Danilo Fernandes
 Em agosto de 2010, eu decidi coletar dados capazes de sustentar uma  abordagem quantitativa de algumas questões apoquentando os que pensam  nos rumos da Igreja. Nesta mesma época, a revista Cristianismo Hoje tinha na pauta este ARTIGO mirando a questão dos cansados de igreja. Pensei: Vou botar números em algumas destas questões.
 Postei no site um questionário de pesquisa usando a ferramenta On-Line  Survey Monkey. Em uma segunda fase, fiz uso do cadastro de 1,2 milhão  e-mails de cristãos evangélicos que possuo, produzi uma amostra e enviei  questionários com perguntas abertas e fechadas envolvendo temas  relativos a fé e a religião. Os resultados trouxeram nada menos do que  surpresas atrás de surpresas com material para muitos posts. Este é o  primeiro.
Genizah: Um site de hereges de desviados?
 Definitivamente não. Em termos numéricos absolutos tem muito desviado  por aqui, risos. Afinal, o Genizah tem tráfego oscilando entre 8,8 –  14,8 mil pessoas por dia, mas em termos relativos a coisa não é bem  assim! Um alívio (sem querer ofender os desviados) afinal, os  colaboradores do site são na sua maioria esmagadora pastores, líderes,  missionários, etc... Iria ficar mal pra gente, risos. 
 Para começar 88,5% dos respondentes se declaram membros batizados de uma denominação cristã. Para agravar nossa beatitude,  31,25% dos leitores – ver gráfico a seguir – se identificaram com a  opção “FAMILIARES ECLESIA” que separamos para pastores, família  pastoral, presbíteros, diáconos e líderes ministeriais.
 Conclusão: Genizah é um site muitíssimo lido pela liderança da Igreja.  Levando ainda em consideração que 25% dos leitores se dizem professores  de Escola Bíblica Dominical e, estamos falando de até 80.000 visitas de  professores de EBD por mês, não dá para chamar o Genizah de um site de  desviados! Envolvidos e incomodados, sim. Subversivos, muitos.  Desviados, dificilmente.
 Tirando o Genizah da reta, bem-dito, alguns números saltam aos olhos e  confirmam que os fenômenos recentes que formaram os grupos que muitos  chamam de desigrejados, decepcionados com a igreja, reorganizados (em  comunhão heterodoxa) e, claro, desviados se revelam todos mais do que  estatisticamente consideráveis. São números muito representativos e  deveriam estimular acadêmicos a realizarem uma pesquisa comme il faut.
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| Os Assembleianos, considerando todos os ministérios e divisões são o grupo que mais frenquenta o Genizah. Em seguida, os Batistas. | 
 Em determinada questão do instrumento de coleta de dados pedimos para as  pessoas marcarem a alternativa que melhor descreveria o formato de sua  comunhão principal. Uma das opções disponíveis oferecia possibilidades,  entre outras: membro de células, igreja em casa e comunidades. 12,5% das  pessoas marcaram esta opção. Eu considerei o percentual bem alto. Não  esperava que tanta gente tivesse este tipo de comunhão, primariamente.  Devo admitir que há um viés na questão. Embora a formulação da pergunta  fizesse uma ressalva entre opções “membros de uma igreja tradicional  que tenha células ou grupos pequenos” e “igreja em células”, há a  possibilidade de alguns terem se equivocado na sua resposta. Ainda  assim, é alto o percentual dos internautas que tem a sua comunhão  principal em um arranjo heterodoxo (célula, grupos em casa, formações  alternativas, etc.). Deixando claro que o heterodoxo não carrega nenhum  preconceito ou crítica, mas tão somente qualifica o que é não é ortodoxo  (igreja tradicional).
 Os afastados da igreja 
 Apesar de relevante, o achado anterior só serve para dar peso a uma  descoberta ainda mais importante: O alto percentual dos que marcaram a  opção “AFASTADO”. Afinal, fica estabelecido que os 7,25% dos  respondentes que assim se identificam estão de fato afastados de  qualquer tipo de comunhão. São crentes, mas estão afastados da igreja  denominacional, seja em que formato ou arranjo for. Ortodoxo ou  heterodoxo. Seria uma gente cansada de tudo que lembra uma igreja? Gente  ferida pelo corpo institucional? Gente massacrada ou decepcionada com  doutrinas? Vítimas da religião? As opções são muitas, contudo repito:  São todos crentes. Ainda seguem com Cristo.
 Na nossa pesquisa por e-mail com amostra na base dos 1,2 milhão de  e-mails buscamos o reforço para este percentual de AFASTADOS. Obtivemos  um resultado oferecendo uma boa consistência ao percentual já estimado,  mas como disse antes, são muitos os fatores enfraquecendo a metodologia.  A amostragem e o método de coleta, entre os principais. Considere que  um grande percentual de evangélicos não tem acesso à internet, por  exemplo. Contudo, apesar das limitações, temos aqui é um bom termômetro  e, o único disponível.
