terça-feira, 7 de abril de 2009

O outro lado do crescimento das igrejas

Historiador Phillip Jenkins afirma que precisamos de uma teologia de extinção de igrejas.

Stan Guthrie


O historiador Phillip Jenkins

Em nossos dias, temos testemunhado um extraordinário fenômeno: a vertiginosa queda da igreja em lugares nos quais existe há 2000 anos. A situação das comunidades cristãs no Iraque nos mostra que a expansão da igreja não é tão constante assim.

Em seu livro lançado em 2002, The Next Christendon: the comming of global Christianity, o historiador Phillip Jenkins mostrou ao mundo onde o Cristianismo havia chegado. Em seu mais recente livro - The Lost History of Christianity: The Thousand-Year Golden Age of the Church in the Middle East, Africa, and Asia – Jenkins olha para o lugar de onde essa fé veio. Professor de humanidades na Universidade Penn State, Jenkins inicialmente afirma que a fé cristã não está limitada a nenhuma cultura. “Quanto mais você olha para a história, mais você se dá conta de que o cristianismo não é uma religião [apenas] européia”, afirma ele. “É européia, mas também é asiática, africana e tem uma longa história de desenvolvimento nas mais diversas sociedades”.

Além disso, Jenkins mostra como e porque igrejas inteiras têm morrido em determinadas regiões. O gerente especial de projetos da Christianity Today, Stan Guthrie, conversou com Jenkins.

CHRISTIANITY TODAY - O que causa a morte de igrejas?
PHILLIP JENKINS - Não conheço nenhum caso de igreja que morreu por causa de indiferença. A igreja morre por causa de perseguição. Ela morre por força armada, geralmente vinculada ao interesse de outra religião ou de uma ideologia anti-religião. Isso, algumas vezes, acaba com toda uma etnia que vive o cristianismo. Portanto, a igreja morre pela força. Ela é morta!

Mas o que dizer do antigo ditado “o sangue dos mártires é a semente da igreja”?
Isso foi dito por Tertuliano, que veio da igreja do Norte da África, igreja que foi dissipada. Se você procurasse a igreja mais saudável nos anos 400 e 500, olharia para o que chamamos de Tunísia e Algéria; o norte da África. Foi a terra de Agostinho. Depois, os árabes, os muçulmanos, chegaram. Eles conquistaram Cartago em 698 A.D e 100 anos depois – eu não diria que não há cristãos lá, mas o número é bem pequeno - Aquela igreja morreu.

Por que a perseguição ora fortalece uma igreja, ora a destrói?
A diferença está até que ponto uma igreja se estabelece em um grupo de pessoas e não se torna a igreja de apenas um segmento, de uma classe ou grupo étnico. No norte da África, é basicamente uma religião de romanos e pessoas de língua latina, em oposição à igreja dos camponeses, com a qual os romanos não têm muita comunhão. Quando os romanos se vão, a fé cristã vai com eles.
O cristianismo se estabeleceu desde sempre como a religião do povo, religião do dia a dia dos egípcios, à medida que as coisas eram traduzidas para o copta. Como resultado, depois de quase 1400 anos de império muçulmano, ainda há uma impactante igreja copta que representa [talvez] 10% dos egípcios – que eu considero o exemplo de sobrevivência mais brilhante na história do cristianismo.

Como histórias como essa podem se aplicar no Iraque, onde pessoas sofrem debaixo do domínio islâmico?
O Iraque é um exemplo clássico de uma igreja que morre com o passar do tempo. A igreja lá deixará de existir provavelmente antes de eu morrer. Nos últimos 50 anos, ela passou de 5% para 0.5% da população. Não dá pra continuar morrendo como naquele lugar para todo sempre. Em algum momento, faltarão apenas um ou dois para serem mortos. Você acha que eu acredito que literalmente não haverá mais cristãos no Iraque? Não! Todavia, eu acredito que as comunidades serão todas eliminadas, enquanto entidades. Há comunidades ímpares, especialmente na planície de Nínive, mas elas são pequenas e estão à espera de vistos. Portanto, para falar porque as igrejas estão morrendo no Iraque, eu volto a afirmar que o problema é a perseguição, o crescimento das ideologias radicais islâmicas que pregam a intolerância às minorias. Além disso, contam muito as leis do estado – ou a falta delas. Se você tirasse o estado, que de alguma forma controla tudo, os grupos de minorias já teriam sido extintos há muito.

