Rubem Amorese Gostaria de contribuir um pouco mais com o debate sobre o PLC 122/2006, "que pune a discriminação contra homossexuais", cuja enquete está em andamento na página do Senado. Desta vez, minha colaboração é no sentido de permitir a você um julgamento pessoal sobre essa questão. A gente ouve vozes alarmadas, pedindo que você vá lá e vote "não" e acaba se sentindo manipulado. Então, minha colaboração é a seguinte: veja aqui todo o texto do parecer da senadora Fátima Cleide, na Comissão de Assuntos Sociais (parecer aprovado na Comissão, na forma de um substitutivo). Para facilitar seu entendimento da matéria, já que o PLC 122 altera uma lei já existente, eu fiz uma consolidação. Ou seja, peguei as alterações propostas e as inseri na lei alterada, de modo a você poder ler o texto final, passado a limpo, como ele ficaria se fosse promulgado hoje. Não é o caso; tem muita água para passar por baixo dessa ponte, ainda. Coloquei as alterações em outra cor para facilitar o entendimento das últimas mudanças. Se esse assunto lhe interessar, leia o texto e a argumentação da senadora e faça sua própria avaliação. Sem alarde, sem induções pró ou contra (muita gente tem escrito, perguntando se deve responder sim ou não à enquete do Senado; e eu tenho evitado uma resposta desse tipo). Espero, com isso, ajudar você a adquirir uma consciência crítica e livre sobre um tema tão controvertido e que tem alarmado os cristãos. • Rubem Amorese é consultor legislativo no Senado Federal e presbítero na Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília. É autor de, entre outros, Louvor, Adoração e Liturgia e Fábrica de Missionários -- nem leigos, nem santos. ruben@amorese.com.br |
Crer não é sinônimo de não pensar. Crer implica em pensar, em relacionar fé com a realidade, questionando uma a partir da outra. O conteúdo são pensamentos às vezes rápidos, em elaboração; outros, já mais elaborados. Ambos buscando provocar discussão e reposicionamentos, partindo sempre da confissão de fé protestante. Os artigos classificados como "originais" podem ser reproduzidos desde que com a menção da fonte e autoria. Ano V
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
E se o PLC 122 fosse aprovado hoje, como ficaria?
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Ciencia, Fe e Bioética
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Deus faz mal à vida?
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Teologia a favor do racismo
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Eis-me aqui
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
A proibição da cruz
A escola filosófica relativista, ilustrada pelo filósofo sofista Protágoras, defende que o "homem é a medida de todas as coisas". Dito de outra forma, verdade é determinada pela subjetividade individual, e ato moral pela subjetividade cultural de uma população em uma determinada área e em certa época (ver tópico em http://www.defnarede.com/r.html).
Esta "invenção ocidental" traz diversos problemas, e Luiz Felipe destaca um: "o relativismo se transformou numa militância política e moral apenas no ocidente". Ou seja, apenas a metade oeste do globo passou a relativizar até a si mesma, enquanto cultura, aceitando que "cada cultura seria um sistema fechado sobre si mesmo, onde um comportamento só poderia ser julgado pelos valores morais da própria cultura".
Ela cita dois autores, o antropólogo recentemente falecido Lévi-Strauss e o historiador Jacques LeGoff, que expõe a tensão da possibilidade da humanidade ocidental perder sua identidade, dissovlendo-se em uma mea culpa permanente, mas poupando todas as outras identidades culturais. Esta postura, atrevo-me a ponderar, é antirelativista, à medida que é aplicada unilateralmente - parece-me, na verdade, que esta mentalidade adotada pelo pós-modernismo é saturada de sentimento de culpa, idolatrando a cultura alheia e demonizando a própria.
A questão da cruz foi avaliada, por unanimidade da corte, como uma violação dos direitos de uma criança não cristã de não ser exposta a um símbolo religioso de uma fé que não compartilhava. Luiz Felipe termina seu artigo dizendo: "Esta decisão é ridícula, porque a cruz é um símbolo, seja eu cristão ou não, das raízes do próprio Ocidente, naquilo que ele mais preza: o amor ao próximo, generosidade e justiça, enfim, um Deus que morre de amor. Nós contemporâneos somos ignorantes de um modo gritante acerca do cristianismo, confundindo-o com alguns de seus momentos mais infelizes e cruéis (toda cultura é infeliz e cruel de alguma forma). Essa proibição cospe na cara de 2.000 anos de história de uma grande parte da humanidade, e os ignorantes que a realizaram deveriam ser obrigados a pedir desculpas aos cristãos,"
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Das catedrais às cruzes humanas
Cuiabá, sábado, 7 de novembro de 2009
A manifestação do Cardeal Walter Kasper, presidente do Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos, conhecido por sua cultura teológica e trânsito em ambientes ecumênicos europeus, chama os cristãos a despertarem e se levantarem. Ao afirmar que "querem construir uma realidade que não seria mais a Europa, porque sem cristianismo a Europa não existe", mostra lucidez, mas fica sem impacto em ambientes teológicos católicos, ecumênicos e no universo intelectual e político europeu, por causa dos desdobramentos contraditórios.
