terça-feira, 24 de agosto de 2010

Bioética em época de crise II

Eduardo Ribeiro Mundim

Crise é, entre outras coisas, momento de dúvida, questionamento, revisão. Este processo de reavaliação pode reafirmar o que estava sendo revisado, transformá-lo ou simplesmente substituí-lo. Ao reafirmar, agora após um escrutínio, sai fortalecido o que foi questionado, não só porque venceu as dúvidas levantadas, mas porque as respostas lhe foram incorporadas. Uma nova análise enfrentará dados mais robustos e trabalhados. Ao transformar, há um empate: o revisado foi encontrado parcialmente insuficiente, sendo necessária sua atualização frente ao questionamento proposto. Há diferentes graus de atualização, e a possibilidade do revisado ser tão modificado que se torna irreconhecível, existe. Ao substituir, há uma derrota completa: não há utilidade.

O conhecimento, a fé, a moral - qualquer realização humana - é passível de criticas e de crise.

Qualquer realização humana é, em certa extensão, filha de sua época, sendo por ela condicionada (mesmo quando a questiona); filha da história pessoal de quem realiza, incluindo seus conceitos e preconceitos, sonhos e temores. Falar de crise atual é estar em regime de ambiguidade máxima, pois quem fala de uma crise pela qual passa, ou na qual vive, fala a partir de um envolvimento pessoal nos fatos. A objetividade científica (que nunca é absoluta) é tão maior quanto maior for o distanciamento entre o cientista e o fato estudado.

Bioética é  uma proposta de discussão sobre a interação do ser humano com a natureza, a partir da sua capacidade de modificá-la, moldá-la, reconstrui-la e destruí-la; sobre a interação do ser humano consigo, principalmente quando adoece e se coloca sob a proteção e/ou cuidado de outro ser humano; sobre a capacidade de sonhar e criar, e sobre o reflexo do resultado desta capacidade sobre si mesmo e sobre os outros.

Bioética em época de crise significa um questionamento sobre as bases que regem a interação homem-criação, homem-homem e homem-desejo. Bioética em época de crise implica estar perdido entre diversas possibilidades, incapaz de efetivar uma escolha através de critérios não passíveis de critica.


Bibliografia:
Goldin JR. Bioética: origens e complexidade. Rev HCPA 2006;26(2):86-92. Disponivel em http://www.hcpa.ufrgs.br/downloads/RevistaCientifica/2006/2006_26_2.pdf 


Nenhum comentário:

Postar um comentário