quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Neoevangélicos: raízes podres e indigestas


Derval Dasilio

Os surtos neoevangélicos recentes são certamente contaminados por uma estruturação clara em torno de um poder religioso especializado, econômico, restrito, hierárquico, autoritário, objetivo, moderno. Os fiéis tramitam essencialmente no ambiente urbano marcado pelo anonimato, por relações indiretas, pela massificação dos costumes, sem expressão de comunhão e de comunidade, em reação estrondosa às condições sociais e econômicas. Imaginam-se no mundo pré-histórico? Nunca. São muito modernos, capitalistas "in essentia", como coreografia de mitos ancestrais manipulados convenientemente.

A religião é um fenômeno antropológico extraordinário! Todas as religiões têm começo e origem. Nos primórdios imemoriais, na antiguidade e até hoje, as narrativas sagradas, os rituais, as práticas morais (em cada grupo religioso, em toda parte e em todo tempo, pré-histórico ou não) e a religião nunca se dissociam dos meios de produção econômica (João Décio Passos). Narrativas míticas, miraculosas, apontando prodígios, eventos divinos, transcendem à dinâmica histórica enquanto colocam homens e mulheres face a face com o transcendente. Estão na religião. Este é um ponto. O outro refere-se à institucionalização da religião, quando vão se racionalizar origens e fins. Atualizemos o surto contemporâneo da religião de mercado.

Pensemos no céu noturno, em forma de cúpula, com estrelas cadentes. Debaixo dele as pessoas armavam tendas. Como seria intrigante a marcha regular das estrelas, os céus cruzados periodicamente por tochas de fogo em alta velocidade, estrelas cadentes, grandes rios lácteos correndo pelo céu, tapetes gigantescos de estrelas estendidos nas noites limpas... Criaturas poderosas deveriam viver no firmamento... Nasce a religião! Magos, videntes, curandeiros e feiticeiros conheciam esses mistérios. Tinham, portanto, as chaves dos lugares sagrados, dos santuários, dos altares onde se fariam sacrifícios. Podiam manipular a religião por causa de seus atributos e competências. A Bíblia Hebraica, contudo, não esquece nenhum detalhe a respeito dessa religiosidade: condena-a. O homem bíblico não é diferente dos outros: denuncia-a imediatamente. A guinada na direção da religião revelada ocorrerá gradativamente.

A religiosidade comum a todos os homens pode ser esboçada assim. Contudo, a experiência de religião encontrada no Antigo Testamento vai fugir do comum. O ambiente mesopotâmico e depois cananita enseja uma abordagem diferenciada, notável. O povo bíblico crê numa religião revelada. Deus é espontâneo, revela-se porque quer. Não crê na religião natural, fenomenológica, calcada em sentimentos diante do fascinante mundo ao redor. No segundo caso, os fenômenos físicos ditam o ritmo dos acontecimentos. E agora, o deus econômicus neoevangélico, dita novas regras?

A aflição sobre fenômenos sobre os quais não se possui nenhum controle, vida nômade debaixo de céus estrelados contrapostos às tempestades noturnas, medonhas, céus lampejados vivamente por raios intensos, exigiram uma resposta do homem. Imaginemos uma árvore despedaçada por um raio, como acontece ainda hoje em áreas rurais, na madeira carbonizada e exposta (terror que converteu Lutero!). Acrescentemos a observação de ciclones, furacões, maremotos. Como explicar um vulcão em erupção, extensões de terra abaladas, tremendo, e em seguida rachadas em grandes distâncias, num mundo limitado ao que as pessoas conheciam? Hoje, o otimismo evangélico econômico, em trono da prosperidade, passa ao largo dessas questões.

Deus, aqui, além de assemelhar-se ao "deus ex machina" da teatrologia da Grécia Antiga, é bem brasileiro. Deus é um serviçal, "deus-quebra-galho", como num receituário doméstico. Todas as soluções possíveis para alguém se dar bem na vida. O crente ora e ordena à divindade imprensada na parede, depois das ofertas compulsórias: "Fiz a minha parte, agora faças a tua". Estamos na iminência de um "deus demitido do trono da graça". Perdeu-se a essência bíblica que convoca à ética, solidariedade, compaixão e misericórdia. A graça de Deus custa muito caro no mundo neoevangélico carismático.

• Derval Dasilio é pastor da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil. www.derv.wordpress.com
fonte: http://www.ultimato.com.br/?pg=show_conteudo&util=1&categoria=3&registro=1142#

domingo, 27 de setembro de 2009

Marina Silva, criacionismo e estado leigo

Eduardo Ribeiro Mundim

"Marina Silva, por fim, confessa-se adepta do designe inteligente...'eu acredito que Deus é o criador de todas as coisas e que esse criador tem um projeto, que as coisas não acontecem por acaso, alhures, que existe um projeto inteligente, da inteligência divina que governa todas as coisas.' É a sua fé, e o seu direito, mas não pode ser a sua política". Este é o parágrafo final da coluna dominical de Marcelo Leite, no caderno Mais, da Folha de São Paulo, do dia 27 de setembro de 2009. Todo o texto vale a pena ser lido (está disponível na internete, para os assinantes do jornal ou da UOL) e a razão desta reflexão é a opinião emitida nos parágrafos finais: "não é uma resposta aceitável, vinda de ministra de um estado laico. Deveria fazer a distinção, fundamental, entre ensino de ciências e ensino de religião...não há acolhimento possível da fé pela ciência, se por isso entende-se a admissão de que existam verdades além e acima das corroboradas com observações e medidas."

A citação da ex-ministra, cristã assumida, geradora do comentário foi a defesa do oferecimento de diferentes pontos de vista, a aceitaçao de que "ciência se faz pela multiplicidade dos olhares". E o contexto, a controvérsia criação e evolução, que o autor parece querer lançar no esquema fé X ciência.

Acredito que a limitação de espaço que Marcelo Leite enfrenta o levou a trabalhar com uma definição de ciência bastante resumida, "verdades corroboradas com observações e medidas". Não é o ensinado pelo seu colega articulista, Rubem Alves, no seu livro, bem didático, editado pela Loyola, "Filosofia da ciência: introdução ao jogo e às suas regras". Já que a questão é sobre as origens, na mesma página A3, o físico Marcelo Gleiser afirma que "o propósito da ciência não é responder a todas as perguntas; sua missão é outra...dado que jamais teremos um conhecimento completo da realidade, jamais poderemos construir uma nattativa científica completa."

Não é possível resumir a vida, em sua amplitude e beleza, a observações, medidas e experimentos controlados. Não é possível fazer ciência sem intuição, imaginação e criatividade. Manter a discussão sobre as origens do universo como um ringue onde duas visões conflitantes se enfrentam até à morte é negar as limitações inerentes de ambas. A ciência não fala de finalidades - isto é função da filosofia e da teologia. Estas não descrevem fenômenos, não fazem previsões sobre seu comportamento. E a realidade é maior que ambas.

