quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Do fanatismo evangélico


"Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores." (Salmo 1)
               
Por tal razão, deixei de frequentar igrejas, não participo mais de grupos de oração; o meio evangélico afronta o Deus que habita em mim... E os princípios bíblicos.

Vivo numa cidade que pretende se tornar a capital evangélica do Brasil: Palmas/TO. Aqui, constroem-se igrejas quase que uma em cima da outra, todos andam de Bíblia na mão. E jamais vi, de forma tão exacerbada, tanta futricagem, tanta promiscuidade, tanto julgamento. Um fanatismo exasperador, uma ignorância assombrosa, uma prepotência assustadora, caracterizam os que se julgam salvos e cometem atrocidades em nome do Senhor Jesus. E há quem, por medo da discriminação, frequente igrejas evangélicas, para o caso de Palmas se transformar numa Irlanda (ouvi esse comentário de duas pessoas, há três dias; fiquei completamente atônita!), pois o mundo evangélico tem em Palmas a sua expressão maior.

Por costume, durante muito tempo davam tiros numa imagem de Nossa Senhora, colocada numa pequena praça; já invadiram e vandalizaram um templo do Vale do Amanhecer, só não o incendiando em razão da precoce chegada de um dos fiéis; os galões de gasolina deixados para trás atestam a intenção dos "homens de Deus".

O amor ao próximo se resume ao próximo que cumprimente com a "Paz do Senhor"; os demais não são merecedores do que seja, pois não são filhos de Deus, apenas criaturas. Sim, porque há uma diferença entre os dois aspectos: todo crente é filho de Deus; os não crentes, são reles criaturas.

Sob o pretexto do “ide e pregai” (ainda não entenderam que o “pregai” é uma atitude de vida, e não a torpe falação a que pretendem submeter a todos os que encontram), em cada aldeia indígena deste estado há uma igreja firmemente construída, em flagrante afronta à história dos primeiros habitantes do país. E costumes, registros ancestrais e credo milenares dos indígenas, são aniquilados com o rolo compressor do fanatismo.

Agora, os pentecostais resolveram satanizar a cultura guarani kaiowá, em Mato Grosso do Sul, e incendeiam templos indígenas; objetos de ritual são tratados como obras demoníacas (assistam ao vídeo).

A limitação de raciocínio desses pretensos servidores de Cristo, não lhes permite a compreensão de que Nhanderu é Deus. Da mesma forma que em alemão é Gott ou Dieu em francês. O fanatismo os cega, lhes entorpece a visão, lhes embota o discernimento (sinal de que pouco contato possuem com o Espírito Santo...). Não lhes deixa perceber que o culto a Deus é algo íntimo, pessoal, que não pode ser massificado.

Sim, há exceções. Mas são tão poucas, que me parece ser necessária a intervenção dos órgãos governamentais contra esses insanos, que não alcançam compreender ser o respeito, a base de tudo na vida. Respeito a tudo e a todos, respeito às diferenças étnicas, culturais, filosóficas. Só o respeito embasa o bom diálogo e a convivência sadia. É necessário que se ponha um fim à essa sanha de pseudos cristãos.

Assim como a igreja católica possui a CNBB, que regulamenta, orienta e supervisiona as ações de seus representantes, também os evangélicos deveriam eleger um Conselho verdadeiramente cristão, que estabelecesse a forma de atuação de seus membros, determinando limites de ação e punição aos desatinos que estamos vivenciando.

Os índios são tão filhos de Deus, do Nhanderu Papa Tenondé, quanto o somos todos nós não indígenas. E é urgente que isso seja entendido e respeitado.

Peço aos meus irmãos que sejam cristãos, que tenham em si o olhar do Cristo, manso e humilde de coração, que jamais discriminou quem fosse, que não julgou, que não condenou e respeitou a todos, que chamem suas igrejas para um momento de conscientização.

Evangelizar, sem respeito, é profanar o nome daqu’Ele que personificou o AMOR MAIOR.

Eu agradeço.

Paz em Deus.

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