Crer não é sinônimo de não pensar. Crer implica em pensar, em relacionar fé com a realidade, questionando uma a partir da outra. O conteúdo são pensamentos às vezes rápidos, em elaboração; outros, já mais elaborados. Ambos buscando provocar discussão e reposicionamentos, partindo sempre da confissão de fé protestante. Os artigos classificados como "originais" podem ser reproduzidos desde que com a menção da fonte e autoria. Ano V
terça-feira, 29 de março de 2011
Cristãos em crise com o que julgavam ser a sua fé
segunda-feira, 21 de março de 2011
O rei está nu
O Ocidente está adoecido pelo ódio a si mesmo. Olhamos para nossa história, para o produto de nosso progresso, para nossa sociedade, e não gostamos do que vemos. O rei está nu. A utopia política do início do século passado se tornou uma experiência vergonhosa de domínio de poucos sobre as massas. As mentiras sobre superioridade racial em que acreditamos se transformaram em sangrentos genocídios. O capitalismo que iria permitir ao proletariado qualidade de vida se tornou um monstro de produzir riquezas, que nos engole sem piedade. As propostas religiosas se emaranharam promiscuamente a qualquer ideia que pagasse mais. Enfim, demos com os burros n’água vez após vez. Desiludimo-nos e nos odiamos. Precisamos de uma nova gênese.
Por causa disso, olhamos para os índios isolados com uma esperança “rousseauniana”. Serão eles nosso renascimento? No Google você encontra nas referências sobre a tribo Zoé, que vive entre o Pará e o Amazonas, esse tom religioso. Pesquisadores e cineastas franceses veem neles a esperança de um renascimento para a humanidade. Porém, como todas as outras, os Zoé são apenas uma tribo brasileira pequena tentando sobreviver. Foram contatados pela Missão Novas Tribos do Brasil na década de 80. Foram conduzidos com cuidado do isolamento a um estágio intermediário, em que recebiam ajuda da Missão para as necessidades básicas.
O isolamento por si só não garante a sobrevivência de nenhuma tribo, ao contrário do que dizem os sertanistas. Massacres de tribos isoladas inteiras, causados por contaminações de doenças, por seringueiros, madeireiros ou outros predadores amazônicos, ou até por guerras entre tribos ou clãs, acontecem com frequência.
Voltando à história dos Zoé, a Missão acabou sendo expulsa da área. Os Zoé eram bonitos e puros demais para ficarem em contato com uma missão. Afinal, ela institucionaliza tudo o que mais odiamos no Ocidente: sua religião. A religião cristã continua pregando o que mais queremos esquecer, continua representando no mundo acadêmico moderno a cristalização dos valores que nos tornaram (entenda aqui a ironia) capazes de criticar aquilo que somos. Fora com eles.
A missão deu lugar aos “humanistas” da Funai. Verbas internacionais vieram e o projeto Zoé se tornou modelo. Um hotel de selva foi construído em frente à aldeia. Tudo o que dava acesso a outro mundo foi retirado. Eles passaram a viver numa ilha de selva virgem vigiada apenas por observadores bem-acomodados. Os vídeos na internet que retratam a tribo são lindos, feitos com equipamento de alta qualidade só possível devido ao conforto e à tecnologia oferecidos pelo hotel/observatório. A tribo “virgem” agora se torna entretenimento de turistas de alta classe, uma espécie de zoológico humano servindo ao voyerismo de antropólogos e cineastas estrangeiros.
Suprema ironia. Os selvagens são mantidos escravos por causa de sua pureza. Vistos de longe, os Zoé são “na’vi” azuis andando por Pandora com rabos longos, etéreos, perfeitos. De perto, são um povo escravo de um idealismo que não inventaram. Presos a um paleolítico circunstancial, são impedidos de mudar. Não são humanos, não são cidadãos, não são nem índios brasileiros. São uma metáfora internacionalizada do ódio de nossa cultura por si mesma.
