terça-feira, 26 de janeiro de 2010

QUEM PECOU? OU PORQUE SOFREM OS HAITIANOS?

Rev. Sandro Amadeu Cerveira

Em uma de suas muitas caminhadas Jesus e seus discípulos se depararam com um homem cego de nascença que mendigava nas ruas de Jerusalém. Diante da cena de sofrimento e dor logo pedem uma explicação. "Rabi, quem pecou, ele ou seus pais, para que nascesse cego?" (João 9:2)

A pergunta dos discípulos toca em uma de nossas piores angustias: Afinal por que sofremos? A coisa fica mais complicada se cremos que Deus é simultaneamente Todo poderoso e Bom.

Como explicar? De quem é a culpa? A questão, como colocada pelos discípulos, já sugere um tipo de resposta. O sofrimento é castigo. É uma questão de justiça. Não há como negar que essa é uma resposta razoável. Não raro nossas dores têm mesmo como causa o erro e o pecado.  Na pergunta dos discípulos aparecem as duas variantes dessa resposta.

Alternativa A – O sofrimento é um castigo merecido pelo próprio indivíduo que sofre. O homem pecou e por isso nasceu cego. Não fica claro se os discípulos estariam repetindo algum tipo de explicação cármica, comum em sua época, ou se para eles Deus pune por antecedência pecados ainda não cometidos. Não importa. Seja como for, nesse raciocínio, mesmo o sofrimento de um recém nascido com hidrocefalia ou soterrado nada mais é do que o merecido castigo de seus próprios pecados. Não há inocentes. Todos recebem apenas o mal que merecem.

Alternativa B – O sofrimento é um castigo herdado de outros. Às vezes os "justos pagam pelos pecadores". No pensamento de muitas culturas antigas as famílias são solidárias as penas de seus líderes. Filhos e esposas eram escravizados para pagar as dívidas dos pais, filhos eram mortos no lugar dos pais e isso era o normal. O cego de nascença estaria sofrendo porque seus pais cometeram algum pecado quer mereceu a dor de ter um filho cego, e ele, que não pecou recebeu como castigo a sina de viver nas trevas desde seu nascimento.

Seja como for, nesse tipo de explicação a causa do sofrimento é sempre o pecado de alguém. Os amigos de Jó pensavam assim e por isso não conseguiam compreender a tragédia que se abateu sobre o amigo sem imaginar algum pecado oculto.

A resposta de Jesus, como de costume, extrapola os parâmetros da pergunta. Não foi culpa dele. Não foi maldição hereditária. "Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus."  Como? A dor e o sofrimento podem ser dados pelo próprio Deus sem que seus filhos tenham feito nada de errado? Sem merecer punição ou castigo? Parece que é isso mesmo. Jó  expressou bem essa idéia quando disse: "o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR!" ou ainda "temos recebido o bem de Deus e não receberíamos também o mal?" (Jó 1:24 e 2:10) 

Dura é esta palavra, mas também libertadora. Se por um lado ela lança uma profunda interrogação sobre os motivos que o Todo Poderoso tem para nos fazer sofrer, por outro ela nos liberta da lógica infantil e ilusória de que a vida sobre a terra pode ser descrita como  meninos bonzinhos ganhando presentes de Papai Noel e os malvados sendo punidos com varadas.

Voltando a questão inicial. Eu não sei por que sofrem os haitianos. Nosso pouco conhecimento de sua religiosidade torna tentador o discurso da "maldição africana". Se  formos porém, esse caminho deveria nos levar a esperar fogo e enxofre sobre TODOS os povos e países. Nas palavras de Paulo o apóstolo.
 
"Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado; como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus;todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer.
A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua, urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios, a boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura; são os seus pés velozes para derramar sangue, nos seus caminhos, há destruição e miséria; desconheceram o caminho da paz.Não há temor de Deus diante de seus olhos." (Rm 3:9-18) De fato parece que não há inocentes.

Prefiro não fazer julgamentos. Escolho apontar e me apegar a alternativa proposta por Jesus. Esperar e agir para que tudo que ali se passa seja transformado pela obra salvadora de Deus. Que em meio a tanto sofrimento e tragédia se manifeste a glória de Deus por meio do testemunho de seus filhos. Prefiro ser instrumento da ação curadora de Deus mesmo tendo de violar alguma regra religiosa. (ver como Jesus curou o cego num sábado João 9) . Não sei se os haitianos são mais pecadores que qualquer povo, só sei que Jesus me deu o exemplo de que mesmo as custas das regras religiosas é preciso fazer o bem e ser instrumento de cura e alívio para os que sofrem. Pense no Haiti, Ore pelo Haiti. Se Deus te chamar vá para o Haiti. Se Deus te tocar segure as cordas daqueles que estão descendo até o Haiti contribuindo para que os médicos, bombeiros, soldados, missionários e todo exército de homens e mulheres que ali se arriscam tenham os meios necessários para fazer a obra de Deus.

fonte: http://www.segundaigreja.org.br/pastorais_view.asp?id=60

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