sexta-feira, 29 de agosto de 2008

A Dúvida de Tomé

(Jo 20.19-29)

 

            "Porque viste, creste? Felizes os que não viram, e creram". As palavras de Jesus a Tomé ecoam desde aquela época até os dias de hoje. Todo esse incidente nos fala de dúvida. E Dídimo não foi o único a duvidar. Passou à história de modo injusto, como se fosse o único incrédulo dentre os onze, quando apenas expressou de modo claro o que, na verdade, todos os discípulos pensavam em segredo: será verdade? O que prova que Ele ressuscitou? A passagem paralela em Lucas deixa claro o que a de João apenas cita: Jesus provou sua corporalidade a todos os apóstolos.

 

            Vamos rever os fatos, em conjunto com Lc 24.36-42:

1.    Jesus se apresenta aos discípulos reunidos

2.    Eles temiam os judeus (provavelmente as portas estavam trancadas e as janelas cerradas)

3.    Eles se assustaram com a súbita aparição de Jesus

4.    O confundiram com um "fantasma"

5.    Jesus insiste que o apalpem e o vejam, atestando o fato da ressurreição

6.    Ele os comissiona

7.    A dúvida de Tomé

8.    O novo encontro e a confissão de Tomé

 

            Esse momento, somado aos demais encontros pós-crucificação, é vital para a história da salvação. É necessário que a ressurreição seja fato histórico, incontestável. Ela não pode ser uma metáfora, ou um sonho, mas uma realidade visível, ainda que somente pela fé, para os que não O viram. Paulo demonstra a questão quando escreve à igreja em Corinto (I Co 15):

1.    A ressurreição de Cristo é garantia de que nossos pecados estão perdoados

2.    Ela também garante que ressuscitaremos, ou seja, de que nosso destino final não é a morte

3.    Portanto, se Jesus não ressuscitou, não há pecado perdoado nem morte vencida

4.    Se não há ressurreição, todo o Evangelho é uma ilusão, sendo melhor "curtir a vida" que "perdê-la" por um sonho absurdo

 

            Os apóstolos e os primeiros discípulos serão os únicos a conviver com quem esteve morto mas reviveu em definitivo[1], estando hoje na presença de Deus Pai. Os demais cristãos terão de aceitar o fato pela fé, ou seja, sem provas, no espírito de Hebreus: "fé é ... a prova de que existem coisas que não vemos" (Hb 11.1, tradução na Linguagem de Hoje - SBB).

 

            Durante seu ministério, Jesus enfrentou questionamentos acerca de sua autoridade e identidade. Apesar de todos os milagres e prodígios que já executara, certa ocasião foi-lhe requisitado que provasse sua messianidade. Respondeu que o único sinal que daria seria a sua morte e sua ressurreição. Os evangelhos não registram nenhum contato pós-crucificação entre Ele e aqueles que se postavam como seus inimigos. O sinal de Jonas teria de ser aceito por eles, através da fé...

 

            Noutro momento Ele frisa a importância da certeza de que as Escrituras são a Revelação do Pai. Narra a parábola do rico e de Lázaro. Aquele solicita a Abraão que permita ao último retornar ao mundo dos vivos, a fim de avisar seus parentes e amigos dos riscos que corriam pela vida que levavam. Afinal, o testemunho de alguém que ressuscitasse seria levado a sério. Abrãao é taxativo: os vivos têm a Revelação escrita (Moisés e os profetas). Se não crêem nela (pela fé), não crerão em nenhum tipo de testemunho.

 

            A parábola coloca que a questão não é de evidência externa, ou científica; é de evidência interna, íntima- aquilo que estamos dispostos, ou não, a acreditar. Por isso foi mais conveniente às autoridades subornarem os guardas para espalharem que o corpo de Cristo tinha sido roubado (Mt 28.11-15). Igualmente, foi mais fácil ao Faraó "endurecer seu coração" a acreditar no Deus de seus escravos. Dados científicos dizem "o conjunto dos dados disponíveis torna altamente provável que isso ou aquilo seja verdadeiro", validando o "é possível", ou dizem: "o conjunto dos dados disponíveis torna altamente improvável que isso ou aquilo seja verdadeiro". Ou seja, nada provam; apenas embazam.

