sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Deus está no Haiti?

Desde a perspectiva científica, o terremoto tem uma dupla explicação. Por um lado, uma zona sísmica, sempre ameaçada por terremotos e maremotos, que acontecem com frequência. Por outro, que se praticou um desflorestamento em massa no país, que contrasta com a superfície da República Dominicana, a outra parte da ilha.

Além disso, deu-se uma sobre-exploração do solo, um esgotamento dos recursos naturais, em parte por empresas que foram pão para hoje e fome para amanhã, e uma forte explosão demográfica sob governos corruptos e ditatoriais, como os Duvalier, cujo herdeiro gasta hoje sua fortuna na França.

A reportagem é de Juan A. Estrada, publicada no Diario de Sevilla, 23-01-2010. A tradução é de Vanessa Alves

Quando o terremoto chegou, quase tudo veio abaixo, incluindo o centro histórico e as instalações estatais. Mas o bairro rico e moderno de Pétion Ville, em Porto Príncipe, mal sofreu danos. É uma ilha segura, sólida e livre de desastre natural.

A conclusão é evidente: com outra política e governo, outra distribuição da riqueza e outro tipo de construções teria se amortecido muito a violência da natureza no país mais pobre da América.

Antes de se perguntar por Deus - Por que permite isso? - é preciso perguntar ao homem como consentimos que tantos seres humanos vivam na miséria, indefesos perante a natureza? A tragédia do Haiti é sequência do tsunami da Indonésia e virão muitos mais, porque três quartos da humanidade vivem na pobreza, sem meios para controlar a natureza. Temos os recursos técnicos e materiais para reduzir ao mínimo estes desastres, mas a distribuição internacional da riqueza os invalida.

E onde está Deus? Seguimos esperando milagres divinos que mudem o curso da natureza; apelamos à Providência para que intervenha nas catástrofes naturais; rezamos e pedimos prodígios e sinais. E Deus guarda silêncio e não atua como esperamos. Não aprendemos da história. Não parou a cruz no Gólgota; não interveio para evitar Auschwitz; não é o Deus relojoeiro de Newton, que ajusta o relógio natural de vez em quando; não modifica as leis da criação, descobertas pela ciência.

O homem e o universo são obras de um criador que respeita a liberdade humana e o dinamismo da natureza. Se buscamos ao Deus milagreiro, sempre à escuta dos desejos do homem, busquemos em outra religião, não na do Deus crucificado. É inconcebível que os cristãos sigam esperando intervenções prodigiosas, como em tempos de Jesus, sem assumir a maioridade do homem e a autonomia do universo, cujas leis conhecemos melhor e cada vez mais.

Por outro lado, encontraremos Deus, se o buscamos identificando-se com as vítimas e chamando aos homens de boa vontade à solidariedade e a justiça; se esperamos que Deus nos inquiete, nos provoque e nos incite a colaborar de mil maneiras para mitigar a dor no Haiti; se achamos que Deus não é neutro e que o contraste entre o grande mundo pobre e a minoria de países ricos clama ao céu.

É preciso ajudar Deus para que se faça presente no Haiti, porque necessita dos homens para que chegue aí o progresso e a justiça. Os mortos e refugiados da catástrofe têm fome de justiça, a das bem-aventuranças, e Deus necessita de testemunhas suas para fazer-se presente.

Ninguém pode falar em nome das vítimas sem experimentar seus sofrimentos nem padecer sua forma de vida, só fazer-nos presentes a eles. O protagonismo corresponde ao ser humano: Deus é autor da história, logo inspira, motiva e envia para a solidariedade e a justiça. O Deus cristão não é a divindade grega que sente ciúmes do homem e castiga Prometeu, mas o que se orgulha da capacidade para gerar vida com a ciência e o progresso, só exigindo que os recursos naturais se ponham a serviço de todos.

É preciso agir como "se Deus não existisse" e tudo dependesse de nós, universalizar a solidariedade e mudar as estruturas internacionais que condenam povos inteiros à miséria. A partir daí podemos esperar tudo de Deus e pedir-lhe que fortaleça, inspire e motive os que lutam por um mundo mais justo e solidário.

Dentro de poucos meses, o Haiti será uma mera lembrança, exceto para os que seguem ali, e teremos esquecido, como a Indonésia ou os famintos da África subsaariana. A grande tragédia do século XXI é a de uma humanidade que tem recursos para acabar com a fome e mitigar as catástrofes naturais, mas prefere empregá-los em armamento, para defender-se dos pobres; em policiais, para evitar que cheguem em nossas ilhas de riqueza e nos esbanjamentos consumistas de uma minoria de países.

