois do tempo dos apóstolos, juntamente com outros evangelhos apócrifos conhecidos.

Valor Histórico
A questão chave é se este registro do evangelho em particular pode nos dizer qualquer coisa sobre como Jesus de fato era. Este texto prova que Jesus tinha uma esposa? Este evangelho fornece informação histórica confiável? Não e não. Não há razão para pensar que este evangelho guarde tradição autêntica sobre Jesus. Ele é uma produção tardia, não baseada no depoimento de testemunhas, e igualmente se esboça sobre outros trabalhos apócrifos como Tomé e Filipe.
Além disso — e isto é fundamental — nós não temos uma única fonte histórica em todo o Cristianismo primitivo que sugira que Jesus fosse casado. Nenhuma. Não há nada sobre Jesus ser casado nos evangelhos canônicos, nos evangelhos apócrifos, nos pais da igreja, ou em qualquer outro lugar. Mesmo que este novo evangelho declare que Jesus fora casado, isto está em desacordo com todas as outras evidências históricas verossímeis que temos sobre sua vida. Como a própria King observou: “Este é o único texto antigo remanescente que explicitamente retrata Jesus referindo-se a uma esposa. Contudo, ele não fornece evidência de que o Jesus histórico tenha sido casado”.

Conspirações e os Evangelhos Canônicos
Todo mundo adora uma boa teoria da conspiração. Certamente seria muito mais divertido para nossa cultura se alguém pudesse mostrar que os livros apócrifos fossem de fato a Escritura da igreja primitiva e que eles foram reprimidos pelas maquinações políticas da igreja posterior (por exemplo, Constantino). Mas a verdade é muito menos sensacionalista. Enquanto aos livros apócrifos tenha sido concedido algum status escritural de tempos em tempos, a esmagadora maioria dos cristãos primitivos preferiam os livros que agora estão em nosso cânon do Novo Testamento. Desta forma, somos lembrados novamente de que o cânon não foi arbitrariamente “criado” pela igreja no quarto ou quinto século. As afirmações da igreja posterior simplesmente refletiu o que já era o caso por muitos, muitos anos.

Quando se trata desse tipo de questão eu gosto de lembrar meus alunos de um simples — mas frequentemente negligenciado — fato: de todos os evangelhos no Cristianismo primitivo, apenas Mateus, Marcos, Lucas e João são datados do primeiro século. Claro, há pequenas tentativas de colocar livros como o Evangelho de Tomé no primeiro século — mas tais tentativas não foram bem recebidas pelos estudiosos bíblicos. Assim, se realmente queremos saber como Jesus era, nossa melhor aposta é confiar nos livros que foram ao menos escritos durante o período de tempo quando as testemunhas ainda estavam vivas. E apenas quatro evangelhos satisfazem este padrão.


Michael J. Kruger é professor de Novo Testamento no Seminário Teológico Reformado em Charlotte, Carolina do Norte, e o autor de Canon Revisited: Establishing the Origins and Authority of the New Testament Books* (O Cânon Revisto: Estabelecendo as Origens e a Autoridade dos Livros do Novo Testamento) (Crossway, 2012). Ele bloga regularmente no Canon Fodder*.
* N. do T.: em inglês

publicado em http://www.genizahvirtual.com/ - vários outros blogs publicaram este artigo

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Crescimento evangélico motiva olhares diferenciados

Sexta-feira, 21 de setembro de 2012 (ALC) - Com base nos números do último Censo, as avaliações sobre o crescimento evangélico no Brasil divergem. Eufóricos preveem que em 2020 esse segmento religioso representará 52,2% da população brasileira. Outros situam o teto máximo de crescimento em 35%.

A  Missão Internacional Servindo aos Pastores e Líderes (Sepal) assinala que o Brasil passa por um avivamento espiritual e tem uma visão otimista a respeito do crescimento dos evangélicos. O evangelismo aguerrido, a adoção de regras menos rígidas, a flexibilização dos costumes e a ampliação da visão evangélica na sociedade são fatores que o pesquisador Luiz André Bruneto, do Sepal, arrola para justificar esse crescimento.

Alinhado com o sociólogo da religião Paul Freston, da Universidade de São Carlos, o bispo emérito metodista Paulo Ayres Mattos, pesquisador do pentecostalismo, afirma que o crescimento evangélico atingirá o seu ápice ao se estabilizar por volta dos 35% da população brasileira.

O Censo de 2010 revela a diminuição do ímpeto do crescimento evangélico na última década comparado ao crescimento do período anterior. "De 1991-2000 os evangélicos em geral cresceram cerca de 120%; na década de 2001 a 2010, os evangélicos cresceram aproximadamente 62%", comparou Ayres Mattos em entrevista concedida ao Instituto Humanitas (IHU) da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).

O que mais chamou a atenção desse pesquisador do pentecostalismo é a diminuição pela metade do ímpeto do crescimento institucional dos evangélicos, o aumento dos evangélicos sem igreja e dos brasileiros sem religião. "O que me parece estar ficando mais claro na sociedade brasileira é o desencantamento de muitas pessoas com as religiões institucionalizadas", avaliou.

Ele credita a queda do ímpeto de crescimento evangélico a motivos exógenos, outros nem tanto. A sociedade brasileira, analisa, passa por transformações sociais que possibilitam às pessoas resolverem seus problemas recorrendo a meios mais racionais, sem apelar para recursos milagrosos.

