 Meu caro Sandro,
Meu caro Sandro,
Espero que esta o encontre bem, com muita saúde e alegria em todas as coisas.
Soube
 pelo seu pastor que você está pensando em desistir da fé e sair da 
igreja porque, passados já cinco anos que você recebeu Jesus como seu 
Senhor e Salvador, você continua a sentir desejos homossexuais e atração
 por homens. Ele me disse também que sua esposa, a Rita, tem sofrido 
muito com tudo isto, muito embora você tenha sido bastante honesto com 
ela e não tenha, em nenhum momento, sido infiel no casamento.
Seu
 pastor, que foi meu aluno no seminário teológico, me pediu para 
escrever para você, especialmente pelo fato de que fui eu quem lhe 
ajudou nos primeiros dias depois da sua experiência de conversão. Espero
 que esta carta seja usada por Deus para ajudar você neste momento 
difícil.
Sei que você ficou ainda mais confuso por causa do 
alarde da imprensa sobre um projeto que os ativistas gays apelidaram de 
“cura gay”. A verdade dos fatos é que esta designação irônica é a reação
 deles ao Projeto de Decreto Legislativo 234/11 do deputado João Campos,
 do PSDB, que suspende dois itens da resolução do Conselho Federal de 
Psicologia que proibiam psicólogos de atender pacientes que buscassem 
ajuda para se libertar dos impulsos e desejos homossexuais. O projeto 
234 foi aprovado recentemente na Comissão de Direitos Humanos e Minorias
 da Câmara de Deputados. Os ativistas gays apelidaram o projeto 234 de 
"cura gay", uma designação irônica e maliciosa, pois o projeto não é 
sobre isto. Ele apenas restabelece o direito dos pacientes de pedirem 
ajuda e dos psicólogos de ajudarem e não usa o termo "cura". Se você 
quiser mais detalhes sobre os fatos, recomendo o artigo de Reinaldo 
Azevedo sobre o assunto. 
Mas minha carta não é sobre os fatos 
acima mencionados, mas sobre a crise que você está passando com estes 
desejos homossexuais, mesmo sendo um crente em Jesus Cristo. Você se 
lembra que eu lhe alertei para o fato de que crer em Jesus como Senhor e
 Salvador não significaria a imediata libertação de todas as 
consequências espirituais, psicológicas e mentais dos anos em que você 
viveu como homossexual praticante. O pecado deixa profundas cicatrizes 
em nossas vidas, marca a ferro e fogo nossa consciência com imagens, 
impressões, experiências, gostos e desejos, que levam muitos anos para 
serem vencidos.
Seu pastor me falou que você vinha lendo material
 de determinados autores que afirmam que homossexuais, uma vez 
convertidos, se tornam completamente libertados não somente da prática 
de relações com pessoas do mesmo sexo como também da atração por pessoas
 do mesmo sexo. Sandro, não duvido que em alguns casos isto possa 
acontecer. Sei que há casos concretos de pessoas que viviam na 
homossexualidade e que, depois da conversão a Jesus Cristo, 
libertaram-se inclusive da atração por pessoas do mesmo sexo. Todavia, 
isto nem sempre é o que acontece, como, infelizmente, é o seu caso. Você
 precisa entender, contudo, que a continuidade de desejos homossexuais 
depois de uma legítima conversão não significa necessariamente uma 
derrota e nem que Deus falhou com você.
Acho que você está 
esquecendo um ponto básico da doutrina cristã, que é a diferença entre 
pecado e tentação. A atração por pessoas do mesmo sexo é diferente da 
prática de relações sexuais entre elas. A primeira é uma tentação, a 
segunda é pecado. Tentação e pecado são duas coisas diferentes. Sandro, 
eu tenho um coração corrompido pelo pecado, a minha natureza é 
pecaminosa a despeito da minha justificação pela fé em Cristo e da 
presença do Espírito de Deus em mim. Diariamente, do meu coração 
corrompido procedem desejos, intenções, reações e pensamentos carnais e 
pecaminosos. Associado a isto, há as tentações externas trazidas pelo 
mundo, pelas pessoas e por Satanás.
