Caio Marçal*
Há alguns
clichês que cada vez mais encontram eco em mundos diferentes e em conflito.
Palavras como "sustentabilidade", “diálogo” "conservação
ambiental" e "direitos coletivos aos recursos naturais" foram
muito ouvidos na Cúpula dos Povos e no Rio+20 tanto por mim e por meus irmãos
das Igrejas Ecocidadãs (coletivo do qual a Rede FALE faz parte). Temáticas tão
próximas, mas com um vasto abismo que separava os dois espaços. Soava-nos
estranho ouvir tais termos sem sentir o desconforto de que havia algo dissonante
no Rio de Janeiro. Colocados em cantos extremos da cidade,
Marcos
Custódio, ambientalista cristão, em uma de nossas reuniões de avaliação,
afirmou que “existe um abismo entre a
Cúpula do Povos e Rio+20 (oficial). Existe a sociedade de um lado – e do outro
o governo e a economia. Tem pouca gente
disposta a fazer ponte. É muito frustrante. É duro quando você ouve que um
lugar representa 'X' e o outro 'Y". Morgana Boostel, Secretária Executiva
da Rede FALE, arremata: "Os
"Diálogos" acontecem depois que o espaço de negociação já foi
fechado. Ocorre em um espaço ocioso entre a negociação e o início da
conferência oficial Rio+20. Eu acho que
não houve um espaço "bilateral" de diálogo". Embora credenciados
para “participar” do Rio+20, nosso poder de interferência no documento final (extremamente
desanimador), foi nulo, já que fomos transformados em meros expectadores de um
pacto de conteúdo inócuo.
Minha suspeita
é que os que têm poder de decisão nas questões ambientais estão convencidos que
não precisam fazer pontes que produzam mudanças de rumo ante a devastação da
vida. A pergunta que não podemos fugir é de que lado os seguidores de Cristo
estão. Não podemos entrar de modo inocente neste jogo e não perceber quais os
interesses dos poderosos e das grandes corporações em relação as questões
ambientais. A Igreja, em meio a essa turbulência deve cumprir um duplo
papel: Ser ponte para restaurar o
diálogo(arrependimento), mas também profético (denúncia).
Infelizmente
tivemos uma presença ainda incipiente dos cristãos tanto na Cúpula dos Povos e
no Rio+20. Poderia até dizer que as religiões de menor expressão que os
evangélicos tem um interesse e envolvimento muito maior. O fato de existir um
movimento de Igrejas Ecocidadãs já demonstra que há certo contrassenso, pois
toda igreja deveria ser tanto preocupada com a cidadania quanto com o meio
ambiente. Se há um movimento de “Igrejas Ecocidadãs”, é porque existe descaso
por parte daqueles que deveriam ser os maiores interessados. Temos um desafio de ordem teológico, pastoral
e profético para os próximos anos e precisamos envolver nossa comunidade local
de fé para cumprir a totalidade da missão de redimir toda Criação, pois ela
“espera ardentemente a manifestação dos filhos de Deus” (Romanos 8:19).
Apesar disso,
podemos celebrar a participação do coletivo das Igrejas Ecocidadãs, pois
construiu links interessantes e canais de interação através das atividades
propostas pelas organizações parceiras na Cúpula dos Povos. Vale registrar que
tivemos a oportunidade de entregar cartões da Campanha “Fale em favor de um
Mundo Justo e Sustentável” diretamente para Gilberto Carvalho, atual
ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República do Brasil.
Embora um tanto
perplexos com o tamanho dos desafios e que saibamos que talvez não vejamos
fruto de nossos anseios satisfeitos nos próximos anos, saímos felizes porque
sabemos que com nosso suor e lágrimas as sementes do Reino de Deus um dia
brotarão no chão desse mundo, que
trará vida plena e abundância.
*Sec. De Mobilização da Rede FALE - LEVANTE A SUA VOZ CONTRA A INJUSTIÇA
www.fale.org.br
tel: (031) 93086548
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