Brasília, segunda-feira, 23 de  julho de 2012 (ALC) - Mais uma vez o governo federal "dobra os  joelhos" aos interesses do agronegócio e reza pela cartilha do  capital, aponta nota do Conselho Indigenista Missionário (CIMI)  questionando a portaria 303 da Advocacia Geral da União (AGU),  publicada no Diário Oficial da União na terça-feira, 17.
A portaria prevê que "o usufruto das riquezas do solo,  dos rios e dos lagos existentes nas terras indígenas pode ser  relativizado sempre que houver relevante interesse público da  União". 
A norma contradiz acordos nacionais e  internacionais assinados pelo Brasil, como a Convenção  169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que  determina a realização de consulta prévia  às comunidades indígenas sobre empreendimentos que  interfiram em suas áreas.
O governo federal vem ao  encontro do desejo da presidente da Confederação  Nacional da Agricultura (CNA), senadora Katia Abreu, que, junto com a  Federação da Agricultura e Pecuária do Mato  Grosso do Sul (Famasul), sugeriu à AGU tal portaria, com o  propósito de retirar do Poder Judiciário os processos  demarcatórios e empoderar o próprio governo para tomar  essas decisões.
O procurador do Estado do Mato Grosso do  Sul, João Barcellos Lima, declarou que os estudos  demarcatórios de terras indígenas precisam ser refeitos,  com a participação do governo local, que "é  preciso anular o que foi feito e começar do zero, refazendo os  grupos técnicos".
Desconsiderar a existência  de terras indígenas e começar do zero é tudo o  que o agronegócio quer, interpretou o indigenista Egon Heck, do  Cimi do Mato Grosso do Sul. "Essa portaria é o Ato  Institucional número 5 dos povos indígenas",  afirmou.
"Todo o trabalho realizado há vários  anos e décadas será jogado na lata do lixo, pois o que  querem fazer prevalecer sobre os direitos constitucionais são  os interesses do grande capital nacional e internacional",  denunciou Heck.
A AGU realizou entendimento próprio da  decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), de 2009, em que  condicionou em 19 medidas a retirada de não-índios da  Terra Indígena Raposa Serra do Sol, localizada em Roraima. A  portaria da AGU estende os efeitos da decisão do STF a todos os  processo de demarcação de terras. 
"O que  assusta na portaria é o seu autoritarismo. A AGU está se  antecipando ao STF e adotando uma interpretação  reacionária das condicionantes", avaliou o representante  do Instituto Socioambiental (ISA), Raul do Valle. "Tudo isso  fundamentado num nebuloso conceito de segurança nacional, o  mesmo que foi utilizado para perseguir os dissidentes da  ditadura", agregou.
Heck lembrou que há 34 anos  expirou o prazo legal para que todas as terras indígenas fossem  demarcadas no Brasil, de acordo com o Estatuto do Índio. A lei  não foi cumprida. "Não satisfeito em descumprir a  legislação nacional e internacional no que diz respeito  aos direitos indígenas, o governo dá um passo  adiante", lastimou.
Em artigo para o sítio do  Greenpeace, Nathália Clark destacou que graças às  terras indígenas, cerca de 106 milhões de hectares  estão hoje protegidos. A portaria da AGU acaba de abrir a  porteira das terras indígenas para a construção  de bases militares, rodovias, hidrelétricas e o resguardo das  riquezas de cunho estratégico, sem precisar ouvir a comunidade  indígena afetada. 
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