| Karl Heinz Kienitz  Em 1884, vinte anos antes de receber o Prêmio Nobel de  Física, Lord Rayleigh dizia ao plenário da 54a Reunião da Associação  Britânica para o Avanço da Ciência: "Muitas pessoas excelentes temem a  ciência como tendendo ao materialismo. Não é surpreendente que tal  apreensão exista, pois, infelizmente, há escritores, falando em nome da  ciência, que se fixaram a fomentá-la. É verdade que entre os homens de  ciência, como em outros ramos, pontos de vista pouco refletidos podem  ser encontrados a respeito das coisas mais profundas da natureza; mas  que as crenças professadas por Newton, Faraday e Maxwell toda uma vida  seriam incompatíveis com o hábito científico da mente é, sem dúvida, uma  proposição que eu não preciso me delongar em refutar". De  Rayleigh até hoje cientistas de renome têm reiterado a compatibilidade  de fé cristã e ciência. Para Max Planck, "religião e ciência natural  combatem unidos numa batalha incessante contra o ceticismo e o  dogmatismo, contra a descrença e a superstição. E a palavra de ordem  nesta luta sempre foi e para todo sempre será: em direção a Deus!". Em  outra oportunidade Planck foi ainda mais incisivo: "A prova mais  imediata da compatibilidade entre religião e ciência natural, mesmo sob  análise detalhada e crítica, é o fato histórico de que justamente os  maiores cientistas de todos os tempos, homens como Kepler, Newton,  Leibniz, estavam imbuídos de profunda religiosidade". Muitos outros  nobéis, como Mott, Townes, Penzias, Schawlow e Phillips expressaram-se  de forma semelhante.  No entanto, mais de um século após a  palestra de Lord Rayleigh, persiste a situação por ele mencionada. Como  evidência tupiniquim, confira-se uma recente entrevista feita com Marina  Silva, candidata à presidência da república ("Época", edição 627,  24/05/2010). Uma das perguntas foi: "Como a senhora lida com a  contradição entre ciência e religião?". A hipótese está enunciada de  forma inequívoca. Independe do que a entrevistada teria a dizer, ou  pior, independe do que os cientistas citados acima têm dito sobre o  assunto há séculos. Em sua pergunta, a jornalista elevou a (imaginária)  contradição entre ciência e religião à condição de verdade absoluta,  fato incontestável.   Rodney Stark, professor de sociologia da  Baylor University, apresenta uma possível explicação para atitudes como a  da entrevistadora de Marina Silva. Um conflito  entre fé e ciência tem  sido "o principal dispositivo polêmico usado no ataque ateu contra a  fé... afirmações falsas sobre religião e ciência têm sido usadas como  armas na batalha para 'libertar' a mente humana dos 'grilhões da fé'. A  verdade é que não há inerente conflito entre religião e ciência. De fato  a realidade fundamental é que a teologia cristã foi essencial para a  acensão da ciência". A explicação alternativa à de Stark é a de  que o formador de opinião engajado na difusão do imaginário conflito  desconhece Kepler, Newton, Leibniz, Rayleigh, Planck, Mott, Townes,  Penzias, Schawlow, Phillips e suas manifestações sobre a compatibilidade  de fé e ciência. Infelizmente tal desconhecimento só é possível se esse  formador de opinião não fizer corretamente seu trabalho de pesquisa ou  "se fingir de morto" diante do vasto material disponível sobre o  assunto, o que novamente implicaria motivações pouco louváveis. Enquanto  isto, mentiras sobre fé cristã e ciência continuam a ser impingidas ao  público.  Seja como for, os Newtons, Rayleighs e Plancks têm sido  amplamente ignorados – muitas vezes deliberadamente – quando o assunto é  fé e ciência. Isto me faz lembrar de uma frase de Jesus, na qual ele se  refere ao assunto ignorância deliberada: "Eles taparam os ouvidos e  fecharam os olhos. Se eles não tivessem feito isso, os seus olhos  poderiam ver, e os seus ouvidos poderiam ouvir; a sua mente poderia  entender, e eles voltariam para mim, e eu os curaria!" (Mt 13.15).  Assim, para reverter o quadro é necessário destapar os ouvidos e abrir  os olhos. Simples, não? • Karl Heinz Kienitz  recebeu o doutorado em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica  Federal de Zurique, Suíça. É professor do Instituto Tecnológico de  Aeronáutica em São José dos Campos. Karl mantém uma página na internet  sobre fé e ciência no endereço www.freewebs.com/kienitz. | 
Crer não é sinônimo de não pensar. Crer implica em pensar, em relacionar fé com a realidade, questionando uma a partir da outra. O conteúdo são pensamentos às vezes rápidos, em elaboração; outros, já mais elaborados. Ambos buscando provocar discussão e reposicionamentos, partindo sempre da confissão de fé protestante. Os artigos classificados como "originais" podem ser reproduzidos desde que com a menção da fonte e autoria. Ano V
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Ouvidos tapados, olhos fechados
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