 

            O que nos torna cristãos é, na verdade, a ação do Espírito em nós, convencendo-nos de nossa distância dos propósitos do Criador (ainda que tenhamos aspectos bons), do nosso estado de perpétua rebeldia (ainda que, eventualmente, nos submetamos) e da intermediação que a morte e a ressurreição fazem entre o Pai e nós, de modo que somos aceitos, mesmo que inadequados e desobedientes (ainda que não compreendamos por que as coisas são assim).

 

            O que nos torna cristãos é, na verdade, uma aceitação dos fatos acima por evidência íntima, não porque temos convicção que alguém ressuscitou dos mortos. A partir da convicção "do pecado, da justiça e do juízo", é que cremos na ressurreição.

 

            Somos convencidos, ou não, intimamente, pelo somatório de diversos fatores, como, por exemplo: a criação que tivemos, nossa estrutura psicológica, nosso ambiente cultural, a forma como a mensagem do Evangelho foi apresentada, nossas escolhas pessoais e nossa natural resistência à soberania de Deus. Mas, uma vez apresentados a Ele, nada escusa a Sua rejeição permanente[2]. As Escrituras dizem:

"Os céus contam a glória de Deus,
e o firmamento proclama a obra de suas mãos"
(Sl 19.1)

mas,

"Diz o insensato no seu coração:
'Deus não existe!
'" (Sl 14.1)

 

            É curioso que a metáfora de Paulo sobre o Reino ("agora vemos em espelho e de maneira confusa" - I Co 13.12a) é perfeitamente aplicada à ciência. Ela apenas nos dá um vislumbre das possibilidades, não uma certeza absoluta. Aliás, em termos científicos, o que é supostamente verdade hoje, deixa de sê-lo amanhã.

 

            Portanto, cremos porque o nosso coração se inclina para crer, não porque nossa razão nos obriga (ainda que uma compreensão racional da fé seja necessária para um crescimento espiritual saudável).

 

            "Felizes os que não viram, e creram".



[1]  já que todos os ressuscitados por Jesus, ou pelos apóstolos em Atos, morreram posteriormente

[2] uma interpretação comum do significado da expressão "pecado contra o Espírito Santo" é exatamente esta.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Luta Contra o Infanticídio - Nova Fase

Amigos das crianças indígenas,
 
Muita gente tem juntado sua voz à voz das mães indígenas de nosso país. Gente de todos os lados, dentro e fora do Brasil, têm participado. O grito pela vida, que antes era o grito solitário de uma mãe indígena da tribo suruwaha, passou a ser multiplicado centenas, milhares de vezes, a medida que pessoas como você entendiam a luta e passavam a ser tambem ATINI - uma voz.
 
Milhares de manifestações de apoio ao projeto de lei chegaram, de várias partes do Brasil e do mundo. Em pelo menos dez cidades a sociedade saiu às ruas para manifestar apoio à causa da crianças indígenas. Resultado - a relatora do projeto teve que reconhecer que o assunto era importante e e desengavetar o projeto (apesar de ter apresentado uma proposta substitutiva fraquíssima). Agora o projeto de lei vai ser votado e a Comissão de Direitos Humanos terá que decidir qual o melhor texto - se o original, se o substitutivo, ou se há alguma outra proposta conciliadora. A Lei Muwaji estará provavelmente na pauta novamente no mês de outubro.
 
Enquanto isso, líderes indígenas estão se organizando para lutar pela vida. Indígenas das etnias Ticuna, Kaiwa, Tucano, Kamayurá, Terena e Bakairi criaram o Movimento Indígena a favor  da Vida e estão elaborando um documento e uma grande manifestação em Brasília na semana da criança, em outubro. O blog do movimento é www.movimentoindigenaafavordavida.blogspot.com e eles estão preparando uma proposta para ser entregue na Comissão de Direitos Humanos. Na primeira semana de setembro, cerca de 2000 indígenas estarão reunidos em Manaus por causa do CONPLEI, e esses líderes pretendem conseguir centenas de adesões ao movimento.
 
Além disso,  na semana passada foi aprovada no Congresso Nacional a nova Lei de Adoção. É uma conquista de anos do movimento a favor dos direitos das crianças. A surpresa é que alguns deputados, certamente sensibilizados pela grande campanha que tem sido feita a favor da vida das crianças indígenas, fizeram questão de garantir que elas fossem contempladas pela nova lei de adoção.

