Eduardo Ribeiro Mundim
Introdução
A
história do
profeta Jonas é bem conhecida, talvez por duas diferentes
razões. A primeira, o grande peixe que o engole e o vomita, inteiro
e incólume, três dias depois. A segunda, sua experiência é citada
frequentemente como um exemplo a ser evitado – não desobedeça a
Deus, ou você será perseguido por Ele, que moverá céus e terra
para obrigá-lo a fazer a Sua vontade.
Mas será
que estes dois pontos ocupam o principal lugar neste curto livro
profético de quatro capítulos e 48 versículos?
Meu
objetivo nesta reflexão é mostrar que, do meu ponto de vista, não.
A mensagem é bem diferente das duas ideias citadas.
Se fosse
reduzir o livro todo em um único título, várias propostas seriam
possíveis: Jonas, um profeta ressentido; Jonas, um profeta
transparente; Jonas, um profeta como você; Jonas, o profeta que não
amava...
Se fosse
escolher o versículo chave da sua história, seria “você tem
alguma razão para esta fúria?”, que aparece pela primeira vez em
4.4 e é repetida em 4.9.
Algumas
questões precisam ser pinceladas.
Seria o
livro de Jonas todo ele uma alegoria? Ou uma história literal?
Seria
possível aceitá-la como uma história real com todos os
encadeamentos de atos miraculosos que o perpassam do início ao fim?
Como
situá-lo historicamente? Quando os eventos teriam ocorrido? A Nínive
descrita existiu? Se existiu, porque não há registros extrabíblicos
da sua conversão?
Estas
dificuldades acadêmicas frequentemente dominam as discussões,
deixando à margem a real mensagem do livro. E este fenômeno não
ocorre somente com este profeta, mas com muitos outros textos
bíblicos. Certamente estas, e outras, questões são pertinentes, e
merecem ser avaliadas. E não é incomum usar a história de Jonas
como ilustração dos absurdos históricos e científicos que
estariam disseminados por toda a bíblia. Mas o objetivo desta
reflexão é a mensagem que o livro traz, as reflexões que levanta,
o Deus que ele mostra, e os homens que ele retrata.
Como
concessão aos mais exigentes, digo que aceito com tranquilidade a
possibilidade de toda a história de Jonas ser literal. Afinal,
quando creio no credo
apostólico do início ao fim, creio em milagres específicos do
início ao fim que tornam os deste livro um tanto quanto
insignificantes.
Partindo
do ponto de vista tradicional, este profeta é o mesmo citado em II
Rs 14.25. Seu ministério se insere no reinado de Jeroboão
II, o último grande rei de Israel. Pelo menos duas
circunstâncias externas deram a ele a possibilidade de restaurar as
fronteiras de Salomão e trazer prosperidade econômica há muito não
vista: a fraqueza da Síria, pelos conflitos com o Império Assírio,
e a preocupação deste Império com sua fronteira noroeste. Contudo,
a prosperidade não foi igualmente distribuída, tendo Jeroboão
enfrentado as profecias de Amós, que denunciavam sua iniquidade, a
religiosidade vazia e a segurança sob falsas premissasi.
E foi ele quem predisse o sucesso político de Jeroboão II – seria
ele um nacionalista?
Apenas a
fração do ministério de Jonas retratado pelo livro é conhecido. E
do pouco que se sabe sobre ele, é que se pode construir algumas
hipóteses sem, aparentemente, possibilidades de verificação.
A
Missão
Jonas
foge de uma outra comissão! A ele é ordenado se dirigir à maior
potência militar da região, um verdadeiro perigo para sua nação
(o Império Assírio teve longa duração, com diversas fases, e seu
exército era conhecido pela dureza com que tratava os vencidos),
para levar-lhe uma palavra profética. E esta, segundo o narrador da
história, deve ser dura: “anuncia junto a ela que a sua maldade
chegou até mim” (BJ).
Não há
mais detalhes sobre o conteúdo – o que nos é diretamente contado
é apenas a revelação de que a maldade da cidade é conhecida por
Deus, Juiz de toda a terra, e que por isto seria destruída 40 dias
após a pregação pelo profeta (3.4).