O problema é que, não sabendo disso, eles fugiram de seu paraíso terrestre. Em outubro de 2010, os Zoé fugiram para pedir ajuda aos castanheiros locais e ao mundo. Num vídeo tosco filmado por um dono de castanhal, os índios se expressam em português fluente: “A gente quer coisa. A gente quer panela, faca, anzol. A gente quer ter o que os Tirió tem. Funai não dá nada pra nós não, mas a gente quer”.
Tradução? Os Zoé estão dizendo: “A gente quer parar de ser uma coisa, a gente quer ser gente, vocês vão permitir?”.
• Bráulia Ribeiro trabalhou na Amazônia durante trinta anos. Hoje mora em Kailua-Kona, no Havaí, com sua família e está envolvida em projetos internacionais de desenvolvimento na Ásia. É autora de Chamado Radical.
braulia.ribeiro@uol.com.br
quinta-feira, 17 de março de 2011
O valor da vida humana
segunda-feira, 14 de março de 2011
Qualidade de morte
TENDÊNCIAS/DEBATES
09 de março de 2011
Com o avanço da ciência, porém, tudo parece ter mudado. Hoje há muitos que acreditam que o dinheiro, além de comprar uma vida mais "rica", também garante a qualidade da morte: por meio dele, os abastados despedem-se deste mundo no ambiente glamoroso de "hospitais-boutique", sob os cuidados dos "médicos da moda". Mas será que as coisas são tão simples?
Por um lado, ainda que a pobreza torne a vida difícil, é ingênuo pensar que a riqueza, por si só, seja capaz de resolver os enigmas que a existência nos impõe, magnatas ou não. E o remorso não raro corrói a paga que os "eleitos" recebem por sua ganância. Se isso não é tão claro, é porque a maioria das pessoas desconhece a intimidade dos poderosos, sempre dilacerada por conflitos: os psicoterapeutas e os próprios poderosos sabem bem do que falo.
Por outro lado, o acesso à medicina "de ponta" nem sempre é garantia de boa recuperação ou de morte tranquila, além de dar origem a paradoxos.
Um exemplo é a angústia que destrói a saúde dos que sofrem, no presente, com as moléstias que -imaginam- terão no futuro. Martirizam-se, assim, por não terem um plano de saúde "top", o qual já se tornou, ao lado do carro "zero", o atual sonho de consumo. Para essa angústia contribuem, crucialmente, a propaganda dos centros diagnósticos -que não param de crescer- e a ingenuidade de médicos que confundem prevenção com obsessão por doenças.
Outro exemplo é o caso dos doentes terminais mantidos vivos mesmo à custa de muita dor, bem como a insensatez de uma legislação que proíbe a eutanásia para as pessoas que dela necessitam, condenando-as, cruelmente, ao papel de axiomas de grotesca tese: a de que a vida deve ser sempre preservada, "coûte que coûte"...
Mas, já que a morte segue inevitável -muito embora a publicidade procure nos convencer de que somos imortais-, não seria melhor que encarássemos a vida de outro modo, empregando-a não só para "conquistar um lugar ao sol" mas também para aceitar um "cantinho" nas sombras para onde iremos todos? Não seria importante que aprendêssemos a morrer, buscando, se preciso, nas ideias de outras épocas a espiritualidade que tanta falta nos faz?
Infelizmente, não é o que vemos.
Ao ideal da morte honrosa dos gregos, da morte-libertação dos gnósticos, da boa morte dos cristãos medievais, da morte heroica dos românticos, nós contrapomos a "morte segura" no leito high-tech de um hospital chique, transfixados por cateteres e "plugados" na TV. Uma morte que é o símbolo perfeito da doença que acomete a nossa civilização e que, decerto, vai matá-la: o conformismo hedonista.