Um outro fator que menciona, mas que ainda carece de comprovação, são os escândalos envolvendo grandes e pequenos líderes pentecostais. Depois, muitos crentes começam a se decepcionar com as promessas de cura, de enriquecimento, não cumpridas.

 As pessoas têm mais liberdade, hoje, "para escolher e combinar diversas opções em seu próprio cardápio religioso, como num balcão de comida a quilo", uma espécie de "privatização" do religioso.

O pentecostalismo contemporâneo modificou de modo radical sua escatologia e vai na contramão do pentecostalismo clássico, que via o  maligno presente no mundo, que é mau e precisa de Cristo para arrebatar os crentes para o céu.

Hoje, o pentecostalismo afirma que a sociedade de consumo é boa, que ela tem lugar para todos, que o mundo não é um lugar maldito, mas está cheio de bênçãos que devem ser possuídas aqui e agora, compara Ayres Mattos.

A difusão dessa "ideologia" tem na mídia evangélica um proclamador por excelência e tem influenciado, inclusive, o setor carismático da Igreja Católica. O teólogo Paulo Suess, no entanto, alerta: "Missas e ministros midiáticos, alinhados a padrões de marketing, podem destruir o sagrado".

Do lado evangélico também vem um forte ponto de exclamação. A maioria da liderança evangélica brasileira está despreparada e carece de direção na teologia, eclesiologia e missiologia, admoesta Luis André Bruneto.


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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Retomada das igrejas históricas está na teologia, diz pesquisador

Quarta-feira, 19 de setembro de 2012 (ALC) - O Bureau de Pesquisa e Estatística Cristã (Bepec) analisou os dados do Censo 2010 para constatar que, apesar do crescimento evangélico verificado na última década, igrejas protestantes de missão e de migração tiveram uma redução de 10,7% de sua membresia na última década.

Desse grupo, quem mais perdeu fiéis foi a Igreja Congregacional, que experimentou uma diminuição de 26,3% no período, seguido da Presbiteriana, com 6,1%, da Luterana, com 5,9%, e a Metodista com 0,01%. As que mais cresceram foram as igrejas Batista, com 17,4%, e a Adventista, com 29%.

O diretor do Bepec, Danilo Fernandes, vê possibilidades de reversão dos índices negativos. "A rota de muitos decepcionados com a igreja, os órfãos das promessas não cumpridas, é a ortodoxia. Essa não é a estrada mais ampla, mas é uma artéria importante, de formadores de opinião", disse em entrevista para a repórter Andrea Madmabashi, do The Christian Post.

Ele detectou um crescente interesse da nova geração de protestantes históricos na qualificação do conhecimento teológico e na produção literária. "Eu creio em um retorno", afirmou, convicto.

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domingo, 16 de setembro de 2012

Tráfico humano é a segunda fonte de riqueza, aponta teóloga

Micael Vier B.


Quinta-feira, 13 de setembro de 2012 (ALC) - A professora Wanda Deifelt, do Luther College, de Decorah, Iowa, revelou, no painel sobre Tarefas da Teologia na América Latina, atividade realizada hoje no I Congresso Internacional da Faculdades EST, que o tráfico humano é a segunda fonte de riquezas no mundo, atrás apenas do narcotráfico.

"Identificar que essa realidade está ao nosso redor, sendo vivenciada inclusive aqui em São Leopoldo, também é tarefa da teologia", disse. Wanda destacou que a teologia está desafiada a oferecer esperança numa sociedade individualista, a nomear a realidade e explicá-la a todos.

"Não precisamos cometer suicídio intelectual para sermos cristãos, porque a nossa fé busca compreensão", destacou no mesmo painel o professor da Universidade de Stellenbosch, Nico Koopman, da África do Sul, ao afirmar a necessidade da religião e da ciência "cantarem juntas um dueto" ao invés de duelarem entre si.

Advindo da tradição reformada, Koopman enalteceu a importância da religião fomentar e promover a dignidade humana no contexto da integridade da Criação. "A religião que gostaríamos de vivenciar na esfera pública também precisa conviver com a realidade dual, ou seja, reconhecer a diversidade de etnias, gêneros, confissões e nacionalidades", frisou.

Oferecendo eco às declarações de Koppmann, o presidente da Associação Mundial para a Comunicação Cristã, Dennis Smith, argumentou que o reconhecimento da diferença pode fazer com que "encontremos em outra expressão de fé algo que nos complete, sem abandonarmos o específico da nossa própria religiosidade."

Ao direcionar sua mirada para o contexto latino-americano, mas também global, Wanda Deifelt agregou que a teologia precisa promover a esperança, ser contextualizada, profética e dialogal. Além disso, pontuou, ela está diretamente relacionada aos espaços que a pessoa ocupa, seja o corpo físico, o corpo social, o corpo eclesiástico ou o corpo cósmico.

Na análise da professora do Luther College, pensar a teologia em termos dialogais significa ir ao encontro das diferenças para que "possamos pensar além daquilo que é previsto".


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domingo, 9 de setembro de 2012

Maioria dos deputados evangélicos responde a processos judiciais

Jornalista Paulo Lopes publica matéria em seu site listando a chamada bancada evangélica no congresso nacional e constata  que a maioria dos  parlamentares "crentinos" responde a processos envolvendo fraudes na gestão do dinheiro público, corrupção e outras cositas...

Convém frisar que apenas os listados com fotografias respondem a processos e os respectivos podem ser consultados através do link disponibilizado.

Leia Mais em: http://www.genizahvirtual.com/2012/04/maioria-dos-deputados-evangelicos.html#ixzz261LaKVV8
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