Contudo,
a Pomba (o significado do nome Jonas) entende que o objetivo de sua
missão não era a destruição da nação rival e ameaçadora, mas a
sua conversão. Ao discutir com Aquele que o comissionou, semanas
mais tarde, conta a razão de sua fuga: "Senhor,
não foi isso que eu disse quando ainda estava em casa? Foi por isso
que me apressei em fugir para Társis. Eu sabia que tu és Deus
misericordioso e compassivo, muito paciente, cheio de amor e que
promete castigar mas depois se arrepende.”
(Jn 4.2)
Este
coração perdoador deixava sinais evidentes na história do povo
eleito. Afinal, apesar da desobediência de toda a nação, Israel
ainda não tinha sido destruído. Diversas vezes ao longo de sua
história, o Deus de Abraão ensinara que o pecado traria castigo,
mas o arrependimento, perdão. E Jonas foi capaz de intuir que esta
palavra de salvação, o perdão divino como consequência do real
arrependimento do homem, dada ao povo da aliança, tinha um alcance
universal! Era destinada inclusive aos inimigos de morte do seu
próprio povo!
A
Nova Versão Internacional traduz o versículo 2 com uma urgência
explícita: “vá depressa à grande cidade de Nínive” (na
segunda comissão, não há urgência, na mesma tradução: “vá
à grande cidade de Nínive”). Reunindo as informações
espalhadas ao longo da história podemos intuir como Jonas entendeu
sua missão: o Juiz de toda a terra abrira uma demanda contra a
opressora e iníqua cidade de Nínive, a quase 1000 km de Jerusalém,
prometendo-lhe a destruição em muito pouco tempo caso não
houvesse uma conversão e era urgente que esta mensagem lá chegasse.
Teria a Pomba entendido como ironia suprema o fato dele, profeta
filho do pacto com os patriarcas, um estrangeiro aos olhos assírios,
súdito de uma nação pequena que poderia ser engolida por eles
assim que possível, que havia informado a Jeroboão II que a glória
dos tempos iniciais da monarquia unida seria parcialmente retomada, o
agente de perdão e transformação do inimigo?
Sendo o
Império extenso e poderoso, sua maldade afetava milhares de pessoas
naquele mundo conhecido. Uma possível conversão daquele povo
levantaria a possibilidade de benefícios indiretos a outros...
Jonas
rompe com seu Senhor. Este fato é explicitado pelo texto por duas
informações complementares: “Mas
Jonas fugiu da presença do Senhor, dirigindo-se para Társis.”
Ele escolhe um destino que, para o hebreu daquela época, significava
o fim do mundo do ponto de vista geográficoii.
A localização desta cidade é incerta, havendo várias candidatas,
como o litoral da atual Espanha e a ilha de Sardenhaiii.
E ele não quer simplesmente ficar bem mais longe do seu alvo
missionário – ele quer fugir da presença de Deus. Esta presença
não deve ser como a imaginada pelo general sírio Naamã, que ligava
Deus a um local geográfico (II Rs 5.17-18), já que ele claramente
aceitava a jurisdição dEle sobre a longínqua cidade. Muito
provavelmente sinaliza uma completa ruptura de comunhãoiv,v.
Rejeitava a comissão dada por discordância fundamental sobre um
tema que lhe era muito caro. E no lugar de debater, como Jó, ou de
ficar parado onde estava, foge como para demonstrar a força de sua
decisão, sua irrevogabilidade. A vontade do profeta não estava em
sintonia com a divina, e recusou uma reavaliação frente àquela
novidade. Por quê? A explicação mais lógica é que ele não
deseja nenhum bem aos assírios, e considerava que qualquer benefício
aos povos conquistados seria muito melhor pela destruição dos
conquistadores, e não pela sua conversão. Jonas era um profeta que
odiava; um profeta que deixava-se governar por suas emoções; uma
pessoa que tinha maior prazer na destruição do não crente que na
sua regeneração Um profeta que não lia a história do
relacionamento do seu povo com o Deus de seus pais por diversos
pontos de vista complementares, nem atentando para particularidades e
seus desdobramentos. Qual seria sua opinião sobre Rute, a moabita,
ou Raabe, a prostituta?
Não
deve ser acidental o jogo de palavras que se repete no primeiro
capítulo: levantar / descer são dois verbos que se repetemvi.
O primeiro, relacionado à comissão divina; o segundo, a reação
humana.
A
Fuga
É
importante tentar se colocar dentro do coração de Jonas, e pensar
com seus sentimentos. Sem isto, a história fica um tanto quanto
incompreensível nos detalhes; e se estes não são importantes, por
que estão no texto?
