domingo, 31 de julho de 2011

CARTA EM APOIO AO REV. RICARDO GONDIM

O Conselho de Presbíteros da Segunda Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte, reunido em 09 de julho de 2011, por decisão unânime dos presentes, vem a público expressar seu apoio e solidariedade ao Rev. Ricardo Gondim em relação aos desdobramentos de sua entrevista à Revista Carta Capital publicada em 27 de Abril deste ano no qual defende o reconhecimento jurídico da união homoafetiva no Brasil.

Repudiamos, em primeiro lugar, a onda de insinuações, julgamentos e insultos  que o pastor fundador da Assembléia de Deus Betesda vem sofrendo. Em sua grande maioria, tais críticas carecem de profundidade além de, em alguns casos, de um mínimo de respeito e amor cristão. Denunciamos tais discursos como espúrios e carentes de qualquer conexão com o espírito que emana dos Evangelhos. O reverendo Gondim, por sua humanidade, trajetória e contribuição ao meio evangélico brasileiro, merece tratamento respeitoso e menos leviano, mesmo em meio ao mais acalorado debate.

Lamentamos também a decisão da revista Ultimato de “des-continuar” a coluna do Reverendo Gondim. Por cerca de 20 anos ele foi voz profética coerente e aplaudida por editores e leitores dessa que já foi considerada a mais progressista publicação evangélica.  Por seu tom crítico e arejado, a Ultimato tem sido um espaço de encontro, debate e acolhimento das vozes dissonantes do senso comum conservador e autoritário do meio evangélico. Nosso lamento não tem deriva da expectativa de que a Revista Ultimato endossasse as posições do pastor Gondim relativas aos direitos civis dos homossexuais. Assinantes por anos dessa publicação, sabemos e valorizamos a pluralidade e a liberdade de seus articulistas. Temos clareza também de que o tema tocado pelo reverendo é complexo e terreno fértil para polarizações. Por isso mesmo e acostumados que estávamos a ver em suas páginas temas polêmicos e questionamentos honestos nos decepcionou a opção dos editores da Ultimado pela exclusão de um colaborador da envergadura e honestidade intelectual de Ricardo Gondim. Empobrecedora escolha.  Silêncio e exclusão justo em um momento em que é necessário aprofundar e qualificar o debate relativo à tensão entre o sagrado direito de crença de uns e o democrático respeito aos direitos civis (laicos) de outros.

Perdemos muito com tudo isso. Como evangélicos mais uma vez passamos a nosso país a noção de que somos uma massa conservadora homogênea incapaz de ouvir qualquer voz divergente mesmo da boca de seus próprios filhos.

Por rejeitar como vocalização de nossas posições os discursos simplificadores de questões complexas, por negar como legitimas toda retórica do ódio e por desejar que não se repitam  inquisições (com ou sem fogueiras) nos solidarizamos com o Reverendo Gondim, relembrando a máxima de Agostinho “No essencial, a unidade; na dúvida, a liberdade; em tudo, a caridade!".

Wertson Brasil de Souza, Presb.
Moderador do Conselho

Jorge Eduardo Diniz, Rev.
Pastor Titular

fonte: http://www.segundaigreja.org.br/noticias_view.asp?id=525

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Contestações ao noticiário sobre supostas pesquisas secretas

As contestações abaixo foram enviadas por correio eletrônico. Divulgo omitindo o remetente das mesmas - entre outras razões porque as argumentações são válidas independentemente de quem as faça.

Qui, 28 de Jul de 2011 5:02 pm

1a. contestação

Sejam mais céticos. Duvidem mais das coisas que leem na Internet. Sempre que querem dar credibilidade a algo dizem que "cientistas afirmam" (no indefinido) ou "é segredo ou secreto", ou " a Nasa não quer revelar...", ou atribuem a Einstein coisas que ele nunca falou, falam que Darwin, Freud, Einstein, Marx se arrependeram no final da vida ...Ciência vive de comprovação e certezas, por isso é diferente da fé.

2a contestação.

Como esta notícia vem de um blog cristão conservador de direita, traduzida de um site de mesma ideologia, com fonte em um tablóide inglês de cunho conservador e textos resumidos; acho importante esclarecer algumas coisas para quem está formando opinião sobre o assunto.

“cientistas britânicos criaram mais de 150 embriões híbridos de seres humanos com animais”

Em nenhum momento da notícia é comentado que estes embriões nunca chegam a 14 dias de idade e se desenvolvem no máximo até este ponto:

http://www.sciencephoto.com/image/313928/530wm/P6800679-Human_blastocyst-SPL.jpg

Acho que este tipo de informação não deveria faltar numa notícia que mexe com o sentimento de tantos; que também são, em sua maioria, leigos.

