quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Haiti: as nossas lágrimas

Vitor Mendes
COMO CRISTÃO EVANGÉLICO E COMO SER HUMANO, não posso calar a minha angústia e tristeza perante os quadros de horror e sofrimento explícitos e implícitos que sofreram e ainda sofrerão por muito tempo os haitianos vítimas do cataclismo de há dias. Por eles, a minha oração a Deus, por Cristo Jesus, O Senhor de misericórdia e amor.
Aqui proclamo que, independentemente das tragédias de cada homem e mulher e criança, há Deus! E que Ele é amor e compaixão para com os homens.
Não há incongruência nenhuma se considerarmos que Ele criou o Homem para a Paz, a Felicidade e o Amor. Mas que o criou para a Liberdade também e, por isso mesmo, lhe concedeu o lívre arbítrio, pelo qual lhe concedeu a capacidade de discernir entre o Bem e o Mal e de optar segundo a sua consciência, ou até inconscientemente, por aquilo que considera melhor para si,
O livro de Génesis e a Bíblia, em geral, são elucidativos quanto a isto. E a revelação evangélica é explicada objectivamente na epístola aos crentes em Jesus na cidade de Éfeso. Aí o Apóstolo Paulo, sob inspiração divina, escreveu: "Outrora estavam mortos(separados de Deus) por causa de vossos delitos e pecados. O espírito deste mundo levava-vos a viver desta maneira. Andavam sujeitos ao chefe das forças do mal, àquele que ainda agora actua nos que são desobedientes a Deus. Todos nós estávamos na mesma condição, dominados pelos nossos maus desejos. Obedecíamos a esses maus desejos e pensamentos, e estávamos naturalmente destinados, como os outros, a receber o castigo de Deus."(Ef. 2:1-3).
Sem ignorar o princípio de causa e consequência, nada justifica que um cristão faça arrazoados e emita juízos definitivos sobre a infelicidade e desgraça alheias, como os que o televangelista Pat Robertson acaba de emitir na cadeira do seu programa televisivo "Club 700", nos U.S.A., segundo o qual o Haiti está "sob maldição" porque os seus pais fundadores teriam feito um pacto com o Diabo para se verem livres da "bota dos franceses", antigo ocupante colonial... Independentemente de factos serem factos, o que ignoro, ao discípulo de Jesus apenas uma missão essencial está cometida, e essa é a de anunciar que "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho Unigénito, para que todo O que n'Ele crer não pereça mas tenha a vida eterna."(João 3:16).
É assim que, ao lermos e meditarmos na Parábola do Bom Samaritano,(Lucas 10:25-37). que Jesus contou, a grande lição que devemos extrair é a da compaixão activa com o nosso "próximo", em especial com os desafortunados. Pat Robertson e a sua organização é conhecida pela capacidade de mobilizar e encaminhar para todo o mundo necessitado, e agora também para o Haiti, grandes verbas recolhidas dos milhões de espectadores que diariamente o vêem e ouvem. É uma obra meritória. Mas, as declarações que proferiu precipitadamente contradizem a lição da compaixão, independentemente de preciosismos teológicos, neste caso muito discutíveis.
No entanto, aqui fica o que certa feita Jesus disse a "alguns que Lhe falavam dos galileus cujo sangue Pilatos misturara com os seus sacrifícios": "Cuidais vós que esses galileus foram mais pecadores do que todos os galileus por terem padecido tais coisas? Não, vos digo; antes, se vos não arrependerdes, todos de igual modo perecereis". E o Mestre continuou, comparando os que ficaram soterrados pela queda da Torre de Siloé a "todos quantos homens(culpados) habitavam em Jerusalém"! ...(Lucas 13:1-5).
Jesus é qual Bom Samaritano que acode ao infeliz que, apanhado pelos salteadores, não só foi despojado da sua bolsa mas foi espancado, massacrado, ficando "meio morto"(Lucas 10:30). Com amor Ele aproximou-se, "atou as feridas, deitando-lhes azeite e vinho: e pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele". Não apenas, mas tendo que partir no outro dia, deixou dinheiro ao estalajadeiro, pedindo que cuidasse dele no que fosse preciso, com a promessa de, no regresso, lhe pagar o que tivesse tido necessidade de gastar.
É, pois, este o exemplo. A todos os homens espezinhados pelo pecado e suas consequências, Jesus acode com coração de amor e de misericõrdia. Da Sua Igreja, de cada um que O segue, Ele não espera outra coisa. Que sejamos reconhecidos pelo que Ele nos fez(e faz a todos quantos n'Ele crerem como o Salvador e o Senhor) e possamos condoer-nos daqueles que estão em aflição e dôr.
Tem sido este o grande testemunho da Igreja ao longo dos séculos. O bem-fazer, não como quem espera com isso ganhar o Céu, mas como quem manifesta o amor de Deus que, "derramado em nossos corações", nos "constrange" para que cada um "não viva mais para si, mas para Aquele que por si morreu e ressuscitou" como Paulo escreveu na II Cor. 5:14-16. Esta é a vivência para que Deus chamou a Igreja, "sal da terra" e "luz do mundo". Amar o próximo, como a nós mesmos...
E, nunca é demais dizê-lo. não se confunda a Igreja com organizações humanas de motivações outras que não estas.
Haitianos, conforme um cristão sobrevivente do terramoto, pertencente à organização evangélica "Exército de Salvação", podia dizer no meio da devastação, a partir ou do seu telemóvel ou PC portátil, cito de cor: que Deus vos mostre o Seu Amor pela acção dos que são igreja em todo o mundo.
Que tenham de todos nós não apenas as lágrimas!...

Aveiro, 16 de Janº2010-01-16
vitorinacio.mendes@yahoo.com
fonte: http://www.portalevangelico.pt/noticia.asp?id=3573

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