Como
compreender o fenômeno de Jonas ser encontrado dormindo? Ainda que a
tradução para o português use o termo “porão”, o original
poderia ser literalmente traduzido como “partes internas da coberta
inferior”4.
E não se está falando de um moderno navio de aço, mas de uma
embarcação do século VII antes de Cristo, onde toda a agitação
deveria ter sido percebida (como parece estar nas entrelinhas do
texto). O uso de qualquer droga potente pode ser descartada, já que
não há nenhuma menção deste recurso no livro, nem em toda a
Escritura. Pode ser levantada a possibilidade de uma exaustão física
e emocional intensa. A primeira, pela fuga para Tarsis, via Jope (uma
fuga apressada?), cidade costeira distante de Jerusalém ou do Reino
do Norte. A segunda por um conflito interno. Seu pai era Amitai,
“minha verdade”. O profeta rompe relações com seu Deus que lhe
revela uma verdade que ele não está disposto a aceitar (há perdão
disponível até mesmo para os ninivitas – não há pessoas
excluídas desta possibilidade) mas que ele não pode negar como
sendo a vontade de quem tem o direito e poder de tê-la. Pode ser
acrescida a profunda desilusão de um profeta nacionalista, inspirado
pelo renascimento econômico e militar de sua pátria.
A
tripulação daquele navio mercante era religiosa – o que não é
de se estranhar. Após terem feito tudo o que sabiam fazer, com
perdas financeiras significativas (afinal, as mercadorias que eram o
seu ganha pão foram para o mar), põe-se a orar, cada um a seu deus.
E o capitão busca a todos para, ecumenicamente, pedirem auxílio
divino. O desespero de todos os tripulantes não os impede de tecer
elucubrações teológicas – já que não estamos vencendo esta
tempestade, ela deve ser sobrenatural; portanto, deve ter um
causador. O sorteio aponta Jonas. E a religiosidade dos marinheiros é
ética, pois mesmo com a ameaça real à sobrevivência de todos,
recusa a solução apontada pela pomba: “Peguem-me
e joguem-me ao mar, e ele se acalmará. Pois eu sei que é por minha
causa que esta violenta tempestade caiu sobre vocês".
Somente a aceitam, a contragosto, quando percebem que não será
possível vencer a tempestade, que aumenta de intensidade, e que a
morte chegaria a todos, inocentes e culpado. Sobra apenas o
sacrifício humano proposto por aquele que ofendera o seu próprio
Deus: ”o que foi que
você fez?”. E o fazem
aceitando como divinamente inspirada a sugestão do profeta: "Senhor,
nós suplicamos, não nos deixes morrer por tirarmos a vida deste
homem. Não caia sobre nós a culpa de matar um inocente, porque tu,
ó Senhor, fizeste o que desejavas".
Mas,
por que Jonas lhes dá esta solução, estranha ao modo hebraico de
culto, no lugar de se ajoelhar, confessar sua culpa e seu pecado,
prometer mudar de atitude?
Apenas
conjecturas podem ser feitas, já que a narrativa não fornece pistas
a este respeito. Talvez considerasse seus pecados (desobediência
aberta, recusa de conversão e ruptura de relacionamento) como
merecedores da pena de morte. Afinal, quando o casal adâmico pecou,
a ruptura do relacionamento foi assim punida. Talvez o mortífero
fosse uma característica do profeta, pois ao final de sua história
(4.1-3) ele pede para morrer (e não parece que era figura de
linguagem) porque sua missão tinha sido bem sucedida, ao contrário
do que desejava de coração. Talvez ele ainda não tivesse
convencido (se é que em algum momento ficou) de que estava errado, e
preferisse a morte (que ele imaginava salvar os tripulantes
inocentes) a mudar de ideia.
O
Peixe
Lançado
ao mar, o profeta é engolido por um grande peixe. E este ponto da
história é o preferido para questioná-la. Como é possível?
O
texto é claro, inclusive no original: um grande peixe. Grande o
suficiente para reter, no seu interior, um homem adulto por três
dias. Novamente, apenas hipóteses podem ser levantadas sobre o
animal. Aparentemente, o único animal marinho capaz seria uma
baleia. Mas este termo não é encontrado em nenhum lugar nas
Escrituras.
