segunda-feira, 5 de abril de 2010

Pedófilos, celibatários e infalíveis

O psicanalista Contardo Calligaris publicou no dia 1 de abril de 2010, em sua coluna na Folha de S. Paulo (disponível somente para assinantes, mas largamente reproduzido na internete), considerações lúcidas com o título "Pedófilos, celibatários e infalíveis".

Sublinha pontos importantes sobre a recente crise envolvendo padres e pedofilia:
1. toda instituição coloca a si mesma acima de qualquer consideração moral, pois seu projeto dominante é ser eterna. A Igreja Católica não é exceção (e, questiono eu, porque a Evangélica seria? temos comportamento diferente frente aos nossos escândalos, que habitualmente não frequentam, ainda, a imprensa leiga? Não falo daqueles envolvendo ditos evangélicos promotores de falcatruas - políticos, supostos pastores, etc - mas daqueles acontecimentos que ficam restritos aos nossos muros denominacionais).
2. a causa da pedofilia não está no celibato. Sua motivação mais profunda não se resolve na cama com uma mulher, pois o centro da fantasia do pedófilo é "induzir a vítima a aceitar algo que ela desconhece e não entende" - a idade é uma garantia da ignorância e do não entendimento. (Quantas pessoas que publicaram suas opiniões sobre o assunto levaram em conta este dado, pergunto eu. É sempre fácil criticar, "descer o pau" em quem é majoritário, poderoso ou destacado. Mas quantas vezes a crítica mira a si mesma, naquilo que tem de destruidor, sem preocupar em construir?)
3. portanto, propor o fim da exigência do celibato como remédio é um insulto à inteligência, uma redução da sexualidade humana ao seu aspecto animal e uma coisificação da mulher. Resumo meu da argumentação do psicanalista, escrita em outros termos.

No meio da histeria e desejo de manchetes (o que não deixa de ter algum aspecto positivo), o juízo emitido busca colocar a discussão específica nos trilhos próprios a ela, ainda que o autor o encerre com a afirmativa de que a instituição Igreja Católica trata seus membros como criancinhas, e não adultos.

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