    § 7º. Em caso de ameaça à vida de criança indígena, em decorrência de prática cultural, o órgão federal responsável pela política indigenista, com equipe de antropólogos, promoverá a colocação da criança em família substituta, preferencialmente em outra comunidade indígena, buscando obter, quando possível o consentimento dos pais e de seu grupo étnico.
    

Este parágrafo representa um avanço de anos na luta pelo direito das crianças indígenas!!!  O texto é inovador porque admite a existência da prática do infanticídio nas tribos por razões culturais como um problema. Além disso, ele nos dá um instrumento legal para exigir dos órgãos públicos ações em defesa das crianças em risco de infanticídio. A Lei de Adoção, como está sendo chamada, foi aprovada pelo Congresso com unanimidade e aplausos! A sessão foi muito emocionante e o Deputado Arlindo Chinaglia, presidente da Câmara dos Deputados, chegou a chorar no final!  Mesmo aprovada no Congresso, a lei  ainda precisa da aprovação final pelo Senado e depois pelo Presidente da República.
 
Se você deseja se envolver e apoiar o movimento indígena nessa luta, você pode:
 

    * Telefonar ou enviar mensagens aos deputados da Comissão de Direitos Humanos exigindo atenção para a votação da Lei Muwaji em outubro e dizendo que o substitutivo da Janete Pietá não resolve o problema.
    * Pressionar a Deputada Janete Pietá a mudar o voto dela, a fazer um relatório que de fato garanta alguma proteção à vida das crianças indígenas.
    * Preparar manifestações populares, dê entrevistas, conscientize a sociedade do problema. (evite linguagem religiosa).
    * Organizar exibições do documentário HAKANI. A seguir organize debates e elabore documentos e abaixo-assinados para serem enviados ao Deputado Pompeo de Mattos, presidente da Comissão de Direitos Humanos.
    * Enviar mensagens aos senadores chamando atenção para a Lei de Adoção e a proteção que ela vai trazer às crianças indígenas.
    * Juntar e enviar desenhos e cartas de crianças de sua família, sua escola ou de sua igreja pedindo ao presidente Lula que apoie a Lei Muwaji e a Lei de Adoção. Essas cartas podem ser enviadas para a sede da ATINI. (Imagine, milhares de desenhos e bilhetes super coloridos de crianças solidárias do Brasil inteiro!)
    * Conseguir um meio de colocar o presidente Lula em contato com o movimento.

Os líderes do Movimento Indígena a favor da Vida estão preparando uma grande festa/manifestação na semana da criança, em frente ao Congresso Nacional. Moram aqui em Brasília mais de 8 mil indígenas de diversas etnias. Fique atento à programação e prepare manifestações simultâneas de solidariedade em sua cidade.  Essa festa surgiu no coração dos líderes do movimento e promete ser um marco para as crianças indígenas de Brasília, que serão pela primeira vez "enxergadas" pela população local, famosa por ter ateado fogo ao índio Galdino Pataxó.

Seja uma voz pela vida - seja ATINI.

Edson e Márcia Suzuki
ATINI - VOZ PELA VIDA
www.atini.org

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Ultimato 40 anos: Igreja Comunidade Terapêutica

IGREJA COMUNIDADE TERAPÊUTICA

Uriel Heckert

Encontro Ultimato 40 anos

Notas tomadas em 01/08/08, de exclusiva responsabilidade do proprietário do blog

 


Comunidade terapêutica foi um conceito desenvolvido na década de 60, como reação à psiquiatria clássica - a antipsiquiatria, liderada por Ronald Laing. Maxwell Jones publicou um livro, em 1968, com o título "comunidade terapêutica", onde procurava mostrar a necessidade de um ambiente favorável à cura:

·         clima de convivência: aceitação, respeito e compreensão

·         pacto de compromisso com direitos e deveres

·         liderança horizontal: democracia, rodízio de liderança, avaliação das ocasiões

·         participação coletiva: inclusão, participação

·         todos os membros têm papel terapêutico

 

Erwing Goffman, 1961: asylums - essays on the social situation of mental patients and other inmates - Manicômios, prisões e conventos, ed perspectiva, 1974.

 

Como reação a esse e outros livros, o governo norte-americano passa a mudar a política pública.