Diariamente homens cristãos 
casados se sentem tentados a olhar uma segunda vez para mulheres que não
 são sua esposa e se sentem tentados a imaginar e desejar ter relações 
com elas. Todavia, ser tentado a fazer isto não é a mesma coisa que 
fantasiar estas relações ou tê-las na prática. Diariamente cristãos 
verdadeiros reprimem estes desejos, dizem não a estes pensamentos e 
evitam a segunda olhada. Pensam na esposa, nos filhos e particularmente 
em Deus, que odeia e abomina o adultério, e no Senhor Jesus que morreu 
exatamente por causa destes pecados. Cada dia em que resistem a estes 
impulsos e vontades é um dia de vitória e de libertação.
Caro 
Sandro, creio que o mesmo pode se aplicar a outras vontades pecaminosas,
 como desejos homossexuais, desejos de machucar outras pessoas, a cobiça
 por coisas... a lista é grande. A conversão a Cristo não significa a 
expulsão do pecado aqui e agora do nosso coração. É isto que você 
precisa entender. 
Mas agora me deixe voltar a um daqueles 
estudos bíblicos que lhe passei no início do discipulado e que, pelo 
jeito, você esqueceu. Lembre que o processo estabelecido por Deus para 
libertar pessoas do pecado é realizado por ele em três etapas que 
acontecem em sequência e nesta ordem. Na primeira, Deus nos liberta da 
culpa do pecado - justificação. Na segunda, do poder do pecado - 
santificação; e na terceira, da presença do pecado em nós - 
glorificação. Lembra do quadro que desenhei para você naquele domingo?
| Libertação da: | Designação | Quando: | Como: | 
| Culpa do pecado | Justificação | Passado | Ato único realizado uma única vez | 
| Poder do pecado | Santificação | Presente | Processo incompleto e imperfeito | 
| Presença do pecado | Glorificação | Futuro | Ato único realizado de uma vez para sempre | 
Só
 recordando: a primeira etapa, a libertação da culpa do pecado, é a 
justificação, que é um ato de Deus, único e pontual, no qual ele nos 
considera justos diante dele mesmo, com base nos méritos de Cristo. 
Corresponde, na nossa experiência, à conversão, arrependimento e fé. É 
um ato legal de Deus feito de uma vez para sempre e é a base das etapas 
seguintes. Foi o que aconteceu com você naquele dia que você, 
arrependido e quebrantado por seus pecados, voltou-se para Cristo em fé 
suplicando o seu perdão.
A etapa seguinte é libertação do poder 
do pecado. Trata-se da santificação, que é um processo que se inicia 
imediatamente depois da justificação e que dura nossa vida toda. Ele 
consiste, não na erradicação do pecado e de nossa natureza decaída, mas 
em mortificar esta natureza, dominá-la, subjugá-la e mantê-la sob 
controle. Essa é a etapa do processo de salvação que você está vivendo 
agora. Lembra da ênfase que dei à necessidade de usar os meios de graça 
como oração, meditação e comunhão com outros irmãos em Cristo? Lembra 
que oramos para que o Espírito de Deus produzisse diariamente em você o 
fruto do domínio próprio? Sandro, neste processo há uma luta constante, 
ferrenha e interminável que você tem que travar contra o pecado que 
habita em você, contra as tentações de Satanás e do mundo. Todavia, esta
 luta em si não é pecado. Ser tentado não é pecado. Sentir desejos 
pecaminosos, vontade de fazer o mal, disposição para o que é errado, 
estas coisas vão nos acompanhar todos os dias de nossa vida e não são 
pecado – a não ser que cedamos a elas. A vitória consiste em dizer "não"
 a todas elas, diariamente, todos os dias de nossa vida, pelo poder do 
Espírito. 