Marina da Silva está certa ao defender a pluralidade de visões, e as declarações citadas não conflitam com o caráter leigo do Estado. Sendo leigo, o Estado não defende nem um, nem outro; não defende a religião A ou a B. Caso negue a possibilidade religiosa, o estado deixa de ser laico, e passa a ser secular, pondo obstáculos a quaisquer manifestações que não sigam a sua cartilha. Estado laico é aquele que proporciona um debate civilizado entre diferentes visões, uma convivência respeitosa entre discordantes.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O crime e a condenação do deputado Henrique Afonso

Prezados amigos e companheiros
Quero agradecer a todos que estiveram torcendo e orando pelo Deputado Henrique Afonso.
Agradeço aos que foram na sede do Partido prestar solidariedade.
Como todos já devem saber ele foi condenado pelo Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores. Foi condenado por unanimidade de votos por ter ferido a ética partidária ao se manifestar publicamente contra o aborto.
A pena não foi a expulsão, apesar de muitos membros do Diretório terem pedido e votado que fosse expulso.
Mas entendo que a penalidade aplicada foi severa. Ele foi condenado a três meses de suspensão das atividades partidárias e não poderá por dois anos participar da Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados.
O Diretório ainda queria que o parlamentar retirasse todos os Projetos de Lei de sua autoria que defendem a vida humana, mas esta pena não alcançou votos suficientes para ser aplicada
A gravidade da pena imposta consiste no seguinte: todas as lutas do deputado passam pela Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados.
É naquela Comissão que se discute a proteção à criança, a violência contra a mulher, a eutanásia, os projetos de lei e políticas públicas voltados para os idosos, para a pessoa com deficiência, para os portadores de transtornos mentais, é lá que estamos discutindo o destino dos infectados pelo DDT na Amazônia, o atendimento aos hansenianos, aos moradores de rua. Lá também se avalia e se discute a saúde dos povos indígenas, a proteção das crianças indígenas. Ou seja: todas as bandeiras do Deputado Henrique Afonso passam por aquela Comissão e como ele poderá ficar fora dela???
A caso deverá o deputado agora migrar para a Comissão de Turismo ou de Esporte da Câmara dos Deputados se estas não são suas principais lutas???
Entendo que a pena tem um único objetivo: calar Henrique Afonso
Lembrem-se que outro parlamentar também foi julgando o dia 17.
Trata-se do Deputado Federal Luiz Bassuma da Bahia. A ele foi atribuída uma pena maior: foi suspenso por um ano, também esta proibido de participar da Comissão de Seguridade Social e deverá retirar todos os projetos de lei em defesa da vida humana e do nascituro. (minha opinião pessoal: Um absurdo sem precedente)
Houve uma grande repercussão sobre as condenações e a imprensa de todo o país falou sobre o assunto.
Em todos os comentários que estou lendo percebo que as pessoas entendem que o PT feriu a Constituição Federal e que existe por trás do julgamento uma perseguição religiosa pois um deputado é evangélico e o outro professa a fé espírita e ambos sempre usam a defesa de suas crenças em seus discursos contra o aborto. Com certeza os deputados petistas católcos que também se manifestarem contra o aborto publicamente também poderão sofrer sanções pelo Partido.
Na internet a pergunta que não se cala é como será doravante a relação dos cristãos do Brasil com o PT?
Esta pergunta continua sem resposta.
O Deputado Henrique Afonso ainda não informou se permanecer no PT ou se vai pedir ao TSE sua desfiliação depois da condenação.
Assim que ele tomar uma decisão estarei informando.
Entre todas as matérias que li e que esta circulando em inúmeros sites e blogs, gostei muito da que foi escrita por Reinaldo Azevedo da Revista Veja. Ela esta transcrita neste email leiam com atenção.
Recebam meu abraço e meu agradecimento por todo apoio manifestado
Damares Alves
Veja on line
sexta-feira, 18 de setembro de 2009 | 4:37

Na noite de ontem, o Diretório Nacional do PT decidiu punir os deputados federais Luiz Bassuma (BA) e Henrique Afonso (AC). Por unanimidade, ambos tiveram seus direitos políticos suspensos por um ano e 90 dias, respectivamente. Não poderão votar nem ser votados nas instâncias partidárias ou discursar em nome do partido. É possível que Bassuma, nessas condições, não consiga nem mesmo se candidatar à reeleição. Uau! Será que este partido está, finalmente, se emendando? Afinal, o que ambos fizeram? Abaixo, segue um diálogo imaginário com um leitor otimista. Ele pergunta (em negrito) e eu respondo.

— Será, Reinaldo, que eles foram pegar dinheiro de Marcos Valério no Banco Rural?
— Besteira! Isso é permitido. Não dá punição.

— Então usaram recursos "não contabilizados" de campanha. Acertei?
Bobagem! Isso é do jogo. Como você sabe, a campanha de Lula foi paga em moeda estrangeira, no exterior, com dinheiro de origem desconhecida.

— Já sei! Então integraram algum grupo de aloprados para fazer um dossiê falso contra adversários! Na mosca?
Claro que não! Integrar grupo de aloprados é coisa tão importante, que todos aqueles que participaram daquela aventura eram do entorno do próprio presidente Lula. É coisa para gente graduada.

— Ah, então vamos ver: usaram, sei lá, a estrutura de um ministério, da Casa Civil por exemplo, para fazer outro dossiê contra adversários do governo.
— Errado! Quem faz isso acaba sendo considerado candidato natural à Presidência da República. Isso rende promoção no PT, jamais punição.

— Ah, então vai ver eles violaram o sigilo bancário de um caseiro. Coisa feia!
— Tolice. Isso não tem importância. Quem dá bola para caseiro?

Que diabo, então, fizeram esses dois para que toda a cúpula petista, sem exceção, decidisse ser tão severa? Bem, eles resolveram tornar pública a sua posição contrária à descriminação do aborto. Vocês entenderam direito e não precisam ler de novo. Alguns pecadilhos, no PT, como os listados acima, não têm grande importância. Mas defender o direito de um feto à vida, a depender de como seja feito, é incompatível com a ética petista. Eu já desconfiava que fosse assim. De fato, não sei o que ambos fazem no PT sendo o partido tão escancaradamente favorável à descriminação do aborto.

Como a gente nota, no PT, os que cometeram todos aqueles crimes, merecem uma segunda chance. Mas o feto não merece a única chance que tem. É a forma que a esquerda tem de ser humanista, de ser progressista. A direção recomendou ainda que Afonso não seja reconduzido à Comissão de Seguridade Social e da Família na Câmara dos Deputados. Só pode pertencer a uma comissão de família quem é favorável à morte dos fetos, entenderam?

É o PT aplicando o seu Código de Ética. Ele comporta, por exemplo, Ideli SaLvatti a defender Sarney com todos os "esses" e "erres", mas não parlamentares que participam de uma marcha contra o aborto. Vejam que engaçado: a tal manifestação, sabe-se, teve o apoio de uma ONG que conseguiu dinheiro público para a sua realização etc — vocês conhecem aquela rotina típica de petistas e ONGs. Pô, aí já é demais, não é? Dinheiro público bem utilizado é aquele que financia marchas em defesa do aborto.

Um dia essa gente há de encontrar o lugar certo na história. Que seja logo!

domingo, 20 de setembro de 2009

O poder apostólico

Eduardo Ribeiro Mundim

Não é incomum haver uma idealização da igreja primitiva. Habitualmente, o versiculo "e eles tinham tudo em comum" é citado como o ideal da comunidade cristã. A isto, se somam os milagres realizados pelos apóstolos. Comunhão e poder parecem ser os temas centrais desta fantasia.

Qual era este poder?

Na parábola do grão de mostarda (Mt 17.20 ) Jesus ensina que o tamanho da fé não precisa ser grande, e, usando a mesma planta, diz que, sendo a fé real, é possível até mudar um monte de lugar (Mc 11.23).

Muita vezes os cristãos se perguntam por qual razão não fazem as mesmas maravilhas daquela época - e ancorados nesses dois textos, concluem ser por terem pouca fé.

Vários caminhos podem ser seguidos na busca da resposta (ou melhor, das respostas). Vou escolher um:

Deus é soberano: tem misericórdia de quem quer (Ex 33.19). Seus pensamentos e desejos estão fora do nosso alcance de entendimento (Is 55.9). A lógica retributiva do Seu Reino nos é absurda (Mt 19.30-20.16).

A capacidade de realizar milagres não serve ao cristão, mas ao Reino, e somente a seu serviço existe. Não fosse assim, porque o apóstolo Tiago, irmão de João, foi morto à espada apenas porque isto agradava a Herodes (At 12)? Como foi possível a execução de Estêvão (At 7), "cheio graça e poder" e que "fazia milagres e sinais entre o povo" (At 6.8).

