Eduardo Ribeiro Mundim
A página Genizah trouxe a notícia de que a psicóloga Marisa Lobo está sob pressão do Conselho Regional de Psicologia ao qual está jurisdicionada. Esta pressão foi efetivada na forma de uma convocação à sede do CRP para tomar ciência de acusações de desvio ético profissional feitas por ativistas homossexuais e ateus. As supostas infrações seriam, pelo menos:
- fazer proselitismo evangélico através do seu trabalho como psicóloga
- defender posturas preconceituosos em relação aos homossexuais enquanto psicóloga
Marisa se diz vítima de perseguição religiosa - será?
Não parece sensato supor que nossos conselhos profissionais sejam instituições compostas por anjos destituídos de opiniões e agendas individuais; que ao avaliarem o comportamento ético profissional o façam sem nenhum viés pessoal; que ao interpretarem os códigos de deontologia inexistam opções filosóficas subsidiando esta atividade; que eles sejam corporativistas ao extremo para ignorar os clamores da sociedade multifacetada sobre o comportamento profissional de seus inscritos.
O episódio parece ter como fonte de informação a própria Marisa, e as falas atribuídas a ela mesma e ao CRP-8 são do seu próprio relato, sem o contexto no qual foram geradas. Nesta data, a página da instituição não se manifesta sobre o assunto (como é de se esperar em uma atuação legal de um conselho regional).
Há óbvias questões legais envolvidas sobre as quais nada é possível falar por falta de informações.
O mote parecer ser o posicionamento de Marisa a respeito da homossexualidade, em desacordo com o estabelecido por resolução do Conselho Federal de Psicologia em 1999:
Art.
1° - Os psicólogos atuarão segundo os princípios éticos da
profissão notadamente aqueles que disciplinam a não discriminação
e a promoção e bem estar das pessoas e da humanidade.
Art. 2° - Os psicólogos deverão contribuir, com seu
conhecimento, para uma reflexão sobre o preconceito e o
desaparecimento de discriminações e estigmatizações contra
aqueles que apresentam comportamentos ou práticas homoeróticas.
Art.
3° - os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a
patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem
adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para
tratamentos não solicitados.
Parágrafo
único - Os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que
proponham tratamento e cura das homossexualidades.
Art.
4° - Os psicólogos não se pronunciarão, nem participarão de
pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de
modo a reforçar os preconceitos sociais existentes em relação aos
homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica.
Esta resolução foi alvo de ação judicial quanto a sua constitucionalidade, e que deu ganho de causa ao CFP.
A situação de Marisa Lobo não é inédita. A psicóloga Rosângela Justino foi punida através de censura pública pelo CRP-5 pela mesma razão (não deve ser por acaso que, em seu perfil do blogger, ela explicite ser seguidora do blog da mesma).
Marisa foi intimada a reformar suas páginas na internet (blog e página pessoal) em consonância com os ditames da resolução acima. Segundo o divulgado, ela não o fará, pois caso o fizesse, negaria sua identidade como psicóloga cristã.
Serão todos os outros psicólogos cristãos apóstatas? Por que apenas Marisa e Rosângela enfrentam problemas ético profissionais? Será a psicologia ciência de segunda categoria, incapaz de auxiliar aqueles que a procuram sem o auxílio da fé cristã? Segundo outra fonte, Marisa teria relatado:
“Quando mandei que me dessem um exemplo de cura da dependência química
só pela ajuda psicológica, ficaram em silêncio, eu disse que conheço
centenas de casos, falei das estatísticas das comunidades e serviços que
trabalham a fé, e dos meus 15 anos de trabalho na área vendo os
milagres da transformação, apenas por dar essa oportunidade as mães e
usuários de saberem que existe um Deus que pode tirá-los desse lixo que a
psicologia não tem conseguido. Claro que a situação ficou mais
crítica.”
Arrisco alinhavar algumas ideias:
- há uma confusão generalizada sobre o que é pregar o Evangelho. Grupos estão em luta aberta contra o que chamam de "ditadura gay-nazista" e tomam um ponto focal, a sexualidade, como o cerne da mensagem da cruz, "que Jesus Cristo veio salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal". Confundem discipulado de novos cristãos com cristianização da sociedade, ou, dito de outra forma, o Reino de Deus é para ser imposto a todos, mesmo contra a vontade de todos. Exemplo maior, Júlio Severo, elogiado em um blog como o "primeiro exilado da ditadura gay brasileira". O blog em questão é um dos acompanhados por Marisa (será por acaso?)
- falta a Marisa no mínimo jogo de cintura: onde está a prudência das serpentes e a simplicidade das pombas, recomendação que Jesus deu aos Seus discípulos ao enviá-los como ovelhas entre os lobos (Mt 10.16)
- a página pessoal, psicologia cristã, a apresenta como profissional da psicologia, vende seus livros, fala de sua agenda junto a igrejas evangélicas, divulga entrevistas concedidas e seu curso sobre dependência química. A quem ela serve: à pessoa ou as ideias por ela defendidas? Qual a necessidade de publicar sua identidade profissional junto com estas ideias? para dar-lhes credibilidade e respeitabilidade?
- como ela está sendo questionada diretamente sobre o cumprimento de uma resolução do seu Conselho Federal (quem, além da Rozângela Justino, desafiou sua legalidade?) dizer-se vítima de perseguição religiosa é deturpar os fatos. Há, certamente, um conflito entre a sua ideia de como deve ser o exercício profissional de uma pessoa com convicção religiosa e o órgão que disciplina este exercício profissional que se destina a todos os brasileiros, teístas ou não. Novamente pergunto: todos os outros psicólogos cristãos são apóstatas e covardes?
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