Eduardo
Ribeiro Mundim
Esta
não é uma questão de simples resposta, nem fácil. E esta resposta
não é a resposta que busco; ainda é um rascunho, imperfeita,
incongruente, em alguns momentos até mesmo hipócrita. Sua única
defesa é ser honesta: para com a interpretação que faço da
leitura das Escrituras e para com a realidade que bate a minha porta.
A
razão da pergunta
Homossexualidade
foi encarada como uma atitude de profunda imoralidade e rebelião
contra Deus. No ocidente, é bem provável que a cultura
judaico-cristã
seja um dos responsáveis por esta visão. A pessoa que se definia
como homossexual era vista, necessariamente, como moralmente má em
sua natureza, de forma diferente das demais pessoas. Frequentemente a
homossexualidade carrega a pecha, não dita diretamente mas
claramente percebida nas entrelinhas, de “pecado imperdoável”.
Muito
colaborou, nos últimos anos, para esta visão, o movimento político
homossexual quando buscou, pela via legal, impor sua visão de
normalidade a todos os aspectos da vida, privada e social, incluindo
a criminalização de textos, laicos ou considerados sagrados por
religiões estabelecidas, discordantes.
É
justo reconhecer que este movimento político é o fruto extremado da
crueldade com que os homossexuais foram tratados ao longo da
história, seja pela sociedade civil, governo, diversas religiões, e
cristãos de diversas denominações.
É justo reconhecer que, enquanto Igreja, pecamos em diversos
momentos contra estas pessoas, protegidos de sentimento de culpa por
supostas boas intenções e “amor ao pecador, mas odiar o pecado”.
À
parte desta movimentação política, conhecemos cristãos sinceros,
em tudo semelhantes a nós mesmos, indistinguíveis em suas atitudes,
discursos e manifestação de fé autêntica, que assumem, por livre
decisão, serem homossexuais. A única diferença que passa a existir
entre “eles e eu”, entre “eles e nós”.
Esta
descoberta choca por chacoalhar todo um entendimento sobre o assunto.
Entendimento este que deve ser escrutinado em busca de preconceitos
infundados, preocupação com a ortodoxia com o sacrifício da pessoa
e completa harmonização com toda a revelação
contida nas Escrituras.
A
pergunta insistente é: pode um homossexual ser verdadeiramente um
cristão e permanecer homossexual? Quem são estas pessoas a quem
chamamos irmãos(ãs) supondo serem heterossexuais e que tememos
chamar irmãos(ãs) ao sabê-lo(a)s homossexuais?
O
que torna esta questão diferente
Deus,
enquanto Criador, tinha um propósito para sua criação, desvirtuado
pelo pecado. Desde então, todas as nossas esferas de vida estão
imersas em uma dupla condição: mantendo a intenção original do
Criador, mas alterada pelo nosso pecado. E isto inclui a sexualidade.
Até
o presente momento, sou obrigado a concordar com a expressão “é
mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que
encontrar respaldo bíblico para o homossexualismo”.
Sendo
assim, a homossexualidade não está de acordo com o planejado pelo
Criador, mas é uma realidade. E sexualidade é uma característica
intrinsecamente humana, que nos define ao longo de nossa vida,
organiza nossos relacionamentos interpessoais e marca, de forma
consciente e inconsciente, nossa estrutura psíquica.
Aceito
como verdadeira a afirmativa de que homossexualidade não é uma
questão de escolha consciente: ela acontece. Aceito-a porque, até
onde seja do meu conhecimento, ninguém provou o contrário. Muito
antes, as explicações sobre a hetero e homossexualidade passam por
mecanismos subliminares e inconscientes.
E
na definição da sexualidade (ou seria genitalidade?) existe uma
exceção
que me paralisa e faz perguntar se as coisas são tão simples como
alguns querem fazer crer. Existe um grupo de pessoas, afetadas por
diversas alterações nos seus organismos, que não apresentam o sexo
genético igual ao corpóreo. Como exemplo, são geneticamente homens
(os cromossomos sexuais são XY) mas externamente são mulheres como
todas as outras. Frequentemente esta condição é descoberta a
partir da adolescência, podendo não sê-lo até a pessoa afetada
procurar explicação na sua dificuldade em engravidar. Seria este um
casamento homossexual (pois teríamos um homem na aparência e na
genética casado com outro homem genético mas de aparência e
criação e atitudes e psiquismo e... feminino).
Não
estou procurando a proteção da exceção – mas se este casal
fosse membro de nossa igreja, como aconselhá-lo se eles fizessem
esta pergunta???
Estou
usando este exemplo para dizer que a definição da sexualidade é
algo muito mais complicado do que pensamos. Que há situações, como
esta, não previstas, até prova em contrário, nas Sagradas
Escrituras.
Passo
para outro exemplo que me incomoda. Obesidade é um problema de saúde
pública e é resultado, única e exclusivamente, de uma ingesta
calórica superior ao gasto. Quantos obesos que conhecemos que
simplesmente não conseguem reduzir e balancear a equação
(incluindo alguns que foram operados e não deram certo)? Mas
alimentação é outro aspecto de nossas vidas conscientes marcadas
por eventos subliminares, culturais e inconscientes.