E como o grande apóstolo Paulo chegou à cidade grega de Corinto? "Fraco e tremendo de medo (I Co 2.3), ainda que sua pregação se baseasse na "demonstração do poder do Espírito" (I Co 2.4).

E como ficou a igreja que lá ele deixou? Nela havia aqueles que se embriagavam com o vinho da eucaristia enquanto alguns passavem fome (I Co 11.17-34); alguém vivia em uma situação de incesto, tolerada pela comunidade (I Co 5); a justiça comum era usada para resolver disputas internas (I Co 6.1-11). Sua autoridade apostólico foi questionada (II Co 2.5-23). E por aí foi...

Todo e qualquer poder verdadeiramente divino não pode ser diferente!

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Versão católica: Como era interpretada a história da criação, em Gênesis, antes de Darwin?

Fundamentalists often make it a test of Christian orthodoxy to believe that the world was created in six 24-hour days and that no other interpretations of Genesis 1 are possible. They claim that until recently this view of Genesis was the only acceptable one—indeed, the only one there was.

The writings of the Fathers, who were much closer than we are in time and culture to the original audience of Genesis, show that this was not the case. There was wide variation of opinion on how long creation took. Some said only a few days; others argued for a much longer, indefinite period. Those who took the latter view appealed to the fact "that with the Lord one day is as a thousand years, and a thousand years as one day" (2 Pet. 3:8; cf. Ps. 90:4), that light was created on the first day, but the sun was not created till the fourth day (Gen. 1:3, 16), and that Adam was told he would die the same "day" as he ate of the tree, yet he lived to be 930 years old (Gen. 2:17, 5:5).

Catholics are at liberty to believe that creation took a few days or a much longer period, according to how they see the evidence, and subject to any future judgment of the Church (Pius XII's 1950 encyclical Humani Generis 36–37). They need not be hostile to modern cosmology. The Catechism of the Catholic Church states, "[M]any scientific studies . . . have splendidly enriched our knowledge of the age and dimensions of the cosmos, the development of life forms, and the appearance of man. These studies invite us to even greater admiration for the greatness of the Creator" (CCC 283). Still, science has its limits (CCC 284, 2293–4). The following quotations from the Fathers show how widely divergent early Christian views were.
 

Justin Martyr

"For as Adam was told that in the day he ate of the tree he would die, we know that he did not complete a thousand years [Gen. 5:5]. We have perceived, moreover, that the expression 'The day of the Lord is a thousand years' [Ps. 90:4] is connected with this subject" (Dialogue with Trypho the Jew 81 [A.D. 155]).

Theophilus of Antioch

"On the fourth day the luminaries came into existence. Since God has foreknowledge, he understood the nonsense of the foolish philosophers who were going to say that the things produced on earth come from the stars, so that they might set God aside. In order therefore that the truth might be demonstrated, plants and seeds came into existence before the stars. For what comes into existence later cannot cause what is prior to it" (To Autolycus 2:15 [A.D. 181]).

"All the years from the creation of the world [to Theophilus' day] amount to a total of 5,698 years and the odd months and days. . . . [I]f even a chronological error has been committed by us, for example, of 50 or 100 or even 200 years, yet [there have] not [been] the thousands and tens of thousands, as Plato and Apollonius and other mendacious authors have hitherto written. And perhaps our knowledge of the whole number of the years is not quite accurate, because the odd months and days are not set down in the sacred books" (ibid., 3:28–29).

Irenaeus

"And there are some, again, who relegate the death of Adam to the thousandth year; for since 'a day of the Lord is a thousand years,' he did not overstep the thousand years, but died within them, thus bearing out the sentence of his sin" (Against Heresies 5:23:2 [A.D. 189]).

 

Clement of Alexandria

"And how could creation take place in time, seeing time was born along with things which exist? . . . That, then, we may be taught that the world was originated and not suppose that God made it in time, prophecy adds: 'This is the book of the generation, also of the things in them, when they were created in the day that God made heaven and earth' [Gen. 2:4]. For the expression 'when they were created' intimates an indefinite and dateless production. But the expression 'in the day that God made them,' that is, in and by which God made 'all things,' and 'without which not even one thing was made,' points out the activity exerted by the Son" (Miscellanies 6:16 [A.D. 208]).

Origen

"For who that has understanding will suppose that the first and second and third day existed without a sun and moon and stars and that the first day was, as it were, also without a sky? . . . I do not suppose that anyone doubts that these things figuratively indicate certain mysteries, the history having taken place in appearance and not literally" (The Fundamental Doctrines 4:1:16 [A.D. 225]).

"The text said that 'there was evening and there was morning'; it did not say 'the first day,' but said 'one day.' It is because there was not yet time before the world existed. But time begins to exist with the following days" (Homilies on Genesis [A.D. 234]).

"And since he [the pagan Celsus] makes the statements about the 'days of creation' ground of accusation—as if he understood them clearly and correctly, some of which elapsed before the creation of light and heaven, the sun and moon and stars, and some of them after the creation of these we shall only make this observation, that Moses must have forgotten that he had said a little before 'that in six days the creation of the world had been finished' and that in consequence of this act of forgetfulness he subjoins to these words the following: 'This is the book of the creation of man in the day when God made the heaven and the earth [Gen. 2:4]'" (Against Celsus 6:51 [A.D. 248]).

"And with regard to the creation of the light upon the first day . . . and of the [great] lights and stars upon the fourth . . . we have treated to the best of our ability in our notes upon Genesis, as well as in the foregoing pages, when we found fault with those who, taking the words in their apparent signification, said that the time of six days was occupied in the creation of the world" (ibid., 6:60).

"For he [the pagan Celsus] knows nothing of the day of the Sabbath and rest of God, which follows the completion of the world's creation, and which lasts during the duration of the world, and in which all those will keep the festival with God who have done all their work in their six days" (ibid., 6:61).

Cyprian

"The first seven days in the divine arrangement contain seven thousand years" (Treatises 11:11 [A.D. 250]).

Victorinus

"God produced the entire mass for the adornment of his majesty in six days. On the seventh day, he consecrated it with a blessing" (On the Creation of the World [A.D. 280]).

Lactantius

"Therefore let the philosophers, who enumerate thousands of ages from the beginning of the world, know that the six-thousandth year is not yet complete. . . . Therefore, since all the works of God were completed in six days, the world must continue in its present state through six ages, that is, six thousand years. For the great day of God is limited by a circle of a thousand years, as the prophet shows, who says, 'In thy sight, O Lord, a thousand years are as one day [Ps. 90:4]'" (Divine Institutes 7:14 [A.D. 307]).
 

Basil The Great

"'And there was evening and morning, one day.' Why did he say 'one' and not 'first'? . . . He said 'one' because he was defining the measure of day and night . . . since twenty-four hours fill up the interval of one day" (The Six Days Work 1:1–2 [A.D. 370]).
 

Ambrose of Milan

"Scripture established a law that twenty-four hours, including both day and night, should be given the name of day only, as if one were to say the length of one day is twenty-four hours in extent. . . . The nights in this reckoning are considered to be component parts of the days that are counted. Therefore, just as there is a single revolution of time, so there is but one day. There are many who call even a week one day, because it returns to itself, just as one day does, and one might say seven times revolves back on itself" (Hexaemeron [A.D. 393]).

Augustine

"It not infrequently happens that something about the earth, about the sky, about other elements of this world, about the motion and rotation or even the magnitude and distances of the stars, about definite eclipses of the sun and moon, about the passage of years and seasons, about the nature of animals, of fruits, of stones, and of other such things, may be known with the greatest certainty by reasoning or by experience, even by one who is not a Christian. It is too disgraceful and ruinous, though, and greatly to be avoided, that he [the non-Christian] should hear a Christian speaking so idiotically on these matters, and as if in accord with Christian writings, that he might say that he could scarcely keep from laughing when he saw how totally in error they are. In view of this and in keeping it in mind constantly while dealing with the book of Genesis, I have, insofar as I was able, explained in detail and set forth for consideration the meanings of obscure passages, taking care not to affirm rashly some one meaning to the prejudice of another and perhaps better explanation" (The Literal Interpretation of Genesis 1:19–20 [A.D. 408]).

