"Corresponde à teologia dizer uma palavra sobre a realidade social, deixar-se interrogar ou até questionar, no sentido mais extremo da palavra, pela política?", pergunta-se Míguez.
Há setores, escreveu, que pensam que não é bom para a teologia, como expressão da fé, deixar-se enredar nessas questões. Apontou, ainda, para uma segunda postura, segundo a qual alguns aceitariam que a disciplina se pronunciasse sobre a realidade mundial, mas de uma perspectiva de objetividade, evitando os compromissos setoriais ou os apoios partidários.
"Alguns vão mais longe ainda. Afirmam que a teologia pode elevar sua voz profética, deve admoestar e advertir, inclusive assinalar caminhos de maior bem-estar e reconciliação social, de pacificação, mas sem assumir uma bandeira política."
Míguez quebrou, contudo, com essa lógica. "A reflexão teológica, como palavra a partir da fé, deve poder ajudar-nos a pensar a realidade humana na qual nos movemos, a enfrentar os dilemas que a vida nos põe por diante, a procurar caminhos através dos quais respondemos às demandas sociais que são parte de nossa complexa realidade."
Os que assumem tal teologia carregam as dores e feridas que a iniquidade, a pobreza e o sofrimento abrem e "respondem afirmativamente com o seu pensamento e com seu serviço" tratando de atuar, desde as estruturas eclesiais e através de declarações e posicionamentos de organizações da sociedade civil, em função de um compromisso mais concreto "no qual possam cumprir com sua vocação evangélica de servir aos precisados, sem que isso implique meter-se diretamente com as estruturas de poder, jogar os jogos impuros da sociedade."
Ele questionou, contudo, se é possível remediar as injustiças sem contaminar-se "com a áspera e muitas vezes ambígua realidade do mundo político".
Míguez concluiu, depois de trazer exemplos atuais em sua análise como o caso de Honduras, que a realidade sempre interpela a teologia, não somente perguntando-a de que lado está, senão que pode, quer ou está disposta a fazer em favor dos pobres, dos desvalidos, dos excluídos, das vítimas da exploração e do preconceito, do abuso e da violência dos poderosos.
A teologia como elaboração teórica e construtora de subjetividade, como motora de emoções e afetos, deve prover aos crentes o sustento e a força para uma militância que não tema misturar-se com o barro das decisões ambíguas e os compromissos temporários que encerra a política, disse.
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