 

Na Itália, desenvolve-se a psiquiatria democrática, também criticando o excesso de poder do médico (Franco Basaglia, Trieste):

·         resgate da cidadania do enfermo psíquico

·         o enfermo assumir-se como sujeito de sua história

·         instâncias terapêuticas abertas

·         valorização do apoio comunitário

 

Experiências brasileiras:

·         Hospital S Pedro, Porto Alegre

o       Dr. Marcelo Blaya

·         Hospital D Pedro II, RJ

o       Dr. Oswald dos Santos

·         Hospital Pinel, RJ

o       Dr. E Portella Nunes

·         Movimento antimanicomial

o       Hospital Colônia, Barbacena, 1979

o       Centro de Atenção Psico-Social, SP, SP

 

Lei N° 10.216, de 2001: reforma da assistência psiquiátrica (autoria do dep Paulo Delgado).

 

O conceito de comunidade terapêutica não tardou a entrar no mundo evangélico:

·          Congresso Missionário da ABU, 1976, Curitiba - momento da primeira reunião daquilo que se tornou o CPPC.

·         III Consulta Internacional da Fraternidade Teológica Latino-Americana, 1977: Pueblo de Dios - Comunidad Sanadora (Daniel S. Schipani)

a.     a reconciliação, ação curadora de Deus

b.     a reconciliação, terapia integral

c.     Jesus Cristo também como terapeuta

d.     a comunidade cristã como terapia radical de Deus, em sua ação salvadora no mundo

·         curar também é tarefa da Igreja, Ricardo A Zandrino, Ed Nascente, SP, 1986 - princípios terapêuticos: aceitação, confissão, perdão, oração intercessória, contato físico, serviço


quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Contágio nas matas - carta à revista Carta Capital

Belo Horizonte, 11 de agosto de 2.008

 

Jornalista Felipe Milanez

Carta Capital

 

Tomei conhecimento do artigo "Contágio nas Matas", no número 505 do semanário Carta Capital, há poucos dias. Desejo apresentar-lhe algumas considerações, tendo em vista o meu alto conceito que reservo para esta revista.

 

Acredito ser correto apresentar-me: Eduardo Ribeiro Mundim, 45 anos, médico, resido na capital mineira, criado em ambiente evangélico e cristão evangélico por livre escolha, co-editor da página "bioética e fé cristã", membro de um dos ramos da Igreja Presbiteriana. Não sou obreiro da Jocum, nem mantenho com ela relacionamento institucional direto; contudo, conheço o casal Suzuki, sua filha Hakani, e estou lutando pela aprovação do projeto de lei número 1057/2007, do deputado federal pelo Acre, Sr. Henrique Afonso, conhecido como "lei muwaji" - a minha participação está registrada no blog crerpensar.blogspot.com.

 

Lamento a escolha efetuada na redação de sua reportagem: postar-se ao lado de uma versão, a da FUNAI, e demonizar a outra, a da Jocum. Este talvez seja o principal defeito de um trabalho que muito teria colaborado para trazer novas luzes sobre um debate que não tem alcançado a repercussão que merece e necessita junto à sociedade nacional.

 

Estou acostumado ao tom anticristão da revista Veja, presença obrigatória na maior parte dos seus números e clara opção de alguns de seus articulistas. Até o presente, não havia detectado o mesmo viés na Carta Capital. Este tom é claro e acredito que tenha sido uma opção consciente de sua parte.

 

Lamento que não tenha existido espaço no texto para discutir questões como, dentre outras, "é a cultura sagrada?"; "qual deve ser o relacionamento entre duas culturas distintas separadas por um grande fosso tecnológico"?; "quem deve determinar qual a política indigenista nosso país deve ter?"; "são os antropólogos funcionários do Estado donos da verdade"?

 

Lamento que a Jocum não tenha sido apresentada também através dos outros trabalhos que desenvolve em todo o Brasil. As acusações que o suposto documento interno da FUNAI elenca transformam aquela organização em algo próximo a Máfia; sendo documento interno vazado, acredito que o autor da reportagem se torne o autor das denúncias, não?

 

Sugiro no futuro uma reportagem sobre por que duas instituições respeitáveis, o CIMI e a Jocum, têm diferenças tão gritantes no que diz respeito ao que os cristãos denominam de "evangelização", e o que o clero católico e o evangélico, assim como os membros leigos de ambos, pensam do assunto.