"With the scriptures it is a matter of treating about the faith. For that reason, as I have noted repeatedly, if anyone, not understanding the mode of divine eloquence, should find something about these matters [about the physical universe] in our books, or hear of the same from those books, of such a kind that it seems to be at variance with the perceptions of his own rational faculties, let him believe that these other things are in no way necessary to the admonitions or accounts or predictions of the scriptures. In short, it must be said that our authors knew the truth about the nature of the skies, but it was not the intention of the Spirit of God, who spoke through them, to teach men anything that would not be of use to them for their salvation" (ibid., 2:9).

"Seven days by our reckoning, after the model of the days of creation, make up a week. By the passage of such weeks time rolls on, and in these weeks one day is constituted by the course of the sun from its rising to its setting; but we must bear in mind that these days indeed recall the days of creation, but without in any way being really similar to them" (ibid., 4:27).

"[A]t least we know that it [the Genesis creation day] is different from the ordinary day with which we are familiar" (ibid., 5:2).

"For in these days [of creation] the morning and evening are counted until, on the sixth day, all things which God then made were finished, and on the seventh the rest of God was mysteriously and sublimely signalized. What kind of days these were is extremely difficult or perhaps impossible for us to conceive, and how much more to say!" (The City of God 11:6 [A.D. 419]).

"We see that our ordinary days have no evening but by the setting [of the sun] and no morning but by the rising of the sun, but the first three days of all were passed without sun, since it is reported to have been made on the fourth day. And first of all, indeed, light was made by the word of God, and God, we read, separated it from the darkness and called the light 'day' and the darkness 'night'; but what kind of light that was, and by what periodic movement it made evening and morning, is beyond the reach of our senses; neither can we understand how it was and yet must unhesitatingly believe it" (ibid., 11:7).

"They [pagans] are deceived, too, by those highly mendacious documents which profess to give the history of [man as] many thousands of years, though reckoning by the sacred writings we find that not 6,000 years have yet passed" (ibid., 12:10).

fonte: http://www.catholic.com/library/Creation_and_Genesis.asp

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Como era interpretada a história da criação, em Gênesis, antes de Darwin?

Image for: How was the Genesis creation story interpreted before Darwin? 

 "In the beginning, God created the heavens and the earth." Genesis 1

Introduction

Many people assume that Darwin's theory must have shaken the foundation of the Christian faith because of the stark difference between evolution and the idea of six-day creation. In truth, the literalist six-day interpretation of Genesis 1-2 was not the only perspective espoused by Christian thinkers prior to the publication of The Origin of Species. The works of many early Christian theologians and philosophers reveal an interpretation of Genesis compatible with Darwin's theory.

Early Christian Thought

Origen, a third-century philosopher and theologian from Alexandria, Egypt — one of the great intellectual centers of the ancient world — provides an example of early Christian thought on creation.

Best known for On First Principles and Against Celsus, Origen presents the main doctrines of Christianity and defends them against pagan accusations. On First Principles offers the following perspective on the Genesis creation story:

"What person of intelligence, I ask, will consider as a reasonable statement that the first and the second and the third day, in which there are said to be both morning and evening, existed without sun and moon and stars, while the first day was even without a heaven? […] I do not think anyone will doubt that these are figurative expressions which indicate certain mysteries through a semblance of history." 1

Origen opposed the idea that the creation story should be interpreted as a literal and historical account of how God created the world.

St. Augustine of Hippo, a bishop in North Africa during the early fifth century, is another central figure of the period,  Although he is widely known for Confessions, Augustine authored dozens of other works, several of which focus on Genesis 1-2.2 In The Literal Meaning of Genesis, Augustine argues that the first two chapters of Genesis are written to suit the understanding of the people at that time.3

"Perhaps Sacred Scripture in its customary style is speaking with the limitations of human language in addressing men of limited understanding. … The narrative of the inspired writer brings the matter down to the capacity of children." 4

In order to communicate in a way that all people could understand, the creation story was told in a simpler, allegorical fashion. Augustine also believed God created the world with the capacity to develop — a view that is harmonious with biological evolution.5

Later Christian Thought

There are many other non-literalist interpretations of Genesis 1-2 later in history. St. Thomas Aquinas, a well-known 13th century philosopher and theologian, was an Italian priest who was particularly interested in the intersection of science and religion. Aquinas did not fear the possible contradiction between the Genesis creation story and scientific findings. William Carroll notes,

"Aquinas did not think that the opening of Genesis presented any difficulties for the natural sciences, for the Bible is not a textbook in the sciences. What is essential to Christian faith, according to Aquinas, is the "fact of creation," not the manner or mode of the formation of the world." 6

Aquinas' interpretation of the creation story is evident in Summa Theologica, in which he responds to the question of whether all six days of creation are actually a description of a single day, a theory Augustine had suggested. Aquinas does not take sides in the debate, but attempts to seek harmony between the two views. Aquinas argues in favor of the view that God created all things to have potential:

"On the day on which God created the heaven and the earth, He created also every plant of the field, not, indeed, actually, but "before it sprung up in the earth," that is, potentially. … All things were not distinguished and adorned together, not from a want of power on God's part, as requiring time in which to work, but that due order might be observed in the instituting of the world. Hence it was fitting that different days should be assigned to the different states of the world, as each succeeding work added to the world a fresh state of perfection." 7

Clearly, Augustine strongly influenced Aquinas.

Augustine's creation perspective can be seen even as late as the 18th century — just before Darwin published The Origin of Species — in the works of John Wesley.  An  Anglican minister and early leader in the Methodist movement, Wesley, like Augustine, thought scriptures were written in terms suitable for their audience.  He writes,

"The inspired penman in this history [Genesis] … [wrote] for the Jews first and, calculating his narratives for the infant state of the church, describes things by their outward sensible appearances, and leaves us, by further discoveries of the divine light, to be led into the understanding of the mysteries couched under them." 8

Wesley also argues the scriptures "were written not to gratify our curiosity [of the details], but to lead us to God."9 Darwin's theory of biological evolution would not necessarily have conflicted with the perspectives of Wesley, Augustine, Aquinas, Origen or others, but the interpretation of Genesis was only one of the issues at hand.

Conclusion

The history of Christian thought has not been consistently dominated by proponents of a literalist interpretation of Genesis. Although a comparable list of theologians who did believe in a six day creation could be made, the examples cited here show that many prominent Christian theologians embraced an allegorical interpretation of Genesis long before science presented evidence in its favor.10 The discoveries of modern science should not be seen as a contradiction to  scripture, but as guideposts toward a proper understanding of scripture's meaning.

Augustine offers this advice:

"In matters that are so obscure and far beyond our vision, we find in Holy Scripture passages which can be interpreted in very different ways without prejudice to the faith we have received. In such cases, we should not rush in headlong and so firmly take our stand on one side that, if further progress in the search of truth justly undermines this position, we too fall with it. That would be to battle not for the teaching of Holy Scripture but for our own, wishing its teaching to conform to ours, whereas we ought to wish ours to conform to that of Sacred Scripture." 11

