quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O Haiti chegando em nossa casa




Logo após o terremoto no Haiti que comoveu o mundo, muitas pessoas se mobilizaram para ajudar e foram lá levando tudo o que podiam e muito mais. Pr. Seung foi três vezes ao Haiti como médico para socorrer os acidentados e eu fiquei em casa todas as vezes MORRENDO de vontade de ir e fazer alguma coisa pelos haitianos.

No ano passado soubemos que havia alguns haitianos em Manaus. Um dia, numa banca da feira que doa para o nosso seminário, descobri que doam também a haitianos, que ficavam num galpão sem paredes, sujeitos às chuvas e ataques de mosquitos! Precisavam urgentemente de outro local para se instalar. Levei-os para a nossa antiga casa que estava vazia.

Na semana passada, o padre católico, que cuida de quase 3 mil haitianos em Manaus alugando 600 casas para abrigá-los, declarou ao jornal da cidade que, apesar de 90% destes haitianos serem evangélicos, apenas UMA igreja evangélica estava alugando UMA casa para acolher 30 haitianos. Vergonha para nós, família de Deus, que não sabemos receber os estrangeiros e irmãos em Cristo! (Como não ostentamos uma bandeira de igreja, não se referiu a nós). Podemos ir até eles, mas quando eles vêm a nós, o quê fazemos?




Jantar preparado por voluntários de Pindamonhangaba


Primeiro grupo na casa


No dia 23 de novembro os 13 primeiros haitianos chegaram. Foi um momento de grande emoção. "O Haiti chegou na minha casa!." Eu não pude ir até o Haiti, então Deus, que move as montanhas, trouxe o Haiti até a minha casa!!!. Esse é o Deus que eu sirvo, Deus de milagres, que nos surpreende, nos honra e nos dá o imenso privilégio de servi-LO. A minha família se multiplicou naquele dia!

Os haitianos não param de chegar. Já perdemos a conta de quantos estão em nossa casa e no galpão próximo que fora alugado pela Fundação Alan Kardec (!). Estão dormindo todos no chão e alguns sem colchão. Disseram que a situação em Tabatinga estava caótica. Anteontem, no galpão eram 121 haitianos dormindo no chão. Na casa uns 80. Graças a Deus agora ganhamos muitos colchões. Alguns têm comprado passagens para ir a São Paulo, Campinas, Belo Horizonte e Paraná para tentarem a vida. Temo que sem ter ninguém os esperando, ficarão perdidos. Se tivéssemos contatos que se dispusessem a ajudá-los, seria muito bom. Agora são cerca de 5 mil haitianos em Manaus. Na Polícia Federal e o Ministério do Trabalho tem enormes filas de haitianos que para tirar a carteira de trabalho está levando 3-4 meses. O desespero deles é tão grande que a polícia foi acionada para controlar a turba. Alguns foram presos. Um deles foi assassinado. Desconheço os detalhes. Existe preconceito. Existe exploração da mão de obra e grande dificuldade de comunicação devido à língua. Os últimos grupos que estão chegando quase não falam espanhol e são poucos os que falam francês. A maioria fala crioulo.

Galpão


Cadastramento para trabalhar


Novos amigos



Nos abrigos faltam mão de obra para cozinhar. Falta água para beber por falta de carro e de gente para carregar os galões. Há voluntários, mas eles também tem os seus empregos. Deixo muitas tarefas para ajudá-los. Só de gasolina é R$1500,00 por mês para acompanhá-los. Mas o Senhor tem nos abençoado muito, 3 dos nossos filhos entraram em escolas do governo, assim, grande economia nas despesas. Na semana passada começamos a servir o café da manhã para eles e o Pr. Seung começou o atendimento médico. Muitos têm problemas de vários anos sem nunca terem passado por um médico, muito caro no Haiti. Ficam maravilhados pelo atendimento gratuito no Brasil. Mas aqui também está abarrotado e leva meses, madrugadas e muitas idas e vindas para conseguir consultas, exames e tratamentos. Imagine para quem não fala portugu&ecir c;s e não tem passagem de ônibus... Recentemente surgiram voluntários que ensinam português e outros com doações de toda espécie. Algumas pessoas procuram mão de obra disponível para trabalhos avulsos, mas às vezes existe exploração da mão de obra, não pagam pelo trabalho realizado e os haitianos não sabem como reclamar.

Até chegar a Manaus eles passaram por muita luta. Venderam seus bens, pegaram empréstimo bancário e enfrentaram viagem de 2 aviões e 3 barcos, tendo que esperar 3 meses em Tabatinga pelo protocolo de entrada no país. Em Tabatinga eram uns 2 mil haitianos passando fome, alguns reviravam o lixo e dormiam no chão da praça da cidade, se aglomeravam dividindo um quarto com outros 30 haitianos. Não havia quase emprego, dinheiro, comida, etc. A única igreja que estava ajudando era a Católica, mas não estava dando conta de tudo sozinha, sem ajuda do governo.

Aula de português


Recém-chegados


Galpão cheio



Há diferença cultural. Há pessoas cultas e os iletrados, o educado e o não educado, os honestos e trabalhadores e outros não. A maioria é gente do bem, querem trabalhar para ajudar suas famílias. Me pedem trabalho todos os dias. Vou procurando trabalho para eles. Muitas portas já se abriram, mas não é fácil. Há estudantes de Engenharia Civil que estão trabalhando de pedreiros, um formado em direito que trabalhava como costureiro de dia e de noite era garçom. Pessoas que falam 4 línguas trabalham como garçons. Mas os que só falam Crioulo, analfabetos e sem qualquer formação, como fariam para trabalhar? São como peças de quebra-cabeças que aos poucos vão formando uma figura. Se forem montadas com a ajuda do povo de Deus, poderão formar uma linda paisagem. Sim, o governo participa, mas o que pode ter mais resultado mesmo é o trabalho da formiguinha, que vai cortando folhinha por folhinha. É como Jesus, que se envolvia com o povo. É o trabalho que o Senhor tem nos dado a oportunidade e privilégio de realizar. Não somente a nós, mas a todo o povo dEle. O padre está pedindo socorro, sozinho cuidando de quase 5 mil haitianos. O povo de Deus é muito grande e pode fazer muito, se cada um lançar ainda que só uma gota de água para apagar um incêndio, terá um efeito grande. O que são 5 mil pessoas em um país tão grande como o Brasil? Eles estão querendo ir a outros estados para arrumar emprego e moradia. Muitos precisam aprender português. Não estão pedindo dinheiro, mas pedem trabalho remunerado para ajudar suas famílias no Haiti. Está na hora do povo de Deus praticar o que prega. A oportunidade chega a sua casa e bate à sua po rta, o que você fará?

Lotação para tirar carteira de trabalho


Lotação para tirar carteira de trabalho


Atendimento médico


Café da manhã


Loja da Tim


Coleta de doações da feira


No amor de Cristo,

Margareth Yurie Obara An.


Missionária no Amazonas desde 1999.
Trabalha na ONG AME Amazonas e atua como
Voluntária no Projeto AMA HAITI ,
juntamente com seu esposo Pr. Seung Yeol An.
Contatos: e-mail: brazil32@gmail.com
Cel. (92)9122-3055/(92)8204-9002


Nenhum comentário:

Postar um comentário