A terceira etapa que lhe falei é a glorificação, 
quando ocorrerá a libertação da presença do pecado em nós. Ela ocorrerá 
quando morrermos ou se estivermos vivos quando da vinda do Senhor Jesus.
 Haverá a ressurreição dos mortos e a transformação dos crentes que 
estiverem vivos. Todos os filhos de Deus serão transformados para serem 
como o Senhor Jesus, num corpo glorificado e sem pecado, glorioso, 
imortal e incorruptível, com o qual os filhos de Deus viverão 
eternamente no novo céu e na nova terra onde habita a justiça. Só então,
 Sandro, você e eu seremos finalmente livres dos desejos carnais que 
habitam em nosso coração.
Deus não prometeu que você ficaria 
livre de toda tentação e de todos os desejos a partir do momento que 
você cresse em Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Você foi perdoado e 
justificado de seus pecados – inclusive do pecado do homossexualismo. 
Mas isto representou apenas o início do seu processo de libertação do 
poder do pecado que habita em você, processo este que é incompleto e 
imperfeito nesta vida, embora bastante real. Você precisa aprender a 
lutar e a dominar todos os seus desejos pecaminosos, inclusive o desejo 
de ter relações com pessoas do mesmo sexo, da mesma forma que os crentes
 heterossexuais lutam e dominam seus desejos de prostituição, 
fornicação, adultério, impureza e pornografia.
No seu caso, após a
 conversão você recobrou a atração pelo sexo oposto, casou com a Rita e 
tiveram dois filhos. Mas isto nunca significou que você ficaria livre da
 tentação pelo mesmo sexo, como você está sendo tentado agora. Outros, 
não conseguiram casar e optaram por viver solteiros, no celibato, sem 
relações sexuais com qualquer pessoa. Resolveram renunciar a tudo para 
se manterem fiéis a Cristo que disse que o caminho é estreito e a porta é
 apertada. Em qualquer situação, Sandro, a vitória consiste em resistir 
ao desejo e seguir o caminho da obediência, que é a mesma coisa para os 
heterossexuais.
Acredito que você está desanimado 
desnecessariamente, pois de alguma forma foi levado a pensar que a 
conversão lhe libertaria completamente dos desejos que você tinha antes 
de conhecer a Jesus Cristo. Espero que esta carta seja útil para trazer 
verdadeira libertação.
Por favor, não interprete minha carta 
erroneamente. Não estou limitando o poder de Deus ou dando brecha para 
que você volte aos seus antigos pecados com a consciência tranquila. 
Como eu disse, as relações homossexuais, na prática ou nas fantasias 
eróticas de quem se masturba diante de um computador, são pecado e 
iniquidade. Ser tentado a fazer isto não é. Portanto, fique firme, 
continue a praticar as disciplinas e exercícios espirituais, continue a 
conversar com a Rita e a abrir seu coração para ela e a ver seu pastor 
regularmente. Conte comigo em tudo que precisar. Acima de tudo, não 
desista, pois Deus nunca nos prometeu uma viagem tranquila, somente uma 
chegada certa.
Termino declarando a minha mais completa confiança na veracidade destas promessas bíblicas, que deixo para sua meditação:
“Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça” (Rm 6.14)
“Porque,
 quando éreis escravos do pecado, estáveis isentos em relação à justiça.
 Naquele tempo, que resultados colhestes? Somente as coisas de que, 
agora, vos envergonhais; porque o fim delas é morte. Agora, porém, 
libertados do pecado, transformados em servos de Deus, tendes o vosso 
fruto para a santificação e, por fim, a vida eterna; porque o salário do
 pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo 
Jesus, nosso Senhor”. (Rm 6.20-23)
Do seu irmão e amigo,
Augustus
publicado em http://www.ultimato.com.br/conteudo/carta-a-um-ex-gay-tentado-a-voltar-atras
ver resposta em http://crerpensar.blogspot.com.br/2014/06/carta-de-um-homossexual-ao-seu-pastor.html
 
 
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