 Notes

  1. Origen, "Book IV, Ch. 3," in First Principles, trans. G. Butterworth (London: SPCK, 1936), quoted in Ernest Lucas, "Interpreting Genesis in the 21st Century," Faraday Papers, no. 11 (2007),  (accessed January 28, 2009). Also available online at "De Principiis (Book IV)," New Advent. (accessed January 28, 2009).
  2. Gillian Clark, Augustine, the Confessions, Landmarks of World Literature (Cambridge; New York, NY: Cambridge University Press, 1993).
  3. Bishop of Hippo Saint Augustine, The Literal Meaning of Genesis, Ancient Christian Writers, no. 41 (New York, N.Y.: Newman Press, 1982).
  4. Saint Bishop of Hippo Augustine, The Literal Meaning of Genesis, Ancient Christian Writers, no. 41 (New York, N.Y.: Newman Press, 1982).
  5. For a further discussion of Augustine's perspective on creation, see chapter six of Francis Collins, The Language of God: A Scientist Presents Evidence for Belief (New York: Free Press, 2006), as well as chapters eight and fifteen of Alister McGrath, A Finely Tuned Universe: The Quest for God in Science and Theology (Louisville, KY: Westminster John Knox Press, 2009). 
  6. William E. Carroll, "Aquinas and the Big Bang," First Things 97 (1999): 18-20.
  7. St. Thomas Aquinas, "Question 74: All the Seven Days in Common," in The Summa Theologica of St. Thomas Aquinas, 2nd ed., trans. Fathers of the English Dominican Province (London: Burns Oates and Washbourne, 1920). Also available online at "Summa Theologica," New Advent, http://www.newadvent.org/summa/1074.htm#2.
  8. John Wesley, Wesley's Notes on the Bible (Grand Rapids, Michigan: Francis Asbury Press, 1987), 22, quoted in Darrel R. Falk, Coming to Peace with Science: Bridging the Worlds between Faith and Biology (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2004), 35. Also available online at John Wesley, "John Wesley's Notes on the Bible," Wesley Center Online, http://wesley.nnu.edu/john_wesley/notes/index.htm (accessed January 28, 2009).
  9. John Wesley, A Survey of the Wisdom of God in the Creation: Or, a Compendium of Natural Philosophy, 3rd ed. (London: J. Fry, 1777), 2:463, quoted in Falk, Coming to Peace with Science: Bridging the Worlds between Faith and Biology, 35.
  10. The Catholic Church also acknowledges the diversity of early Christian interpretations of Genesis. See, for example, Catholic Answers, "Creation and Genesis," Catholic Answers, http://www.catholic.com/library/creation_and_genesis.asp (accessed January 28, 2009).
  11. Augustine, The Literal Meaning of Genesis.
fonte: http://biologos.org/questions/early-interpretations-of-genesis/

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Uma arca abarrotada de ouro na curva do Rio Jordão


Data da impressão: 14 de setembro de 2009

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Derval Dasilio

Essa é a mensagem da bandeira do Estado de Israel na fachada da Catedral da IURD? Solidariedade explicita ao massacre sistemático de muçulmanos inocentes no Oriente Médio? O sionismo neoevangélico é uma boa caricatura do que acontece neste Brasil evangélico estranhamente solidário a Israel. Há uma febre judaizante. Restaria saber se os demais apóstolos (alguns, judeus palestinos) aceitariam o “evangelho” turístico neopentecostal. O grande sonho da elite evangélica é ir passear em Jerusalém: território que aponta para Sião, “nossa santa e bela cidade”, com pedrinhas de brilhantes “só pra ver Jesus passar”... Quem sabe não passa mesmo? Mas a escala em Paris e Veneza é obrigatória. Romance embalado com o gospel milionário e meloso no iPod (descubra as raízes da fé cristã: visite Yardenit, onde Jesus foi batizado por João Batista), como na novela sobre a Índia brasileira da Globo, para milionários, fundo musical em “jazz” de Frank Sinatra.

Daí se construiu toda uma ideologia idolátrica e romântica da Terra Santa: lá o batismo é mais santificado, a água é mais poderosa (embora a ideal, importada, seja mais cara que champanhe Don Pérignon Brut ou Vintage Rosé, 1996, mil reais a garrafa). Lá as pedras são sagradas, as folhas das árvores despoluídas espiritualmente. Faz um bem danado ao crente rebatizado! A água do Jordão, não a champanhe. Até o evangélico Bush foi lá, como bom fundamentalista, renascido, como carismáticos da Renascer em Cristo, dos famosos Hernandez e suas algemas eletrônicas, e do craque do Real Madri, Kaká, que pretende ser um de seus pastores ao aposentar-se do futebol. Tal e qual sua esposa, pastora Caroline Celico, que acaba de fundar uma comunidade/comodities em Madri (dinheiro é bom, principalmente na nossa mão...). A justiça norte-americana bloqueou bens do casal Hernandez, como a mansão em Boca Raton, avaliada em 495 mil dólares. Mas não alcança a fazenda em Mairinque, comprada por 1,8 milhões de reais. Meros sinais da teologia da prosperidade (deles)? Que água consomem ali, naquele paraíso? Aquela que passarinho não bebe?

Muita gente ganha dinheiro com esse comércio imoral e pagão (cf. Simão o mágico, At 8.9-24), vendendo porções de “terra santa” e garrafinhas de água do Rio Jordão com propriedades milagrosas, depois de pregações sionistas em templos evangélicos. Um subproduto desta bobagem é o "apoio incondicional a Israel" (palavras dos pastores). Afinal, foi dito a Abraão: "Abençoarei os que te abençoarem". “E não há nenhum esforço para ver qual a diferença entre Ariel Sharon e Abraão” (Gedeon Alencar). E mesmo para identificar islâmicos como ramos da mesma e abençoada árvore abraâmica.

Na realidade, há árabes cristãos, libaneses, drusos e judeus sefaradies que não assimilaram a cultura sionista apreciada por neoevangélicos. Por sua vez, o termo “israelita” é aplicado aos seguidores do culto, e o “israelense” aos cidadãos do Estado de Israel. Todos esqueceram que, desde Esdras e Neemias, o termo adequado seria “judeu”, exterminada a religião de Javé, com o exílio babilônico (e só profetas anteriores falam do “resto de Israel”) e na diáspora. Jesus, saudoso do “resto javista” original, combateu vigorosamente os resultados dos últimos trezentos anos sob gregos e romanos e seu “helenismo” introdutor do capitalismo imperial monetarista, opressor e escravagista, no mundo mediterrânico. Má geografia, péssima memória histórica, em competições de estupidez teológica.

De fato, hoje, entre judeus históricos e israelenses são mais de 80% o grupo nacional formado por ateus ou agnósticos. Há apenas cidadãos de um Estado e seguidores de uma cultura, mas não praticantes de uma religião bíblica. Israelenses islâmicos, cristãos e drusos, embora registrados como cidadãos e portadores do passaporte de Israel, vêm, a seguir, em ordem decrescente pirâmide abaixo, de patins: drusos, árabes-cristãos (grego-ortodoxos, sírio-ortodoxos, armênios, coptas, uniatas, latinos, protestantes). Mais recentemente, tem surgido, segundo Robinson Cavalcanti, uma reduzidíssima expressão: judeus messiânicos, evangélicos judeu-cristãos. Árabes-islâmicos (com suas clássicas divisões) compõem o cenário. Miríade pluralista que não perde para o cristianismo brasileiro.


• Derval Dasilio é pastor da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil. www.derv.wordpress.com



Daniel De Souza Benevides | Campo Grande - MS

#1
Eu não tinha fé, esperança, nenhum amor. Fui resgatado, dizem que mudei radicalmente de vida, há 15 anos conheci "JC", fui e já comprei as passagens novamente. Sou muito feliz com minha esposa. Amo meu Jesus e amo Israel. Será que estou errado?
Postado em 12/09/2009 às 14:24:48
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quinta-feira, 10 de setembro de 2009

POLÍTICAS PÚBLICAS E INFANTICÍDIO: UM ESCLARECIMENTO ACERCA DA MISSÃO DA ATINI

A ATINI - voz pela vida, foi criada em 2006, com a proposta de dar voz aos indígenas que não concordam com a prática do infanticídio em suas comunidades de origem. Foi a partir do clamor desses indígenas, considerados "desviantes" pelo seu grupo étnico, que a ATINI se constituiu. O objetivo, então, foi possibilitar amparo a esses indígenas que não concordavam com a prática do infanticídio, seja ela exceção ou não.