“155 embriões “mesclados”, contendo material genético tanto humano quanto animal, foram criados durante os passados três anos”

Estes embriões são formados por um óvulo animal sem núcleo, que é fecundado por um núcleo celular 100% humano. O único DNA não-humano que existe neste embrião está nas mitocôndrias restantes do óvulo que constituem no máximo 0,1% de todo material. Estas não adicionam em nada ao material genético responsável pelas divisões celulares que são 100% humanas. Será que todos que lêem esta notícia entendem o nível dessa “mescla”? Será que todos entendem que SE este embrião pudesse ser desenvolvido em uma gestação ele resultaria em um ser humano normal e não numa suposta quimera metade humano metade besta? Usam-se óvulos de animais não-humanos apenas para evitar o uso de óvulos humanos que são mais difíceis de adquirir.

“As pesquisas secretas foram reveladas depois que uma comissão de cientistas alertou sobre um cenário de pesadelo em que a criação de híbridos de seres humanos com animais poderia ir longe demais.”

As pesquisas não eram secretas (apenas para o tabloide sensacionalista), e o que esta comissão de cientistas veio alertar se referia ao uso de transgenia de características humanas para animais. A objeção ética no caso é em relação ao sofrimento de animais; não com os “embriões mesclados”.

A comissão está preocupada com questões relacionadas aos animais humanos e não-humanos que já estão vivos e podem experimentar sofrimento. Estes cientistas não se opõe a pesquisa promissora que é feita com um amontoado de células com menos de 2 semanas de idade.

Na notícia traduzida escrevem:

“O Prof. Robin Lovell-Badge do Instituto Nacional de Pesquisas Médicas e coautor de um relatório feito pela comissão de cientistas, avisou sobre os experimentos e pediu uma vigilância mais rigorosa desse tipo de pesquisa.”

Na notícia original escrevem assim (traduzi para facilitar):

“ Professor Robin Lovell-Badge (…) disse que os cientistas não estavam preocupados com relação aos embriões humanos-animais porque pela lei estes tem de ser destruídos em até 14 dias (...) Ele diz: ‘A razão de fazer estes experimentos é entender mais sobre o desenvolvimento humano inicial e encontrar formas de curar doenças sérias, e como um cientista eu sinto que existe um imperativo moral em continuar com esta pesquisa.”

Como percebem, a informação correta não causa o mesmo efeito que o texto que foi traduzido de forma convenientemente errada.

“Dos 80 tratamentos e curas que ocorreram a partir das células-tronco, todos vieram das células-tronco adultas, não das embrionárias. Na base da ética e moralidade, [os experimentos com células-tronco embrionárias] fracassam; e na base da ciência e medicina também”.

Esta é a opinião de um político católico pró-vida sem qualquer especialidade no assunto. Ele ignora o fato de que a produção de células-tronco adultas só foi possível graças às pesquisas em células-tronco embrionárias. Além disso, avanços em vários estudos vieram indiretamente desse tipo de pesquisa, e o potencial de novas descobertas ainda existe. Na base da ciência e medicina estão longe de ser um fracasso, e na verdade tem grande potencial de continuar a ser um sucesso. Com base na “ética e moral” que defende um blastocisto por este supostamente possuir uma alma, em detrimento da cura potencial de inúmeras doenças que certamente vão matar milhões de seres humanos formados e conscientes; talvez ela fracasse mesmo. Ainda bem.

“Josephine Quintavalle, da organização pró-vida Comment on Reproductive Ethics (Corethics), disse para o Daily Mail, “Estou horrorizada com o fato de que isso esteja ocorrendo e não sabíamos nada disso. Por que eles guardaram isso como segredo? Se eles têm orgulho do que estão fazendo, por que precisamos fazer ao Parlamento perguntas para que isso seja trazido à luz?”

Não guardaram nada em segredo. Agiram de acordo com a legislação de embriologia vigente desde 2008, como a própria reportagem ressalta. Bastava que as organizações pró-vida (pró-vida de quem?) incomodadas com esse tipo de pesquisa tivessem checado a informação 3 anos atrás. Cientistas estão ocupados com coisas mais importantes que informar todo novo procedimento científico de maneira simples, para organizações e pessoas que estão longe de querer entender ciência. Quem acredita que um amontoado de algumas dezenas de células merece mais respeito que a cura de seres em plena consciência/senciência precisa se informar. Caso o problema não seja falta de informação, mas sim, excesso de crenças pessoais, espero que estas se mantenham aonde pertencem: no subjetivo de cada um.

De uma forma geral a ‘notícia’ vem mais para obscurecer do que para esclarecer, contendo várias informações incorretas e tendenciosas; além de ser baseada em um tabloide de reputação duvidosa e linguagem simplista, sem qualquer compromisso com a divulgação científica correta.

