Por Francisco Thiago Almeida, no Projeto 5
Você conhece este homem. Ele é Yousef Nadarkhani. Mas porque você o
conhece – ou deveria conhecê-lo? As notícias que circulam na Internet é
que Yousef é pastor e está sendo condenado à morte por ser cristão.
Minha intenção não apenas polemizar ou diminuir ainda a importância do
caso. Com certeza a firmeza e a fibra do Pastor Yousef são admiráveis!
Duvido que a metade dos cantores-pastores deste país teriam a mesma
coragem. E as reflexões que trarei aqui não pretendem diminuir a coragem
do pastor, pelo contrário, pretende criticar a nossa falta de coragem.
Agora veja esta imagem:
É nesta hora que você pergunta: Que diferença faz? E daí a gente pensa junto.
Abandonar o Islã: O Irã é um país – por falta de
palavra melhor no momento – confessional. Sua religião oficial é o Islã e
assim o país ainda absorve leis religiosas e as aplica com todo o rigor
que uma interpretação literalista do Corão pede: a chamada Sharia. Não
há, nestas leis, uma condenação exclusiva aos cristãos. Há sim uma lei
que proíbe-se o abandono do Islã. Yousef poderia ser espírita
kadercista, cadombléssista, budista, taioísta, seicho-no-ie-sista,
corinthiano que ele seria condenado à forca da mesma forma.
Rejeitasse Cristo: Aquela série “Deixados para trás” e
aquele filme antigo, dos idos dos anos 70 com o tema arrebatamento,
tiveram um grande impacto no cristianismo brasileiro. Há uma cena muito
forte onde, no tempo da tribulação, uma personagem é questionada se nega
ou não a Cristo enquanto sua cabeça está dentro de uma guilhotina – bem
retrô e impactante. Prova de que a teologia do martírio ainda é muito
forte entre nós. Não duvido que a forma como a notícia foi transmitida
pelos cristãos tenha sofrido influência desses filmes. Negar a Cristo? A
preocupação é que se negue a religião e volte para o Islã. Não há
porque negar a Cristo. Seria como pedir a um cristão que negue João
Batista!
Ajudar outras vítimas da Sharia: Não é apenas a “coisa”
religiosa que é digna de nota na imprensa internacional e entre
cristãos que anseiam pela expansão do reino de Deus. Há o abuso contra
as mulheres, contra crianças… Mas tudo isso demandaria “pensar”…
Discutir até que ponto a religião pode intervir no cotidiano das
pessoas, até que ponto a religião pode manipular as leis de um país,
obrigando que os compatriotas sigam forçadamente o comportamento
determinado por uma religião. Mas a maioria dos cristãos brasileiros não
querem fazer isso porque seria uma grande auto-crítica.
Outros fatos: Depois de todo o frisson causado
na internet, alguns grupos cristãos brasileiros retiraram seu apoio ao
Pr. Yousef pelo simples fato de ele não ser “trinitariano”. De mártir o
pastor passou a ser perseguido como herege. Isso me lembra o caso do “Suicida Cristão”.
Deste caso, eu tiro algumas conclusões:
A primeira é que os cristãos brasileiros não tem envergadura moral para
pedir o que estão pedindo. Primeiro porque é um pedido totalmente
egoísta e causuísta. Não querem libertar o Pr. Yousef porque é vítima de
intolerância religiosa. Querem libertar o Pr. Yousef porque ele é
cristão. E não é justo que um cristão morra… Se bem que, talvez alguns
até estejam pedindo para que ele morra… Um mártir é sempre bem vindo.
E a Igreja Cristã brasileira também não tem envergadura moral para pedir
o que está pedindo pelo simples fato de que aqui também caminha-se para
o mesmo rumo. O problema com o Irã não é ele seguir as leis do Islã; o
problema com o Irã é não seguir as leis do Cristianismo! E aí está: dois
pesos e duas medidas!
Os cristãos ainda preferem se colocar como vítimas para justificar o
gueto em que vivem. E uma vez no gueto, querem defender apenas aos seus.
Deveriam sim abrir os olhos e espalhar tantas mensagens de protesto por
conta das mulheres que são castradas, das crianças que são assassinadas
e exploradas, das leis abusivas e que vão contra os direitos humanos.
Mais uma vez digo: O problema não é com o Pr. Yousef: Um homem corajoso
e digno de nota. o problema é conosco que o utilizamos como ícone para
acusar o outro, mas não vemos que via de regra incorremos no mesmo erro.
Por um Estado Laico, contra todo tipo de intolerância e que me permita guiar a própria vida no caminho do respeito mútuo.
Via Pavablog
fonte: http://www.hermesfernandes.com/2012/06/verdade-sobre-condenacao-de-yousef.html
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