Eduardo Ribeiro Mundim
Um pastor norte-americano resolve colocar fogo em um exemplar do Alcorão. Meses atraś, para marcar o dia 11 de setembro, havia anunciado que o faria. À época, parecia ter atendido aos apelos da razão e desistido. Agora, executa o ato. E algumas pessoas são mortas, por vingança, a milhares de quilômetros de onde ele mora, do outro lado do mundo. Segundo alguns, o exemplar do livro sagrado dos muçulmanos foi executado após ter sido considerado, em um julgamento, culpado de várias acusações, incluindo assassinato (1).
Sua congregação é composta por 60 pessoas e tem um perfil fundamentalista. É crença deste pastor, que é visto no terreno da igreja portando uma arma com frequência, que os muçulmanos desejam impor a sharia sobre os Estados Unidos (2).
Usando este lamentável incidente como pretexto, faço algumas considerações.
A atitude de Terry Jones não foi um ato de proclamação do Evangelho de Jesus Cristo. Sua morte substitutiva não foi ensinada, o pecado universal da humanidade não foi apresentado - ainda que o ato do mesmo seja uma demonstração aberta de como o pecado se infiltra em todas as ações humanas. Tão pouco a necessidade de confissão e arrependimento foram proclamadas.
Supostamente o julgamento do livro foi justo - quem o defendeu? O próprio livro? Quem o interpretou e falou no seu lugar?
A encenação foi um ato político, travestido de cerimônia religiosa. O mesmo demônio que apontou a cruz para o imperador Constantino soprou-lhe nos ouvidos este casamento demoníaco: política e religião. Satanás, experiente como é, velou-lhe a mente de modo a ignorar que a Bíblia também poderia ser julgada e condenada ao fogo por diversos crimes, inclusive homicídio. O que impede de um grupo de não-cristãos fazer o mesmo?
Terry Jones é aparentemente cego, se for uma pessoa fundamentalmente honesta; ou um irresponsável, se for um manipulador ou doente em busca de autopromoção.
Apresentando-se como proclamador do Evangelho, não o apresenta, mas faz aquilo que nem Paulo em seus piores momentos humanos se atreveu: insultou a crença básica de alguém. Há este exemplo nas Escrituras? Qual apóstolo escolheu o caminho da violência? Não foram eles, dois mil anos antes de Gandhi, adeptos da não-violência e da desobediência civil?
Cegamente se apresenta aos olhos de milhões de muçulmanos economicamente vulneráveis, alguns em extrema pobreza, cidadãos (se é que o são, ao menos em alguns cantos) sob forte opressão política, como juiz de sua crença, representando uma nação extremamente rica e igualmente opressora (não é ela que sustenta as ditaduras árabes, como o Egito, a Síria, a Jordânia e o Bahrein?). Terry Jones se deu conta do tamanho de sua arrogância?
Os irmãos fundamentalistas já têm problemas suficientes e agora serão confundidos com um tipo de fundamentalismo que rejeita o credo dos apóstolos, maculando uma posição teológica séria e equilibrada com irracionalidade, prepotência e covardia. Sim, covardia, pois é fácil insultar o outro protegido pelos seus. Aos assassinos dos funcionários da ONU pode-se atribuir o calor do ódio despertado pelas chamas no Corão - fruto de um momento habilmente trabalhado por um clérigo islâmico. Mas ao suposto pastor (porque duvido que hoje ele seja um pastor - suas atitudes são de um político insensato e inescrupuloso) nada o desculpa, pois o ato foi gestado por meses, friamente planejado e executado, apesar das advertências de muitos bem mais experimentados nas artimanhas deste mundo que ele.
Nós cristãos temos agora de nos defender de uma atitude assassina - pois foi o fósforo que acendeu as chamas o autor dos disparos que mataram inocentes do outro lado do mundo. Ele não pensou nisto?!
Envergonhado, peço, como cristão, perdão às famílias enlutadas pelo ato consciente e deliberado de alguém que não merece o honroso título de "pastor".
Envergonhado, peço, como cristão, perdão aos muçulmanos pelo ato de hostilidade gratuita e desrespeitoso. Não entendam este ato como motivado pela mensagem da graça de nosso Senhor Jesus Cristo, sua morte substitutiva e sua ressurreição redentora. É um crime e como tal deveria ser julgado.
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