3- comentário -

Muito legal Pedro essa discussão. Isso me motiva a continuar sócio do Debulhar. Parabenizo ao Ageu por tê-la iniciado. Os seres humanos são animais vertebrados, bípedes, polegar opositor, encéfalo bem desenvolvido e mamíferos. Com DNA com lógicas similares a de outros mamíferos. Essa separação dita entre humanos e animais tem a mesma origem da separação feita para alimentar a discriminação sofrida por Darwin.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Cientistas da Inglaterra alertam sobre pesquisas secretas de híbridos de seres humanos com animais

LONDRES, Inglaterra, 25 de julho de 2011 (Notícias Pró-Família) — Num cenário que um grupo de cientistas da Academia de Ciências Médicas avisou se assemelha ao “Frankenstein” de Mary Shelley, cientistas britânicos criaram mais de 150 embriões híbridos de seres humanos com animais em pesquisas secretas conduzidas em laboratórios britânicos.
De acordo com o jornal Daily Mail, 155 embriões “mesclados”, contendo material genético tanto humano quanto animal, foram criados durante os passados três anos por cientistas que disseram que dava para se colher células-tronco para serem usadas em pesquisas com a finalidade de alcançar possíveis curas para uma grande variedade de doenças.
As pesquisas secretas foram reveladas depois que uma comissão de cientistas alertou sobre um cenário de pesadelo em que a criação de híbridos de seres humanos com animais poderia ir longe demais.
O Prof. Robin Lovell-Badge do Instituto Nacional de Pesquisas Médicas e coautor de um relatório feito pela comissão de cientistas, avisou sobre os experimentos e pediu uma vigilância mais rigorosa desse tipo de pesquisa. De forma especial ele concentrou a atenção em material genético humano que vem sendo implantado em embriões animais, e tentativas de dar atributos humanos aos animais de laboratórios injetando células-tronco nos cérebros de macacos.
Revelou-se que os laboratórios da Universidade King’s College de Londres, da Universidade de Newcastle e da Universidade de Warwick receberam autorizações para realizar as pesquisas após a introdução da Lei de Embriologia e Fertilização Humana de 2008 que legalizou a criação de híbridos de seres humanos com animais, bem como “cíbridos”, em que um núcleo humano é implantado numa célula animal, e “quimeras”, em que células humanas são misturadas com embriões animais.
Entretanto, os cientistas não pediram nenhuma lei adicional para regulamentar tais pesquisas polêmicas, mas pediram, em vez disso, uma comissão de especialistas para supervisioná-las. O Prof. Martin Bobrow, presidente do grupo de trabalho da Academia que produziu o relatório, disse: “A vasta maioria dos experimentos não apresenta questões além do uso geral de animais em pesquisas e esses experimentos devem prosseguir sob os regulamentos atuais. Um número limitado de experimentos deveria ser permitido e sujeito a análises por parte do órgão de especialistas que recomendamos; e só um número muito pequeno de experimentos deveria ser empreendido, até que pelo menos as consequências potenciais sejam mais plenamente compreendidas”.
Peter Saunders, presidente da Federação Médica Cristã, uma organização com sede na Inglaterra com 4.500 médicos ingleses, expressou ceticismo acerca de tal órgão regulador.
“Cientistas regulando cientistas é preocupante porque os cientistas geralmente não são especialistas em teologia, filosofia e ética e muitas vezes têm interesses especiais de natureza ideológica ou financeira em suas pesquisas. Além disso, eles não gostam que coloquem restrições em seu trabalho”, observou Saunders.
Numa sessão de perguntas e respostas no Parlamento sob a direção do Lorde David Alton depois da divulgação do relatório, revelou-se que as pesquisas envolvendo híbridos de seres humanos com animais pararam devido à falta de financiamento.
“Argumentei no Parlamento contra a criação de seres meio humanos e meio animais como assunto de princípio”, disse lorde Alton. “Nenhum dos cientistas que apareceu diante de nós conseguiu nos dar qualquer justificativa em termos de tratamento. Em toda fase a justificação dos cientistas foi: se tão somente vocês nos derem permissão para fazer isso, encontraremos curas para todas as doenças que a humanidade conhece. Isso é chantagem emocional”.
“Eticamente, nunca dá para justificar isso — isso nos tira o crédito como um país. É envolver-se com coisas bizarras”, acrescentou lorde Alton. “Dos 80 tratamentos e curas que ocorreram a partir das células-tronco, todos vieram das células-tronco adultas, não das embrionárias. Na base da ética e moralidade, [os experimentos com células-tronco embrionárias] fracassam; e na base da ciência e medicina também”.
Josephine Quintavalle, da organização pró-vida Comment on Reproductive Ethics (Corethics), disse para o Daily Mail, “Estou horrorizada com o fato de que isso esteja ocorrendo e não sabíamos nada disso. Por que eles guardaram isso como segredo? Se eles têm orgulho do que estão fazendo, por que precisamos fazer ao Parlamento perguntas para que isso seja trazido à luz?”
“O problema com muitos cientistas é que eles querem fazer coisas porque querem fazer experiências. Essa não é uma justificativa boa o suficiente”, concluiu Quintavalle.
 

quarta-feira, 27 de julho de 2011

John Stott Has Died

An architect of 20th-century evangelicalism shaped the faith of a generation.