 

A posição assumida, de que toda missionário que deixa o conforto da cidade para morar na selva, após graduar-se em lingüística e terem a opção de serem apenas professores universitários, brasileiros natos, serem agentes de uma potência estrangeira é pueril. Sugiro que visitem a residência deles, que os acompanhem durante uma semana, leiam os artigos que publicam...

 

Por uma razão que não foi apresentada aos leitores, os índios não foram ouvidos. Já que os suruwahas não falam português, e os únicos intérpretes que o senhor encontrou foram explicitamente declarados não confiáveis, por que não procurar lideranças indígenas que dispensam intérprete? Certamente a FUNAI as conhece; caso contrário, disponho-me a auxiliá-lo na empreitada.

 

É deprimente perceber que ou não ouviu todos os fatos, ou não apresentou (por ter tomado partido) aos leitores todos eles (segundo o ponto de vista dos entrevistados) para que nós, leitores, concluíssemos após uma ampla exposição. Chamo como suporte para esta questão a dúvida levantada sobre a realidade do infanticídio indígena - a FUNAI tem certeza das acusações levantadas, mas "acha que" o problema não existe - por conseqüência, os obreiros da Jocum são mentirosos. Por que o senhor assumiu este ponto de vista, e os tratou assim na reportagem, não dando ao leitor o direito de julgar sozinho? É o leitor um incapaz?

 

Hakani foi adotada legalmente. O Estado Brasileiro perdeu a sua guarda. Foi pesquisado o processo de adoção? o que o Estado, através dos seus agentes, defendeu em juízo contra a adoção?

 

Assisti ao filme citado, que, por sinal, não chama "incinerado vivo". Ele está disponível na internete, tanto na página www.hakani.org, quanto no youtube. Não vi desrespeito pelo índio - ele não é uma obra de ficção. Os pais de Hakani suicidaram para não matá-la. Você a conhece? Viu as suas cicatrizes? Procurou o irmão que a salvou? Mais uma vez, o leitor foi tratado com indulgência - eu sempre tive a Carta Capital como um veículo que busca o leitor articulado.

 

O projeto de lei foi lido? Não me parece que ele responsabiliza o silvícola pelo infanticídio, mas o branco que não o ajuda a não perpretar o crime.

 

Corrija-me se entendi errado, mas pelo seu trabalho caso alguém veja um índio gravemente enfermo (por exemplo, com apendicite aguda), deve aguardar que o Estado autorize o tratamento?

 

Há muito mais que comentar sobre o trabalho, mas não é minha intenção, neste momento, descer aos pormenores. Creio que os atingidos pessoalmente por ele o farão.

 

Atenciosamente

 

 

Eduardo Ribeiro Mundim

 


quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Ultimato 40 anos: Juventudes, Religião e Participação

Alexandre Brasil

Encontro de Amigos, 40 anos da Revista Ultimato
Notas tomadas em 01/08/08, de exclusiva responsabilidade do proprietário do blog



 

O que caracteriza uma política pública para as gerações:

·        criança - proteção

·        juventude - participação

·        idoso - cuidado

 

Trabalhar com juventude implica obrigatoriamente em participação.

 

O que é "ser jovem"? Não é algo estático, mas relativo a quem está ao lado, independente da questão cronológica. Tem a ver inclusive com a trajetória de vida.

 

Juventude não se alcança: ou se está ou não se está com ela.

 

Juventude é tudo aquilo que é novo: neo-pentecostalismo, lgpt, negros, feminismo, deficientes...

 

30% dos jovens estão envolvidos com alguma atividade - 15% nas igrejas (50%/50% católicos/evangélicos).

 

 É curioso que muitos líderes evangélicos jovens, ao iniciarem uma fala pública, pedem desculpas por serem evangélicos...e algumas pesquisas mostram que a igreja evangélica detêm 40% da confiança dos jovens não-religiosos.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Ultimato 40 anos: Uma Sociedade cada vez mais descrente

Alderi Souza de Matos
Encontro de Amigos, 40 anos da Revista Ultimato
Notas tomadas em 31/07/08, de exclusiva responsabilidade do proprietário do blog

fé e incredulidade variam no tempo e no espaço:
- Galeno e Celso, no sec II, escreveram obras contra o cristianismo
- o puritanismo na Nova Inglaterra, onde o nível de religiosidade era alto; no final do século XVIII, declínio
neste caso, há um paralelo entre a pobreza e dificuldade no início e a riqueza no final do sec XVIII
- em 1740, primeiro grande reavivamento, seguido por um novo declínio, que se estendeu até depois da independência norte-americana

relação entre situação sócio-econômica-intelectual e religiosidade

IBGE 2000:
170.000.000 hab
17.600.000 pentecostais
12.500.000 "sem religião"

