quarta-feira, 10 de junho de 2009

Fim da ética do dever

O professor titular da London School of Economics, e coordenador do Departamento de Governo desta universidade, Rodney Barker, concedeu entrevista à Folha de São Paulo, publicada no dia 07 de junho de 2009, à página A21.

Reproduzo algumas frases pinçadas, percebendo que também cabem na atual situação política brasileira, acrescidas de comentários pessoais:

"É somente em democracias que é possível descobrir o que os políticos fazem e estão aptos a fazer." Mas, para isto, é necessário que o cidadão esteja atento aos acontecimentos, saiba se organizar em grupos de pressão e se sinta responsável pela condução da "coisa pública".

"Na verdade, a democracia é a única esperança de se combater a corrupção quando são considerados os regimes autocráticos e totalitários." Não adiantam falsos messias, individuais ou corporativos (como as forças armadas, p. ex) – ou os cidadãos trabalham como equipe, com todas as dificuldades que isto representa, ou ela não cessará.

"Nós nunca seremos governados por anjos. No entanto, havia no passado uma noção de ética no serviço público. Havia pessoas determinadas a entrar para avida pública pelo simples fato de que elas consideravam isso uma coisa relevante. De certa forma, acreditavam ter uma espécia de 'dever' de cidadão em relação as suas classes, sua nação, sua igreja...O que está acontecendo é que essa ética dos erviço público, do dever profissional, está sendo minada e erodida por diferentes ideologias que surgiram depois dos anos 70." No contexto, serviço público parece significar atividade política-partidária. Não sei se o Brasil já viu em grande número pessoas desta categoria. Mas parece inegável que após o retorno da democracia um sem número de pessoas interessadas somente em si mesmas conseguiu ser eleita e fincar o pé nos mais diversos cargos eletivos. Como um insulto a Francisco de Assis, criou-se até a irmandade do "é dando que se recebe".

"O lado negativo disso é que3 essas ideologias pregam que nós não precisamos de pessoas cuidando de nós como se fôssemos crianças...Todos devem buscar o seu interesse próprio, cumprir seus próprios deveres. A lógica é que o sistema não tem que prover escolas e hospitais...mas sim criar as condições para que cada um obtenha seu próprio dinheiro. Cria-se a noção de que uma sociedade saudável é aquela em que todos estão cuidando de seus próprios interesses." Nada mais antibíblico, tanto no Velho quanto no Novo Testamentos; e esta ideologia se infiltra na igreja das mais diversas formas travestida de teologia.

"Os membros do Parlamento Britânico...são políticos que não têm muito poder hoje...vêm todo mundo priorizando seus próprios interesses...então, eles usam o sistema...se as regras permitem que façam isso...eles reivindicam gastos para eles mesmos."

"Nada funciona por si mesmo. Provisões do Estado não vão ser alcançadas por elas mesma, a não ser que você tenha uma população crítica. O mercado não vai funcionar por ele mesmo a não ser que você tenha um estado vigilante e uma população vigilante."

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