Editor's Note: John Stott died today at 3:15 London time (about 9:15 a.m. CST), according to John Stott Ministries President Benjamin Homan. Homan said that Stott's death came after complications related to old age and that he has been in discomfort for the last several weeks. Family and close friends gathered with Stott today as they listened to Handel's Messiah. Homan said that John Stott Ministries has been preparing for his death for the past 15 years. "I think he set an impeccable example for leaders of ministries of handing things over to other leaders," Homan said. "He imparted to many a love for the global church and imparted a passion for biblical fidelity and a love for the Savior." This story will be updated as more information becomes available.

domingo, 24 de julho de 2011

O inicio da vida humana e o status do embrião

Gottfried Brakemeier

Apesar das igrejas cristãs não terem uma opinião unânime sobre o "status do embrião" (e, à exceção da Católica Romana, não terem uma fonte dogmática final), conjuntamente afirmam que a vida é um dom de Deus. Ninguém existe por decisão dos pais, mas porque Ele é que dá origem à própria vida. O ser humano, na verdade, nada cria, mas compreende os mecanismos e os copia, não sendo a origem primordial de nada. "Apenas maneja, manipula".

Biblicamente a dignidade humana não nasce na sua condição como tal, mas é fruto de um dom divino. A dignidade não está vinculada ao grau de evolução biológica, ou à capacidade de intervir na natureza (para o bem e para o mal), mas simplesmente em virtude da eleição de Deus. E esta eleição visa o serviço no mundo, sob Suas orientações. E pelo relato bíblico, tal dignidade é anterior a qualquer atitude humana. Por extensão, o embrião humano também é revestido desta mesma dignidade.
Contudo, há divergências sobre o início da vida em si, que devem ser levadas em consideração.

Assumir que a vida humana se inicia completamente na fecundação exclui diversos determinantes óbvios: a necessidade do embrião ser recebido e implantado no útero e a da existência de um meio ambiente propício ao seu desenvolvimento e crescimento, o que incluiu laços interpessoais (uma "biosfera"). Definir a vida humana sem levar em consideração os relacionamentos sociais é ignorar a sua complexidade, reduzindo-a a meras expressões do genoma. Estariam mais próximos à verdade aqueles que defendem não ser possível definir o início da vida humana, sendo este, por definição, "indefinido"? E se assim o for, quais as repercussões práticas?

 A nidação, o momento no qual o ovo se fixa à parede uterina, é a primeira experiência de socialização e de acolhimento. A mãe acolhe aquele ser, e estabelece vínculos que progressivamente se tornarão mais complexos, com repercussões em toda a vida futura da pessoa. Também é a etapa final de um rigoroso processo seletivo, já que entre 40 e 70% dos zigotos não são acolhidos pelo útero. Este número impressiona quando se pensa em dar ao ovo o mesmo status moral de um ser humano já nascido. Se o óvulo fecundado, antes da nidação, é equivalente moral de um já nascido, tal estatística refletiria verdadeira catástrofe humana!

Mas não sendo moralmente equivalente ao ser humano plenamente desenvolvido, o zigoto permanece como semente que tem como alvo sua nidação e completo desenvolvimento. Este "ser humano que será" não é uma "coisa", um objeto, devendo ser tratado com respeito e reverência. E isto deve ser levado em conta na fertilização in vitro, no uso da pílula do dia seguinte, na clonagem, na busca por células tronco, dentre outras.

Ainda que a natureza não endosse a tese de que o direito à vida é absoluto (se assim o fosse, não existiriam embriões não implantados") este direito não pode ser negado, exceto quando confrontado com o direito à vida de outra pessoa (a mãe, no caso dos embriões).

A igreja luterana entende decisão ética como aquela que é tomada após avaliação cuidadosa dos argumentos favoráveis e desfavoráveis, dos prejuízos e dos benefícios, assim como para as consequências. "O critério passa a ser o conveniente, o adequado, o fruto de uma ação, a fim de que seja preferida a ação menos danosa

argumentação desenvolvida em "Bioética: avanços e dilemas numa ótica interdisciplinar - do inicio ao crepúsculo da vida: esperanças e temores, disponível em http://www.google.com/url?sa=X&q=http://books.google.com/books/about/Bio%25C3%25A9tica.html%3Fid%3DJfia0AD8dLkC&ct=ga&cad=CAcQAhgAIAEoBDAAOABAm5iU8QRIAVgAYgVwdC1CUg&cd=j6LBf3-Cu7w&usg=AFQjCNFV7a53eo2S95IbIP4bh9I6OE6hkA
resumo  e comentários adicionais de inteira responsabilidade deste blog - não revisado pelo autor do capítulo

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Apelo à desobediência. Manifesto de párocos austríacos

A recusa de Roma a uma reforma da Igreja há muito esperada e a
inatividade dos nossos bispos não só nos permitem, mas também nos
obrigam a seguir a nossa consciência e a agir de forma independente.