Do mal do Haiti somos todos responsáveis, e a solidariedade não pode ficar no acontecimento pontual, mesmo que seja necessária, mas exige outra forma de vida.


fonte: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=29316

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

QUEM PECOU? OU PORQUE SOFREM OS HAITIANOS?

Rev. Sandro Amadeu Cerveira

Em uma de suas muitas caminhadas Jesus e seus discípulos se depararam com um homem cego de nascença que mendigava nas ruas de Jerusalém. Diante da cena de sofrimento e dor logo pedem uma explicação. "Rabi, quem pecou, ele ou seus pais, para que nascesse cego?" (João 9:2)

A pergunta dos discípulos toca em uma de nossas piores angustias: Afinal por que sofremos? A coisa fica mais complicada se cremos que Deus é simultaneamente Todo poderoso e Bom.

Como explicar? De quem é a culpa? A questão, como colocada pelos discípulos, já sugere um tipo de resposta. O sofrimento é castigo. É uma questão de justiça. Não há como negar que essa é uma resposta razoável. Não raro nossas dores têm mesmo como causa o erro e o pecado.  Na pergunta dos discípulos aparecem as duas variantes dessa resposta.

Alternativa A – O sofrimento é um castigo merecido pelo próprio indivíduo que sofre. O homem pecou e por isso nasceu cego. Não fica claro se os discípulos estariam repetindo algum tipo de explicação cármica, comum em sua época, ou se para eles Deus pune por antecedência pecados ainda não cometidos. Não importa. Seja como for, nesse raciocínio, mesmo o sofrimento de um recém nascido com hidrocefalia ou soterrado nada mais é do que o merecido castigo de seus próprios pecados. Não há inocentes. Todos recebem apenas o mal que merecem.

Alternativa B – O sofrimento é um castigo herdado de outros. Às vezes os "justos pagam pelos pecadores". No pensamento de muitas culturas antigas as famílias são solidárias as penas de seus líderes. Filhos e esposas eram escravizados para pagar as dívidas dos pais, filhos eram mortos no lugar dos pais e isso era o normal. O cego de nascença estaria sofrendo porque seus pais cometeram algum pecado quer mereceu a dor de ter um filho cego, e ele, que não pecou recebeu como castigo a sina de viver nas trevas desde seu nascimento.

Seja como for, nesse tipo de explicação a causa do sofrimento é sempre o pecado de alguém. Os amigos de Jó pensavam assim e por isso não conseguiam compreender a tragédia que se abateu sobre o amigo sem imaginar algum pecado oculto.

A resposta de Jesus, como de costume, extrapola os parâmetros da pergunta. Não foi culpa dele. Não foi maldição hereditária. "Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus."  Como? A dor e o sofrimento podem ser dados pelo próprio Deus sem que seus filhos tenham feito nada de errado? Sem merecer punição ou castigo? Parece que é isso mesmo. Jó  expressou bem essa idéia quando disse: "o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR!" ou ainda "temos recebido o bem de Deus e não receberíamos também o mal?" (Jó 1:24 e 2:10) 

Dura é esta palavra, mas também libertadora. Se por um lado ela lança uma profunda interrogação sobre os motivos que o Todo Poderoso tem para nos fazer sofrer, por outro ela nos liberta da lógica infantil e ilusória de que a vida sobre a terra pode ser descrita como  meninos bonzinhos ganhando presentes de Papai Noel e os malvados sendo punidos com varadas.

Voltando a questão inicial. Eu não sei por que sofrem os haitianos. Nosso pouco conhecimento de sua religiosidade torna tentador o discurso da "maldição africana". Se  formos porém, esse caminho deveria nos levar a esperar fogo e enxofre sobre TODOS os povos e países. Nas palavras de Paulo o apóstolo.
 
"Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado; como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus;todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer.
A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua, urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios, a boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura; são os seus pés velozes para derramar sangue, nos seus caminhos, há destruição e miséria; desconheceram o caminho da paz.Não há temor de Deus diante de seus olhos." (Rm 3:9-18) De fato parece que não há inocentes.