Teria
ele ficado na boca do grande peixe, ou no seu estômago? Segundo o
narrador, de uma posição onisciente, foram três dias e três
noites; portanto, um bom período de tempo. A leitura do salmo
proclamado pelo profeta sugere que ele foi engolido já prestes a
morrer afogado. É aceitável imaginar que a última lembrança que
ele tinha era estar perdido, sem senso de direção (como ocorre nos
afogamentos), sem ar e, repentinamente, acordado em um lugar
absolutamente escuro. Deve ter consumido uma boa porção do tempo
ele conscientizar-se de que, de alguma forma, estava vivo. Pensava,
recordava, provavelmente conseguia palpar-se em alguma extensão.
Imaginando que o peixe tenha tentado comer outras vezes com ele no
seu interior, ocasionalmente grandes quantidades de água salgada
deveriam passar por ele, junto com os animais marinhos escolhidos
como alimento.
Jonas
mostra-se grato por estar vivo, além de desejar retomar o
relacionamento rompido. O momento de tensão, ou seja, a fuga e o mar
revolto, ficam para trás e no tempo, que deve ter sido do tamanho da
eternidade para ele, disponível, ele parece reconsiderar, ao menos
parcialmente, sua atitude. Sua oração, na forma de salmo de louvor,
termina com “o que eu prometi, cumprirei totalmente”.
Exatamente qual foi a promessa, não se sabe.
Sua
vida é mantida, ganha um tempo para reconsiderar, absolutamente
sozinho, apenas consigo mesmo. É, então, devolvido à terra pelo
vômito do peixe – foi aí que ele descobriu como tinha sido salvo?
Teria ele se dado conta de que houvera pelo menos dois milagres? A
tempestade no mar por sua culpa, e a salvação por um meio
absolutamente inusual e absolutamente seguro? Teria ele pensado
diferente, caso tivesse ficado à deriva no mar, apoiado em algo que
flutuasse, com frio à noite e exposto ao sol durante o dia? Seria o
ventre do grande peixe algo semelhante ao útero materno, ou ao berço
de um recém-nascido?
A
Missão II
Curiosamente,
é necessário que Deus novamente o chame. Por quê? Não parece um
desenvolvimento lógico da história que Jonas fosse a Nínive assim
que se visse em terra? Não era isto que as entrelinhas do seu salmo
permitiam supor? Afinal, o que ele quis dizer com “o que eu
prometi cumprirei totalmente”(2.9).
Parece
que a gratidão pela preservação da sua vida, o reconhecimento da
extensão do poder do Deus de seus pais (afinal, enviara uma
tempestade ao seu encalço, fizera-o ser sorteado como responsável
pela mesma, providenciou um peixe para salvá-lo do afogamento,
manteve-o vivo e são no seu interior e por fim, por sua ordem, foi
vomitado na praia), o perdão inerente a este fato, não foram
suficientes para predispô-lo à missão. É necessário ser
novamente chamado, e desta vez ele se dispõe imediatamente.
A
mensagem entregue era condicional: estabelecia um prazo de
autoavaliação dos ninivitas frente à proclamação divina entregue
pelo profeta. Bem diferente da situação de Sodoma e Gomorra, onde a
destruição das duas cidades era assunto decidido, sem espaço para
arrependimento (Gn 18 e 19). Teria Jonas a mesma compaixão que
Abraão teve daquelas duas cidades? Ou esperava ele que o destino de
Nínive, arqui-inimiga de sua pátria, fosse o mesmo do daquelas
cidades?
Ele
faz um serviço mal feito e propositadamente. Afinal, Nínive era uma
cidade a ser percorrida em três dias (3.3) e ele a percorre em
apenas um (3.4). Sendo a mensagem de vida ou morte para eles (o
núcleo dela era “ainda quarenta dias e Nínive será
destruída”) pareceria lógico que um pregador misericordioso
tentasse por todos os modos convencer seus ouvintes – e havendo
tempo suficiente, quarenta dias, poderia esforçar-se diligentemente.
Logo, sua rapidez não era altruísta.
E
o resultado do seu trabalho mal feito, e repleto de más intenções,
é a conversão dos ninivitas. Talvez este seja o maior dentre todos
os milagres da história: centenas de pessoas mudaram seu modo de
agir após uma mensagem ameaçadora, pouco elaborada e,
provavelmente, pouco racional aos seus olhos. E frente a mais esta
maravilha, no lugar de reconhecer o poder de Deus, Jonas “ficou
profundamente descontente...e enfureceu-se”
(4.1). No lugar de alegrar-se com as inúmeras possibilidades que a
vida traz, sempre sob a direção santa de Deus,
ele pede “tira
a minha vida, eu imploro, porque para mim é melhor morrer do que
viver".
