Eduardo Ribeiro Mundim
Esta
é uma frase frequentemente usada quando se está discutindo algum
assunto de natureza moral. Ela parece estar de acordo com as
Escrituras; parece se ajustar perfeitamente aos desejos de Deus para
seus filhos; parece ser a correta recomendação para a correta
atitude frente às questões morais.
Eu
não concordo!
Esta
afirmativa é uma farsa, um arranjado piedoso de palavras com
intenção assassina.
Concordo
que estou usando termos pesados e confesso que o faço impulsionado
pela emoção de já ter sido vitimado por ela. Sim, já me disseram
que me amavam, mas odiavam o pecado que, supostamente, eu defendia.
Mas
esta é uma história já velha...não sei se perdoei seus
atores...tão pouco não estou bem certo de que eles se arrependeram
e se desculparam.
Minha
intenção com este preâmbulo é sublinhar as consequências
emocionais de sua natureza oculta pelo seu aspecto piedoso.
A
piedade supostamente reside no amor distribuído a todos,
independente de quem são. Deus ama a todos, indistintamente, e na
sua presença não há um justo sequer. Logo, amar o pecador nada
mais é que repetir a ação divina. Ação esta, o amor, que O
define, segundo o apóstolo João: “Deus é amor” (I Jo 4.16).
Por amor, Ele cria o mundo, cria seres racionais à Sua imagem e
semelhança, torna-se homem e vive como tal, compartilhando as mais
ordinárias experiências do cotidiano, como sujar os pés de terra e
ter a fome saciada e escolhendo suportar as mais extraordinárias
experiências, como a traição, a tortura, a injustiça e a morte.
E
Sua Palavra não nega o mandamento. Desde o princípio é amar: a
Ele, Criador, em primeiro, e ao próximo, em segundo. Proponho que
seja entendido que Sua prioridade não se deva ao fato de que Seus
mandamentos definem o que é amar, mas que somente nos é possível
tal atitude por sermos alvos dela a partir dEle: “Nós amamos
porque Ele nos amou primeiro” (I Jo 4.19). O
Seu amor é o molde, a forma, o modelo, a receita do que é amar. E,
em última instância, mais do que “amar ao próximo com a si
mesmo” (Mc 12.33) é “devemos dar nossa vida por nossos irmãos”
(I Jo 3.16).
Amar
é ter afeição, querer bem, ter ternura e devoção; apreciar
muito, gostar, preferir. Não há desagregação, destruição,
violência. Combina perfeitamente com os frutos do Espírito:
“alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade,
mansidão, domínio próprio”. Na verdade, é o primeiro fruto,
“agapê”, amor sacrificial. E como Paulo apóstolo instruiu, o
maior dentre os três maiores dons: fé, esperança e amor (I Co
13.13).
Odiar
é ter aversão, horror, inimizade, repulsa, desgosto. É desejar
estar separado, é ser hostil. Não há intenção de agregar, de
somar, de atrair. Contendas, ciúmes, iras, facções, dissensões,
invejas são suas companheiras, e são chamadas pelo mesmo apóstolo
de frutos da carne – incompatíveis com a herança do Reino de
Cristo e de Deus (Gl 5.19-21).
Aos
que erguem o título acima com orgulho, pergunto: onde está o
mandamento para odiar, seja o que for?
A
bandeira de “odiar o pecado” é ilegítima.
Ilegítima
porque não há mandamento para que tomemos tal atitude.
Bastarda
porque “pecado” não é um ser, é um ato. Como tal, não tem
existência própria, mas é uma atitude. Portanto, “pecado” não
existe sem “pecador”. Amar um é, em termos humanos, em certa
medida, amar o outro; odiar um, odiar o outro.
Enquanto
seres humanos é possível a proeza de detestar o ato cometido por
alguém que se ama?
Acredito
que sim. Se o amor preceder o ódio; se o amor definir a relação
entre as pessoas, e não o ódio; se amamos apesar da atitude que
repulsa. Mas não podemos começar odiando o pecado, porque será o
ódio que dará o tom. E o que deu o tom inicial da criação de Deus
foi amor, integração, doação, compartilhar.
É
verdade que Paulo explicitamente ordena que odiemos o que é mal, e
que nos apeguemos ao que é bom (Rm 12.9). Mandamento perigoso, que
nos remete ao fio da navalha, pois odiar é próprio de nossa
natureza pervertida e caída, e apegar ao bem é atitude que,
frequentemente, demanda esforço. Mas se entendermos odiar como
“cultivar o sentimento de repulsa por aquilo que é mal e que brota
primeiro em mim, antes de brotar no meu próximo”, todo o perigo se
vai.
Se
eu odiasse o pecado que primeiramente habita em mim, e me amasse
apesar dele, talvez então eu pudesse primeiramente amar o meu
próximo e odiar o seu pecado, que encontro primeiro em mim.
Pois
nas Escrituras pecado é pecado, não há escala de maior ou menor.
Todos ofendem à santidade divina. E é uma impossibilidade bíblica
o ser humano isento de pecado. Portanto, se meu próximo é imoral,
talvez eu seja mentiroso; se ele é mentiroso, talvez eu seja
fofoqueiro; se ele é fofoqueiro, talvez eu não ame...
“Odiar
o pecado” não deve ser nossa preocupação, mas amar o pecador,
pois o estaremos amando como amamos a nós mesmos, e, se buscarmos do
fundo do coração, como Ele ama. Não há necessidade de ódio, pois
amor e ódio são, neste caso, como luz e trevas: um não está onde
está o outro.
“Odiar”
é chamar o caminho largo e fácil; “amar” é andar pelo caminho
estreito, aquele que poucos escolhem trilhar.
Por último, devo confessar: quando odiei o pecado, odiei também o pecador; quando me vi pecador, aspirei a santidade, minha e do meu próximo.
Por último, devo confessar: quando odiei o pecado, odiei também o pecador; quando me vi pecador, aspirei a santidade, minha e do meu próximo.
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