Prefiro não fazer julgamentos. Escolho apontar e me apegar a alternativa proposta por Jesus. Esperar e agir para que tudo que ali se passa seja transformado pela obra salvadora de Deus. Que em meio a tanto sofrimento e tragédia se manifeste a glória de Deus por meio do testemunho de seus filhos. Prefiro ser instrumento da ação curadora de Deus mesmo tendo de violar alguma regra religiosa. (ver como Jesus curou o cego num sábado João 9) . Não sei se os haitianos são mais pecadores que qualquer povo, só sei que Jesus me deu o exemplo de que mesmo as custas das regras religiosas é preciso fazer o bem e ser instrumento de cura e alívio para os que sofrem. Pense no Haiti, Ore pelo Haiti. Se Deus te chamar vá para o Haiti. Se Deus te tocar segure as cordas daqueles que estão descendo até o Haiti contribuindo para que os médicos, bombeiros, soldados, missionários e todo exército de homens e mulheres que ali se arriscam tenham os meios necessários para fazer a obra de Deus.

fonte: http://www.segundaigreja.org.br/pastorais_view.asp?id=60

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Carta do diabo a Pat Robertson

"O jornal Minneapolis Star-Tribune publicou uma carta de Satã para o pastor Pat Robertson, em resposta ao seu comentário afirmando que os vários problemas do Haiti, incluindo o terremoto, seriam resultado de um pacto que o país teria feito com o demônio. Na verdade, não foi Satã quem escreveu a carta, mas sim Lilly Coyle, de Minneapolis, que a escreveu  como se fosse o chefe do inferno.
 

Querido Pat Robertson,

 Eu sei que você sabe que qualquer publicidade é boa publicidade, então deixe-me dizer, antes de qualquer outra coisa, que eu apreciei o comercial. E você fez Deus parecer um babaca cruel, que chuta as pessoas quando elas já estão no chão, então achei bem legal.

Mas quando você diz que o Haiti fez um pacto comigo, aí a coisa muda de figura : fica totalmente humilhante pra mim. Eu posso ser a encarnação do Mal, mas não sou nenhum moleque. Do jeito que você colocou a coisa, ficou parecendo que um pacto comigo deixa as pessoas desesperadas e empobrecidas. Tá bom, claro que deixa, mas só no além. É bom lembrar que quando eu faço um trato com as pessoas, primeiro elas ganham alguma coisa aqui na Terra : glamour, beleza, talento, dinheiro, fama, glória, um violino de ouro. Os haitianos não têm nada, e eu quero dizer nada mesmo. E já não tinham desde antes do terremoto. Você nunca assistiu a "Crossroads" ? Ou "Malditos Yankees" ? Se eu tivesse algum negócio rolando com o Haiti, pode acreditar que eles teriam montes de bancos, arranha-céus, SUVs, boates exclusivas, botox – esse tipo de coisa. Um índice de pobreza de 80% não é meu estilo, não mesmo. Nada contra, só estou dizendo : não é assim que eu trabalho.


Você vem fazendo um excelente trabalho, Pat, e eu não quero cortar suas asinhas, mas peraí, assim você me deixa mal na foto. E não quero dizer "mal" do jeito bom. Continue culpando Deus, tudo bem. Isso funciona. Mas me deixe fora disso, por favor. Do contrário, posso ser obrigado a rever seu contrato comigo.

Boa sorte

 Satã."


terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Haití y el dios de Pat

José Ángel Fernández, España


 
La semana pasada el aclamado (por algunos) presentador cristiano de The 700 Show nos sorprendió con unas declaraciones bastante inapropiadas. Cuando la mayoría de personas alrededor del mundo nos frotábamos los ojos ante el desastre ocurrido en uno de los países más pobres de occidente, Pat Robertson nos ofrecía su interpretación teológica de la catástrofe en una televisión supuestamente cristiana (Christian Broadcasting Network). Según el citado personaje, el terremoto que ha destruido las vidas de tantos habitantes de Haití fue un castigo divino como consecuencia del pacto que dicho país hizo con Satanás hace mucho tiempo en una ceremonia religiosa para librarse del poder imperialista francés. Es decir que como consecuencia de una ceremonia vudú realizada por unos esclavos a finales del siglo XVIII desafiando a sus amos cristianos, Dios había decidido matar algunos bebés desnutridos 200 años después.


