quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Homossexualismo e obesidade

Eduardo Ribeiro Mundim

A Ultimato decidiu publicar, na seção das cartas, no primeiro número de 2012, o comentário que fiz daquela escrita pelo irmão Luciano, originalmente postado no sítio da revista e no CrerPensar. Acrescentou suas próprias considerações, úteis ao debate. A decisão de registrar na versão impressa o postado na virtual mostra, mais uma vez, a postura de coragem da equipe editorial. Mais fácil teria sido deixar passar e não colocar "mais lenha na fogueira". As ponderações que fez contribuem e convidam ao aprofundamento da reflexão.

É verdade que Jesus chama ao arrependimento e à mudança de vida; é verdade que Ele chama por demonstrações objetivas deste arrependimento e estabelece critérios claros do que seja a novidade de vida que espera daqueles que O confessam Senhor e Salvador.

É verdade que pela Sua morte e ressurreição o pecado não mais dita o destino do Seu povo. É verdade que nesta vida continuaremos a pecar e a confessar - se dissermos não estarmos sujeitos a isto, "fazemo-Lo mentiroso e o Seu amor não permanece em nós".

É certo que os Seus discípulos devem buscar conscientemente a Sua semelhança, o que é chamado por alguns de santificação. Buscá-la com afinco. Não é prudente contar este processo como possível de ser alcançado nesta vida com plenitude, pelo exposto anteriormente.

Segundo Paulo aqueles que cometem adultério, prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices e glutonarias não herdarão o Reino de Deus (habitualmente interpretado como "não serão salvos"). A coerência pede que o apóstolo seja entendido dizendo que estão fora do Reino aqueles que recusam a alternativa de abandonarem um caminho de rebelião aberta contra Deus Pai, manifestada pelas atitudes permanentes, talvez definidoras do caráter da pessoas, exemplificadas de; forma não exaustiva por essa lista. Ela é encerrada pela expressão "e coisas semelhantes a estas".

Glutonarias é, no grego, kômoi. Este termo aparece apenas 3 vezes no Novo Testamento(1) e não é estudado em obras de referência(2). Também é traduzido por “orgias”. Segundo o Houaiss, orgia era uma festividade em honra ao deus Baco, e passou a ter o significado de festa caracterizada pela ausência de limites, pelo excesso, seja no beber, no comer ou na atividade sexual. Glutonaria é o ato de comer em excesso. A qual dos dois significados o apóstolo se referia?

Potencialmente ambos estariam no contexto. Orgia abrangeria pelo menos os 5 primeiros frutos da carne citados e o último; glutonaria seria o termo esperado após bebedices, e estaria também incluído em orgia. O comentário de Calvino parece favorecer glutonaria(3).

Todos os excessos resumidos em orgia são cometidos na esfera privada e, na dependência da circunspecção dos envolvidos, permanecem ocultos – à exceção provável de bebedices (se pensarmos no comportamento do alcoolista como exemplo) e da glutonaria, evidenciado pelo excesso de peso, caso seja um comportamento diário.

Não é possível a obesidade na ausência do consumo excessivo de nutrientes.

Estariam os obesos incluídos na relação dos frutos da carne? Se a obesidade somente pode ser consequente ao excesso de nutrientes, por que herdariam eles o Reino de Deus?

Enquanto escrevo, não consigo evitar a sensação de estar sendo ridículo. Contudo, racionalmente falando, a questão permanece, seja risível ou não: diversos comportamentos são evidências de um ser não transformado pela graça divina, em um espectro que vai da condenação social unânime (homicídios) ao risível (obesidade), passando pelo socialmente tolerável dentro de limites elásticos (inveja e inimizades).

É premissa cristã, e fortemente evangélica, a inexistência de pecado que não separe o ser humano de Deus – todo e qualquer pecado, tenha o impacto social ou particular que for, faz separação intransponível entre ambos. A única possibilidade de ponte é a cruz de Cristo.

Homossexualidade e obesidade parecem, portanto, estarem no mesmo barco: não entrarão no Reino de Deus.

É isto mesmo?
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(1) Concordância Fiel do Novo Testamento, vol I, pag 2968, 1a ed
(2) O Novo Dicionário da Bíblia 3a ed, Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã 1a ed, Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento 1a ed

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