Eduardo Ribeiro Mundim
O ser humano é movido à vaidade, de alguma forma. Tal combustível não é necessariamente ruim, pois bem utilizado é um fermento para a competição saudável e para a criatividade inovadora. Mas também é, como todo combustível, explosivo quando inadequadamente empregado.
Mário Novello, físico do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas no Rio de Janeiro, em entrevista à Folha de São Paulo de hoje (30/05/10), publicada à página A21, tece alguns comentários sobre os cientistas atuais, como um todo - portanto, generalizando.
Na sua área de atuação, cosmologia, Dr. Novello vê muito estrelismo, rotina, competição pela mídia, corrida para o Prêmio Nobel (que só premia um a cada ano). Critica a ausência do prazer em fazer bem as coisas, substituído pela necessidade de valorização do indivíduo na forma de bolsas de pesquisa e prêmios, sejam acadêmicos ou não. Preocupa-o porque facilita uma deturpação da atividade científica, diálogo com a natureza, transformando-a em diálogo com os próprios pares.
"Na minha época, havia uma visão global do que era atividade humana. Havia cadeira de filosofia, sociologia, tinhamos contato com o mundo. Existe uma falta de fundamentos, hoje, do que é fazer ciência. Você pode ser um técnico extremamente competente, mas fora da área técnica pode ser um ignorante completo, sem saber o que está por trás do que você está fazendo na sua área."
Rubem Alves, no seu livro "Filosofia da ciência: introdução ao jogo e as suas regras", publicado pela Editora Loyola, aponta que os grandes avanços científicos não foram frutos do puro tecnicismo, mas da capacidade de imaginação, de ver além do seu círculo pessoal de atuação.
Dr. Mário é adversário da teoria do "big bang" por considerá-la, tal como foi popularizada, uma limitação a atividade científica. Aponta que existem dados teóricos que sugerem não uma desaceleração do universo, como previsto por esta teoria, mas uma aceleração.
Relacionado com um ponto específico da entrevista, o articulista Marcelo Gleiser, uma página à frente, aponta que a ciência dedica-se ao mundo que é percebido pelos nossos sentidos. O não percebido por eles, ou o que está além da realidade, não pode ser submetido ao seu escrutínio.
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