No es la primera vez que algún líder cristiano realiza declaraciones que claman al cielo en momentos de desastres naturales. La ira de Dios ha sido utilizada en numerosas ocasiones por líderes religiosos para explicar, por ejemplo, el huracán Katrina, las inundaciones de Gran Bretaña, la crisis económica o los atentados terroristas. ¿Que una ciudad es inundada por las aguas que han caído el fin de semana? Esto es un castigo de Dios por haber aprobado una ley a favor del aborto. ¿Que un huracán arrasa una ciudad? Dios ha derramado su ira contra los homosexuales que habitan sus calles. ¿Que un tsunami ha matado a cientos de personas? Eso ha sido un juicio de Dios contra el mundo por los avances en el uso de células madre. (Irónicamente, estas mismas personas suelen echar por tierra ideas acerca del calentamiento global como invenciones que los científicos usan para manipularnos.) No importa que hayamos descubierto en muchos casos las razones naturales que explican las probabilidades de que dichos desastres ocurran en algunos países. De alguna forma parece que muchas personas religiosas no suelen conformarse con explicaciones naturalistas a la hora de explicar lo que sucede a su alrededor; siempre suele ser necesario invocar el poder de Dios para explicar tanto lo bueno como lo malo que ocurre en sus vidas y las de los demás.

Declaraciones como estas no serían preocupantes si aparecieran únicamente en labios de unos pocos ignorantes. Sin embargo lo verdaderamente triste es que el número de personas que se lanzan a realizar juicios de este tipo es demasiado alto. En mis años de creyente tanto en España como en el Reino Unido he escuchado en más de una ocasión comentarios que caen de lleno en la categoría que yo llamo "teología de Pat". Hace un tiempo escuché cómo un profesor de seminario explicaba el hecho de que un pastor hubiera tenido que dejar su pastorado utilizando el siguiente argumento: "Cuando un pastor tiene una teología que no es la correcta, eso se acaba notando y al final Dios le quita de la posición de liderazgo que ocupa". Esto mismo he escuchado en algunas ocasiones aplicado a distintas circunstancias: "el desastre económico que sufre nuestro país es un castigo de Dios como consecuencia del apoyo que nuestro gobierno ha dado al aborto y la eutanasia", "ese cáncer que tienes es un mensaje de Dios para que dejes de decir lo que dices", "tu hijo falleció porque entendió mal el propósito divino y escogió el camino equivocado", "has acabado sin iglesia porque Dios no acepta algunas de las ideas que mantienes", "no encuentras trabajo porque vives en pecado", etcétera. 
 
Cada vez que escucho algunas de estas afirmaciones me crujen las neuronas, no sólo porque hace falta tener poco tacto y amor cristiano para soltarlas en los momentos en los que se suelen soltar, sino porque la teología que habita detrás de ellas no pertenece al Dios de la Biblia. Al menos no al Dios que yo encuentro en las Escrituras. Para algunas personas es como si el libro de Job no hubiera sido escrito nunca. Es como si Jesús hubiera venido a este mundo a hacernos entender que el Dios de Abraham y Jacob es uno que castiga a los hijos por los pecados de los padres, un Dios que lanza su ira a diestra y siniestra sin importar sobre quién vaya a caer. Para estas personas es como si a nuestra pregunta: "Maestro, maestro… ¿quién pecó para que ese sea ciego: él o su padre?", Jesús fuera a responder: "Su padre, querido hijo… su padre". El Jesús que estas personas predican no se parece al que estamos acostumbrados a leer en los evangelios. Al menos no se parece nada al que encuentro yo. Me pregunto cuántos sueltan un ¡Amén! cuando escuchan a Pat decir esas majaderías. Alguno tiene que haber por ahí… quizá más cerca de lo que podemos imaginar…





sábado, 16 de janeiro de 2010

O Cônsul, o Pastor e o Haiti

As palavras do Sr. George Samuel Antoine, cônsul geral do Haiti em São Paulo, veiculadas pela imprensa, causam vergonha, consternação, indignação e clamor:

"acho que, de tanto mexer com macumba, não sei o que é aquilo. O africano em si tem maldição. Todo lugar que tem africano está fodido" (Folha S Paulo, pag A21, de 16/01/10 - vídeo em http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u679672.shtml)

O Pastor Pat Roberton lhe faz boa companhia, declarando que a situação atual e pregressa dos haitianos é consequência de uma maldição devido a um pacto celebrado com o demônio, por parte da população, no século XIX, para obter a independência dos franceses (veja em http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u679463.shtml).

