quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Cristãos (in)tolerantes: destino inescapável?

Eduardo Ribeiro Mundim

Há poucas semanas houve uma manifestação no Rio de Janeiro pelo fim da intolerância religiosa. Ato ecumênico, no sentido amplo da palavra, aberto a todos que professam alguma crença religiosa, teísta ou não.

Tolerância parece ser uma palavra em moda.

Tolerância é a boa disposição do que ouve idéias contrárias as suas, ou liberação do cumprimento de alguma norma. Tolerante, portanto, é aquele capaz de ouvir com boa disposição (boa quer dizer favorável, propícia, sem desejar o mal) manifestações de pensamento que lhe são contrárias, ou que das quais discorda, respeitando o direito do outro de tê-las e expressá-las.

Será tolerância uma atitude possível? Será a intolerância o destino de todo aquele que crê?

Crer em algo significa não crer em outro algo. Acreditar na realidade, na existência, da reencarnação não é compatível com acreditar na aniquilação do ser na morte; ou na ressurreição dos mortos. Aceitar como verdade final a ressurreição dos mortos é considerar a reencarnação como não existente, como não verdade. Não é possível ter fé, aceitar como verdadeiras, todas as confissões religiosas existentes, teístas ou não. Desposar uma é,. por definição, não desposar as outras. Monogamia sólida!

Imaginar ser possível poligamia confessional, mantendo cada fé sua individualidade e particularidade, é acreditar que a cor branca é a mesma cor preta; ou que óleo e água se misturam, mantendo suas características que as definem.

Ser cristão é não ser mulçumano; ser mulçumano é não ser espírita; ser espírita é não ser budista; e assim por diante. Ser xintoísta é não acreditar no juízo final cristão; ser panteísta é não acreditar em um Deus pessoal.

Crer que todas as religiões, em sua totalidade, são verdadeiras (o que é diferente de crer que todas tem um sistema ético coerente, saudável, possível, fomentando o bem e lutando contra o mal) é não crer em nenhuma, e tentar criar uma nova.

Crer não impede a aceitação da idéia contrária do meu próximo. Mas até que ponto eu posso expressar minha não-crença na verdade da fé do meu próximo sem ofendê-lo (ou seja, agredí-lo, fazê-lo sentir-se mal ou desconfortável)? Ofende dizer que transmigração de almas é uma grande bobagem? que quem acredita em exorcismos é um ignorante? que um Deus triúno é uma blasfêmia?

Edir Macedo (é manifestação de intolerância chamá-lo de "autodenominado bispo") escreveu um livro, "Orixás, caboclos e guias: anjos ou demônios". Em um tempo, foi retirado da circulação por ordem judcial, porque desrespeitava os cultos de origem africana. Quem foi o intolerante: o bispo, que sugeriu a identificação de orixás com o demônio bíblico ou os adeptos do candomblé, que não foram capazes de respeitar a opinião dele fortemente contrária?

Há um ruído na internete a respeito de uma peça teatral que representa Jesus como homossexual, em orgia com os discípulos. Isto me ofende (causa desconforto, entristece-me). Mas porque O considero Deus Filho, como reza o credo de Niceia-Constantinopla. Não tem o direito de sentir-se ofendido aquele que crê em "bezenção" se o chamo de supersticioso? ou se pinto um retrato de Maomé, atitude blasfema do ponto de vista do mulçumano?

E como evangelizar sem ofender? Temos o direito de, em nome do Evangelho, causar sofrimento, vergonha, dano moral, aflição, restrição financeira, etc? Existe o direito do outro em causar-me sofrimento, vergonha, dano moral, aflição, restrição financeira ou social por ser eu cristão?

Um comentário:

  1. Parabéns pelo trabalho no blog. Já estou seguindo!

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