Nós, padres, queremos estabelecer, no futuro, os seguintes sinais:

1. Rezaremos, no futuro, em todas as Missas, uma oração pela reforma
da Igreja. Levaremos a sério a palavra da Bíblia: pedi e receberei.
Diante de Deus, existe a liberdade de expressão.

2. Não recusaremos, em princípio, a Eucaristia aos fiéis de boa
vontade. Isso é especialmente verdadeiro aos divorciados de segunda
união, aos membros de outras Igrejas cristãs e, em alguns casos,
também aos católicos que abandonaram a Igreja.

3. Evitaremos celebrar, se possível, nos domingos e dias de festa,
mais de uma Missa ou de encarregar padres em viagem ou não residentes.
É melhor uma liturgia da Palavra organizada localmente do que turnês
litúrgicas.

4. No futuro, vamos considerar uma liturgia da Palavra com
distribuição da comunhão como uma "Eucaristia sem padre", e assim nós
a chamaremos. Dessa forma, cumpriremos a nossa obrigação dominical em
tempos de escassez de padres.

5. Rejeitaremos também a proibição da pregar estabelecida para leigos
competentes e qualificados e para professoras de religião.
Especialmente em tempos difíceis, é necessário anunciar a Palavra de
Deus.

6. Comprometer-nos-emos a que cada paróquia tenha o seu próprio
superior: homem ou mulher, casado ou solteiro, de tempo integral ou
parcial. Isso, no entanto, não por meio das fusões de paróquias, mas
sim mediante um novo modelo de padre.

7. Por isso, vamos aproveitar todas as oportunidades para nos
manifestar publicamente em favor da ordenação de mulheres e e de
pessoas casadas. Vemo-los como colegas, e colegas bem-vindos, ao
serviço pastoral.

Além disso, sentimo-nos solidários com aqueles colegas que, por causa
do seu casamento, não podem mais exercer as suas funções, mas também
com aqueles que, apesar de um relacionamento, continuam prestando seu
serviço como padres.

Ambos os grupos, com sua decisão, seguem a sua consciência – como nós
fazemos com o nosso protesto. Nós os vemos, assim como o papa e os
bispos, como "nossos irmãos". Não sabemos o que mais deve ser um
"coirmão". Um é o nosso Mestre – mas somos todos irmãos. "E irmãs" –
se deveria dizer, no entanto, entre os cristãs e cristãos.

É por isso que queremos nos levantar, é isso que queremos que
aconteça, é por isso que queremos rezar. Amém.

Domingo da Trindade, 19 de junho de 2011

fonte: www.pfarrer-initiative.at

tradução de Moisés Sbardelotto.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Brasil: Nunca Mais! Mas ainda Não

A repatriação de documentos do período da ditadura militar, vindos de Genebra, foi celebrada no dia 14 de junho de 2011 num ato público dos mais belos e comoventes. O acervo Brasil: Nunca Mais, guardado a sete chaves pelo Conselho Mundial de Igrejas, lançará luz sobre o período de exceção dos direitos humanos, onde todas as formas de violência sobre a vida humana eram usadas sem piedade pelos “auto-intitulados” defensores da pátria brasileira.


Dentre as inimagináveis formas de tortura, a violência sexual, de homens e mulheres, muitas vezes acontecia diante de cônjuges e filhos de prisioneiros; uma verdadeira destituição da humanidade, tantos dos algozes como das vítimas.


Não se questiona o fato de que a repatriação desses documentos traz um mínimo de justiça para a memória dos mortos, seus familiares e um conforto indescritível de dever comprido para tantas pessoas que sobreviveram e ainda continuam atuantes na defesa dos direitos humanos.



Caberia à nação brasileira e seus governantes uma homenagem mais contumaz a esses heróis e heroínas: eliminando toda forma de tortura na sociedade brasileira.


Não obstante, os governantes desse Brasil, absolutamente livres dos algozes da ditadura militar, vergonhosamente entregam-se para outros tipos de algozes: O poder, o dinheiro e o conforto. E por isso, fecham os olhos para a tortura sistemática que ocorre nas prisões de todo o País.  


E nem é preciso estatísticas para elucidar esse triste fato. É sabido e notório que violentadores de mulheres e crianças são julgados por parceiros de cárcere, em cenas com estupro coletivo e que parte da população aplaude esse tipo de “justiça”.  Isso, sem contar as torturas proferidas por agentes policiais, que via de regra, são pagos para garantir que haja tratamento justo para todo ser humano.


Do outro lado das celas fétidas e super lotadas, estão juízes, desembargadores, governadores de Estado; etc... Ou seja, existe todo um aparato para tortura nas prisões desse Brasil “supostamente”, zeloso dos direitos humanos. Maior hipocrisia que essa? Somente a propagada nos porões ditadura militar.