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| Genizah é um site de líderes. | 
 Agora, imagine se este mesmo percentual  de afastados se aplicar a  massa dos que se declaram evangélicos no país? Seriam milhões. Temos um  sinal de alerta, e dos grandes, de que há algo ferindo gravemente o  corpo e é tempo de despertar para a questão.
 E o que dizer dos 1,25% que se declaram “SEM RELIGIÃO”? O que fazem  estas pessoas em tão grande número (150 por dia!) em um site de  evangélicos? E mais, os 7,25% “AFASTADOS”, o que fazem em um site de  apologética? Estamos falando de um grupo entre 13.000 e 27.000 pessoas  apenas entre os leitores do Genizah!
 Claramente, estamos diante de fenômenos interessantes. Por um lado,  constatamos percentuais relevantes de AFASTADOS e SEM RELIGIÃO em um  site de interesse evangélico, indicando gente cansada de Igreja, mas não  de Cristo. Por outro lado, não é nenhum disparate afirmar que um  percentual ainda mais significativo de irmãos forme um grupo chamado de  EVANGÉLICOS NÃO PRATICANTES, cuja quantificação deve ser objeto de  pesquisa específica. Para que o leitor tenha uma ideia, da população  de 1,2 milhão de e-mails de cristãos de nossa base, a amostra retornou  2,1% de respondentes declarando que são evangélicos, mas não tem  comunhão em igreja por 12 meses ou mais. A seguir, as razões principais  declaradas, segundo o tipo de pergunta formulada. 
 Em resposta fechada (múltipla escolha previamente definida): 
 - Cansei de dar dinheiro e ser enganado por falsas promessas. 
 Resposta aberta (respondente marca a opção “OUTROS” e declara a sua razão livremente):
 - Tenho vergonha do que os outros evangélicos andam fazendo (na TV,  no rádio, na Igreja XYZ, nos negócios, na política, etc.); ou algo  equivalente. 
 Definitivamente, em nosso esforço, apenas testamos com um dedinho a  temperatura do corpo. É tão somente um vislumbre de diagnóstico, mas  assusta. Se relevarmos a precariedade do exame, podemos dizer que  estamos diante da estatística do tecido machucado pelo próprio corpo.  Quase nove para cada cem! É o tamanho da cicatriz no corpo da Igreja.  Estes são os amputados.
 Quantos serão os mortos? Aqueles que nem sequer buscam crescimento,  conhecimento da Palavra, refrigério, informação sobre rumos mais  seguros. Quantos nem mesmo buscam algum tipo de comunhão em sites e  redes sociais de evangélicos? Os que perderam a fé?
 Os hoje feridos de morte? Os para sempre NÃO PRATICANTES? Todos são  vítimas das práticas predatórias de uma porção cada vez mais  significativa da igreja onde as ovelhas são cuidadas por lobos. Estes  irmãos feridos e afastados hoje estão vivendo a mornidão da sua fé. 
 Almas sobre as quais iremos dar conta um dia. Estamos desafiando um Deus Santo!
 Há algum consolo? Claro que há. Ao menos 4,7% declararam que deixaram a  Igreja (não tendo adotado nenhum outro modelo de comunhão), contudo não  desistiram de Jesus.
 E mais: Se considerarmos as respostas destes irmãos (AFASTADOS,  DESVIADOS, ETC.) não seria de se perguntar o que fazem eles, em tão  grande número, em um site cristão? Eu quero crer que mesmo contra as  suas declarações, o AMOR por Jesus está presente, mesmo no caso dos que  se declaram ateus. O que há nestes casos é uma grande ferida que precisa  de bálsamo. 
 Os sites e blogs apologéticos apontam as feridas da Igreja, os absurdos.  Contudo, também tratam da Glória de Deus. E também de teologia,  evangelismo, missões, prática cristã, humor cristão e muito mais. São  todos assuntos que interessam a quem está na Igreja e a quem não está,  mas ama a Cristo. E, vendo por este lado, faz até muito sentido que os  irmãos que estão feridos sintam-se atraídos por sites que tratam das  “armadilhas” da Igreja moderna de forma direta e sem hipocrisia. Os  sites apologéticos tratam dos bandidos e de suas armas, que um dia foram  usadas para ferir estes irmãos. Rever o processo do engano e perceber  que há o “lado A” deste disco horripilante é consolo e incentivo.
 Os blogs e sites apologéticos cresceram muito nestes dois últimos anos,  na proporção do aumento dos feridos nesta guerra entre a sã doutrina e a  heresia. Contudo, ao contrário de reafirmar a decepção e aumentar a  ferida, o que vemos, e constatamos, na pesquisa por e-mail, é que os  blogs apologéticos têm ajudado na cura das pessoas. Muitos buscaram  outras denominações (com doutrina mais ortodoxa fundamentada na Palavra)  ou mesmo igrejas em suas denominações atuais onde a Palavra é o centro e  não há lugar para o espetáculo e a profetada. Enfim, onde não se coloca  na boca de Deus promessas que nunca foram feitas. Desta forma, muitos  irmãos voltam à comunhão. 