O Sr. Antoine é branco, e representa uma nação de 7.309.000 descendentes de africanos, com os restantes 10% da população de mestiços e uma ínfima proporção de descendentes de europeus. Apenas 10% da população se expressa em francês; 90% usam a língua crioula - ambas oficiais. A religião oficial é a católica, 87% dos habitantes se declaram cristãos e 5% professam o vodu. O Haiti é um país pobre: renda per capita, a 154ª do mundo (equivale a 1/3 da renda per capita da Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro); produto interno bruto, o 128º; expectativa de vida, 61 anos; mortalidade infantil, 48,8 por 1000 nascidos vivos; 45% de analfabetos; 80% abaixo da linha de pobreza. Densamente povoado (292 hab/km2), depende, atualmente, largamente de doações externas, apesar de ter sido uma das mais ricas colônias europeias na América Latina. (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Haiti, Folha de S Paulo).

Justificando suas palavras, o cônsul geral atribuiu as declarações às dificuldades com o português (apesar de morar no Brasil há 35 anos e expressar-se sem sotaque) - mas palavras de baixo calão lhe vem fácil à lingua, além do nervosismo. Nega que tenha havido maldade. Houve o quê? Perdeu o contato com a realidade do seu povo, provavelmente. Esqueceu-se da história do país que representa e das razões multifacetadas que o fizeram um dos países mais pobres e corruptos do mundo. Deveria renunciar ao posto e exilar-se em local desconhecido.

O pastor e o diplomata compartilham de preconceitos, além da cor da pele. Consideram expressão de religião não-cristãs como demoníacas. Alegam que o caráter de um povo é determinado por forças místicas ou mágicas, e não por contextos históricos e sociais. Acreditam em punição divina de um povo inteiro por supostos pecados de uma minoria.

Desconheço a formação religiosa do cônsul, mas Pat Robertson parece interpretar as Escrituras Sagradas ao seu bel prazer, ou com uma técnica medieval. Não há nelas razões que sustentem suas declarações. Parece aplicar o que ocorreu na história de Israel a todos os demais povos e nações (baseado em quê, revelação pessoal?), quando o homólogo a ele é a Igreja de Cristo. Parece desfrutar de um canal privado de informações, para saber do pacto e da maldição consequente.

O que é particularmente irritante no pastor é a proclamação de um deus que não tem compaixão, que não conhece a graça do Evangelho de Cristo, que pune os filhos pelos pecados dos pais - pior, pune inocentes pelos pecados de poucos.

As Escrituras não nos informam sobre a origem do mal - mas revelam que Deus divide a carga conosco, ao se tornar Homem em Jesus. NEle Deus está ao lado dos haitianos sofridos, humilhados e oprimidos. Esta é a mensagem da cruz. O apóstolo João nos lembra que de tal maneira Deus nos amou, que deu seu Filho Unigênito para por nós morrer (e conosco dividir este mundo cruel e injusto por 30 anos) e que nós devemos dar nossa vida  pelos irmãos (I Jo 3,16).

Eduardo Ribeiro Mundim

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A Singularidade da fé cristã


Eduardo Ribeiro Mundim

Existem diversa maneiras de entender o mundo, de dar-lhe um significado último. Elas podem, genericamente falando, ser divididas em dois grandes grupos, segundo o pré-conceito que lhes serve de terreno. O grupo das que negam a existência de algo além da humanidade (transcendente a ela), e o das que a aceitam. O primeiro nega a possibilidade de qualquer divindade; o segundo, a aceita. Divindade aqui definida como qualquer ser ou instância que, conscientemente, influencia e/ou determina os rumos dos acontecimentos vivenciados por nós. O primeiro grupo é atéista, o segundo, teísta. leia o restante

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Pesquisa mostra dilemas de biólogos evangélicos

Uma pesquisa da Universidade Federal Fluminense (UFF) mostra os conflitos vividos por estudantes evangélicos que querem se tornar professores de ciências. A maioria deles duvida da veracidade da teoria da evolução, de Charles Darwin, mas garante que não vai ensinar nas escolas que Deus criou o homem e o mundo.

O biólogo com mestrado em Zoologia do Museu Histórico Nacional Luis Fernando Marques Dorvillé achava que ninguém, dentro de uma universidade, seria capaz de contestar sem base científica o que para a ciência é verdade absoluta. Mas o aumento da incidência de alunos evangélicos nos cursos de Biologia instaurou a polêmica.


A questão que aflige Dorvillé é como alguém pode ensinar ciências sem acreditar na teoria de Darwin? Seu assombro foi tamanho que ele passou os últimos oito anos entrevistando alunos para sua tese de doutorado na UFF. O trabalho narra esses embates usando a experiência do cientista com seus alunos evangélicos no curso de Biologia de um outra instituição do Estado, a Universidade Estadual do Rio (Uerj).