Segundo o Instituto Brasil Verdade, entre 1997 e 2009, foram registrados 211 casos de tortura em prisões brasileiras. Evidentemente, esses dados não ilustram completamente a realidade dos presídios superlotados onde as condições de vida e higiene estão aquém do que seria aceito até para animais. Segundo o Instituto Brasil Verdade “Apesar de o Brasil ter ratificado diversos tratados e convenções de combate à tortura, a prática ainda continua sendo recorrente no país.”


Todas as denúncias sobre torturas no Brasil entre pessoas que vivem em cárcere encontram fôlego no relatório da Organização das Nações Unidas – ONU de 2006.


Dito isso, fica o alerta: Vivemos tempos de Brasil: Nunca mais; mais ainda não! Pois enquanto houver tortura em solo brasileiro, só resta  a nós brasileiros/as o papel de cúmplices ou agentes de transformação.


De que lado você está? Pense! Faça todo possível para que Nunca Mais, haja tortura no Brasil.

___________

Para aprofundar leia:


fonte: http://metodistaconfessante.blogspot.com/2011/07/brasil-nunca-mais-mas-ainda-nao.html

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Metodistas elegem bispos e aprovam plano de expansão missionária

Brasília, quarta-feira, 13 de julho de 2011 (ALC) - Após oito turnos, em oito horas de escrutínio, a Igreja Metodista do Brasil escolheu o Colégio Episcopal para os próximo quatro anos. A eleição transcorreu no 19. Concílio Geral, reunido de 9 a 17 de julho em Brasília, que também aprovou projeto estratégico missionário para o Brasil, prevendo para daqui a 15 anos instalação de uma Região Eclesiástica em 26 Estados da Federação.

A meta inicial é a de consolidar uma Região Eclesiástica em Minas Gerais, criar uma Região em Santa Catarina, outra em Mato Grosso do Sul, e promover a autonomia das congregações do interior de São Paulo até o próximo Concílio Geral, em 2016. 

Dos oito bispos que integram o Colégio Episcopal, cinco foram reeleitos: Paulo Tarso de Oliveira Lockmann, João Carlos Lopes, a bispa Marisa de Freitas Ferreira, Luiz Vergílio Batista da Rosa e Adolfo Evaristo de Souza. São novos integrantes do Colégio: Adonias Pereira do Lago, Roberto Alves de Souza e José Carlos Peres.
Dados apresentados no Concílio indicam que a Igreja Metodista experimentou crescimento de 20,84% de 2006 a 2011, somando agora 214,7 mil membros, que dispõem de 1.038 igrejas, 373 congregações, 400 pontos missionários no país, atendidos por 209 pastores e pastoras, dez diáconos e diaconisas, e 1.073 presbíteros e presbíteras. Nos últimos cinco anos, foram incorporados ao ministério 360 ministros.

O presidente do Concílio, bispo João Carlos Lopes, e o secretário executivo do Colégio Episcopal, pastor Stanley da Silva Moraes, não permitiram a distribuição de Carta Aberta dirigida aos conciliares emitida pela Rede Metodista Confessante. A carta contém uma série de questionamentos dirigidos à igreja.

A Rede pede autonomia do gerenciamento dos recursos humanos, dos recursos financeiros e a admissão de gestores técnicos nas instituições de ensino vinculadas à Igreja Metodista sem a interferência do Colégio Episcopal.
Confessantes comparam os “gastos astronômicos” para construir templos com os recursos destinados a projetos sociais, lembrando que muitas igrejas locais sequer possuem projeto social. “É preciso recordar que Jesus nasceu num estábulo e que, portanto, não faz sentido que o investimento de energia missionária e de recursos financeiros se sobreponha ao investimento maior que é o resgate de pessoas”, justificam.

Eles criticam o plano missionário, aprovado no Concílio, pois segue uma lógica de mercantilização da fé, priorizando cidades com mais de 100 mil habitantes e desconsiderando pequenas cidades desprovidas de assistência dos poderes públicos, e abandonadas pelas mega-igrejas que apenas buscam o crescimento numérico e financeiro.

Frisam que o episcopado na Igreja Metodista é encargo de “serviço especial”, portanto temporário. Não entendem, pois, porque bispos não reassumem funções pastorais em congregações após findarem o período de serviço no bispado. Eles sugerem que os bispos não eleitos “voltem a assumir suas condições primárias de presbíteros”, proporcionando, assim, uma “soma de saberes e vivências que muito contribuirão para o desenvolvimento do caminhar missionário das igrejas locais em todo o Brasil”.