Você escreveu sobre o efeito catraca. O que você quer dizer com isso?
É uma das coisas mais assustadoras. Perseguição não existe constantemente por mais de 500, 1000 anos. As minorias costumam viver bem por 50 anos e, então, uma perseguição vem e acaba com tudo. A catraca segura o movimento. Pode girar em uma direção, mas não voltará no sentido oposto. Esse tipo de perseguição esporádica ao longo dos séculos é o que pode realmente destruir a fé.

De que forma a igreja pode responder a essa perseguição, fazer crescer sua comunidade e fortalecer sua fé?
Depende muito do tipo de desafio que está sendo enfrentado. Se você está diante de uma perseguição armada, então você está em um modo de sobrevivência. Enquanto escrevia esse livro, me dei conta de algo: a forma pela qual você mede o sucesso de uma igreja. Sou tentado a medir em termos de números, se são 5% da população, 40% ou outro percentual. Porém, creio que um menonita ou batista levantará o argumento de que o sucesso não se mede pela quantidade, mas pela qualidade do testemunho; o NT não garante sucesso mundial ou crescimento de mega igrejas. Na verdade, inclui perseguição como parte do pacote. Portanto, talvez essa seja uma realidade com a qual devamos lidar.

Você diz que nós estamos perdendo uma teologia de extinção das igrejas. Por que precisamos delas?
Às vezes pergunto a um público quantos deles já leram livros sobre plantação ou crescimento de igrejas. Muitos levantam suas mãos. Então pergunto quantos leram algum livro sobre morte e extinção da igreja, ninguém levanta a mão. Contudo, na história o fenômeno de extinção de igrejas é bem comum. A fé cristã migra de uma região para outra, mas também acontece de um lugar - no qual o cristianismo foi sólido – perder sua força cristã. Esse fato quebra uma série de ideais que temos sobre crescimento de igreja. Nós temos uma teologia de missões, não uma teologia de retração. Logo, como explicamos esses episódios? Dizemos que a igreja está fazendo algo terrível? Consideramos tudo isso como parte natural do desenvolvimento da igreja? Entendemos que se os muçulmanos eliminarem os cristãos do Iraque será um sinal de que a vontade de Deus é essa? Como os cristãos lidam com situações como a destruição da igreja no Iraque não tem sido um assunto em pauta. Não damos atenção a isso porque nada sabemos a respeito desse assunto.

Será nossa ignorância fruto de nossa situação histórica e, talvez, de um voluntário desvio de olhar da carnificina que acontece?
Em parte digo que sim. Mas eu não quero criticar os americanos que estão bastante conscientes do que está acontecendo, por exemplo. Eles têm tentado aliviar esse sofrimento e intervir politicamente. Contudo, acredito que as igrejas continuam a desaparecer. No Oriente Médio, a situação tem sido catastrófica desde 1915 em termos de destruição e aniquilação da igreja. De fato, não conheço quem esteja pesquisando sobre isso, ou fazendo teologia sobre esses aspectos.

Como você relaciona essa necessidade com o patente crescimento da igreja ao redor do mundo?
Creio que coincidência não é uma palavra que deva ser usada por ninguém que tenha noção do que é a providência divina, mas o ano de 1915 marca o começo do fim do cristianismo no Oriente Médio e o início do crescimento massivo do cristianismo na África. É como se uma porta fosse fechada e a outra fosse aberta. Não vou afirmar que Deus abriu um olho e fechou o outro, mas quando o cristianismo sofre em uma área, incríveis oportunidades surgem em outras regiões. Minha preocupação é que escrevamos a história do cristianismo tão somente com a seguinte idéia: “Vamos observar o crescimento e as novas oportunidades”. Nós não temos visto as portas que têm sido fechadas – o que daria um bom título de um livro.



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(Traduzido por Daniel Leite Guanaes)

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