Tipos de incrédulos:
+ plenos: os que não tem nenhuma convicção religiosa (ateus, materialistas, agnósticos, secularistas) - não crêem em um Deus transcendente e pessoal
+ em relação ao cristianismo (adeptos de outras religiões ou expressões místicas)
+ práticos: religiosos nominais

Causas da incredulidade:
- prosperidade sócio-econômica
- influência da mídia
- influência da literatura (Veja, livros como o "Código da Vinci")
- educação secundária e superior: visão do mundo sem transcendência; departamentos universitários controlados por materialistas
- popularização de teorias científicas (origem do universo, da vida, do ser humano)
- perplexidades existenciais (conciliar um deus bom no meio de um mundo perverso e cruel)
- maus exemplos na área religiosa (intolerância no passado, iluminismo [,extremismos atuais]

Problemas atuais:
= extremismo e fundamentalismo religioso [manipulação ideológica da fé religiosa]
= exploração emocional e financeira
= desvios éticos de líderes e igrejas
= falta de autenticidade

Desafios para as igrejas:
Ø evangelismo íntegro e bíblico
Ø ênfase apologética
Ø harmonia entre fé e conduta


terça-feira, 12 de agosto de 2008

Ultimato 40 anos: Jovens alcançando jovens

Valdir Stuernagel

01/08/08, Viçosa

 

Notas tomadas em 01/08/08, de exclusiva responsabilidade do proprietário do blog

 

Só podemos falar para as gerações mais novas a partir da nossa própria caminhada, nossa própria experiência:

·        o evangelho me deu identidade

·        o evangelho me deu uma perspectiva de relacionamento

·        o evangelho me deu uma visão de realidade

 

Muitas pessoas que estão na igreja foram alcançadas na juventude.

 

Igreja cheia de jovens é igreja que os abraça, os convida; quando vazia, é porque a igreja é conservadora e fria.

 

Jovens alcançam jovens - no caso da ABU, com a mentoria dos mais velhos. Os jovens querem ser co-responsáveis pela sua missão.

 

Conflito que existe para os pais: igreja para os pais ou para os filhos?

 

A igreja é um lugar conservador, de refúgio, onde se consegue afirmar valores históricos [não necessariamente teológicos, mas também sociais] que não mais são aceitos pela sociedade. Ela deve, a par disto, fazer opção por atitudes que atraiam os jovens, que lhes dê espaço.

 

A juventude é que desperta a igreja para a missão, para a realidade externa a ela.

 

Há um grande número de jovens - nossos filhos- machucados pela igreja: pastores, rigidez, evangelho "do está tudo bem", "da prosperidade que não chega".

 

Os jovens, quando se tornam caciques, acabam castrando aquilo pelo que lutaram quando jovens.

 

Ao mesmo tempo, a "missão integral" é algo que atrai o jovem.

 

Quando o Evangelho não é contextualizado, ele deixa de ser Evangelho.

 

Dialogar com o seu tempo é ouvir os gemidos e dores do nosso tempo.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Ultimato 40 anos: Um País cada vez mais Pentecostal

 

Paul Freston

Encontro de Amigos, 40 anos da Revista Ultimato

Notas tomadas em 31/07/08, de exclusiva responsabilidade do proprietário do blog

 

 

Catolicismo brasileiro era caracterizado  pela prática popular exótica, poucos sacerdotes, pouca adesão real.

 

Declínio progressivo da igreja católica.

 

Os pentecostais são o segundo grupo religioso no país e na América Latina.

 

12% dos latinos americanos são envangélicos.

 

Alguns alertam para uma crise no meio pentecostal (que varia de país para país):

- exaustão numérica

- nominalismo (por incrível que pareça)

- apostasia frequente

- não há mais custo social ao mudar de religião

- exigência "demais" no plano ético - o que limita sua capacidade de ser efeito de massa

- incompetência na transformação social

 

É baixo o nominalismo no Brasil, assim como a apostasia é transitória, principalmente no sexo masculino (o que parece ser uma fase na trajetória).