Mas a Rede Confessante foi autorizada a distribuir no conclave manifesto pedindo a anulação de decisão do 18. Concílio, que retirou a Igreja Metodista de todos os organismos ecumênicos que contavam com a presença da Igreja Católica Apostólica Romana. A decisão, argumentam, fere princípios fundamentais do Evangelho – para que todos sejam um - e da tradição metodista. Eles reivindicam a anulação dessa decisão.
Cerca de 250 pessoas participaram, no sábado, 9, do culto de abertura do Concílio, reunido no templo metodista da Asa Sul de Brasília. Na pregação, o bispo João Carlos disse que nada é mais importante do que o reino de Deus e que todos devem se vestir de humildade para que os interesses do alto sobressaiam.  
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Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC)
Edição em português: Rua Ernesto Silva, 83/301, 93042-740 - São Leopoldo - RS - Brasil
Tel. (+55) 51 3592 0416

quinta-feira, 7 de julho de 2011

O que os repórteres viram, mas a igreja não

Nesta terça-feira, 5 de julho, o programa Profissão Repórter (Rede Globo), conduzido pelo premiado jornalista Caco Barcellos, trouxe ao público o drama da violência doméstica contra mulheres. Com relatos e números difíceis de aceitar, os repórteres viram um problema grave e pouco enfrentado pela sociedade e pela igreja.

Segundo o programa, de janeiro a março deste ano duas mil mulheres registraram boletim de ocorrência por agressão apenas na região da grande Vitória, no Espírito Santo. É o estado onde morreram mais mulheres assassinadas em dez anos.

Há dois anos, a justiça de São Paulo criou um juizado especial só para julgar casos de violência doméstica. Setenta e cinco mulheres foram chamadas para um mutirão de audiências. A maioria desiste do processo. Das 42 que vieram, só oito resolveram manter o processo contra o companheiro agressor.

Ao contrário do que se pode pensar, a igreja evangélica não está imune ao problema. Muito menos isenta de responsabilidade. O livro Até Quando?, de Aileen Silva Carroll e Sérgio Andrade, discute a questão: mostra mitos e verdades, aponta caminhos de ajuda às vítimas e encoraja a igreja a assumir o seu papel na proteção e defesa das mulheres que sofrem.

Já na introdução os autores esclarecem: “Em geral, quando se fala de ‘violência doméstica’, a impressão que podemos ter é que ela acontece necessariamente no contexto do lar. Quando falamos da ‘violência praticada por parceiro íntimo’, deixamos claro que embora muitos atos de agressão aconteçam no lar, eles também podem ocorrer em lugares públicos e privados”.

O livro surgiu de um projeto de pesquisa desenvolvido pela ONG Diaconia e pela Comissão Central Menonita na região metropolitana de Recife. Oitenta e dois pastores, pastoras e líderes de igrejas evangélicas foram entrevistados sobre o tema da violência contra a mulher. Cinquenta mulheres que frequentavam igrejas também foram ouvidas.

Leia alguns depoimentos
“Meu marido deixava marcas roxas em mim de tanto bater. Tínhamos muito envolvimento na igreja. Eu não podia falar do meu problema lá, porque todo mundo nos conhecia, e tinha que ser uma fachada. Na rua era uma coisa, e em casa era outra.”
Mulher evangélica

“Já fui procurado por mulheres que sofrem violência várias vezes. Outro dia, uma moça foi agredida pelo marido. Ele quebrou a perna dela e lhe cortou o braço com uma faca.”
Pastor evangélico

“Muitos pastores não têm tido a coragem de tratar estas situações”.
Pastor evangélico

No prefácio do livro, o Pr. Carlos Queiroz, diz que “não há como celebrar os depoimentos, pois eles geram revolta e indignação. Arraigados na certeza de que temos uma missão a cumprir, todos os cristãos devem estar dispostos a seguir firmemente até as últimas consequências na luta em defesa das mulheres que sofrem violência”.

A violência doméstica e familiar contra a mulher é, segundo a lei Maria da Penha (lei nº 11.340/06, Art 5º), “qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial”.
 
fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/o-que-os-reporteres-viram-mas-a-igreja-nao

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Não só evangélicos foram delatores e torturadores

Poderíamos contar histórias escabrosas de quando fomos perseguidos, presos e mortos pela ditadura militar (Inquisição Sem Fogueiras, J. D. Araújo). Houve muitos evangélicos envolvidos com denúncia e tortura, na história recente do Brasil. Escandalizam até os parentes dos pastores apontados como informantes e delatores. Abduzidos, presos, torturados, impedidos de trabalhar, exilados, perseguidos, fomos discriminados ideológica e eclesiasticamente, no ambiente evangélico. Nenhuma denominação foi inocente, posso afirmar.

Parte da história de cristãos que foram vítimas da ditadura aterrissou na terça-feira, 14 de junho, no Ministério Público Federal de São Paulo. O pastor presbiteriano brasileiro Charles Roy Harper, funcionário do CMI por 22 anos, concedeu-me uma entrevista, que o leitor encontrará no livro que escrevo (Jaime Wright - O Pastor dos Torturados). O trabalho de repatriação dos documentos componentes do Projeto “Brasil: Nunca Mais”, sustentado em todos os sentidos por protestantes do Conselho Mundial de Igrejas, devolve ao Brasil aquilo que lhe pertence.