A
realidade que me bate à porta é que, ainda que haja diversas
pessoas “ex-homossexuais”,
talvez esta não seja a regra, da mesma forma como não é possível
a todos os obesos se tornarem “ex-obesos”.
As
bases da proposta
O
chamado do Evangelho é para que aceitemos o perdão dado pela morte
de Cristo na cruz e a nova vida, agora e na eternidade, garantidas
pela Sua ressurreição. A segunda parte é consequência da
primeira, e não o contrário.
A
convicção do pecado é algo pessoal e intransferível, assim como a
certeza do Seu perdão. Cada pessoa tem sua própria história,
consciente e inconsciente, e esta vai definir os pecados ocorridos,
sejam acidentais, sejam voluntários.
A
santificação é mandamento (Hb 12.14), é para ser buscada
voluntária e ativamente(II Co 7.1), sob a direção do Espírito
Santo, através de uma vida devocional individual e comunitária. A
agenda de santificação de cada cristão é ditada pelo Espírito
Santo tendo como base sua história pessoal.
Atitudes
corretas não refletem,necessariamente, coração correto, como nos
ensina o Sermão da Montanha em diversos momentos.
E
cada um de nós sabe as lutas que tem com suas dificuldades pessoais,
que se apresentam continuamente como um pecado à nossa frente, como
diz Davi: “o meu pecado está sempre diante de mim”.
Pouco
provável a santificação 100% nesta vida – e somente posso crer
nisto levando em conta a morada na Nova Jerusalém, não antes.
A
proposta
1.
a Igreja é um braço do Senhor Jesus no mundo, que a todos chama ao
arrependimento, à conversão, à nova vida, sem distinção de
nenhuma espécie, a começar do “tamanho do pecado”. Raça, cor,
sexo, religião, opção política, opção sexual, profissão, e
qualquer outro critério de classificação ou divisão, não são
excluídos da mensagem de amor. Portanto, a igreja deve estar aberta
(e por que não deveria buscar ativamente?) aos modernos cobradores
de impostos, as Madalenas contemporâneas (e não só as mais bem
situadas financeiramente com roupas de grife e atendimento
personalizado), aos atuais jovens ricos enamorados por si mesmos, aos
indigentes vítimas do sistema iníquo, às boas pessoas que, apesar
de boas, descobrem-se tremendamente pecadoras na presença dEle. E
isto inclui os homossexuais masculinos e femininos, travestis,
transgêneros e semelhantes.
2.
as pessoas que, através de uma igreja local, têm um encontro
pessoal com o Ressuscitado, devem encontrar nela todos os recursos
necessários ao seu crescimento e amadurecimento na fé.
3.
a sexualidade é uma questão sensível para todos, com forte
conteúdo emocional inconsciente – e, portanto, perigoso. Os
homoafetivos devem ser acolhidos com o mesmo amor com que são os
heteroafetivos – qual a razão para a diferença? Estejam
acompanhados ou não por parceiros (as). Por uma questão de
integridade por parte da liderança da comunidade, as dificuldades
inerentes à homoafetividade precisam ser, de modo terapêutico e
cuidadoso, pontuadas. A questão ainda está em aberto, havendo
dificuldades extras para os cristãos nesta situação. À medida que
lhes for possível, o “amor reverso” também precisa ser
exercido. Ou seja, em consideração à comunidade, procurar não
escandalizá-la futilmente.
4.
o cuidado pastoral por parte de todos, mas em especial dos pastores e
demais oficiais da igreja local, deve ser ativamente buscado e
situações constrangedoras através do púlpito ou doutras
circunstâncias litúrgicas ou da escola bíblica dominical,
evitadas. O que não deve ser entendido como censura prévia, mas
como um lembrete para não cair na armadilha fácil de hierarquização
de pecados e no farisaísmo.
5.
pelas luzes teológicas e bíblicas até este momento, o ideal seria
o não exercício da genitalidade
- assim como para os heteroafetivos a relação sexual deveria ser
restrita ao matrimônio. Contudo, não sendo esta a realidade de quem
chega à igreja local, ou de quem já congregando entende ter
encontrado o(a) parceiro(a) para dividir sua caminhada pessoal, por
analogia o exercício da genitalidade deveria ser restrito à
existência de um contrato de união estável na forma da lei, com a
mesma solicitação de fidelidade mútua, exigida pelas Escrituras.
6.
pelo princípio do “amor reverso”, o(a) irmão(ã) que aspira aos
ofícios de oficiais da igreja local sendo homoafetivo deveria
discutir, em amor, com os pastores e demais lideranças, seu chamado,
e as implicações institucionais decorrentes – entre elas, a
expectativa institucional da renúncia à genitalidade, até que
ocorra (se ocorrer), alguma modificação.
7.
deve ser amorosamente explícito que a homossexualidade enquanto
ideologia não encontra guarida nem respaldo na igreja cristã, por
não haver possibilidade de harmonização com os ensinos das
Escrituras. Discussão de igualdade de direitos civis é
absolutamente legítima, mas apoio às “paradas do orgulho gay”
não.