domingo, 20 de setembro de 2009

O poder apostólico

Eduardo Ribeiro Mundim

Não é incomum haver uma idealização da igreja primitiva. Habitualmente, o versiculo "e eles tinham tudo em comum" é citado como o ideal da comunidade cristã. A isto, se somam os milagres realizados pelos apóstolos. Comunhão e poder parecem ser os temas centrais desta fantasia.

Qual era este poder?

Na parábola do grão de mostarda (Mt 17.20 ) Jesus ensina que o tamanho da fé não precisa ser grande, e, usando a mesma planta, diz que, sendo a fé real, é possível até mudar um monte de lugar (Mc 11.23).

Muita vezes os cristãos se perguntam por qual razão não fazem as mesmas maravilhas daquela época - e ancorados nesses dois textos, concluem ser por terem pouca fé.

Vários caminhos podem ser seguidos na busca da resposta (ou melhor, das respostas). Vou escolher um:

Deus é soberano: tem misericórdia de quem quer (Ex 33.19). Seus pensamentos e desejos estão fora do nosso alcance de entendimento (Is 55.9). A lógica retributiva do Seu Reino nos é absurda (Mt 19.30-20.16).

A capacidade de realizar milagres não serve ao cristão, mas ao Reino, e somente a seu serviço existe. Não fosse assim, porque o apóstolo Tiago, irmão de João, foi morto à espada apenas porque isto agradava a Herodes (At 12)? Como foi possível a execução de Estêvão (At 7), "cheio graça e poder" e que "fazia milagres e sinais entre o povo" (At 6.8).

E como o grande apóstolo Paulo chegou à cidade grega de Corinto? "Fraco e tremendo de medo (I Co 2.3), ainda que sua pregação se baseasse na "demonstração do poder do Espírito" (I Co 2.4).

E como ficou a igreja que lá ele deixou? Nela havia aqueles que se embriagavam com o vinho da eucaristia enquanto alguns passavem fome (I Co 11.17-34); alguém vivia em uma situação de incesto, tolerada pela comunidade (I Co 5); a justiça comum era usada para resolver disputas internas (I Co 6.1-11). Sua autoridade apostólico foi questionada (II Co 2.5-23). E por aí foi...

Todo e qualquer poder verdadeiramente divino não pode ser diferente!

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