Kasper é conhecido como um teólogo lúcido, com clareza não apenas conceitual, mas também pastoral. Sua ascensão às diversas funções foi marcada pelos critérios clássicos da formação, capacidade de diálogo, experiência pastoral, como padre e bispo, e acadêmica, como professor de teologia em universidades europeias e intercâmbios. Isso o fez aprofundar temas teológicos relevantes, desenvolvendo linguagem diplomática para lidar com a mídia e o grande público, e bases conceituais consistentes, para falar com a cúpula, chegando a confrontar-se com setores incumbidos do zelo pela Doutrina da Fé, e a assustar grupos de visão tridentina, associados à direita, com militância agressiva e recursos financeiros.
Sua consistência teológica chegou a criar problemas diplomáticos. Sendo a maior autoridade presente na assembleia do Conselho Mundial de Igrejas em Porto Alegre, a chefia da comitiva foi confiada a um bispo sem expressão. Ao presidir o Conselho para a unidade, ele trouxe uma aura de seriedade teológica e disposição de diálogo pastoral, mas isso não implicou autonomia institucional, mesmo tendo exigido esforços, desgastes e conflitos pessoais para lidar com teólogos e lideranças dos mundos protestante, judaico e muçulmano.
Em tempos difíceis
A falta de impacto em ambientes católicos e ecumênicos tem a ver com o esforço para movimentar-se na estrutura de traços conservadores, na qual precisa atender demandas tradicionais, com lógicas de poder, acordos e resultados. Embora o discurso de defesa do cristianismo, das catedrais e das cruzes na Europa pareça claro, na verdade aponta para o lado menos grotesco dos desastres causados pela civilização cristã, das cruzadas ao nazismo, e uma prática pendular que pede perdão, mas mantém estrutura imperial, defende a família, mas não deixa os padres se casarem, elogia as mulheres, mas não lhes dá poder eclesial.
Já no mundo intelectual e político europeu, sob influência do galicanismo, as resistências são maiores. Que a maior parte da Europa seja cristã é uma dúvida. Minorias comandarem maiorias é verdade, e não apenas na religião. Sobretudo hoje, quando essas visões supõem a existência da cristandade, que já acabou. Sem o sustentáculo de imperadores e nobres, a cruz tem deixado de ser chave para todas as portas. Dizer que cruz é símbolo cultural, agrava a situação. Para os muçulmanos expulsos da península ibérica, para os judeus que migraram por toda a Europa e, hoje, para minorias de imigrantes, refugiados e desterrados, o efeito é outro.
O último elemento pelo qual a reação se afasta das reações do poder e toma a praça é a laicidade. As sociedades são pluralistas, as pessoas têm aprendido a conviver com as diferenças, tolerância e virtude tornaram-se virtudes em todas as regiões que querem crescer. Mas não raras vezes esbarra na instituição que mais pleiteia sua defesa, na postura intolerante de líderes cristãos e nos setores com menor índice de educação. Se o laicismo se mostra intolerante, de quem aprendeu esse comportamento?
Admite que a cruz foi usada muitas vezes para perpetrar o mal, mas tenta resgatar seu significado, não crendo que alguém a use desse modo hoje. E associa o desaparecimento desse símbolo ao vazio e à secularização. De fato, o grito do cardeal se integra a um discurso escarmentado, de lamento e de castigo duro, para lembrar Claude Geffré, numa atmosfera religiosa, política e econômica que cimenta uma ordem social, na qual quanto mais se resiste, mais se torna irreversível o retorno ao mundo que não se quer deixar morrer.
É preciso guardar o discurso e aguardar os sinais dos tempos, afastando-se da oficialidade para recuperar a credibilidade. Ouvir os cristãos, ordenados e leigos, revela sabedoria histórica. Comblin disse que o cristianismo sempre migrou e agora pode ir para a Índia e a China. Para tal, é fundamental lembrar que as igrejas não dão a última palavra sobre o sentido da história. O que podem fazer é lembrar a necessidade de espiritualidade, de atendimento à busca de sentido, da urgência de limite às aventuras tecnológica e militar, e da necessidade de ser mais na relação com a alteridade e o Absoluto, como lembrou Brighenti.
