sábado, 24 de setembro de 2011

Milagres, para o quê servem?

Eduardo Ribeiro Mundim

Milagres superabundam no mundo de hoje. Afinal, a tecnologia (1) nos brinda com acontecimentos fora do comum: cientistas conseguem medir o tempo em bilionésimos de segundos, documentos são transmitidos por linhas telefônicas, é possível conversar e ver alguém que está no meio do Nepal na tela do computador portátil.  Uma simples visita a uma loja especializada em aquários (2) nos presenteia com imagens nunca vistas, formas de vidas inimagináveis e combinações de cores geometricamente espetaculares. O dia a dia de cientistas (3) é elucidar como certos fatos ocorrem, ou parecem ter ocorrido, como reproduzi-los e as possíveis utilidades para a vida humana (para o bem e, infelizmente, para o mal).

Mas o termo está, no nosso consciente coletivo, ligado a sua sexta definição: indício da interferência divina na vida humana. Que pode, ou não, ser surpreendente, inexplicável, inusual e admirável. E este é o ponto.

Talvez as últimas décadas tenham sido pródigas em notícias que tememos classificar como contrafações satânicas, ou como puras exibições de mal caratismo blasfemo. Exemplo passível de ser encaixado nessa última característica é o sopro emagrecedor (4), publicado por um jornal popular de Belo Horizonte.

Mas o mais interessante sobre os milagres, enquanto indícios da intervenção divina no dia a dia da nossa história, é a incapacidade deles de serem unanimemente aceitos enquanto tal, não importa o seu tamanho. Os profetas do Velho Testamento não conseguiram converter os filhos de Abraão, por maiores que fossem suas realizações - vide Elias e Eliseu. Por mais que curasse e, eventualmente, ressuscitasse, Jesus não foi reconhecido como Messias a não ser por um pequeno grupo de pessoas. Será que os guardas do sepulcro, testemunhas da ação do anjo, subornados para dizerem que o Seu corpo tinha sido roubado pelos discípulos, creram? (5) 

O que chama a atenção sobre os milagres é o seu duplo caráter na proclamação do Evangelho: absolutamente secundário e invisível aos olhos.

Secundário, porque a mensagem da Cruz vence pela sua força histórica (enquanto fato) e pela sua força convencedora, através da ação do Espírito Santo. E esta ação prescinde de demonstração de poder. Afinal, Jesus mesmo se impacientou, e repreendeu severamente a troca de Sua mensagem por feitos portentosos. (6)

Invisível, porque talvez o maior milagre que possa ocorrer se sucede no coração e na mente daquele que O confessa como Senhor e Salvador. Absolutamente sem fogos de artifício e chamadas extras dos telewebjornais.

Diferente dos estelionatários travestidos de evangelistas (na visão secular), ou dos agentes de Satanás (na visão bíblica) (7), o verdadeiro milagre é discreto, acoplado a correta exposição das Escrituras e nunca, absolutamente nunca, direcionado para o seu agente, e sim para o Seu autor.
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(1) definições 2 e 3 do termo "milagre" do Aulete Digital
(2) definição 4, idem
(3) definição 1, idem
(4) Super Notícia, 20/09/11 
(5) Mt 28
(6) Mt 12
(7) e elas não são mutuamente excludentes

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