O levantamento mostra que dos 245 matriculados no curso de Biologia da Uerj, em São Gonçalo, 23% são evangélicos. O número é mais alto do que revelou o Censo de 2000 (15,44% dos brasileiros são evangélicos), mas muito próximo das estimativas de crescimento que o próximo Censo deve mostrar em 2010.


Dorvillé distribuiu questionários entre os alunos de todas as religiões. Diante de questões como "Comente a frase: alguns seres vivos têm parentesco maior entre si do que com outros" descobriu que a desconfiança sobre teoria da evolução chega a 70% entre os protestantes, 30% dos católicos e 20% dos espíritas e umbandistas.


"No início eu queria convencer os alunos a ferro e fogo. O resultado era nulo. Eles ficavam quietos, escreviam tudo certo e depois falavam 'mas eu não acredito em nada disso'." Dorvillé mudou a estratégia. Passou a confrontar as ideias religiosas com argumentos, sem tentar demovê-los de suas crenças.


Da indignação para a conciliação demorou um ano. Neste período o biólogo ouviu de tudo. De um aluno mais enfático, no auge da discussão sobre a teoria da evolução, veio a justificativa considerada absurda para um futuro biólogo: "Minha avó não é macaca. Então foi Deus quem criou o homem."


A pesquisa também indicou que os alunos evangélicos mudam ao longo do curso. "A maioria faz uma mediação entre o que diz a ciência e a religião." Acreditam, por exemplo, que há evolução, mas quem guia todo o processo é Deus; ou admitem que a evolução sirva para as outras espécies, menos para o homem; ou que, a criação divina do universo durou seis dias, mas a leitura não deve ser literal, já que entre um dia e outro ocorreram as eras geológicas e o processo de evolução.


De uma coisa eles não abrem mão, diz o professor. "Nunca deixam de ser evangélicos e de acreditar no que a igreja ensina. Nunca abandonam a religião por conta da faculdade." Essa também não é a intenção de Dorvillé. "Quando eu consigo qualquer grau de interferência me sinto satisfeito."


A área de ciências é uma das que mais sofre com a falta de professores no País. Pela carência de profissionais, a maioria dos formandos consegue emprego assim que deixa a universidade. "Muitos deles estudam biologia justamente porque o acesso é mais fácil. Não tem muita disputa de vagas no vestibular", diz.


O cientista conta que, em uma das aulas, ouviu de um aluno uma declaração perturbadora: "Eu sei de tudo isso que você está me falando, mas prefiro não pensar muito." Para Dorvillé, os alunos vivem uma angústia. "Esta visão de mundo ajuda a formar quem eles são. Muitas vezes foi graças a religião que eles, vindo de famílias pobres, conseguiram chegar à universidade."


Na sua tese de doutorado, Dorvillé descobriu também que os futuros professores evangélicos concordam que em sala de aula vão repetir a seus alunos o que aprenderam na faculdade. Mesmo que não acreditem. A religião, dizem eles, vai ficar fora da sala.


"Eu já acho emblemático haver evangélico ensinando teoria evolutiva com alguma propriedade. E eles podem ser bons professores, principalmente porque vão falar para muitos alunos evangélicos nas escolas públicas." Dorvillé confia que eles não vão trair o legado de Charles Darwin.


Aline Malafaia frequenta a Igreja Batista desde os 4 anos. Formada em Biologia pela Uerj, fez a sua própria interpretação sobre a teoria da evolução misturando o que aprendeu no curso com o que ouviu em sermões do pastor evangélico. "Sendo bióloga, não poderia negar que nós e outros primatas temos um ancestral comum. Mas a criação teve a mão de Deus." O curso fez com que Aline encarasse a Bíblia com outros olhos. "Ela não foi escrita para ser um livro científico. Podem ter sido 7 milhões de anos, em vez de 7 dias, e entre eles ocorreu a evolução."

Hoje, Aline dá aulas para crianças. Antes de ensinar a teoria da evolução, quis saber a opinião delas. "Todos responderam que foi Deus quem criou a vida." Mas ela garante que vai ensinar o que aprendeu na faculdade. "São regras que nós professores devemos cumprir."

fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,pesquisa-mostra-dilemas-de-biologos-evangelicos,460100,0.shtm