Para dar conta do diálogo entre igrejas, religiões e sociedades, é preciso libertar a mensagem cristã da fixação regressiva na recomposição da unidade perdida, lembrou o professor de Teologia da Universidade Católica de Pernambuco,Degislando Lima. Conquanto não seja desejável, a Europa pode sobreviver sem cruzes e catedrais. Mas terá dificuldades se o clamor das populações, das minorias, e dos discriminados dos quatro cantos do planeta não for atendido.
Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC)
Edição em português: Rua Ernesto Silva, 83/301, 93042-740 - São Leopoldo - RS - Brasil
Tel. (+55) 51 3592 0416
http://www.alcnoticias.org/interior.php?codigo=15421&format=columna
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Marcha para Jesus? ou Blasfêmia disfarçada? duas reações
Quanto ao político, apequenou-se, mostrou-se igual aos outros, digno da casa onde trabalha.
E, curiosamente, no seu texto, agradece ter foro privilegiado em qualquer circunstância, diferente de todos os outros cidadãos...
terça-feira, 3 de novembro de 2009
Marcha para Jesus? ou blasfêmia disfarçada?
A quem ela serve? A Jesus???
Vamos com calma, que o andor é de barro! Jesus não é um mestre, como querem algumas confissões religiosas não cristãs. É núcleo central do cristianismo que "Jesus Cristo é Senhor, para a glória de Deus Pai". Logo, o Cordeiro, presente na criação do mundo, sendo que, sem Ele, nada foi feito, não precisa que marchemos a seu favor, pois Ele não se encontra ameaçado, não tem competidor e já venceu a morte e o diabo. Caso Ele fosse ameaçado, em algum delírio insano, quem seriamos nós para defendê-Lo do Seu oponente?
Alguns, em sua inocência, podem alegar que a marcha é um testemunho da fé em Jesus. Questionável... Que ela é uma declaração de pertencimento, uma pública profissão de fé, é inegável. Mas, de qual fé estamos falando?
Segundo a página oficial na internete, em http://www.marchaparajesus.com.br/home.html o tema atual, "marchando para derrubar gigantes", é "Espiritualmente, entendemos que muitas situações nas vidas das pessoas podem ser consideradas “gigantes”, por serem muito desafiadoras, complexas, crônicas, como enfermidades, desemprego, dificuldade de relacionamento profissional, familiar e sentimental, problemas financeiros entre outras. A Marcha para Jesus 2009 prega uma nova condição. Como Davi marchou em direção ao gigante Golias e o derrubou, cremos que marcharemos para derrubar todos os gigantes que se apresentam nas nossas vidas. É um posicionamento de fé!"
Blasfêmia, segundo o Aulete digital, é o ultraje (insulto) a algo considerado sagrado. Pois bem, as Escrituras não declaram nada do que está dito acima. O assim chamado "evangelho da prosperidade" insulta o sangue dos apóstolos e mártires, envergonha os reformadores e transforma a cruz de Cristo num livro de autoajuda.
Se ela tem o objetivo de proclamar que o sangue de Jesus perdoa todo e qualquer pecado, nos livrando das garras do diabo, ela falha, ao menos para o articulista da Folha de S Paulo, Fernando de Barros e Silva. Na edição do dia 03 /11/09, à página A2, sua coluna traz o título "a marcha de Jesus e o diabo". Nem de longe o jornalista captou a mensagem de salvação, se é que ela foi pregada.
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Para piorar as coisas, a vinculação política do evento, na presença de dois políticos que se dizem evangélicos, além da criação do dia nacional da marcha para Jesus, por ato do nosso vastamente ecumênico Presidente da República, explicitam o uso dos presentes como instrumento político para alguém, e não é a causa do Reino!
Através de um discurso de aparência piedosa, chamativo, há um apelo de luta política ("a liderança da Igreja Renascer em Cristo. Apesar disso, uma coisa precisa ser dita: A marcha é um ato de demonstração de fé em Cristo. Se os homossexuais conseguem levar milhões às ruas de São Paulo, os crentes também podem" - conferir em http://olharcristao.blogspot.com/2009/04/marcha-jesus-2009.html), de busca do poder (alguns se recusam a aprender com a história, de que a Igreja jamais pode se assentar à mesa com o poder político - sendo verdadeira a visão do imperador romano Constantino, ela foi dada pelo inferno, e não pelos céus) e da promoção do "casal apostólico", réus confessos de crimes cometidos em outro país.