Eduardo
Ribeiro Mundim
Antes
de prosseguir, é necessário definir o que se compreende por
ciência, assim como o que se define como deus.
A
atividade científica é um trabalho racional. Ou seja, fundamentada
na razão e no esforço. Ela inexiste na ausência de ambos, mas não
exclui o lúdico. Sendo racional, segue um raciocínio concatenado,
onde o fato/a ideia “A” segue naturalmente o fato/a ideia
imediatamente procedente, preferencialmente sem saltos sobre lacunas.
Não é suficiente o encadeamento lógico, sendo necessária a
comprovação experimental do mesmo. Se esta não for possível, por
mais consequente que seja o raciocínio será obrigatoriamente
refutado como falso.
Trabalhando
sobre o real e concreto, o acessível à experimentação e a
análise, a ciência descreve as características do objeto em
estudo, seu funcionamento (quando aplicável) e sua utilidade.
Conforme o campo do saber há maior ou menor grau de incerteza sobre
o seu conhecimento. Por exemplo, a metalurgia é um campo menos
instável que a medicina, a física clássica menos disputada que
alguns ramos da biologia. E isto é facilmente explicável: todo
objeto que sofre a menor influência do meio externo a ele mesmo, ou
cujas influências sejam passíveis de enumeração e controle,
fornece uma terreno sólido para descrições com baixa probabilidade
de erro. A biologia, por tratar de seres vivos sujeitos a influências
externas inumeráveis/desconhecidas (chamado “sistema aberto”),
trabalha, em alguns de seus ramos, sobre grande instabilidade. O
mesmo se aplica às doenças humanas, tanto nos aspectos preventivos
quanto nos terapêuticos.
Apesar
de trabalhar sobre o concreto, o cientista também propõe hipóteses
de trabalho, que necessitam de validação empírica. Segundo a atual
filosofia da ciência, uma hipótese chamais será provada
verdadeira. Ao contrário, ela será tida por “não falsa”
enquanto resistir ao mais severo escrutínio e enquanto prover
respostas acertadas.
E
o cientista sabe que seu conhecimento abarca apenas uma pequena
fração da realidade e que estamos bem distantes de uma visão
abrangente, organicamente integrada, da mesma. Ele é forçado a
aceitar, por honestidade intelectual, que quando descreve, descreve
por aproximação, por analogia, que é bem diferente daquela pequena
porção da realidade a qual se dedica.
Portanto,
a ciência abrange um vasto espectro de atividade intelectual que tem
extremos precisos (a descrição de um movimento, pela física
clássica) e altamente especulativos (a teoria da evolução). Mas em
toda a sua extensão não explica ou propõe mecanismos/causas fora
do mundo natural.
Deus
forçosamente é um ser autoconsciente e de poder inimaginável. Se
assim não fosse, como poderia ser o criador e/ou mantenedor da
natureza? Há espaço para o politeísmo, mas esta construção traz
um enfraquecimento da ideia de divindade, pois todo o poder não está
concentrado em um só, e a realidade seria consequência de um acordo
operacional entre vários seres poderosos mas limitados uns pelos
outros.
Monoteísta
ou não, a existência de deus(es) não pode ser averiguada
cientificamente por algumas poucas e boas razões:
- Não é compatível com seu status de criador divino o deixar-se esquadrinhar por suas criaturas como se objeto fosse – um ser autoconsciente necessariamente se atribuirá valor e um ser todo-poderoso não se verá como menor que suas criaturas.
- A ciência trabalha por comparação, aproximação, analogia. Com o quê se comparará um deus?
- Para ser estudado ele tem de se deixar encontrar, se for possível, ou se revelar, se estiver fora do alcance dos cinco sentidos naturais. Como obrigá-lo?
- Deus(es) não são acessíveis aos nossos sentidos – pois se o fossem, ateístas negariam a realidade óbvia, em uma situação de insanidade. Seria(am) um dia acessíveis ao esquadrinhamento por parte de nossa tecnologia? E se sua(s) constituição(ões) é(são) desconhecida(s), pela mesma razão, como idealizar um recurso que o(s) encontre(m)?
A
existência ou não da divindade somente pode ser disputada no campo
das ideias, e não da experimentação. Não há como obrigá-la a
participar de um ensaio cientifico qualquer, não há como construir
hipóteses e demonstrá-las não falsas a respeito de um deus –
forçosamente um ser autoconsciente e todo-poderoso. Se fosse bem
humorado, brincaria com nossos pobres esforços à exaustão (nossa).
veja também entre deus e o professor ateu
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