quarta-feira, 14 de julho de 2010

Reconciliação para superar a violência

Antonio Carlos Ribeiro


Belo Horizonte, quarta-feira, 14 de julho de 2010 (ALC) - A comunicóloga Magali do Nascimento Cunha, da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), apresentou palestra sobre Religião e violência: conflitos e contribuições à paz, refletindo sobre o conflito religioso e a violência, assunto que se insere no tema Religiões e paz mundial, do 23º Congresso Internacional da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (Soter), reunido na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG).
A conferencista é doutora em ciências da comunicação, mestre em memória social, jornalista, professora de comunicação na Universidade Metodista de São Paulo e membro do Conselho Mundial de Igrejas.
Ela partiu da ideia de que os movimentos ecumênicos da atualidade surgem na esteira da proposta da Conferência Mundial de Missão, realizada em Edimburgo em 1910. Este é o momento de elaboração do germe do que é chamado de teologia das religiões, baseado na universalidade que marca a influência da cultura céltica. Neste contexto surgem esforços pela unidade visível dos cristãos, na busca pela paz entre povos cristãos, gerando reflexões que provocaram o surgimento de organismos ecumênicos, das ações diaconais e teológico-doutrinárias.

A professora assumiu como motivação a noção de memória de Cornelius Castoriadis, para quem o homem não existe para dizer o que é, mas para ser e fazer além do que é. Magali baseou-se na noção de ecumenismo com ênfase na paz e na vida, retomando o conceito de oikoumene, como tratado por Julio de Santa Ana no livro Ecumenismo e Libertação. Com isso, mostra as raízes, a partir das quais reflete sobre o movimento cristão pela paz e a justiça, e o esforço para superar conflitos religiosos e, após a Conferência de Edimburgo, como ação missionária.

No seu desenvolvimento, a noção de ecumenicidade apóia-se em Leibniz, o filosofo e matemático luterano, afirmando que o cristianismo deva ser compreendido como uma igreja universal que defenda e abrigue os sentidos da fé cristã. Daí se desenvolve uma preocupação com a vida e com a universalidade da fé. Isso fez crescer a preocupação com a intervenção e o testemunho cristão num mundo que começa a ser marcado por tensões.
Após a Conferência Mundial de Missão, realizada em Edimburgo, surgiram outros eventos, como a Conferência de Paz, de 1926, da qual participou o eclesiólogo católico Yves Congar. Em seguida, ocorreu também a Conferência de Paz 1929, em Praga, com a participação de 500 delegados. Esse encontro assumiu como afirmação categórica o "supremo dever da igreja cristã de lutar pelo desarmamento mental e moral dos povos em todos os países", observou a jornalista.
É nesse contexto político, social e religioso europeu, profundamente abalado pela Segunda Guerra Mundial (1939-45), que se desenvolveu a noção de responsabilidade social cristã frente ao mundo. A reflexão sobre o tema se torna a base para o surgimento do Conselho Mundial de Igrejas, em 1948. Em seguida, surgiu a Conferência Mundial sobre Igreja e Sociedade (Genebra, 1966), tendo como tema Paz e Justiça se beijam, na qual a América Latina esteve presente através do teólogo presbiteriano Richard Shaull.
Na etapa final da palestra, a professora concentrou-se na Década Ecumênica de Superação da Violência (2001-2010), que trouxe à tona a violência nas suas diversas formas: interpessoal, econômica, ambiental, militar, mostrando-se presente na sociedade, nas famílias e nas igrejas. Também tornou-se a primeira grande campanha de igrejas a afirmar com ênfase a reconciliação. O encerramento dessa década será celebrado na Jamaica em 2011.
A autora ressaltou questões candentes como a situação dos dalits (impuros), também conhecidos como intocáveis, na mesma esteira da qual surgiram as redes de defesa das pessoas com deficiência e o programa de acompanhamento do conflito entre palestinos e israelenses, propugnando pela paz com justiça e instituindo o Programa Kairos Palestina (www.eappi.org), com acompanhantes ecumênicos, em número de 100 por ano.
Ela concluiu sua fala referindo-se às questões da América Latina, para as quais recorreu à metáfora da tentativa de represamento do rio ecumênico, em que "as águas correm, fracas, mas correm". Reportou-se ao Projeto Brasil: nunca mais e, chegando à atualidade, denunciou o reforço do individualismo, do conservadorismo, da competição, do individualismo, que ganham forma no jogo de computador Guerra Espiritual, produzido e vendido pela Nintendo, que predomina na mídia cristã e é baseado na teologia do Reinado do Antigo Testamento, enfatizou.
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