Karl Heinz Kienitz
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Aprecio música clássica de todas as épocas. Quando em 1997 estive em Leipzig pela primeira vez, visitei a igreja em que Bach trabalhou no auge da sua carreira, a Thomaskirche. Estive também na Nikolaikirche, local das reuniões de oração que culminaram na reunificação da Alemanha em 1989. A guia turística sabia muitos detalhes da vigorosa recuperação arquitetônica em andamento nos prédios históricos de Leipzig, especialmente as igrejas. Ao final do roteiro perguntei-lhe se à semelhança da arquitetura, a fé e os valores de Bach e dos cristãos da Nikolaikirche também estavam sendo recuperados pelos cidadãos da cidade. Seu rosto perplexo e sua resposta hesitante ilustram a relação profundamente problemática da nossa sociedade com manifestações culturais e existenciais motivadas pela fé cristã.
Se quisermos realmente apreciar a arte de cristãos como Bach e Mendelsohn -- para citar apenas os gênios musicais de Leipzig --, é imprescindível que tenhamos alguma intimidade e apropriação pessoal dos principais conteúdos da sua fé. Caso não as tenhamos, poderemos até analisar técnica de composição e execução musical, mas não seremos capazes de apreciar a realização artística, manifestação estética e expressão de vida. O famoso coral "Jesus, alegria dos homens", ponto máximo da cantata "Herz und Mund und Tat und Leben" ("Coração e lábios, ação e vida") de Bach, por exemplo, será uma obra musical a propiciar experiências com impacto existencial e de vida, ou apenas uma música bonita adequada para algum concerto ou momento solene. Algo análogo vale para obras de pintura, escultura, arquitetura, literatura etc, cujo "motivo primeiro" é a fé cristã.
Ao "não conhecer nem as Escrituras nem o poder de Deus" ou ao perseguir implacavelmente devaneios intelectuais que o conduzem a declarar a "morte de Deus" (Nietzsche) e a "morte da fé" (Harris), o homem perde cada vez mais a capacidade de se relacionar de forma relevante com muitas realizações culturais do Ocidente. Assim, a rebeldia contra a advertência bíblica "não sejas sábio aos teus próprios olhos" tem uma consequência inusitada: o embrutecimento cultural.
• Karl Heinz Kienitz é doutor em engenharia elétrica pela Escola Politécnica Federal de Zurique, Suíça, em 1990, e professor da Divisão de Engenharia Eletrônica do Instituto Tecnológico de Aeronáutica. www.freewebs.com/kienitz
fonte: http://www.ultimato.com.br/?pg=show_conteudo&util=1&categoria=5®istro=1123
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