Eduardo Ribeiro Mundim
O golpe de 64 - chamado pelos seus defensores da "revolução glorioso" - ocorreu quando eu tinha 1 ano de idade. Lembro-me vagamente de meu pai recomendar a minha irmã mais velha, alguns anos mais tarde, para que "tomasse cuidado com a língua", assim como comentários e piadas contra o governo militar por parte dele e de alguns tios. A perseguição também rondou a família, de diversos modos. Meu pai, gerente de banco à época, foi denunciado por um importante deputado ligado a cidade mineira de Barbacena - não sei dos detalhes, mas ele passou incólume (apesar de, fiquei sabendo mais tarde, ele escondera um jovem perseguido pela polícia). A diretora do jardim de infância solicitou auxílio a minha mãe para encontrar a fonte de uma frase que citara na formatura da minha turma naquela idade. Algo como "deixe-me ser o que sou". Meu tio por afinidade, pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, ex-missionário na Argentina (onde nasceu seu filho caçula), foi forçado a abandonar o ministério para que não passasse fome com a família.
Eram os anos da guerra fria, com a histeria no seu auge (lembro-me de ler que crianças eram devoradas pelos comunistas). E toda uma situação política de busca por mudanças em contraposição ao status quo. O tempo passado desde então traz a vantagem do conhecimento da evolução dos fatos, que influencia o chamado "distanciamento crítico". Ter passado a infância nesta época não marcou, como poderia ter ocorrido se fosse adolescente ou um jovem adulto.
Mas o conhecimento trazido pela reportagem da Revista Isto É a respeito do comportamento da igreja evangélica naquela época faz-me pensar e perguntar: até onde a cidadania do Reino supera a cidadania atual? Como foi possível a pastores denunciar ovelhas pelo crime de opinião? Como é possível que cristãos denunciem outros por pensar diferente, quando fomos perseguidos pela mesma razão desde a morte de Estêvão? Como é possível conjugar uma profissão de auxílio, o ministério pastoral, com a atividade de informante da polícia política?
O comportamento de Enéas Tognini não é escandaloso porque não violou as normas básicas do Reino - era uma manifestação política legítima. Mas o bispo metodista, já falecido, Isaías Fernandes Sucasas, segundo a reportagem, denunciar pastores sob sua supervisão direta... É verdade que logo no alvorar da redemocratização a Igreja Metodista pediu perdão pelos seus erros institucionais, justiça lhe seja feita. Maior escândalo é o suposto cristão Roberto Pontuschka, capelão militar: evangelista durante o dia, torturador à noite. Como é possível a alguém que se confessa pecador perdoado e restaurado unicamente pela graça de morte de Jesus na cruz infligir conscientemente sofrimento a outro, de maneira degradante e cruel?
Gostaria que a reportagem não fosse verdadeira. Gostaria que a pesquisa sobre sexo e evangélicos publicada pelo sítio Genizah não fosse verdadeira. Ambas mostram que nós, evangélicos, frequentemente arrogantes, somos iguais aos outros, capazes dos mesmos pecados.
Como diz o apóstolo, "Assim, aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia!"
Gostaria que a reportagem não fosse verdadeira. Gostaria que a pesquisa sobre sexo e evangélicos publicada pelo sítio Genizah não fosse verdadeira. Ambas mostram que nós, evangélicos, frequentemente arrogantes, somos iguais aos outros, capazes dos mesmos pecados.
Como diz o apóstolo, "Assim, aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia!"
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