quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Pedido de perdão aos negros


Mesmo a mais tendenciosa História não pode escapar de ver a realidade em que vieram, viveram e vivem hoje no Brasil milhões de afro-descendentes, nossos irmãos negros e nossas irmãs negras. É inegável que houve participação das Igrejas históricas na luta pela abolição, pela igualdade e oportunidade de todos os negros e negras de nosso país. Todavia, foram atitudes pontuais, sem a força do comprometimento, sem arriscar de fato e de verdade a própria pele, como nos manda o Senhor da Igreja quando nos fala dos seus pequeninos, isto é, de todos os injustiçados, discriminados e relegados à miséria, doenças e morte.
A concepção ocidental da superioridade branca não é só risível, é criminosa. Alimentou  e alimenta a escravidão e tinha o direito sobre a vida e a morte dos escravos, como ocorre na escravidão contemporânea, camuflada nos empregos domésticos sem a carteira assinada, com valores abaixo do salário mínimo; como ocorre em grande parte na prestação de serviços, no uso de mão-de-obra não especializada no campo e na cidade. Isso todo mundo está cansado de ver por meio da imprensa comprometida com a Justiça e a Paz decorrente.
A concepção da Igreja como Corpo de Cristo nos é muito útil agora. Se um membro sofre, todos sofrem com ele. Se um membro é honrado, todos se alegram com ele. Mas existem patologias estranhas: alguém que fere o seu próprio corpo, como se rejeitasse sua mão, seu pé, seu ouvido. Patologias religiosas. Patologias espirituais. A Igreja de Cristo, desde os tempos apostólicos, sabe da dignidade do outro em sua plenitude. Sabe que Jesus Cristo conquistou essa dignidade por meio da cruz. Sabe que, sem a cruz, sua religião é falsa, diabólica e destina-se ao inferno. Assim, como Corpo de Cristo, a Igreja antiga e contemporânea reconhece, se é fiel e sensata, a sua participação direta e indireta na alienação, discriminação e obstáculo para todos os que trazem na pele uma cor diferente da branca.
Como CORPO DE CRISTO todos participamos do bem ou do mal praticado contra estes irmãos e estas irmãs. Quando não fomos os algozes diretos, não nos importamos que outros o fossem. Quando víamos e sabíamos, nos calamos. Quando gritavam, fechamos os ouvidos. Quando apelavam às leis, encontramos os melhores advogados, cujos custos eram e são muito superiores à prática da Justiça.
Sim, como CORPO DE CRISTO, nós também discriminamos na discriminação ignorante, na interpretação tendenciosa, na leitura de uma só ótica. Como pessoas e cidadãos, não temos oferecido o que manda o Senhor oferecer ao nosso próximo que foi derrubado pela maldade humana: azeite para as suas feridas, apoio para sua caminhada, abrigo para as suas tempestades, disponibilidade e generosidade para as suas necessidades presentes e futuras. O Senhor grita aos nossos ouvidos: “Vão e façam o mesmo”. E também: “Peçam perdão para poderem orar como lhes ensinei”.
Assim, em nome da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil – IPU, pedimos perdão a vocês, irmãos e irmãs afro-descendentes de nosso país, pelos males bem identificados, geralmente arrolados sob o nome de discriminação, que nós praticamos contra vocês na história passada e presente, por todo tipo de pensamentos e palavras insidiosos, malévolos, satânicos que deixamos entrar nos nossos ouvidos e deixamos sair da nossa boca, por todo tipo de má vontade decorrente de sua condição de negro e negra que manifestamos ao longo da nossa vida. Pedimos perdão por considerarmos inferiores a sua religião, a sua religiosidade, a sua música, os seus símbolos, o seu modo de viver. Pedimos perdão a vocês que são cristãos e cristãs, a vocês que são muçulmanos, a vocês que são umbandistas, a vocês que seguem outras tradições de matriz africana, a vocês sem qualquer religião ou fé, a vocês todos, como um povo, a quem devemos amar como nos ama Jesus Cristo.
 
As suas lutas todas por Justiça são as nossas lutas, sem favores. Seus gritos por socorro são os nossos gritos e atingem nossos ouvidos prioritariamente.
Pedimos a Deus Pai-Filho-Espírito Santo que nos desperte a todos desse mal consciente nos adultos, inconsciente nas crianças, mas real e intransferível, a não ser para Jesus, que o levou à cruz, a qual Ele nos convida a ajudá-lo a carregar como gratidão pelo Seu amor.




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