Cristãos conhecem, hoje, a história pioneira do ecumenismo no Brasil e, com ela, Jaime Wright, o presbiteriano que maior visibilidade teve na sociedade brasileira no século 20, com revelações que ajudaram a derrubar a ditadura. É preciso também esclarecer que não houve ajuda financeira das entidades católicas, pois dom Paulo Evaristo Arns, que abrigou o grupo do projeto “Brasil: Nunca Mais” (e o do projeto CLAMOR!), era suspeito dentro da própria comunidade, vigiado por colegas do episcopado. É preciso também lembrar que foi ele e dom Aloísio Lorscheider que foram a Roma defender Leonardo Boff, condenado ao silêncio na ditadura. Só protestantes do CMI financiaram os dois projetos, segundo afirmou dom Paulo Evaristo, que estava idoso e doente e não pode comparecer à cerimônia da repatriação. Foi aplaudido mesmo assim, por vários minutos.

A Igreja Católica, tida como aliada de primeira hora do golpe de estado, teve 9 bispos, 84 sacerdotes, 13 seminaristas e 6 freiras, além de 273 agentes de pastoral, presos, dos quais 34 sofreram tortura com choque elétrico, pau-de-arara e ameaças psicológicas. Entre os religiosos, 400 presos, houve pessoas com lesões físicas e psicológicas permanentes. O suicídio de Frei Tito, em função da tortura, é dos casos mais conhecidos. Como esse número se multiplicava às dezenas pela população e sem a mídia, ideologicamente atrelada ao regime, viu-se a necessidade de levar denúncias ao exterior (cf.Alc-Notícias/Clai-Brasil). Nenhuma igreja evangélica reclamou, no Brasil, de quaisquer dos pastores, seminaristas, presbíteros e membros comuns, que foram perseguidos, presos ou torturados pela ditadura. Exceção para a PC-USA, sendo Jaime Wright coordenador da Missão Central do Brasil, responsável por dezenas de igrejas presbiterianas.

São verdadeiras as referências e muito mais amplas do que se pensa, como no caso do líder da juventude da IPB, membro da ecumênica UCEB – União Cristã de Estudantes do Brasil, Ivan Mota Dias. Ele foi preso e desapareceu em 1971. O reverendo Zwinglio, seu irmão, também preso, torturado e, posteriormente, exilado, lembra de observadores indo à sua igreja para saber do comportamento de outros presbiterianos. Esperavam que ele delatasse alguém, como vários fizeram. O caso que mais chamou a atenção das organizações cristãs protestantes do exterior foi o do presbítero Paulo Stuart Wright, da IPB de Florianópolis, SC, deputado cassado pela ditadura. Phillip Poter, secretário geral do CMI (Conselho Mundial de Igrejas), tomou-o como símbolo entre os mártires protestantes sob as ditaduras militares na América Latina. Havia sido morto antes de 1973, provavelmente, como depôs dom Paulo Evaristo Arns, que ajudara nas buscas: “Sempre havia novas notícias dizendo que ele estava vivo; disseram que ele estava no Chile. Jaime Wright foi infatigável na procura do irmão”. As consequências dessa procura resultaram na maior movimentação em favor dos direitos humanos realizada no Brasil.

Leonildo Silveira Campos, teólogo presbiteriano e sociólogo, era um seminarista na IPI e um dos mais envolvidos com a repressão. Ficou dez dias preso em 1969. Não se esqueceu de quem “evangelizava” e torturava ao mesmo tempo: “Para os que desejam se converter, eu tenho a palavra de Deus. Para quem não quiser, há outras alternativas”, dizia, apontando a pistola debaixo do paletó. O assunto, porém, não se restringe a evangélicos delatores – incontáveis – e torturadores, que ninguém sabe como distinguir de outros que fizeram o mesmo: católicos, espíritas, umbandistas. Na verdade, foi responsável a sociedade repressiva e covarde que acomodou-se à ditadura. Mas é importante revelar o quanto as denominações evangélicas, sem nenhuma distinção, apoiaram e serviram o poder militar naquele momento.

Informações sobre as pessoas citadas como delatores e torturadores estarão à disposição de quaisquer interessados, publicamente, na internet e nos órgãos do Ministério Público Federal. Foi criada a Comissão da Verdade, que vai atuar nesse sentido. O protestantismo ecumênico também se empenha agudamente no assunto.no entanto, notícias recentes têm preocupado.

A Operação Silenciamento está em andamento. O vice-presidente Michel Temer, o senador José Sarney e o ministro Nelson Jobim formam o bloco promotor da impunidade e do silenciamento. Pleiteiam o sigilo eterno sobre crimes contra a humanidade, cometidos nos porões da ditadura. A repatriação dos documentos do projeto “Brasil: Nunca Mais” não incomoda somente às igrejas evangélicas e católicas omissas. Melhor silenciar, pensam alguns. Porém, nunca ouvimos tantos gritos, apesar das tantas velas apagadas nas tumbas dos torturados.

Derval Dasilio
É pastor da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor do livro “O Dragão que Habita em Nós” (2010).