 

Existe uma tendência para adequação dos padrões éticos.

 

Pentecostais:

- predomínio urbano, principalmente na periferia das grandes cidades

- maioria pobre

- maioria com pouca instrução

- maioria não branca

 

A natureza do ser católico também muda:

- identidade que passa a ser assumida, e não herdade culturalmente

- brancos

- idosos

- masculinos

- muitos carismáticos parecem ser apenas nominais, o que não os diferenciam dos demais católicos.

 

Os sem religião crescem paralelamente aos pentecostais, principalmente nos jovens masculinos subempregados.

 

50% dos ex-católicos passam a se denominar evangélicos.

 

Pelas tendências atuais, nunca haverá uma maioria evangélica no Brasil - talvez o teto seja 35%.

 

Pentecostalismo e igrejas históricas são um continuum (sujeitos a mudanças por diversas razões), e não categorias estanques.

 

A igreja católica cresce em vários locais do globo - em alguns lugares, este crescimento sucede ao declínio evangélico.

 

Falta humildade aos históricos para aprender com os pentecostais.

 

Nominalismo é consequência do tempo de existência do segmento religioso e do fato dele ter sido a religião oficial ou oficiosa.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

ULTIMATO 40 ANOS


A Participação dos Evangélicos no Cenário Político Brasileiro

 Robinson Cavalcante
href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CEduardo%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtml1%5C01%5Cclip_filelist.xml" rel="File-List">Encontro de Amigos, 40 anos da Revista Ultimato
Notas tomadas em 31/07/08, de exclusiva responsabilidade do proprietário do blog


Há 40 anos acabou a hegemonia das igrejas históricas - fim de um paradigma.

Também acabou uma era na igreja católica, representada por Pio XII.

58-68: período de bipolaridade evangélica e católica

1968: os expurgos eclesiásticos já terminados

Ideologia da anielação: "política não é coisa de crente" - a partir da década de 70.

Quando não se pode fazer história, se pensa na pós-história - debates sobre escatologia.

"Destino manifesto-civilizatório" era abrigado pelas igrejas históricas, mas não pela igreja pentecostal que passa a pensar apenas na comunhão.

A primeira edição do Pacto de Lausane foi pela editora da Assembléia de Deus.

IURD & cia: seita para-protestante

Crescimento evangélico histórico, sem repercussão social.

Ação evangélica na política voltada apenas para as necessidades dos crentes, e não para o bem comum; ação social assistencialista ou como modo de angariar membros.

Os evangélicos são iconoclastas e nenhum sistema religioso sobrevive por longo período sem símbolos

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Ultimato 40 anos

Oportunidade de ser "cura de almas": uma mensagem para o coração brasileiro

Ricardo Gondim

Encontro de Amigos, 40 anos da Revista Ultimato

Notas tomadas em 01/08/08, de exclusiva responsabilidade do proprietário do bloger

 

 

Estamos no final de um projeto de movimento evangélico, de modelo norte-americano, os seus estertores. E isto não é ruim, pois faz parte da vida os movimentos nascerem e morrerem, sendo substituídos por outros.

 

O movimento evangélico perde sua vitalidade porque:

1.     temos identidade frágil: o que é ser evangélico? o termo hoje é tão amplo que não define mais nada

2.     incapacidade interna de responder as perguntas atuais. Hoje este movimento responde a perguntas que não mais são feitas. Os dramas atuais têm resposta simplória

3.     relação de consumo entre o pastor e seu rebanho, com o objetivo de fidelizar os membros

 

As mudanças paradigmáticas são sempre traumáticas, violentas. Respostas dentro do paradigma atual para as questões acima:

a.     maratona de oração X significado do que é orar

b.     movimentação legalista

c.     resposta ortodoxa: recuperar a sã doutrina

d.     resposta pragmática: melhorar as aparências

 

Teologia ingênua = aquela que sustenta o status quo, sem questionar

Teologia crítica = aquela que mexe "com as vacas sagradas"

·         a proposta do Evangelho não é bênção, mas justiça - a igreja não é um centro de auto-ajuda

·         o chão da nossa prática tem de ser a Graça

·         uma espiritualidade que não precise de auditório com sentimento de culpa

·         uma espiritualidade que não ponha o mundo em ordem, i.e., ausência de problemas ou questões, ausência de contigência