Nesse sentido, a ATINI não se coloca como uma voz que pede à legislação brasileira a punição ou criminalização dos grupos indígenas que praticam, sistemática ou assistematicamente, o infanticídio, já que compreende que as leis da sociedade brasileira não podem ser aplicadas indiscriminadamente a grupos étnicos que fazem parte do território nacional mas que têm autonomia de organização social e têm uma visão-de-mundo extremamente diferenciada. Em conformidade com sua missão expressa, a ATINI dá voz e acolhe os indígenas que pedem ajuda para livrar do infanticídio crianças com as quais guardam algum grau de parentesco.

A falta de políticas públicas voltadas para atender as necessidades dos povos indígenas, seja de ordem da saúde, seja de ordem de acolhimento aos que não querem se submeter às leis da maioria, como acontece em qualquer sociedade, tem levado os indígenas "desviantes" a pedir socorro a organizações não-governamentais, como é o caso da ATINI. Nesse sentido, a ATINI não tem pretensão de colocar-se como detentora de qualquer tipo de expertise sobre o assunto, mas tem o compromisso de ACOLHER e DAR VOZ aos indígenas que pedem ajuda para que suas crianças não sejam submetidas ao infanticídio e LUTAR para que o Estado Brasileiro ofereça condições para, como deve ser seu compromisso, atender aos pedidos desses indígenas.

Sabe-se que, em qualquer sociedade, em qualquer cultura, há violações e mesmo em relação a práticas culturais aceitas pela maioria, como é o caso da ablação ou extirpação do clitóris de meninas entre 8 e 12 anos, em algumas sociedades, há os que não concordam com elas e que não querem se submeter ao que consideram algo que precisa ser mudado em suas sociedades. Há algo de errado em discordar dessa prática? Há algo de errado em pedir que o Estado acolha essas crianças e seus parentes que não concordam com essa prática? As organizações que acolhem essas crianças e esses indivíduos "desviantes" devem ser acusadas e proscritas? Não é sobre isso que, verdadeiramente, versa a Declaração Universal dos Direitos Humanos?

Esses indivíduos, como quaisquer outros na mesma situação estrutural de outras sociedades, também têm o direito de não se submeterem às regras coletivas que consideram fonte de sofrimento e de arbitrariedade, que, aliás, existem em toda e qualquer sociedade. E mais, têm o direito de ter o direito à escolha garantido, por meio de políticas públicas.

Um outro exemplo mais próximo é o que envolve o machismo, um dos traços culturais de várias sociedades, inclusive as latino-americanas, e que tem produzido atos de violência gravíssimos contra as mulheres. Apesar da coletividade não aprovar isso e existirem leis que apontam para a criminalização dos que praticam esses atos, sabe-se que há uma certa complacência e mesmo omissão por parte da sociedade, inclusive por parte de muitas mulheres que se submetem, por vários motivos, a essa violência, muitas vezes classificada como "normal". Isso não significa, porém, que essa violência não deva ser combatida por todos, sobretudo pelo Estado, não apenas por leis, mas por políticas públicas que protejam as mulheres e possibilitem a elas uma situação alternativa de vida.

Se o infanticídio não é uma prática cultural ou uma prática tradicional, como defendem alguns, se é apenas uma situação marginal, que não faz parte das regras sociais, os que pedem ajuda quando acometidos por ele ou pela ameaça dele precisam ser assistidos, preferencialmente pelo Estado.

A ATINI compreende que os povos indígenas não precisam de leis intrusivas ou punitivas do Estado. Mas esta organização apóia, por outro lado, qualquer iniciativa governamental, dentro ou fora do âmbito legislativo, que garanta aos povos indígenas acesso às políticas públicas. A criminalização do infanticídio não é, portanto, uma bandeira da ATINI. Esta organização reconhece a diversidade cultural que há no Brasil e a respeita. A ATINI afirma que os povos indígenas precisam de políticas públicas que propiciem, entre outras coisas, que os indígenas "dissonantes" da maioria ou não, tenham assegurado seu direito de não concordar, de mudar. Aliás, todas as sociedades são dinâmicas, do ponto-de-vista cultural. Com as sociedades indígenas não é diferente.

A bandeira da ATINI é tão-somente seu compromisso em atender e dar voz aos indígenas, considerados "desviantes" ou não, que pedem ajuda para livrar seus filhos ou netos do infanticídio e isso deve ser levado em conta, não só pelo Estado, mas pelas associações de intelectuais e pesquisadores renomados e reconhecidos pelos seus estudos e pesquisas nas áreas das ciências sociais e dos direitos humanos.

Brasília, 11 de agosto de 2009.

Conselho Deliberativo da ATINI

fonte: http://vozpelavida-quemsomos.blogspot.com/2009/08/politicas-publicas-e-infanticidio.html

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Teologia deve misturar-se à política

Guillermo Meléndez


San José, segunda-feira, 7 de setembro de 2009 (ALC) - O teólogo argentino Nésto Miguez afirmou, no artigo intitulado "A realidade sóciopolítica interpela a teologia", no qual questiona o papel da teologia no contexto onde ela se desenvolve.

"Corresponde à teologia dizer uma palavra sobre a realidade social, deixar-se interrogar ou até questionar, no sentido mais extremo da palavra, pela política?", pergunta-se Míguez.

Há setores, escreveu, que pensam que não é bom para a teologia, como expressão da fé, deixar-se enredar nessas questões. Apontou, ainda, para uma segunda postura, segundo a qual alguns aceitariam que a disciplina se pronunciasse sobre a realidade mundial, mas de uma perspectiva de objetividade, evitando os compromissos setoriais ou os apoios partidários.

"Alguns vão mais longe ainda. Afirmam que a teologia pode elevar sua voz profética, deve admoestar e advertir, inclusive assinalar caminhos de maior bem-estar e reconciliação social, de pacificação, mas sem assumir uma bandeira política."

Míguez quebrou, contudo, com essa lógica. "A reflexão teológica, como palavra a partir da fé, deve poder ajudar-nos a pensar a realidade humana na qual nos movemos, a enfrentar os dilemas que a vida nos põe por diante, a procurar caminhos através dos quais respondemos às demandas sociais que são parte de nossa complexa realidade."

Os que assumem tal teologia carregam as dores e feridas que a iniquidade, a pobreza e o sofrimento abrem e "respondem afirmativamente com o seu pensamento e com seu serviço" tratando de atuar, desde as estruturas eclesiais e através de declarações e posicionamentos de organizações da sociedade civil, em função de um compromisso mais concreto "no qual possam cumprir com sua vocação evangélica de servir aos precisados, sem que isso implique meter-se diretamente com as estruturas de poder, jogar os jogos impuros da sociedade."

Ele questionou, contudo, se é possível remediar as injustiças sem contaminar-se "com a áspera e muitas vezes ambígua realidade do mundo político".

Míguez concluiu, depois de trazer exemplos atuais em sua análise como o caso de Honduras, que a realidade sempre interpela a teologia, não somente perguntando-a de que lado está, senão que pode, quer ou está disposta a fazer em favor dos pobres, dos desvalidos, dos excluídos, das vítimas da exploração e do preconceito, do abuso e da violência dos poderosos.

A teologia como elaboração teórica e construtora de subjetividade, como motora de emoções e afetos, deve prover aos crentes o sustento e a força para uma militância que não tema misturar-se com o barro das decisões ambíguas e os compromissos temporários que encerra a política, disse.

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Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC)
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segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Máfias farmacêuticas

[ADITAL] Agência de Informação Frei Tito para a América Latina
www.adital.com.br



Ignacio Ramonet *
Tradução: ADITAL

Poucos meios de comunicação comentaram o fato. A opinião pública não foi alertada. E, no entanto, as preocupantes conclusões do Informe Final (1), publicado pela Comissão Europeia no passado dia 8 de julho sobre os abusos em matéria de competição no setor farmacêutico merecem ser conhecidas pelos cidadãos e amplamente difundidas.