E por quê? Porque seus sonhos homicidas não foram satisfeitos. E
não há a menor sugestão no texto de que a sua reação fosse
ditada por razões “de Estado” - sobram apenas as razões
pessoais.
A
Lição Final
Jonas
se retira da cidade, e se instala a uma certa distância, esperando
os acontecimentos. Talvez ainda houvesse alguma expectativa de que o
arrependimento não era “p'ra valer”. Constrói um abrigo no
deserto, não completamente suficiente. O que lhe faltava, um abrigo
do calor, é-lhe dado gratuitamente, em mais um ato milagroso.
Satisfeito e afeiçoado a situação, vê a planta morrer e o calor
aumentar, a ponto de, novamente, pedir a morte.
O
contexto sugere uma certa afeição pela planta e é a esta situação
que Deus lhe apresenta a última lição: como é possível ele ter
misericórdia de uma planta (ser de curta duração, vegetal e não
gente) e Ele, Deus, não ter de centenas de pessoas que podem mudar
suas vidas?
Deus
e Jonas
Jonas
é um profeta que necessita de conversão. Apesar de dialogar com seu
Deus com bastante familiaridade, não se deixa contaminar pelo que
Ele é – procura preservar o máximo que pode de suas opiniões e
inclinações.
Por
duas vezes Deus lhe pergunta “você
tem alguma razão...?”.
Parece que nenhuma vez Jonas se pergunta por qual razão Deus se
empenha tanto para que Nínive ouça a Sua voz; por qual razão Deus
se empenha tanto para que Jonas seja o mensageiro.
O
que a Pomba-que-é-um-falcão não percebe é que ele também é
campo de missão! Tanto quanto Nínive! A mensagem de condenação e
de esperança poderia ser entregue por qualquer um, mas a mensagem
para Jonas somente poderia ser entregue pelos ninivitas! Ele, com
tanta intimidade com Deus, é cru sobre a mais básica característica
divina: a santidade. Santidade que é descrita nas Escrituras
principalmente em termos de justiça, misericórdia e verdadevii.
E a justiça de Deus é a salvação de uma situação de opressão
para que se possa viver melhor, dentro do pacto a que Ele chama. A
Sua misericórdia, o Amor que a tudo sustenta, inclusive a relação
com a humanidade absolutamente depravada. A Sua verdade a plena
confiança de que Ele é o que é, sem “mudança
nem sombra de variação”
(Tg 1.17).
Apesar
da desobediência declarada e da obediência incompleta, Jonas não é
eliminado, como poderia ter sido se a ele fossem aplicados seus
próprios conceitos sobre como Deus deveria agir para com os
pecadores. O ensino é igual para o profeta e para os ninivitas: Deus
os ama e os chama ao arrependimento.
Dentro
do seu orgulho de ser descendente dos patriarcas, da arrogância de
ser verdadeiro profeta em uma terra cheia da falsos profetas (que,
inclusive, bajulavam Jeroboão II, o rei que Jonas talvez prezasse
tanto), da prepotência de ser porta-voz do Altíssimo, ele não se
via como deveria ver.
Estar
perto de Deus, ser por Ele comissionado, entender Sua mensagem e
pregar seu Evangelho não são garantias de retidão pessoal, de amor
ao próximo e de não ser cego.
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i Novo
Dicionário da Bíblia, vol II, pag 803-4, 3ª ed, 1979, Ed Vida
Nova
ii Bíblia
de Jerusalém, nota a, pag 1.765, 9ª ed, 1985, Ed Paulinas
iii Novo
Dicionário da Bíblia, vol III, pag 1.563, 3ª ed, 1979, Ed Vida
Nova
iv Novo
Comentário da Bíblia, vol II, pag 871-7, 1ª ed, 1963, Ed Vida
Nova
v Alison,
J. Fé sem ressentimento, pag. 137-61, 1ª ed, 2010, É Realizações
vi Wondracek
K, Hoch LC, Heimann T. Sombras da alma: tramas e tempos da
depressão, pag. 205-22, 1ª ed, 2012, Ed Sinodal
vii Lillie
W. Studies in new testament ethics, pag.4-6, 1ª ed, 1963,
Westminster Press
compartilhado com a Segunda Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte no culto matutino de 04/11/12