A bíblia se inicia com três
afirmativas: que houve um princípio, que há um Deus e que este
criou o universo. A rigor, são as três únicas inquestionáveis.
Como o processo se desenvolveu, durante quanto tempo, em qual ordem e
diversas outras perguntas não são passíveis de afirmativas
dogmáticas a partir do próprio texto. O capítulo primeiro do livro
de Gênesis é claramente poético em sua forma, ainda que a quase
totalidade das traduções em português o registrem como prosa. E
construir dogmas lastreado em poesia não parece ser uma decisão
prudente. Contudo, muitos assim procedem. E esta é uma observação
importante: a fé cristã comporta diferentes abordagens, visões
teológicas distintas e não carece de unanimidade em temas de
importância secundaria. E este é o fato: diversos grupos se
posicionam como cristãos sem que, necessariamente, reconheçam nos
outros esta mesma confissão.
Repito: o capítulo essas apenas
três proposições, que chamarei de verdades.
Houve um princípio no universo.
Quando isto se deu é uma questão em aberto que, na minha opinião,
não tem possibilidade de resposta - apenas de conjecturas, mais ou
menos embasadas. Esta proposição (o universo tem uma origem, ou
dito de outro modo, a matéria não é eterna) é, por si mesma,
aceitável, independentemente da postura filosófica adotada (é
verdadeiro que também é possível o ponto de partida que toma a
matéria como eterna, sem princípio nem fim).
Há um Deus. A humanidade talvez
possa ser dividida entre aqueles que acreditam nada existência de um
ser superior e aqueles que não compartilham desta crença. E os
primeiros subdivididos em milhares de subgrupos, segundo o que pensam
como este ser superior é. O que a bíblia, as Escrituras Sagradas
para os cristãos, se ocupa é apresentar uma visão de quem é este
Ser supremo. E o faz contando histórias a Seu respeito - e nós,
cristãos acreditamos que Ele próprio as escreveu.
Deus criou. A grande mensagem
implícita neste fato é a da existência de um objetivo para a
existência das pessoas e do mundo em geral. Não importando se somos
frutos de um comando imediato que nos trouxe à existência em um
piscar dos nossos olhos, ou de um lento processo para nossa curta
existência, a existência de um Deus criador implica na existência
de um objetivo - é claro, este deus criador também poderia ser um
ente caprichoso como uma criança mimada. Afinal, não é este o
retrato que muitos deístas fazem dEle? Mas não é o retrato que a
Bíblia apresenta. E este é o projeto deste livro: apresentar e
discutir a imagem que os cristãos fazem do seu Deus.
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