O que diz o Informe? Em síntese: que no comércio dos medicamentos, a competição não está funcionando e que os grandes grupos farmacêuticos recorrem a todo tipo de jogos sujos para impedir a chegada ao mercado de remédios mais eficazes e, sobretudo, para desqualificar os medicamentos genéricos, muito mais baratos. Consequência: a falta de acesso do consumidor aos genéricos se traduz em importantes perdas financeiras não somente para os pacientes, mas também para a Seguridade Social a cargo do Estado (ou seja, dos contribuintes). Isso oferece argumentos aos defensores da privatização dos Sistemas Públicos de saúde, acusados de ser fossos de déficits no orçamento dos Estados.

Os genéricos são medicamentos idênticos quanto aos princípios ativos, dosificação, forma farmacêutica, segurança e eficácia aos medicamentos originais produzidos com exclusividade pelos grandes monopólios farmacêuticos. O período de exclusividade, que se inicia a partir do momento em que o produto é posto à venda, vence aos dez anos; porém, a proteção da patente do fármaco original dura vinte anos. Então, é quando outros fabricantes têm direito a produzir os genéricos, que custam uns 40% a menos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a maioria dos governos recomendam o uso de genéricos porque, devido ao seu menor custo, favorecem o acesso equitativo à saúde das populações expostas a enfermidades evitáveis (2).

O objetivo das grandes marcas farmacêuticas consiste, por conseguinte, em atrasar por todos os meios possíveis a data de vencimento do período de proteção da patente; e se esforçam para patentear agregados supérfluos do produto (um polimorfo, uma forma em gel etc.) e estender dessa maneira, artificialmente, a duração de seu controle sobre o medicamento. O mercado mundial dos medicamentos representa uns 70 bilhões de euros (3); e uma dezena de empresas gigantes, entre elas as chamadas "Big Pharma" -Bayer, GlaxoSmithKline (GSK), Merk, Novartis, Pfizer, Roche, Sanofi-Aventis-, controlam a metade desse mercado.

Seus benefícios são superiores aos obtidos pelos poderosos grupos do complexo militar-industrial. Por cada euro investido na fabricação de um medicamento de marca, os monopólios ganham mil no mercado (4). E três dessas firmas -GSK, Novartis e Sanofi- se dispõem a ganhar milhares de milhões de euros a mais nos próximos meses graças às vendas massivas da vacina contra o vírus A(H1N1), da nova gripe (5).

Essas gigantescas massas de dinheiro outorgam ás "Big Pharma" uma potência financeira absolutamente colossal, utilizadas, em particular, para arruinar, mediante múltiplos julgamentos milionários ante os tribunais, aos modestos fabricantes de genéricos. Seus inúmeros lobbies acossam também permanentemente a Oficina Europeia de Patentes (OEP), cuja sede se encontra em Munique, para atrasar a concessão de autorizações de entrada dos genéricos no mercado. E lançam campanhas enganosas sobre esses fármacos bioequivalentes e assustam aos pacientes. O resultado é que, segundo o recente Informe publicado pela Comissão Europeia, os cidadãos têm que esperar em média sete meses mais do que o normal para aceder aos genéricos, o qual tem sido traduzido nos últimos cinco anos em um incremento desnecessário de aproximadamente 3 bilhões de euros para os consumidores e em uns 20% de aumento para os Sistemas Públicos de Saúde.

A ofensiva dos monopólios farmacêutico-industriais não tem fronteiras. Também estariam implicados no recente golpe de Estado contra o presidente Manuel Zelaya, em Honduras, país que importa todas as suas medicinas, produzidas fundamentalmente pelas "Big Pharma". Desde que Honduras ingressou na Alba (Aliança Bolivariana dos Povos da América), em agosto de 2008, Manuel Zelaya negociava um acordo comercial com Havana (Cuba) para importar genéricos cubanos, com o propósito de reduzir os gastos de funcionamento dos hospitais públicos hondurenhos. Além disso, na Cúpula do dia 24 de junho passado, os presidentes da Alba se comprometeram a "revisar a doutrina sobre a propriedade industrial", ou seja, que ameaçavam diretamente seus interesses, impulsionaram aos grupos farmacêuticos transnacionais a apoiar com força o movimento golpista que derrocaria a Zelaya, no dia 28 de junho último (6).

Da mesma forma, Barack Obama, desejoso de reformar o sistema de saúde nos Estados Unidos, que deixa sem cobertura médica a 47 milhões de cidadãos, está afrontando as iras do complexo farmacêutico-industrial. Aqui, as somas em jogo são gigantescas (os gastos com saúde representam o equivalente a 18% do PIB) e são controladas por um vigoroso lobby de interesses privados que reúne, além das "Big Pharma", as grandes companhias de seguros e a todo o setor das clínicas e dos hospitais privados. Nenhum desses atores quer perder seus opulentos privilégios. Por isso, apoiando-se nos grandes meios de comunicação mais conservadores e no Partido Republicano, estão gastando dezenas de milhões de dólares em campanhas de desinformação e de calúnias contra a necessária reforma do sistema de saúde.

É uma batalha crucial. E seria dramático que as máfias farmacêuticas a ganhassem, porque redobrariam os esforços para atacar, na Europa e no resto do mundo, o desenvolvimento dos medicamentos genéricos e a esperança de sistemas de saúde menos custosos e mais solidários.


Notas:

(1) http://ec.europa.eu/comm/competition/sectors/ pharmaceuticals/inquiry/index.html


(2) 90% dos gastos da grande indústria farmacêutica para o desenvolvimento de novos fármacos estão destinados para enfermidades padecidas por somente 10% da população mundial.


(3) Intercontinental Marketing Services (IMS) Health, 19 de março de 2009.


(4) Carlos Machado, "La mafia farmacéutica. Peor el remedio que la enfermedad", 5 de março de 2007 (www.ecoportal.net/content/view/full/67184).


(5) Leia-se, Ignacio Ramonet, "Los culpables de la gripe porcina", Le Monde diplomatique en español , junho de 2009.


(6) Observatorio Social Centroamericano, 29 de junho de 2009.

* Le Monde Diplomatique

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sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Quando a ética do reino se torna pedra de tropeço

Eduardo Ribeiro Mundim

A cidade de Corinto, na Grécia do século I de nossa era, assemelha-se às nossas metrópoles atuais. Alta densidade populacional (perto de 250.000 habitantes), com a maior parte do trabalho dedicado ao comércio, executado por pessoas das mais variadas partes do império romano, sem raízes. Reerguida pelo império, que a ela encaminhou grande quantidade de ex-militares como colonos, era uma mistura de escravos, livres, mercadores, filósofos, marinheiros e "promotores de toda a sorte de vícios".

Nesta cidade, Paulo chega para pregar o evangelho "com grande temor", sem seus companheiros habituais. A esta altura, já tinha sido apedrejado, açoitado, expulso de cidades; seu ministério em Atenas rendera apenas uma igreja.

Como ele prega? Faz sinais e maravilhas? Chama representantes das diversas correntes filosóficas e com elas debate?

"Não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado".

Ele discutiu sabedoria com alguns sim, mas aquela que é loucura para os gentios e escândalo para os judeus, e que é poder de Deus.

Quando leio estas palavras parece-me que o apóstolo está deixando bem claro que o núcleo de sua pregação não eram as questões éticas ou morais, ou as grandes discussões filosóficas do momento, mas que "de tal maneira amou Deus ao mundo que deu o Seu Filho Unigênito para que todo aquele que nEle crer não pereça, mas tenha a vida eterna".

Posteriormente ele escreve à igreja que deixa em Corinto, pastoreando-a.  Ela é marcada por divisões internas, que usam apóstolos e evangelistas como  "patronos" (Paulo, Pedo, Apolo); por espetáculos de embriaguez durante a ceia do Senhor; por comportamentos sexuais altamente reprováveis (o filho ter relações sexuais com a mulher do pai) até mesmo para a sociedade não cristã local; por disputas internas levadas ao tribunal civil...Quadro bem distante da igreja idealizada por nós hoje, quando imaginamos as comunidades cristãs do primeiro século muito superiores as nossas atuas. Na verdade, parece que pouco mudou, apesar de dois mil anos de discipulado...