 Os blogs apologéticos servem para expor a ferida, rir da ferida (no  nosso caso em especial), indicar o que é bom. Muitos irmãos  decepcionados achavam que Igreja era aquilo que viviam no G12, MIR12, na  fogueira santa de Israel, nas doutrinas de apóstolos empresários, nos  moveres e atos proféticos, nas sementes e unções financeiras, e outros  negócios gospel. 
 Outros tantos entenderam que não foi a sua vida de pecado, ou sua falta  de fé que os relegaram a uma vida de decepção e ausência de conquistas.  Pode-se dizer, os blogs apologéticos funcionam como vacina, inoculam a  praga para propiciar a benção bereana. No primeiro momento o irmão  machucado entra, sente raiva do que vê, responde com um chavão do tipo  “não toque no ungido”, mas lê. Com o tempo entende o sentido de tudo.  Abre os olhos (alguns nos esculacham bastante antes, claro. Risos).
 Se alguns irmãos após um período sabático retornam à igreja, desta vez  em busca de uma comunhão mais sadia, muitos outros seguem afastados e  inalcançados.
 Há muito a perguntar. Eu perguntei algumas coisas. Enviei e-mail para alguns respondentes (nestes casos, já sem valor estatístico) deste grupo de irmãos desigrejados.
 Mas afinal, quem são os desigrejados? 
 Desigrejado não é desviado. O desigrejado se afastou do modelo ortodoxo  de comunhão (igreja denominacional) e não aderiu a nenhum outro modelo  heterodoxo, seja células, igreja em casa, ou ainda comunidades e novos  modelos (tipo aqueles que estão reinventando o modelo tradicional de  Igreja, depois de tê-lo desconstruído, risos.). O desigrejado tão pouco  se desviou de Cristo, tão somente de sua comunidade, não aderindo a  nenhuma outra.
 E os desviados?
 O desviado simplesmente desviou-se da fé. Pode-se presumir que os irmãos  que se declaram SEM RELIGIÃO sejam desviados, afinal estão em um site  cristão, mas isto não é certo. A maioria dos desviados, seja por feridas  adquiridas na igreja, decisão própria ou qualquer outro motivo, está  longe da comunhão e, quase certamente, não buscam mídias eletivas de  conteúdo cristão.
 Na prática, o desigrejado poderia seguir imitando a Cristo, portando  sendo cristão, não fosse um pequeno detalhe, risos: Como ser cristão sem  o “outro”? Sem a comunhão?  Sem o culto ao Pai, o louvor? O  discipulado? Creio ser muito difícil, mas a questão é nevrálgica. Obvia  para mim, mas não para todos. Deixemos o tema para outra oportunidade. O  que nos interessa é tentar lançar bases para outros esforços. Penso  que devemos olhar esta multidão de irmãos afastados da comunhão, a  maioria esfriando na fé (feridos, machucados) e, no entanto, buscando a  Cristo e algum tipo de comunhão, em sites e blogs apologéticos como uma  oportunidade de:
 • Reflexão sobre erros cometidos no apascentar das ovelhas, se somos líderes, pastores, bispos, etc.
 • Consideração destas doutrinas antropocêntricas, em especial a  confissão positiva, que é maligna, pois é uma fábrica de desilusões,  desvia a atenção da Cruz para causas mundanas e ainda transforma  questões normais da vida em sentimento de inadequação sério, ou  desilusão com o Espiritual.
 • Reflexão sobre a forma como orientamos o ambiente da comunidade, em  especial, se incentivamos o amor entre os membros ou a competitividade.
 • Consideração sobre as bases na Palavra que estão sendo dadas aos  membros, sem as quais os mesmos ficam sujeitos a ventos de doutrinam ou a  fraqueza na tribulação, pois desconhecem as promessas que podem lhes  confortar.
 • Repensar os modelos de comunhão à luz da tecnologia de informação.
 • Pensar no papel crucial da Escola Bíblica Dominical. Seria este o  ministério mais importante da sua comunidade, ou a EBD perde fácil em  popularidade para o ministério da cantina, do louvor, social, etc.?
 • Reflexão e planejamento na direção de trazer estes irmãos para a comunhão.
 • Reflexão sobre o caráter profético da nossa missão na internet cristã, lembrando que devemos sempre de nos manter no espirito de Jeremias 1: 
Olha, ponho-te neste dia sobre as nações, e sobre os reinos, para arrancares, e para derrubares, e para destruíres, e para arruinares; e também para edificares e para plantares.
 - Tudo com muita urgência.





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