"Acredito que a pressão sentida por vocês deve ter sido enorme, a ponto de considerarem sábio e prudente a carta aberta no número 323 da revista.
Diversos pensamentos cruzaram a minha cabeça desde que a li, e resolvi compartilhar com vocês os que considerei relevantes.
Conheço a revista pelo menos a partir do final da adolescência. Há várias outras; por que assino Ultimato?
Porque é uma revista de linha editorial equilibrada; não deprecia ninguém, é honesta nas avaliações e busca ser caridosa nas críticas.
Porque é uma revista capaz de enxergar o mundo e os que nele habitam; capaz de reconhecer que há conhecimento e ciência além das Escrituras; capaz de reconhecer que ciência e fé cristã não são inimigas, nem mesmo adversárias, ainda que existam pontos focais de tensão.
Porque não fica na mesmice, tocando sempre variações sobre os mesmos temas. Busca estimular respostas a novas questões, rever as antigas e reafirmá-las se assim for considerado correto.
Porque não tem medo de errar. A revista não é morna, arrisca-se a ser quente, e por isso erra. E errar não é pecado - desafio os contrários a provarem, biblicamente, que todo erro é pecado. E caso eu esteja errado, e todo erro, sem exceção for pecado, graças a Deus por Jesus Cristo, em quem temos o perdão, a restauração e o crescimento espiritual. Mas se a revista fosse morna, desatenta à época em que vive, surda às questões que pipocam a torto e à direita, medrosa de errar...não seria uma publicação digna do termo "ultimato". Eu não a assinaria, e a destinaria ao lixo reciclável, caso me viesse às mãos.
Porque tem sido um dos recursos para minha santificação pessoal, crescimento no conhecimento e vivência da graça, desafio intelectual e elaboração de ideias.
Porque seus articulistas procuram cumprir o ministério que foram chamados com fidelidade - e só quem não faz não erra! Porque seus articulistas se expõe publicamente (e muitas vezes com coragem admirável - vide Braulia) e arcam com os bônus e ônus desta exposição pela qual não são remunerados. O fazem como parte do trabalho que o Senhor lhes confiou.
Há críticas irritantes. Há críticas pobres. Há críticas analfabetas. Há críticas razoáveis e sensatas. Estas últimas são úteis no crescimento; as primeiras, para o exercicio de uma santa paciência; as segundas, para o exercício da oração; as terceiras, para o exercício da reflexão de como alfabetizar biblicamente quem não tem condições de o ser.
Não caiam na tentação arrogante de se considerarem causadores de divisão do corpo de Cristo. Este não pode ser dividido, é uma impossibilidade(1). Mas nós nos dividimos, e não há pecado nisso! O pecado é a arrogância de considerar minhas posições teológicas como absolutas, e desprezar como refugo as outras. Mas o Senhor nos tem chamado à paz para construirmos comunidades formais que pensam semelhantemente para buscarmos adoração e crescimento dentro daquele modo de pensar, reconhecendo que Ele chama outros para o mesmo em outros esquemas teológicos. Não há pecado na controvérsia predestinação X livre arbítrio; há pecado quando chamo aos primeiros "tolos" e aos segundos "sábios".
Nós precisamos ser desafiados, e somente o somos por novos pensamentos. Os irmãos que desejam permanecer como estão, que nos deixem em paz, ou melhor, que orem por nós - e que o Senhor lhes responda como desejar! Quando Ultimato é caluniada por ser mal interpretada através de uma leitura míope, a reação do leitor caluniador é que causaria divisão do corpo, e não a revista.
Certamente há erros e problemas, e vocês sabem melhor que todos. E daí? Até onde vejo nas entrelinhas das revistas ao longo do tempo, o propósito de conferir Escritura com Escritura permanece; de contextualizar a interpretação da Palavra presente; de ser relevante, uma missão!
Há alimento líquido a sólido, de papinha a feijoada. Os que não me apetecem, não leio; ou leio e esqueço, após fazer um juízo e ver se há algo bom para reter.
Apesar dos sentimentos negativos que críticas não razoáveis possam trazer, sugiro que as usem como termômetro de trabalho. Não para adequar a revista ao exigido, mas para trabalhar, quando necessário, sábio e proveitoso, os argumentos, buscando remodelar a visão do crítico. Mas continuem a ser como são. Continuem buscando acertar, mesmo que errando. Continuem a buscar articulistas que sacudam visões envelhecidas e inúteis, e nos apontem caminhos para um Evangelho integral.
"O Senhor os abençoe e os guarde;
o Senhor faça resplandecer o Seu rosto sobre vocês,
e tenha misericórdia de vocês.
O Senhor sobre vocês levante o Seu rosto,
e lhes dê a paz"
Atenciosamente,
Eduardo Ribeiro Mundim"
(1) ver neste blog "É possível dividir o Corpo de Cristo?" - não consta da correspondência original
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