Ele não apresenta aos gentios de Corinto a ética cristã - ele apresenta aos cristãos de Corinto a ética do Reino, e procura convencê-los que, ao confessarem Jesus como Senhor e Salvador, abraçaram um referencial teológico e ético específico. Aos não cristãos ele apresenta a mensagem do senhorio, da morte na cruz e ressurreição ao terceiro dia - a ética do Reino é para os convertidos.

Hoje parece existir uma confusão entre testemunho e pregação, entre Igreja e mundo. O testemunho único deveria ser a mudança de comportamento causada por um genuíno arrependimento (como João Batista demandou dos fariseus) daqueles que creram, secundado pelo amor mútuo. Ponto. Nada mais. Sem testemunhos de feitos milagrosos, ou benefícios pessoais, porque Paulo aprendeu que o "poder se aperfeiçoa na fraqueza" e que o poder real não é de mandar um monte se mudar de lugar, mas o da exposição do Evangelho através de um processo de convencimento intelectual, espiritual e psicológico contínuos. Este, um milagre muito maior que transplantar Everest de lugar.

Hoje o nosso testemunho como igreja não é diferente daquela comunidade grega. Quantos escândalos financeiros envolvem membros confessos de igrejas evangélicas? Quantos políticos batizados na fé da morte e ressurreição de Cristo adotam táticas de campanha absolutamente contrárias às normas do Reino? Pelo menos um alega ter sido abençoado repetidas vezes através de acertos em bilhetes de loteria, em um país repleto de miseráveis! Não somos conhecidos por sermos comunidades acolhedoras, mas por exigirmos santidade pessoal antes de participar dos cultos, por não acolhemos a todos, sem distinção de qualquer espécie.

Hoje alguns de nós querem impor ao mundo a ética do Reino, quando esta é compulsória apenas para aqueles que nele entram por livre escolha, sabendo que a porta é estreita, que sofrimentos existirão como consequência da escolha, e que nada é prometido a não ser que seremos tratados assim como Jesus o foi.

Hoje não vivemos segundo a ética do Reino, mas queremos impô-la àqueles a quem ela não faz nenhum sentido...

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Fé cristã e inteligência cultural

Karl Heinz Kienitz

Gosto de citar Auguste Renoir, o pintor impressionista que, ao comentar certas obras de grandes pintores, formulou: "Nas obras de antigos mestres jaz uma confiança suave, serena. Ela provém duma conduta despretensiosa, simples, que não existiria sem a fé religiosa como motivo primeiro. O homem moderno, porém, enxotou Deus -- e assim perdeu segurança". Ao abandonar esta segurança, o homem moderno (e o pós-moderno) também optou por um relacionamento cada vez mais difícil com grandes realizações da cultura ocidental, mais precisamente aquelas motivadas pela fé cristã "como motivo primeiro".

Aprecio música clássica de todas as épocas. Quando em 1997 estive em Leipzig pela primeira vez, visitei a igreja em que Bach trabalhou no auge da sua carreira, a Thomaskirche. Estive também na Nikolaikirche, local das reuniões de oração que culminaram na reunificação da Alemanha em 1989. A guia turística sabia muitos detalhes da vigorosa recuperação arquitetônica em andamento nos prédios históricos de Leipzig, especialmente as igrejas. Ao final do roteiro perguntei-lhe se à semelhança da arquitetura, a fé e os valores de Bach e dos cristãos da Nikolaikirche também estavam sendo recuperados pelos cidadãos da cidade. Seu rosto perplexo e sua resposta hesitante ilustram a relação profundamente problemática da nossa sociedade com manifestações culturais e existenciais motivadas pela fé cristã.

Se quisermos realmente apreciar a arte de cristãos como Bach e Mendelsohn -- para citar apenas os gênios musicais de Leipzig --, é imprescindível que tenhamos alguma intimidade e apropriação pessoal dos principais conteúdos da sua fé. Caso não as tenhamos, poderemos até analisar técnica de composição e execução musical, mas não seremos capazes de apreciar a realização artística, manifestação estética e expressão de vida. O famoso coral "Jesus, alegria dos homens", ponto máximo da cantata "Herz und Mund und Tat und Leben" ("Coração e lábios, ação e vida") de Bach, por exemplo, será uma obra musical a propiciar experiências com impacto existencial e de vida, ou apenas uma música bonita adequada para algum concerto ou momento solene. Algo análogo vale para obras de pintura, escultura, arquitetura, literatura etc, cujo "motivo primeiro" é a fé cristã.

Ao "não conhecer nem as Escrituras nem o poder de Deus" ou ao perseguir implacavelmente devaneios intelectuais que o conduzem a declarar a "morte de Deus" (Nietzsche) e a "morte da fé" (Harris), o homem perde cada vez mais a capacidade de se relacionar de forma relevante com muitas realizações culturais do Ocidente. Assim, a rebeldia contra a advertência bíblica "não sejas sábio aos teus próprios olhos" tem uma consequência inusitada: o embrutecimento cultural.


• Karl Heinz Kienitz é doutor em engenharia elétrica pela Escola Politécnica Federal de Zurique, Suíça, em 1990, e professor da Divisão de Engenharia Eletrônica do Instituto Tecnológico de Aeronáutica. www.freewebs.com/kienitz

fonte: http://www.ultimato.com.br/?pg=show_conteudo&util=1&categoria=5&registro=1123

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Outro mercado é possível com comércio justo, diz teóloga

Genebra, terça-feira, 1 de setembro de 2009 (ALC) - Outro mercado é possível, enfatizou a teóloga presbiteriana cubana, Ofelia Ortega, ao falar para o Comitê Central do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), reunido em Genebra de 26 de agosto a 2 de setembro. "Não se pode ter paz no mercado sem comércio justo e as regras que dominam hoje em dia o intercâmbio comercial mundial provocam violência", disse.

A cobiça é fonte de violência, tanto no individual como no coletivo, explicou a pastora cubana. Ela defendeu uma economia eco-social, baseada na solidariedade e no compartilhar de recursos."

Ortega é presidente do CMI pela América Latina e o Caribe. Coube-lhe refletir sobre a paz no mercado, um dos temas centrais da Convocação Ecumênica Internacional pela Paz (CEIP), que terá lugar em Kingston, Jamaica, em maio de 2011.

O pastor Gary Harriott, secretário-geral do Conselho de Igrejas de Jamaica, comentou, em entrevista coletiva, a importância da Convocação para o seu país, onde a violência está presente em todas as ilhas do Caribe.

Divisões políticas nas comunidades, tráfico de drogas, comércio ilegal de armas e lutas territoriais entre facções são alguns dos fatores que contribuem para a violência, explicou Harriott.

Harriott trouxe o exemplo da União Batista de Jamaica, que iniciou trabalho de mediação e resposta às situações traumáticas em duas comunidades de Kingston que estão divididas por questões políticas.

Os batistas proporcionam formação aos integrantes dessas comunidades para que possam enfrentar esses conflitos e capacitam jovens, que estão aprendendo a ler e a escrever. "Isso produz mudanças significativas em suas atitudes e comportamento, porque crescem em auto-estima e a imagem que tem deles a comunidade se modifica", assinalou Harriot.

As pessoas não sabem negociar os conflitos pacificamente. "Há necessidade de aprender a resolver os problemas sem recorrer à violência", afirmou.

A Convocação Ecumênica Internacional pela Paz tratará quatro grandes áreas temáticas: a paz na comunidade, com a busca de formas liberadoras de viver sem violência; a paz no mercado, de luta por relações comerciais justas; a paz na terra, com o propósito de solucionar conflitos provocados pelo desejo de dominar as riquezas naturais do planeta, e a paz entre os povos, com o imperativo moral de trabalhar pela solidariedade e justiça.

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