CLÁUDIO L. N. GUIMARÃES DOS SANTOS, 50, escritor, artista plástico, médico e diplomata, é mestre em artes pela ECA-USP e doutor em linguística pela Universidade de Toulouse-Le Mirail (França). Blog: http://perplexidadesereflexoes.blogspot.com/.
domingo, 13 de março de 2011
Saúde, ética e espiritualidade
A saúde está compartimentada em mil e uma especialidades. Para cada doença um/a especialista. Cada qual sabe muito bem cuidar de determinadas doenças ou órgãos. Mas será possível tratar uma doença sem encarar as suas causas e a complexidade do jogo da vida e tudo aquilo que a envolve?
“Quando uma célula é incapaz de dar e receber, e de estabelecer contínuas trocas com o meio no qual vive, ela se deteriora. Se uma pessoa humana se fecha no seu mundo, sem distribuir, sem intercambiar, sem se relacionar, estará a caminho da loucura e da autodestruição...”
Associação Brasileira de Homepatia Popular. Homeopatia Popular e Solidariedade Planetária; uma nova Saúde é Possível - Documento Base. Cuiabá: ABHP, 2007.
PASSOS, Luiz Augusto (org). O calor que nos une cura nossos corações. São Leopoldo: CEBI, 2010. (Série Palavra na Vida 274).
UETI, Paulo (org.). A vida é o que interessa. Bíblia, Saúde e outros ingredientes. São Leopoldo: CEBI, 2009. (Saúde e Bíblia 1).
UETI, Paulo (Org.). A terapêutica de Jesus. Corpo, poder e fé. São Leopoldo: CEBI, 2010. (Saúde e Bíblia 2).
quinta-feira, 3 de março de 2011
Imposição de mãos sobre bispos marca comunhão plena entre moravos e anglicanos
A relação plena entre as duas denominações foi oficializada em culto celebrado na Igreja Morava Central de Bethlehem, no domingo, 10 de fevereiro, informa o Serviço de Notícias Episcopal. Na celebração, bispos moravos impuseram as mãos sobre os colegas episcopais, ajoelhados em sua frente, e vice-versa. O ato simbolizou o recíproco reconhecimento e reconciliação dos ministros ordenados das duas denominações.
A primaz da Igreja Episcopal Anglicana dos Estados Unidos, Katharine Jefferts Schori, e os presidentes da Conferência de Anciãos Provinciais Moravos, pastora Elizabeth D. Miller, da Província do Norte de sua denominação, e o pastor David Guthrie, da Província do Sul, oficiaram o culto.
O acordo da plena comunhão reconhece mutuamente a validade das ordenações nas duas igrejas, um ponto controvertido no processo. A Igreja Morava não abriu o ministério ordenado a sacerdotes homossexuais, o que é possível na Igreja Episcopal dos Estados Unidos.
A Unitas Fratrum, ou Unidade dos Irmãos, que congrega as igrejas moravas do planeta, posicionou-se a respeito, alegando que a questão posta não é um assunto doutrinal, abrindo caminho, assim, ao acordo de plena comunhão.
"Sabemos que a solidez dessa relação de plena comunhão não depende de documentos nem das resoluções sinodais, mas de descobrir continuamente para o que Deus nos chama como seu povo, e de permitir que o espírito de unidade de Deus atue em nós", disse o bispo episcopal Steven Miller, da Diocese de Milwaukee e co-presidente da Comissão de Diálogo entre as duas denominações.
O diálogo entre as duas igrejas nos Estados Unidos começou em 1997, e desde 2003 acordaram a celebração conjunta da Eucaristia. A Igreja Morava conta com mais de 900 mil membros, em 19 países. Nos Estados Unidos ela é uma denominação pequena, concentrada nos Estados da Pensilvania, Carolina do Norte e Wisconsin.
Esse é o quinto acordo de plena comunhão da Igreja Episcopal Anglicana dos Estados Unidos. Os outros quatro acordos envolvem as igrejas Evangélica Luterana na América, da União de Utrecht, Independente das Filipinas e a Siria Malabar, da Índia.
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